domingo, 29 de maio de 2011

O cadeirante de Barcelona

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A imagem do cadeirante sendo agredido pela polícia em Barcelona, na Espanha, é o típico fato que dispensa argumentos. Mas a cena chocante representa mais do que isso: ela expressa de forma explícita a atual conjuntura política e econômica, onde os de baixo, os mais fracos são impiedosamente atacados pelas classes dominantes. Ela resume perfeitamente o que estamos vivendo. É um símbolo da atualidade!

Acampados há duas semanas em várias praças espalhadas pelo país a população espanhola protesta contra os planos de ajuste do governo contra o povo, contra o sistema econômico e pede por uma democracia real, uma democracia de verdade, pois sente que os políticos não os representam. Eles perceberam a grande farsa que é a democracia representativa dos ricos e se deram conta quem são os reais representados nela.

À pedido dos governos e das classes dominantes locais, o governo espanhol, que não descarta uma ofensiva em outras cidades, ordenou a polícia que iniciasse a retirada dos manifestantes da praça da Catalunya na última sexta-feira. [*] A operação foi violenta, com 121 feridos, de acordo com a grande mídia, e tendo sobrado até para o cadeirante.

O episódio deve ter reforçado no imaginário dos manifestantes suas convicções sobre a atual "democracia". Esta, porém, mantém-se inquestionável no Ocidente. Não vimos nenhum jornalista brasileiro da grande mídia se solidarizar ao cadeirante espanhol, que sequer aparece na maioria das matérias, nem denunciar que o regime espanhol não passa de uma ditadura dos ricos disfarçada de democracia. Ah, se fosse algum governo indesejado pelo Ocidente...

A imagem do cadeirante de Barcelona acuado, encolhido, tentando se defender da ofensiva policial covarde é o símbolo dos nossos tempos. Um tempo onde as classes dominantes, responsáveis pela atual crise econômica, empreendem uma ofensiva violenta, em todos os sentidos, contra os direitos das classes subalternas, pouco importando-se com a sorte dessas.

O policial não abusou sozinho do cadeirante: por trás dele havia a mão das classes dominantes. É a mesma mão que está tascando os direitos sociais e econômicos obtidos com muita luta e sangue pela classe trabalhadora ao longo de anos. Uma mão que já não consegue mais aparentar ser invisível.

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[*] Confronto entre manifestantes e polícia fere 121 em Barcelona (27/05/2011):
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/05/confronto-entre-manifestantes-e-policia-fere-121-em-barcelona.html
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sábado, 28 de maio de 2011

Porque Palocci é culpado e já está condenado

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As instituições do regime podem até não condenar o Ministro-Chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, o que não seria nenhuma novidade quando se trata dos poderosos no Brasil, mas do ponto de vista político e da transformação social ele não só é culpado como já está condenado.

Do chão dos peões para os gabinetes dos patrões

O caso Palocci, além de um eventual tráfico de influência que o ministro possa ter praticado e de um suposto enriquecimento ilícito (que obviamente devem ser condenados), mostra a mudança de classe de um dos principais dirigentes do PT. E é importante notar que ele não foi o único: Luiz Gushiken e José Dirceu também alçaram-se do chão dos peões para os gabinetes dos patrões.

Tal fato não pode ser encarado do ponto de vista simplista "enriquecimento lícito" versus "enriquecimento ilícito" pois há implicações políticas muito sérias que o envolvem.

Uma vez que os próprios dirigentes do PT tenham se acomodado dentro do regime e até se transformado em burgueses, fica fácil entender porque o Governo Lula, e agora o Dilma, apresentam inúmeros pontos de contato com o de Fernando Henrique Cardoso. Fica fácil entender também porque o governo petista não realizou nenhuma reforma social, não mudou o rumo da economia e beneficiou tanto o capital: as mudanças representariam um corte na própria carne, um ataque aos próprios privilégios!

Vejamos um caso recente para perceber de forma cristalina como isso está ocorrendo: a revolta na Hidrelétrica de Jirau.

Regado a muito dinheiro público, o consórcio que está tocando a obra possui um arco de aliança que envolve a burocracia estatal, o capital nacional e até o internacional. A Energia Sustentável do Brasil (ESBR) é formada pela francesa Suez Energy (50.1%), pelas estatais Eletrosul (20%) e Chesf (20%) e pela brasileira Camargo Corrêa (9,9%). [1]

Não foi por acaso que em meio a justa revolta dos trabalhadores de Jirau, submetidos a condições degradantes de trabalho, o Governo Dilma enviou a repressão [2], chancelou as demissões [3] e garantiu a manutenção do envio de dinheiro do BNDES para o consórcio seguir lucrando com a obra.[4] Claro: mexer com o consórcio significaria não apenas combater as empresas privadas (a francesa e a brasileira) mas também os burocratas envolvidos no negócio lucrativo.

Dentro dessa lógica, Palocci manteve relações com empresas poderosíssimas, nacionais e estrangeiras.

Pão de Açúcar, Íbis, LG, Samsung, Claro-Embratel, TIM, Oi, Sadia Holding, Embraer Holding, Dafra, Hyundai Naval, Halliburton, Volkswagen, Gol, Toyota, Azul, Vinícola Aurora, Siemens, Royal (transatlânticos), Itaú-Unibanco, Bradesco Holding e até a EBX recorreram aos préstimos do atual ministro. [5]

Logo não é difícil entender porque ele é considerado hoje um homem de confiança dos mercados e porque estes desejam a sua permanência no governo. [6]

Igual aos outros

Durante o episódio do mensalão o PT fez um esforço danado para demonstrar que era no mínimo igual, e não pior, do que os outros partidos da ordem.

De forma similar, o atual Ministro-Chefe da Casa Civil confessa ter feito apenas aquilo que os outros partidos da ordem fazem. Diz a nota emitida pela Casa Civil:

"No mercado de capitais e em outros setores, a passagem por Ministério da Fazenda, BNDES ou Banco Central proporciona uma experiência única que dá enorme valor a estes profissionais no mercado. Não por outra razão, muitos se tornaram em poucos anos, banqueiros como os ex. Pres. do BACEN e BNDES Pérsio Arida e André Lara Rezende, diretores de instituições financeiras como o ex-ministro Pedro Malan ou consultores de prestígio como ex-ministro Mailson da Nóbrega.

