domingo, 5 de agosto de 2012

Setor automotivo mostra que trabalhadores pagam pela crise no Brasil


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"A crise econômica mundial, que está abalando, principalmente, os países da Europa e os Estados Unidos, não pode ser resolvida com desemprego e muito menos com a redução dos direitos trabalhistas. A questão do desemprego é extremamente preocupante"

"Nosso caminho não é esse, não é igual ao deles. Nosso caminho é manter os investimentos e buscar cada vez mais garantir que os bônus, as vantagens e os louros do desenvolvimento sejam distribuídos"

"(...) estamos criando incentivos à formalização do trabalho, gerando mais empregos, à medida que desoneramos os empresários, e criando incentivos. (...) Trabalhadores protegidos são a base de um mercado interno em expansão."

"(...) quero deixar bem claro que o meu governo não irá permitir ataques às nossas indústrias e aos nossos empregos." [1]

- Presidente Dilma Rousseff


Em São José dos Campos a General Motors (GM) pretende demitir 2.000 trabalhadores. A última reunião com o sindicato cancelou provisoriamente a medida até o mês de novembro [2]. Não há nenhuma garantia de que após o prazo acertado não ocorram as demissões.

O caso, que acabou ganhando destaque na última semana, expos de forma cristalina o desnível entre o que o governo federal coloca nos discursos e como atua na prática em se tratando de medidas contra a crise econômica capitalista.

O setor automotivo recebeu, somente no período entre 2008 e 2011, 26 bilhões em isenções fiscais para, segundo o governo petista, proteger os empregos dos trabalhadores. Era uma espécie de acordo, diziam.

Na terça-feira (31/07), porém, eis que surge o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendendo publicamente a omissão do Estado de cobrar a parte das multinacionais no suposto acordo.

"Há problemas localizados em São José dos Campos (SP). Não cabe ao governo entrar nos detalhes, é (um assunto) da organização interna da empresa" (…) "O que nos interessa é que GM tenha saldo positivo e esteja contratando, e isso está sendo cumprido" [3]

A organização interna das grandes empresas só diz respeito ao governo petista quando estas se encontram em apuros! Daí vertem isenções e recursos públicos subsidiados a fundo perdido!

As declarações do Ministro revoltou os trabalhadores, que realizaram mobilizações e fizeram uma relação das iniciais do seu nome com a da multinacional: Guido Mantega = GM !

Os números oficiais do próprio governo e do Dieese desmentem completamente o Ministro “da” GM, mostrando que a relação feita pelos trabalhadores não era descabida:

“Os números são claros: de julho de 2011 a junho de 2012, a GM fechou 1.044 postos de trabalho (saldo entre demissões e contratações) em São José dos Campos. Em São Caetano, foram 349 postos a menos. A única fábrica a fechar o período com saldo positivo foi em Gravataí, com 204. Caso o Governo Federal prossiga com a postura de mero espectador, esses números poderão dar um salto ainda maior. Não há mais dúvidas: a GM está se preparando para colocar até 2 mil trabalhadores na rua.

E tudo isso em uma empresa que está em um momento de aumento de suas vendas e batendo recordes de faturamento e lucro em suas unidades no Brasil, em particular na unidade de São José dos Campos, responsável por 35% do faturamento da GM em nosso país.” [4]

Com tudo isso exposto e mais a mobilização dos trabalhadores, na sexta-feira (03/08), a assessoria de imprensa de Mantega divulgou que ele consideraria “descumprimento do acordo” demissões ocorridas nos setores beneficiados pela redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI). [5]


A GM não é um caso isolado

A credibilidade do publicado pela assessoria do Ministro da Fazenda é a mesma das declarações anteriores de Lula e Dilma em relação as suas medidas “anticrise” e a proteção dos empregos dos trabalhadores que prometeram com elas.

As multinacionais do setor automotivo, depois de se fartar com recursos públicos e isenções fiscais, têm demitido tranquilamente os seus trabalhadores em todo o país. Não é só a GM que demitiu sem ser importunada.

