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"A
crise econômica mundial, que está abalando, principalmente, os
países da Europa e os Estados Unidos, não pode ser resolvida com
desemprego e muito menos com a redução dos direitos trabalhistas. A
questão do desemprego é extremamente preocupante"
"Nosso
caminho não é esse, não é igual ao deles. Nosso caminho é manter
os investimentos e buscar cada vez mais garantir que os bônus, as
vantagens e os louros do desenvolvimento sejam distribuídos"
"(...)
estamos criando incentivos à formalização do trabalho, gerando
mais empregos, à medida que desoneramos os empresários, e criando
incentivos. (...) Trabalhadores protegidos são a base de um mercado
interno em expansão."
"(...)
quero deixar bem claro que o meu governo não irá permitir ataques
às nossas indústrias e aos nossos empregos." [1]
-
Presidente Dilma Rousseff
Em São José dos Campos
a General Motors (GM) pretende demitir 2.000 trabalhadores. A última
reunião com o sindicato cancelou provisoriamente a medida até o mês
de novembro [2]. Não há nenhuma
garantia de que após o prazo acertado não ocorram as demissões.
O caso, que acabou
ganhando destaque na última semana, expos de forma cristalina o
desnível entre o que o governo federal coloca nos discursos e como
atua na prática em se tratando de medidas contra a crise econômica
capitalista.
O setor automotivo
recebeu, somente no período entre 2008 e 2011, 26 bilhões em
isenções fiscais para, segundo o governo petista, proteger os
empregos dos trabalhadores. Era uma espécie de acordo, diziam.
Na terça-feira (31/07),
porém, eis que surge o Ministro da Fazenda, Guido Mantega,
defendendo publicamente a omissão do Estado de cobrar a parte das
multinacionais no suposto acordo.
"Há
problemas localizados em São José dos Campos (SP). Não cabe ao
governo entrar nos detalhes, é (um assunto) da organização interna
da empresa" (…) "O que nos interessa é que GM tenha
saldo positivo e esteja contratando, e isso está sendo cumprido"
[3]
A organização interna
das grandes empresas só diz respeito ao governo petista quando estas
se encontram em apuros! Daí vertem isenções e recursos públicos
subsidiados a fundo perdido!
As declarações do
Ministro revoltou os trabalhadores, que realizaram mobilizações e
fizeram uma relação das iniciais do seu nome com a da
multinacional: Guido Mantega = GM !
Os números oficiais do
próprio governo e do Dieese desmentem completamente o Ministro “da”
GM, mostrando que a relação feita pelos trabalhadores não era
descabida:
“Os
números são claros: de julho de 2011 a junho de 2012, a GM fechou
1.044 postos de trabalho (saldo entre demissões e contratações) em
São José dos Campos. Em São Caetano, foram 349 postos a menos. A
única fábrica a fechar o período com saldo positivo foi em
Gravataí, com 204. Caso o Governo Federal prossiga com a postura de
mero espectador, esses números poderão dar um salto ainda maior.
Não há mais dúvidas: a GM está se preparando para colocar até 2
mil trabalhadores na rua.
E
tudo isso em uma empresa que está em um momento de aumento de suas
vendas e batendo recordes de faturamento e lucro em suas unidades no
Brasil, em particular na unidade de São José dos Campos,
responsável por 35% do faturamento da GM em nosso país.” [4]
Com tudo isso exposto e
mais a mobilização dos trabalhadores, na sexta-feira (03/08), a
assessoria de imprensa de Mantega divulgou que ele consideraria
“descumprimento do acordo” demissões ocorridas nos setores
beneficiados pela redução do Imposto Sobre Produtos
Industrializados (IPI). [5]
A GM não é um caso
isolado
A credibilidade do
publicado pela assessoria do Ministro da Fazenda é a mesma das
declarações anteriores de Lula e Dilma em relação as suas medidas
“anticrise” e a proteção dos empregos dos trabalhadores que
prometeram com elas.
As multinacionais do
setor automotivo, depois de se fartar com recursos públicos e
isenções fiscais, têm demitido tranquilamente os seus
trabalhadores em todo o país. Não é só a GM que demitiu sem ser
importunada.