A empresa Projeto prestou serviços para clientes da iniciativa privada tendo recolhido sobre a remuneração todos os tributos devidos. Muitos Ministros importantes também fizeram o percurso inverso, vieram do setor privado para o governo, tomando as precauções devidas para evitar conflitos de interesse, como o ex-ministro Alcides Tápias, ex-diretor de importante instituição financeira, os ex-presidentes do BC Armínio Fraga, antes gestor de um grande fundo de investimentos internacional e Henrique Meirelles, com longa trajetória no mercado financeiro. Os mecanismos utilizados pelo ministro Palocci para impedir qualquer conflito de interesses foram os mesmos adotados pelos citados." [7]

Na corrente "em defesa do Palocci" entrou em cena um personagem importante e de peso: o ex-presidente Lula. [8] Isso mostra àqueles que, diante do evidente conservadorismo do Governo Dilma buscam absolver o antecessor, tal política constitui-se na continuidade do e tem o dedo de Lula. Afinal ele foi o responsável não apenas pela escolha de Dilma como candidata do partido mas também pelo retorno de Palocci.

A culpa do condenado

É difícil entender que a simples labuta seria o segredo da eficiência do Ministro-Chefe da Casa Civil e a única responsável pelo aumento generoso do seu patrimônio em tão pouco tempo.

É difícil acreditar que um dos grandes figurões do principal partido do governo não tenha tido acesso a informações privilegiadas mesmo quando afastado.

É difícil! Mas o tecnicismo juridíco e contábil assim como as armações políticas vão tentar nos convencer de que sim, que tudo se deu dentro da mais pura normalidade.

Mas suponhamos que, apesar de todas as evidências em contrário, tudo tenha ocorrido de fato dentro da mais pura normalidade. Deveria ser aceitável, por aqueles que desejam mudanças, que um dirigente saia do chão dos peões para os gabinetes dos patrões? Deveria ser aceitável, por aqueles que desejam mudanças, que tal dirigente ao invés de distinto se mostre igual aos de sempre?

É provável que as instituições do regime não condenem Palocci, como é de praxe em se tratando dos poderosos no Brasil. Mas do ponto de vista político e da transformção social, àquele que diz hoje que é apenas "igual aos de sempre" e que é celebrado pelas classes dominantes nacionais e estrangeiras pelas suas ações em seu benefício, não só confessou a sua culpa como já demonstrou estar condenado. A História guarda um capítulo infame para tipos como este.

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[1] Energia Sustentável do Brasil traz novo fornecedor de turbina e gerador para o Brasil. Energia Sustentável do Brasil - Press Release. 26/01/2009.
http://www.energiasustentaveldobrasil.com.br/

[2] Governo envia Força Nacional para conter violência em usina de Jirau (17/03/2011):
http://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/03/governo-envia-forca-nacional-para-conter-violencia-em-usina-de-jirau.html

[3] "A demissão, se bem feita e combinada com os sindicatos, não tem problema (...)" - Gilberto Carvalho, Ministro da Secretaria-Geral da Presidência, 20/04/2011, em "Dilma: Belo Monte não pode repetir Jirau", extraído de:
https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/4/20/dilma-belo-monte-nao-pode-repetir-jirau

[4] BNDES manterá financiamento para Jirau e Santo Antônio (21/03/2011):
http://economia.estadao.com.br/noticias/economia+brasil,bndes-mantera-financiamento-para-jirau-e-santo-antonio,59328,0.htm

[5] Palocci teria beneficiado grandes empresas (22/05/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2011/05/palocci-teria-beneficiado-grandes.html

[6] O caso Palocci e a ética do mercado (23/05/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2011/05/o-caso-palocci-e-etica-do-mercado.html

Mercado confia por enquanto na permanência de Palocci
http://www.al.ma.gov.br/paginas/noticias.php?codigo1=7323

[7] Nota da Casa Civil sobre o caso Palocci
https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/5/18/todas-as-informacoes-constam-da-declaracao-de-renda

http://m.folha.uol.com.br/poder/917083-veja-a-integra-da-nota-de-palocci-sobre-empresa-e-patrimonio.html

http://correiodobrasil.com.br/casa-civil-publica-nota-sobre-palocci/241255/

[8] Nos bastidores, Lula articula reação à crise que cerca Palocci (26/05/2011):
http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/nos+bastidores+lula+articula+reacao+a+crise+que+cerca+palocci/n1596979586309.html

'Quem acusa, tem que provar', afirma Lula sobre caso Palocci (24/05/2011):
http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/quem+acusa+tem+que+provar+afirma+lula+sobre+caso+palocci/n1596975889241.html

Caso Palocci pauta encontro de Lula com senadores do PT (24/05/2011):
http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/caso+palocci+pauta+encontro+de+lula+com+senadores+do+pt/n1596975678670.html
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segunda-feira, 23 de maio de 2011

O caso Palocci e a ética do mercado

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A notícia abaixo, publicada na Valor de 19 de maio, mostra claramente que a ética dos mercados está pautada por um único princípio: a garantia e o incremento dos seus lucros!


Economia
19/05/2011 - 07:47:40 - Versão para impressão
Mercado teme enfraquecimento de ministro Palocci

O possível enfraquecimento do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, causa desconforto em boa parte do mercado. Ainda que longe do comando da economia, ele é visto por muitos analistas como o interlocutor mais confiável do sistema financeiro, disposto a lutar contra mudanças bruscas na condução da política econômica. Um Palocci fraco ou fora do governo tende a aumentar o grau de incerteza dos investidores em relação aos rumos da administração Dilma Rousseff na economia, embora isso não deva se traduzir em grande turbulência nos mercados ou em declarações mais enfáticas em defesa do ministro.