No início de julho a Volvo fechou, em Curitiba, 430 postos de trabalho entre efetivos e temporários, além de anunciar férias coletivas para parte de seus funcionários. [6] No mesmo mês a Volkswagem anunciou um Plano de Demissões Voluntárias (PDV) em Taubaté. [7] Em maio a Mercedes-Benz suspendeu o contrato de 1.500 trabalhadores em São Bernardo do Campo. [8]

Na virada do ano, a sueca Scania, demitiu 138 trabalhadores em São Bernardo do Campo. [9] Em 2009 a multinacional não se ruborizou em afirmar que 80% do seu faturamento naquele ano tinha o dedo do Governo Lula através do BNDES. [10] A ajuda, aliás, vem de longa data: em 2003 o banco deu um aporte de US$ 50 milhões para a empresa exportar. [11]


Os trabalhadores pagam a crise

O que antes apresentava-se de forma dissimulada e até parecia dar alguma veridicidade as frases como as pinçadas no início desse texto, agora começam a irromper de forma cristalina: as gestões petistas agem tal qual os governos estrangeiros no que tange a crise financeira do capitalismo e as palavras contidas em seus discursos sobre o assunto são vazias, incoerentes e demagógicas.

As medidas “anticrise” sempre visaram manter o processo de acumulação e reprodução do capital no país, sempre tiveram como alvo manter e elevar as taxas de lucros das multinacionais e dos bancos e não os empregos, os salários e os direitos dos trabalhadores.

Isenções fiscais, desonerações da folha de pagamento que prejudicam a previdência, recursos públicos subsidiados que elevam o endividamento público, privatizações regadas com dinheiro público e demissões de trabalhadores sob o olhar complacente do governo deixam claro que no Brasil, assim como na Europa e nos Estados Unidos, opera a máxima de privatizar os lucros e socializar os prejuízos.

Os trabalhadores brasileiros pagam para ser demitidos, perder serviços públicos essenciais e direitos. E quem comemora são os bancos e as multinacionais!

Essa realidade começa a se escancar aos olhos de muitos, às vezes através da forma mais dolorosa, como têm comprovado os trabalhadores do setor automotivo.

Se, entre 2008 e 2011, as multinacionais do setor receberam R$ 26 bilhões em isenções fiscais para não garantir os empregos dos brasileiros, por outro lado, no mesmo período, remeteram 14,6 bilhões de dólares para o exterior, ou seja, quase toda a isenção fiscal foi destinada para salvar as matrizes em crise na Europa, nos Estados Unidos, entre outros. [12] Os trabalhadores brasileiros pagaram para as multinacionais lucrar e não falir!

O aprofundamento, em curso, da crise capitalista no mundo e no país vai expor cada vez mais a hipocrisia dos discursos das gestões petistas sobre a crise, o caráter antipovo do seu governo e a sua submissão ao grande capital.


Ler também:

A crise no Brasil

Crise se aprofunda no mundo e no Brasil


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[1] Dilma pediu ao G20 geração de emprego para enfrentar crise (07/11/2011):

Contra a crise, Dilma lembra bordão de Lula (14/07/2012):

Governo se empenhará em proteger trabalhadores e garantir empregos, diz Dilma (03/04/2012):

Pronunciamento à Nação da Presidenta da República, Dilma Rousseff, em cadeia nacional de rádio e TV, por ocasião das comemorações do Sete de Setembro (06/07/2011):

[2] Proposta entre GM e Sindicato suspende 1.840 demissões (04/08/2012):

[3] Mantega: GM gera emprego; governo não trata ações localizadas (31/07/2012):

[4] Nota do Sindicato sobre declaração de Guido Mantega (31/07/2012):

[5] Agora Mantega afirma que não vai tolerar demissões (03/08/2012):

[6] Volvo anuncia demissões na fábrica de Curitiba

Volvo demite 208 funcionários de fábrica em Curitiba (04/07/2012):

[7] Volkswagen abre Plano de Demissões Voluntárias na fábrica de Taubaté (02/07/2012):

Volks anuncia PDV na unidade de Taubaté (03/07/2012):

[8] Mercedes suspende contrato de 1.500 empregados (29/05/2012):

[9] SCANIA CORTA 138 TRABALHADORES (05/01/2012):

[10] Novas regras do BNDES já apresentam resultados positivos para a Scania (28/07/2009):

[11] BNDES apóia com US$ 50 milhões aumento das exportações da Scania (17/07/2003):

[12] Indústria automobilística teve isenção de R$ 1 milhão por emprego criado (02/06/2012):
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