No início de julho a
Volvo fechou, em Curitiba, 430 postos de trabalho entre efetivos e
temporários, além de anunciar férias coletivas para parte de seus
funcionários. [6] No
mesmo mês a Volkswagem anunciou um Plano de Demissões Voluntárias
(PDV) em Taubaté. [7] Em maio a
Mercedes-Benz suspendeu o contrato de 1.500 trabalhadores em São
Bernardo do Campo. [8]
Na virada do ano, a sueca
Scania, demitiu 138 trabalhadores em São Bernardo do Campo. [9]
Em 2009 a multinacional não se ruborizou em afirmar que 80% do seu
faturamento naquele ano tinha o dedo do Governo Lula através do
BNDES. [10] A ajuda, aliás, vem de
longa data: em 2003 o banco deu um aporte de US$ 50 milhões para a
empresa exportar. [11]
Os
trabalhadores pagam a crise
O
que antes apresentava-se de forma dissimulada e até parecia dar
alguma veridicidade as frases como as pinçadas no início desse
texto, agora começam a irromper de forma cristalina: as gestões
petistas agem tal qual os governos estrangeiros no que tange a crise
financeira do capitalismo e as palavras contidas em seus discursos
sobre o assunto são vazias, incoerentes e demagógicas.
As
medidas “anticrise” sempre visaram manter o processo de
acumulação e reprodução do capital no país, sempre tiveram como
alvo manter e elevar as taxas de lucros das multinacionais e dos
bancos e não os empregos, os salários e os direitos dos
trabalhadores.
Isenções
fiscais, desonerações da folha de pagamento que prejudicam a
previdência, recursos públicos subsidiados que elevam o
endividamento público, privatizações regadas com dinheiro público
e demissões de trabalhadores sob o olhar complacente do governo
deixam claro que no Brasil, assim como na Europa e nos Estados
Unidos, opera a máxima de privatizar os lucros e socializar os
prejuízos.
Os
trabalhadores brasileiros pagam para ser demitidos, perder serviços
públicos essenciais e direitos. E quem comemora são os bancos e as
multinacionais!
Essa
realidade começa a se escancar aos olhos de muitos, às vezes
através da forma mais dolorosa, como têm comprovado os
trabalhadores do setor automotivo.
Se,
entre 2008 e 2011, as multinacionais do setor receberam R$ 26 bilhões
em isenções fiscais para não garantir os empregos dos brasileiros,
por outro lado, no mesmo período, remeteram 14,6 bilhões de dólares
para o exterior, ou seja, quase toda a isenção fiscal foi destinada
para salvar as matrizes em crise na Europa, nos Estados Unidos, entre
outros. [12]
Os trabalhadores brasileiros pagaram para as multinacionais lucrar e
não falir!
O
aprofundamento, em curso, da crise capitalista no mundo e no país
vai expor cada vez mais a hipocrisia dos discursos das gestões
petistas sobre a crise, o caráter antipovo do seu governo e a sua
submissão ao grande capital.
Ler
também:
A
crise no Brasil
Crise
se aprofunda no mundo e no Brasil
____________________________________
[1]
Dilma pediu ao G20 geração de emprego para enfrentar crise
(07/11/2011):
Contra
a crise, Dilma lembra bordão de Lula (14/07/2012):
Governo
se empenhará em proteger trabalhadores e garantir empregos, diz
Dilma (03/04/2012):
Pronunciamento
à Nação da Presidenta da República, Dilma Rousseff, em cadeia
nacional de rádio e TV, por ocasião das comemorações do Sete de
Setembro (06/07/2011):
[2]
Proposta
entre GM e Sindicato suspende 1.840 demissões (04/08/2012):
[3]
Mantega:
GM gera emprego; governo não trata ações localizadas (31/07/2012):
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2012/07/31/mantega-gm-gera-emprego-governo-nao-trata-acoes-localizadas.htm
[4]
Nota
do Sindicato sobre declaração de Guido Mantega (31/07/2012):
[5]
Agora
Mantega afirma que não vai tolerar demissões (03/08/2012):
[6]
Volvo
anuncia demissões na fábrica de Curitiba
Volvo
demite 208 funcionários de fábrica em Curitiba (04/07/2012):
[7]
Volkswagen
abre Plano de Demissões Voluntárias na fábrica de Taubaté
(02/07/2012):
Volks
anuncia PDV na unidade de Taubaté (03/07/2012):
[8]
Mercedes
suspende contrato de 1.500 empregados (29/05/2012):
[9]
SCANIA
CORTA 138 TRABALHADORES (05/01/2012):
[10]
Novas regras do BNDES já apresentam resultados positivos para a
Scania (28/07/2009):
[11]
BNDES
apóia com US$ 50 milhões aumento das exportações da Scania
(17/07/2003):
[12]
Indústria
automobilística teve isenção de R$ 1 milhão por emprego criado
(02/06/2012):
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