"Para o mercado, Palocci é o integrante do governo de bom senso, com uma cabeça organizada, que pode evitar maluquices na economia", diz o economista de uma instituição financeira com passagem pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Segundo ele, a saída de Palocci seria mal recebida por "tirar uma âncora de uma certa racionalidade dentro do governo".

Nas últimas semanas, parte do mercado identificou alguma inflexão na política econômica em relação ao tom menos ortodoxo do começo do ano. O Banco Central adotou um discurso um pouco mais duro no combate à inflação, indicando que o ciclo de alta de juros pode ser mais extenso do que se imaginava, e o governo aparentemente deixou de defender o nível de R$ 1,65 para o câmbio. Para esse analista, a mudança, ainda que não radical, se deve em alguma medida a Palocci. "Ainda que não seja parte da equipe econômica, Palocci é um dos ministros mais próximos de Dilma, um interlocutor diário, que tem uma preocupação grande com a inflação."

E o mercado tentaria de algum modo defender Palocci, mostrando como considera importante a permanência do ministro? "Acho difícil, porque, dada a dinâmica do PT, qualquer movimento mais explícito do mercado para tentar blindar Palocci teria efeitos colaterais negativos", responde a fonte.

Para um economista de uma grande consultoria, Palocci é sem dúvida o grande interlocutor do mercado dentro do governo, sendo o único que pode ajudar o presidente do BC, Alexandre Tombini, a enfrentar as "batalhas de Brasília". Por ter um perfil técnico, sem musculatura política, Tombini ficaria mais suscetível a pressões por ser menos rígido na condução da política monetária, diz a fonte, que já esteve no comando do BC.
Segundo esse economista, o enfraquecimento ou saída de Palocci do governo voltaria a aumentar a incerteza quanto à política econômica. O novo discurso do BC e a decisão de não defender o câmbio a qualquer custo ainda são muito recentes, diz a fonte. "Ainda é cedo para dizer se houve de fato uma inflexão mais ortodoxa, e a saída de Palocci seria uma má notícia para os investidores". Isso não quer dizer, porém, que haveria grande estresse nos mercados. A piora das expectativas não produziria impacto negativo imediato, mas a médio prazo, acredita ele.

Já o economista de um grande banco estrangeiro relativiza um pouco a importância de Palocci para o mercado. Hoje, diz ele, uma parte das instituições, embora minoritária, já vê com bons olhos a gestão de Tombini, e acredita no compromisso do governo com a meta fiscal. "A visão do mercado hoje é menos monolítica", afirma o economista.
Mesmo com essa ressalva, o analista destaca que muitos investidores veem o papel de Palocci no governo como bastante importante. "A influência sobre a política econômica me parece pequena, mas Palocci tem grande peso na articulação política", diz ele. "Na votação do salário mínimo, o ministro teve atuação fundamental para garantir o valor de R$ 545, um resultado importante para o esforço fiscal do governo." A perda de força de Palocci prejudicaria o governo no Congresso, acredita a fonte (Valor, 19/5/11)

Extraído de:
http://www.brasilagro.com.br/index.php?noticias/detalhes/8/35971
http://www.valoronline.com.br/impresso/politica/100/429393/mercado-teme-enfraquecimento-de-ministro
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domingo, 22 de maio de 2011

Palocci teria beneficiado grandes empresas

Homem de confiança dos mercados[*], Palocci é acusado de praticar tráfico de influência


Deputados vazam que Palocci operou a fusão Itaú-Unibanco e favoreceu dezenas de empresas

Por Agência Serra

O jornalista Jorge Serrão, no blog Alerta Total, nesta quarta-feira, divulga informações explosivas contra Antonio Palocci. Diz a matéria: "Em absoluto sigilo, o médico, ex-ministro da Fazenda de Lula e deputado federal Antônio Palocci Filho, foi um dos “cirurgiões” contratados e muito bem pagos para coordenar a complicadíssima fusão entre os bancos Itaú e Unibanco, em novembro de 2008. A empresa de Palocci – com todo o conhecimento do ex-governador José Serra – também prestou serviços às empreiteiras que atuaram na obra do Rodoanel, em São Paulo.

A consultoria de Palocci tinha (ou tem?) parcerias com o advogado e também consultor José Dirceu – também ex-ministro da Casa Civil, até o ser derrubado pelo escândalo do Mensalão. Mas esses foram apenas dois entre as dezenas de trabalhos de Palocci que fizeram sua empresa Projeto Consultoria, Planejamento e Eventos Ltda arrecadar – pelo menos oficialmente - R$ 7,4 milhões, desde 2006. Deputados de oposição vazaram para alguns jornalistas, ontem à noite, a lista de empresas para quem o atual ministro-chefe da Casa Civil trabalhou (ou ainda trabalha?). Os sigilosos contratos de Palocci foram (ou são) com as maiores empresas que atuam no Brasil. Por isso, pode ser ainda maior que 20 vezes o surpreendente crescimento de seu patrimônio pessoal, nos últimos quatro anos.

Na inconfidência cometida por deputados, Palocci prestou assessoria internacional para as Organizações Globo. Palocci é um dos principais tocadores da Operação Copa do Mundo, junto com o companheiro José Dirceu. Também pilota, pessoalmente, o modelo de concessão de áreas dos aeroportos. Ele e Dirceu prestam consultorias para grandes empresas na área de telecomunicações. O agora revelado poder de relacionamento empresarial de Palocci explica por que Henrique Meirelles preferiu tirar o corpo fora do governo.

A lista vazada do portifólio de Palocci é longa. Além do Itaú-Unibanco, na área financeira, o principal ministro de Dilma Rousseff trabalhou para a Bradesco Holding. Até a EBX do bilionário Eike Batista usou os bons serviços do “doutor” Palocci. A Petrobrás e a Vale também usaram os sigilosos serviços do ilustre consultor. Tamanho prestígio indica que o verdadeiro fiador e articulador econômico-financeiro da eleição de Dilma Rousseff foi Palocci – e não o ex-presidente Lula. Além das empresas já citadas, foram clientes de Palocci, na versão vazada pelos deputados (que um repórter de um grande jornal gaúcho e uma famosa colunista das Organizações Globo preferiram não divulgar), pelo menos por enquanto: Pão de Açúcar, Íbis, LG, Samsung, Claro-Embratel, TIM, Oi, Sadia Holding, Embraer Holding, Dafra, Hyundai Naval, Halliburton, Volkswagen, Gol, Toyota, Azul, Vinícola Aurora, Siemens, Royal (transatlânticos).

Deputados vazaram a lista de clientes sigilosos de Palocci em retaliação ao conteúdo do e-mail enviado ontem (terça-feira) pela Casa Civil, falando em nome do ministro, aos líderes partidários. A bronca foi com um item da nota oficial alegando que a nota que “o ministro não manteve nenhuma atividade vedada quando era deputado e que 273 deputados federais e senadores da atual legislatura são sócios de estabelecimentos comercial, industrial, de prestação de serviços ou de atividade rural". A nota também irritou Pedro Malan, Armínio Fraga, Henrique Meirelles, Persio Arida, Mailson da Nóbrega e André Lara Rezende – citados como pessoas que viraram banqueiros e consultores de prestígio quando deixaram o governo federal.

Palocci esclareceu que todas informações sobre seu patrimônio estão na sua declaração de renda de pessoa física e que todos os dados fiscais e contábeis da empresa Projeto são enviados regularmente à Receita Federal:

-“Não há nenhuma vedação que parlamentares exerçam atividade empresarial, como o atesta a grande presença de advogados, pecuaristas e industriais no Congresso. Levantamento recente mostrou que 273 deputados federais e senadores da atual legislatura são sócios de estabelecimentos comercial, industrial, de prestação de serviços ou de atividade rural”.

-“No mercado de capitais e em outros setores, a passagem por Ministério da Fazenda, BNDES ou Banco Central proporciona uma experiência única que dá enorme valor a estes profissionais mo mercado. Não por outra razão, muitos se tornaram em poucos anos, banqueiros como os ex. Pres. do BACEN e BNDES Pérsio Arida e André Lara Rezende, diretores de instituições financeiras como o ex-ministro Pedro Malan ou consultores de prestígio como ex-ministro Mailson da Nóbrega”.

-“Muitos Ministros importantes também fizeram o percurso inverso, vieram do setor privado para o governo, tomando as precauções devidas para evitar conflitos de interesse, como o ex-ministro Alcides Tápias, ex-diretor de importante instituição financeira, os ex-presidentes do BC Armínio Fraga, antes gestor de um grande fundo de investimentos internacional e Henrique Meirelles, com longa trajetória no mercado financeiro. Os mecanismos utilizados pelo ministro Palocci para impedir qualquer conflito de interesses foram os mesmos adotados pelos citados”.

A nota da Casa Civil alega que hoje a empresa de Palocci “tem como única finalidade a administração de seus dois imóveis em São Paulo”:

-“O objeto social da sociedade foi modificado antes da posse como Ministro para vedar qualquer prestação de serviço que implique conflito de interesse com o exercício de cargo público, nos termos da legislação vigente. A gestão dos recursos financeiros da empresa foi transferida a uma gestora de recursos, que tem autonomia contratual para realizar aplicações e resgates, de modo a evitar conflito de interesse”.



Extraído de:
http://www.agenciaserra.com.br/ler_noticia.php?acao=noticia&id=8917

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[*] Mercado confia por enquanto na permanência de Palocci

O mercado teve um dia de intensa volatilidade ontem, acompanhando o depoimento do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara. Investidores começaram o dia apostando na saída iminente de Palocci e o mercado viveu momentos de stress. À tarde, o humor melhorou: analistas passaram a confiar na permanência do ministro no cargo, pelo menos por enquanto.

A Bovespa chegou a cair 2,05%, reverteu a queda no meio da tarde e encerrou o dia em alta de 1,22%. O risco país bateu nos 350 pontos, para fechar em 346 pontos, em queda de 0,29%. Só a moeda americana contrariou a tendência positiva e fechou em R$ 2,24, em alta de 1,08% - mesmo assim, abaixo da máxima de R$ 2,26 registrada durante o dia.

Fonte: AGÊNCIA ESTADO

Extraído do site da Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão (Maio/2011):
http://www.al.ma.gov.br/paginas/noticias.php?codigo1=7323
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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Em busca da democracia real

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"Estamos nos manifestando contra uma classe política que não nos representa nem quer nos representar"
Pablo López, estudante, 21 anos. [*]


A Espanha está em semana de eleições municipais. Mas quem tomou o protagonismo da cena política no país não foi nenhum candidato a cargo eletivo. É o povo quem está entrando em cena.

Inspirada nos movimentos que sacudiram o Norte da África, recentemente, a juventude começou a se concentrar em praças de várias cidades do país, com destaque para a capital Madrid, desde o último domingo (15). Já foram quatro dias consecutivos de protestos e eles têm recebido o apoio de desempregados, trabalhadores precarizados, e da população em geral, que se somam aos jovens.

A cada final de tarde a concentração de pessoas se expande e atos e assembléias são realizadas. Os protestos têm alvos claros: a farsante democracia representativa burguesa, os políticos, os partidos da ordem, os banqueiros, os planos de ajustes neoliberais que precarizam ainda mais a vida do povo e o sistema sócio-econômico.

Os manifestantes dizem claramente que desejam um outro modelo sócio-econômico que privilegie as pessoas e não os lucros e uma democracia de verdade, real.

Democracia Real Ya, ou Movimento 15 de Maio, é o nome do movimento que tem organizado os protestos. Abaixo segue o manifesto do mesmo e alguns vídeos:

Manifesto (English)

We are ordinary people. We are like you: people, who get up every morning to study, work or find a job, people who have family and friends. People, who work hard every day to provide a better future for those around us.
Some of us consider ourselves progressive, others conservative. Some of us are believers, some not. Some of us have clearly defined ideologies, others are apolitical, but we are all concerned and angry about the political, economic, and social outlook which we see around us: corruption among politicians, businessmen, bankers, leaving us helpless, without a voice.
This situation has become normal, a daily suffering, without hope. But if we join forces, we can change it. It’s time to change things, time to build a better society together. Therefore, we strongly argue that:

- The priorities of any advanced society must be equality, progress, solidarity, freedom of culture, sustainability and development, welfare and people’s happiness.
- These are inalienable truths that we should abide by in our society: the right to housing, employment, culture, health, education, political participation, free personal development, and consumer rights for a healthy and happy life.
- The current status of our government and economic system does not take care of these rights, and in many ways is an obstacle to human progress.
- Democracy belongs to the people (demos = people, krátos = government) which means that government is made of every one of us. However, in Spain most of the political class does not even listen to us. Politicians should be bringing our voice to the institutions, facilitating the political participation of citizens through direct channels that provide the greatest benefit to the wider society, not to get rich and prosper at our expense, attending only to the dictatorship of major economic powers and holding them in power through a bipartidism headed by the immovable acronym PP & PSOE.
- Lust for power and its accumulation in only a few; create inequality, tension and injustice, which leads to violence, which we reject. The obsolete and unnatural economic model fuels the social machinery in a growing spiral that consumes itself by enriching a few and sends into poverty the rest. Until the collapse.
- The will and purpose of the current system is the accumulation of money, not regarding efficiency and the welfare of society. Wasting resources, destroying the planet, creating unemployment and unhappy consumers.
- Citizens are the gears of a machine designed to enrich a minority which does not regard our needs. We are anonymous, but without us none of this would exist, because we move the world.
- If as a society we learn to not trust our future to an abstract economy, which never returns benefits for the most, we can eliminate the abuse that we are all suffering.
- We need an ethical revolution. Instead of placing money above human beings, we shall put it back to our service. We are people, not products. I am not a product of what I buy, why I buy and who I buy from.
For all of the above, I am outraged.

I think I can change it.
I think I can help.
I know that together we can.I think I can help.

I know that together we can.

Extraído de:
http://democraciarealya.es/?page_id=814



http://www.youtube.com/watch?v=7dc1ZIoDi4w&feature=related



http://www.youtube.com/watch?v=3ldCL0imJZM&feature=related

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[*] Milhares vão às ruas na Espanha para protestar contra desemprego (19/05/2011):
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2011/05/19/milhares-vao-as-ruas-na-espanha-para-protestar-contra-desemprego-924495892.asp

Outros links sobre o assunto:

Revoltas jovens começam a contagiar Europa (19/05/2011):
http://www.outraspalavras.net/2011/05/19/revoltas-jovens-agora-no-centro-do-mundo/

Manifestantes tomam conta da campanha eleitoral espanhola
http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1856023&seccao=Europa

15M: Política sin políticos ¡Todo el poder para las Asambleas!
http://madrid.indymedia.org/node/17355

Manifestación Democracia Real Ya
http://madrid.indymedia.org/node/17201

Jueves día 19 de Mayo. ASAMBLEA A LAS 12:00 horas
http://madrid.indymedia.org/node/17274
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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Strauss-Kahn: um símbolo da perversão socialdemocrata

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No último dia 14, o francês Dominique Strauss-Kahn foi preso nos Estados Unidos sob a acusação de tentar abusar sexualmente de uma camareira de um hotel. O fato repercutiu internacionalmente como um escândalo.

Seria ele um maníaco sexual? Pode ser! Ou seria ele vítima de alguma "cama-de-gato" política para inviabilizar a sua provável candidatura a presidência da França? Também não se pode descartar. Ambas as interrogações são hipóteses que podem ser verdadeiras ou falsas.

No entanto há uma certeza em toda esta História: Dominique Strauss-Kahn encarna e simboliza a perversão ideológica da socialdemocracia européia.

Nascida no calor das mobilizações operárias no século XIX e defensora da conciliação de classes a socialdemocracia foi se acomodando rapidamente na estrutura de poder político da burguesia.

Constam no seu currículo o apoio à Primeira Guerra Mundial, a conivência com o assassinato de Rosa Luxemburgo, a aliança com as classes dominantes capitalistas nos regimes de welfare state que visava combater o anticapitalismo, etc. Por isso são chamados de "a esquerda evoluída e inteligente" por alguns direitistas.

Com o advento do neoliberalismo passaram a implementar medidas privatizantes, reduzir a oferta de serviços públicos e a promover cortes de direitos sociais, em muitos casos com uma velocidade e "eficiência" superior à dos partidos de direita tradicionais. Soma-se a isso o apoio e a participação nas guerras imperialistas de pilhagem.

Em resumo: são agentes do capital! Isso explica porque o "socialista" Dominique Strauss-Kahn era presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), instituição comprometida com a banca capitalista global. Possivelmente sua gestão a frente da França teria muitos pontos de contato com a de Sarkozy.

A classe trabalhadora européia deve rejeitar essa perversão ideológica chamada socialdemocracia. Romper, de vez, com seus chefes oportunistas, acreditar nas suas próprias forças e desenvolver outras alternativas políticas.
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sexta-feira, 13 de maio de 2011

Deletando a periferia

Prefeitura do Rio ganhou na "Justiça" direito de retirar dos mapas do Google as favelas. O argumento é o de que estas estariam encobrindo bairros nobres e pontos turísticos.


Mapas com imagens de favelas do Rio serão retirados do Google

Prefeitura fez o pedido após perceber que bairros ficavam escondidos entre favelas
Do R7 | 28/04/2011 às 11h52

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A prefeitura do Rio de Janeiro ganhou na Justiça o direito de obrigar o Google a retirar as favelas do Rio de Janeiro dos mapas que o site disponibiliza na internet. A empresa americana se desculpou e informou que fará as alterações em seis meses.

O pedido foi feito depois da constatação de que o Google Maps incluiu, no mapa do Rio, cerca de 600 favelas, mas não mostra bairros pequenos e alguns pontos turísticos. As comunidades têm mais destaque do que os bairros de classe média.

A empresa chegou a receber várias queixas de internautas e de autoridades, mas o problema persistia.

Desde 2009, a prefeitura do Rio pedia as correções. Os erros são grosseiros. No bairro do Cosme Velho, por exemplo, a favela da Vila da Imaculada Conceição tem mais destaque do que o bondinho para o Cristo Redentor, que quase não aparecia.

A empresa também se desculpou pelo fato de o bairro do Humaitá, na zona sul do Rio, aparecer menos que a favela com o mesmo nome. Outro problema surge quando o internauta tenta localizar o Autódromo de Jacarepaguá, na zona oeste. Por estar no meio de nove complexos, fica bem difícil encontrar o local.


Extraído de:
http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/mapas-com-imagens-de-favelas-do-rio-serao-retiradas-de-site-de-empresa-americana-20110428.html
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quarta-feira, 11 de maio de 2011

O pedido de desculpas não aplaca o preconceito

Delfim Neto pediu desculpas públicas por ter ofendido as empregadas domésticas em entrevista no Canal Livre. Mas a desculpa não apaga o preconceito de classe.

Em entrevista ao programa Canal Livre, da Rede Bandeirantes, no início do mês passado, Delfim Neto chamou as empregadas domésticas de "animais". O economista não estava de cabeça quente e utilizou tal expressão com uma frieza assustadora, como pode ser verificado abaixo:


http://www.youtube.com/watch?v=kZNOOwdac5Q

Pressionado pelo Instituto Doméstica Legal, que exigiu reparações, Delfim Neto, mais de um mês após a declaração, fez um pedido público de desculpas e registrou em cartório.

Mas mesmo neste momento ele não conseguiu esconder o caráter elitista e preconceituoso do seu modo de pensar. Delfim considerou o repúdio das empregadas domésticas às suas palavras uma "tempestade num copo d'água" e fez uma analogia descabida com um suposto uso corriqueiro do termo "animal" pelos profissionais da Economia:
"Os economistas (eu, inclusive) usam corriqueiramente a expressão 'fazer nascer o espírito animal dos empresários' como forma de despertá-los para oportunidades de investimento e não me lembro de nenhum empresário que tenha se declarado ofendido ou humilhado." [1]

Não precisa ser PhD em letras para saber da diferença gritante entre as duas formas de aplicação da mesma expressão, que ele tenta igualar.


O preconceito social em perspectiva histórica

Os ideológos das classes dominantes, que se diziam campeões das liberdades e do respeito às individualidades, apresentavam grande desprezo pelas classes subalternas.

O liberal inglês John Locke considerava as classes subalternas meras "bestas de carga", no século XVII. Na França do século XVIII, o também liberal, Benjamin Constant, justificatva a exclusão das classes subalternas da política assimilando-as à "crianças" e à "estrangeiros". Nos Estados Unidos, os "Pais Fundadores" também desprezavam as classes populares: se para Gouverneur Morris estas não passavam de "crianças", para Hamilton eram os "mais depravados morais" da sociedade. Isto sem falar em outros termos como "a canalha" e "multidão suína" (Burke) utilizados para se referir às classes subalternas. [2]

Todas essas expressões eram utilizadas em vários contextos. Mas nem por isso negavam o preconceito social dos ideólogos das classes dominantes.

No Brasil, no século XIX, os intelectuais das elites muito se apoiaram nos escritos dos pensadores anteriores tanto para justificar a sua dominação quanto para defender a exclusão das classes baixas da política.

A luta dos explorados conquistou direitos políticos e sociais. Mas ainda não derrotou o preconceito social das classes dominantes e dos pensadores à seu serviço.


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[1] Delfim Netto pede desculpas às empregadas domésticas (10/05/2011):
http://g1.globo.com/economia/noticia/2011/05/delfim-netto-pede-desculpas-as-empregadas-domesticas.html

Delfim protocola pedido público de desculpas a empregados domésticos (10/05/2011):
http://www.band.com.br/jornalismo/cidades/conteudo.asp?ID=100000430094

[2] O desgaste da democracia representativa moderna (09/09/2010):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2010/09/o-desgaste-da-democracia-representativa.html

A "Contra-História do Liberalismo" (17/09/2009):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2009/09/contra-historia-do-liberalismo.html
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sábado, 7 de maio de 2011

Rádio comunitária é fechada no Rio

No dia da liberdade de imprensa, Rádio Santa Marta é fechada no Rio de Janeiro. A grande mídia "livre" não deu um pio.

O Governo Lula fechou mais rádios comunitárias do que Fernando Henrique Cardoso. Dilma, por sua vez, parece disposta a seguir quebrando esse recorde. No último dia 3, a Rádio Santa Marta, mídia alternativa e comunitária que operava na zona sul do Rio, foi fechada pela Polícia Federal a mando da Anatel. Para piorar, seus comunicadores foram detidos. A grande mídia privada "livre" não deu um único pio. Liberdade na ótica dos tubarões da grande mídia, que demitem seus subordinados por delito de opinião, só vale para eles mesmos!


Rádio Santa Marta é fechada e comunicadores populares são detidos

Na manhã desta terça-feira (3/5), a rádio comunitária Santa Marta, localizada na comunidade de mesmo nome, em Botafogo, zona Sul do Rio, foi fechada em uma ação da Polícia Federal e da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL). Os agentes lacraram todos os equipamentos e levaram o transmissor. Rapper Fiell (Emerson Claudio Nascimento) e Antonio Carlos Peixe, os diretores da emissora, foram levados pelos agentes para as dependências da Polícia Federal, na Praça Mauá, Rio. Parece ironia, mas a ação repressora que fechou a rádio comunitária do morro carioca ocorreu no Dia Mundial de Liberdade de Imprensa, decretado pela ONU em 1993.

A rádio comunitária Santa Marta foi construída de forma coletiva por moradores de diversas comunidades. Por ser uma conquista dos trabalhadores, recebeu as doações de equipamentos para o seu funcionamento: computadores, móveis e cursos de capacitação para os locutores e colaboradores da rádio - todos moradores da favela Santa Marta. (Leia aqui http://migre.me/4qzzu). Os participantes da emissora estavam preparando toda a documentação para entrar com o pedido de autorização de funcionamento ao Ministério das Comunicações.

Rapper Fiell, um dos detidos na operação, é um atuante ativista do movimento social. Já lançou dois CDs e produziu um curta-metragem sobre o morro carioca: o 788. Este último foi ganhador de dois prêmios, um nacional e outro na Holanda. Faz rádio livre e comunicação popular há pouco mais de um ano. Ele é conhecido dos movimentos sociais por sua militância em defesa dos direitos dos trabalhadores e dos moradores de favelas. Em reconhecimento a seu trabalho, no dia 19 de abril ministrou aula para alunos do curso de Ciências Sociais da UFRJ, a convite do sociólogo Luiz Antonio Machado da Silva. Cultura da favela, hip hop e comunicação comunitária foram os temas da aula.

Essa não é a primeira vez que o militante é vítima da criminalização por parte do Estado. Em maio do ano passado, ele foi preso e espancado por policiais que invadiram o bar de seu sogro no morro Santa Marta e obrigaram os presentes a encerrar o tradicional pagode que ocorre no local. Na ocasião, Fiell pegou o microfone e começou a ler a lei do silêncio. Ao invés de pedirem para abaixar o som, os policiais saíram desligando tudo. "Depois disso, me deram voz de prisão, me arrastaram de cima do palco e começaram a me espancar", contou na época.

Foi para evitar esse e outros abusos de poder dos agentes das chamadas Unidades de Polícia "Pacificadora" (UPPs) que Fiell elaborou uma cartilha sobre abordagem policial. À época, o rapper e outros moradores já denunciavam a truculência da polícia no trato cotidiano com os moradores. Entidades de defesa dos direitos humanos e organizações populares se manifestam nesse momento contra a ação repressora da Polícia Federal e da Anatel, que vem se repetindo pelo Brasil inteiro e agora chega até o morro carioca, calando o espaço que ajudaram a construir para erguer sua voz.

Para baixar a cartilha: http://www.4shared.com/file/246779657/283a0d20/Cartilha_Popular__do_Santa_Mar.html

URL:: http://www.renajorp.net/radio-santa-marta-e-fechada-e-comunicadores-populares-sao-detidos/

Extraído do Centro de Mídia Independente:
http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2011/05/490444.shtml


No dia da liberdade de imprensa, Rádio Santa Marta é fechada pela Polícia.

No dia mundial da liberdade de imprensa, Rádio Santa Marta é fechada pela Polícia Federal do Rio; Rapper Fiell e outra liderança são detidos

Segundo as primeiras informações, o Rapper Fiell (Emerson Claudio) e Antonio Carlos Peixe, que integram a Rádio Santa Marta Comunitária, estão sendo levados para a Polícia Federal na Praça Mauá, centro do Rio de Janeiro. A ação é de responsabilidade da Agência Nacional de Telecomunicação (Anatel).

As informações dão conta de que o transmissor foi apreendido na manhã desta terça (3), mas não lacraram a Rádio, que é comunitária e tem amplo apoio do movimento social e da comunidade local.

Os que quiserem apoiar juridicamente Rapper Fiell devem ligar para o número de telefone (21) 7704-0912. Fiell e outro integrante, o 'Peixe', foram convocados a prestar depoimento na Polícia Federal, levados no camburão da PF.

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado (ALERJ) já foi acionada, por meio do presidente da Comissão, o deputado Marcelo Freixo. O vereador Eliomar Coelho também já foi contactado.

A ação da Polícia Federal contra uma rádio livre ocorre em pleno "Dia Mundial da Liberdade de Imprensa".

URL:: http://www.consciencia.net

Extraído do Centro de Mídia Independente:
http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2011/05/490443.shtml


Rádio Santa Marta é Fechada!

Rio de Janeiro, 04/05/2011

Informamos aos ouvintes que, na manhã do dia 3 de maio de 2011, a Rádio Comunitária Santa Marta foi fechada por agentes da Polícia Federal e da Anatel.

Como é de conhecimento geral, a rádio é comunitária e não tem fins lucrativos. Não vende programas e nem espaço para a propaganda. É mantida através de doações de amigos e dos próprios locutores, que trabalham de forma voluntária.

A Rádio Santa Marta não é pirata; é RÁDIO COMUNITÁRIA.

Apesar disso, o transmissor da rádio foi apreendido. Dois diretores foram levados para depor.

A liberdade de imprensa é um direito nosso. E como todo direito deve ser conquistado. No Brasil, para se ter uma rádio, é necessária uma concessão, que os trabalhadores nunca vão conseguir comprar.

Por isso, lutar pela legalização da Rádio Santa Marta é lutar pelos direitos dos trabalhadores da favela. O direito de produzir suas notícias e seu entretenimento sem depender da grande mídia.

Agradecemos as inúmeras manifestações de apoio que recebemos, e pedimos que continuem nos apoiando.

A rádio segue normalmente pela internet - www.radiosantamarta.com.br

Acompanhem a programação. Desejamos um feliz dia Mundial pela Liberdade de Imprensa.

Rádio Santa Marta - ouça aqui | No dia da liberdade de imprensa, Rádio Santa Marta é fechada pela Polícia | Rádio Santa Marta é fechada e comunicadores populares são detidos | "A voz do morro Santa Marta não deve ser calada"

Extraído do Centro de Mídia Independente:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2011/05/490469.shtml


"A voz do morro Santa Marta não deve ser calada"

Na primeira comunidade do Rio de Janeiro a ser atendida pela Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), o morro Santa Marta, na zona sul carioca, uma rádio comunitária teve seu transmissor apreendido na tarde de ontem (03) pela Polícia Federal, sob o comando da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Impedida de transmitir sua programação na 103.3 FM, a Rádio Santa Marta instalou na manhã desta quarta-feira seu equipamento na entrada da comunidade e realizou sua programação na rua como ato de repúdio à ação que sofreu. Em entrevista ao Fazendo Media, Emerson Claudio Nascimento, mais conhecido como Rapper Fiell, locutor da rádio, diz que o projeto está incomodando ao organizar e passar informações ao povo. Segundo ele, houve uma censura por questões políticas e não técnicas.

De onde surgiu a necessidade da rádio comunitária?

A necessidade é óbvia né: o povo precisa da sua voz, precisa discutir os seus assuntos. E só uma rádio comunitária feita pela população local que vai possibilitar a esses debates e assuntos serem publicizados e discutidos. Em uma rádio comercial, infelizmente, os assuntos da favela não são discutidos. Quando são, é de forma vertical.

Como é a programação da Rádio Santa Marta?

É uma programação eclética, com mais de 20 programas aonde toda a diversidade cultural e política do morro está. É uma rádio comunitária plural, na qual o morador tem voz. A nossa ética da rádio sempre foi essa: de dentro para fora. Então montamos a grade e hoje a rádio é referência para o Brasil em termos de rádio comunitária.

E como é o tratamento em termos de serviços e informes?

Temos os programas específicos, como o matutino "Fala Zé", que é o informativo da Associação de Moradores, e no final de semana tem o programa "Olhares do Mundo", apresentado por mim e que discute vários assuntos do Santa Marta, do Rio, do Brasil e do mundo. Durante a programação os informes vão chegando e todos os programas vão publicizando, então a parte jornalística da rádio vai sendo alimentada conforme vai chegando no nosso e-mail.

Como você vê essa ação de ontem? É uma questão mais técnica ou política?

É política, a censura é moldar a voz do povo. Imagina o povo com voz. Hoje o Santa Marta há 8 meses fala dos seus problemas locais, do seu povo, divulga a música do artista local, e nesse tempo conseguimos unir toda uma diversidade de gerações. Hoje a população liga para a rádio, participa, fala do seu aniversário, da sua festa, enfim. Isso incomoda a imprensa hegemônica, que realmente não gosta quando o povo se organiza e tenta também ter direito à comunicação.

Fiell tocando o programa Conexão Periferia, da Rádio Santa Marta, com o melhor do rap nacional. Foto: Dorlene Meireles/Grupo ECO.

Você pode fazer um relato do que aconteceu ontem? Qual foi o argumento apresentado?

Não teve argumento, o argumento era vir para fechar a rádio comunitária. Não teve mandato, nenhum documento formal com o nosso endereço, então foi irregular a ação. Só que a Anatel vem junto da Polícia Federal, então imagina qualquer morador de favela se for falar o contrário da polícia: vai ser autuado como desacato à autoridade.

Infelizmente prenderam o nosso transmissor, e me levaram junto com o outro locutor. O transmissor custa perto de R$ 6mil, só que o nosso foi doado, teve a participação do Marcelo Yuka e da ONG Promundo. A rádio vive de solidariedade, para quitar os débitos fazemos festas e contamos com a ajuda do povo. Não só dos moradores, mas de qualquer outro morador da cidade que tem solidariedade a esse projeto. Todos os locutores também contribuem com o que podem, então a rádio sobrevive dos amigos da rádio e da população do Santa Marta.

Depois do ocorrido, o que ficou determinado a partir de hoje?

A gente tem que ter uma outorga. Eles falaram que temos que correr atrás de uma liminar para poder botar a rádio no ar de novo na 103.3 FM. Desde ontem o povo já sentiu a falta, procurou a sintonia e encontrou um vazio. Hoje estamos aqui na primeira estação do bondinho (plano inclinado no Santa Marta), e a rádio está ao vivo na rua em repúdio a essa ação da Anatel junto com a Polícia Federal, que foi ilegal. Infelizmente a gente fica triste, numa favela que está com a UPP e poderia dar realmente voz aos moradores você se depara com essa ação.

Como está a formalização da rádio, vocês têm caminhado nesse sentido?

A burocracia para a rádio comunitária é vasta, então é preciso uma diretoria, uma fundação de uma associação de radiodifusão, cinco entidades dentro da favela para poder montar o conselho fiscal, então tudo isso é para você não ter uma rádio. Já conseguimos tudo isso, agora a gente está encaminhando a documentação para Brasília, mas ainda não deu tempo. O processo é lento, e precisa de muita coisa para um rádio comunitária que não tem fins lucrativos. Nenhum pastor é dono da rádio Santa Marta, não tem ninguém partidário, enfim, a rádio é do povo e pelo povo.

Como foi a conversa ontem?

Só prenderam o transmissor na Polícia Federal e a gente foi prestar depoimento do que estamos fazendo na rádio, quem somos nós, e etc. Só quem se prejudica foi a população do Santa Marta, porque não vai ficar sabendo dos seus assuntos que estão acontecendo agora como a falta de água e o esgoto a céu aberto jorrando com um fedor danado. Enfim, só a rádio pode falar isso de forma que atinja todo mundo nas suas casas.

O transmissor só vai sair de lá com uma liminar. Estamos juntos com uns advogados e os movimentos sociais para entendermos como funciona isso e buscarmos uma solução. Não vamos parar, estamos fazendo a rádio na rua e vamos rodar o morro inteiro em forma de protesto contra a Anatel. Faremos toda a semana, vai ser direto. A rádio funciona normalmente na internet, está sendo transmitido agora no www.radiosantamarta.com.br . A galera pode mandar alguma vinheta para a gente se solidarizando, no e-mail radiosmarta@gmail.com , que a gente vai tocar. E agradecemos todo o apoio da mídia alternativa, dos movimentos sociais e do povo do Santa Marta, que está assinando um abaixo assinado, e de todos os colaboradores.

URL:: http://www.fazendomedia.com

Extraído do Centro de Mídia Independente:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2011/05/490447.shtml
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