sexta-feira, 30 de março de 2018

Os mitos do “mito”

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As conjunturas de crise do capitalismo chacoalham a normalidade das sociedades burguesas, expõem a realidade da representação da sua democracia gerando, ou aprofundando, o descrédito da classe política perante as massas, elevando assim os conflitos sociais e a polarização.

Nesse cenário a disputa política se agudiza e ganham mais proeminência aqueles que transparecem ser mais críticos do status quo, ainda que na essência possam não ser antissistema. Às mobilizações dos trabalhadores e dos oprimidos em defesa dos seus direitos atacados emerge uma direita que tenta reagir de forma dura.

Foi nesse contexto que um político com 30 anos de carreira ganhou visibilidade nacional. Aproveitando-se da crise profunda do regime e o vácuo deixado pela esquerda majoritária, Jair Bolsonaro aparece aos olhos de muitos como um homem honesto, de posições firmes, em suma, o único capaz de colocar o Brasil no rumo certo.

O presente artigo visa abordar e explorar os supostos pontos fortes do deputado e por isso pedimos compreensão por alguns fatos, aspectos e características que não tenham sido mencionados ou que não foram desenvolvidos de forma mais profunda.


Segurança pública

O Brasil possui a polícia que mais mata no mundo. E a que mais morre também [1]. Supondo que todos os mortos pela polícia tratam-se de delinquentes (o que sabemos que não é o caso) fica evidente que a máxima “bandido bom é bandido morto” já vigora, em parte, no país. Inúmeras intervenções militares foram realizadas e até UPPs já dominaram as periferias. Nosso país está entre os que mais matam ativistas de direitos humanos no mundo [2]. Com exceção da morte de policiais sabe-se que as demais são defendidas e/ou desejadas pela direita da qual Bolsonaro faz parte. Os boatos sujos espalhados por muitos dos seguidores do “mito” sobre Marielle Franco estão aí para confirmar.

Apesar da ineficácia delas a fórmula de Bolsonaro para o problema da violência é simples: conceder aporte jurídico para os policiais matarem ainda mais (e como efeito colateral omitido morrerem mais) e liberação do porte de arma – o que supostamente deixaria os ladrões constrangidos já que o cidadão comum poderia se defender, embora o próprio deputado já tenha sido rendido e assaltado mesmo estando armado [3].

Essa política simplista baseada na repressão se guia pela máxima do “bandido bom é bandido morto”. Porém, ela não vale para todos os bandidos, como constata-se no debate abaixo:

“O SR. FLÁVIO BOLSONARO – (…) Eu queria ver essa energia que V.Exa. usa para atacar locais onde a milícia domina também onde o tráfico funciona. Por que V.Exa. não usa o mesmo critério? Traficante pode? Se houvesse uma milícia no Morro da Coroa, certamente V.Exa. teria chamado o parlamentar, sei lá, o representante local daqui para ir depor na CPI que V.Exa. presidiu. Por que esse esforço também? Nós não vemos quando uma comunidade é dominada por traficantes.”

“O SR. MARCELO FREIXO – Só para reafirmar, Presidente, que o Deputado Chico Alencar é morador de Santa Teresa, informação que não foi aqui trazida.

Quero dizer que o nosso enfrentamento permanente aqui é a insegurança pública, que é contra todas as formas de crime, ao tráfico, à milícia, todas são inaceitáveis. Qualquer forma que viola os direitos humanos é inaceitável, é evidente. Como também não vou citar aqui deputados federais que defenderam a milícia, em Brasília. Deputados muito próximos, inclusive – há o deputado que me antecedeu aqui – que defenderam, dizendo que existiam milícias boas. E nem por isso achei que o nobre Deputado tinha envolvimento com milícia.

Mas, concluindo …

O SR. FLÁVIO BOLSONARO – Dê nome, Deputado! Eu não tenho medo de falar o nome! O Deputado Jair Bolsonaro. Pode falar, Deputado!” [4]

O reconhecimento de Flávio, que chegou a propor a legalização das milícias [5], é confirmado pelo seu próprio pai em discurso na Câmara dos Deputados em que criticou o relatório final da CPI das Milícias, realizada pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro:

O meu Estado, lamentavelmente, é diferente dos demais. Para pior. Nenhum Deputado Estadual faz campanha para buscar, realmente, diminuir o poder de fogo dos traficantes, diminuir a venda de drogas no nosso Estado. Não. Querem atacar o miliciano, que passou a ser o símbolo da maldade e pior do que os traficantes. (...)” [6]

Mesmo dentro de uma lógica que enxerga na repressão e que foca nas armas a solução para o problema da violência urbana como conciliar a máxima “bandido bom é bandido morto” com a defesa dos bandidos da milícia sem cair em contradição?

Além do mais, o porte de armas não deve ser extensivo a todos. Em 2013, Bolsonaro apresentou o Projeto de Decreto Legislativo 916/13 proibindo que os Agentes de Fiscalização Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) pudessem andar armados [7].

Essa proposta surgiu logo após Bolsonaro ter sido autuado e multado em R$ 10 mil pelo Ibama por pesca ilegal em uma área de conservação ambiental em Angra [8]. O deputado ainda entrou com mandado de segurança para seguir pescando na referida área, pedido que foi negado pelo Ministério Público Federal (MPF) [9]. Posteriormente foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) [10], o que não apaga as suas ações contraditórias e intenções nada nobres.


Corrupção

Entre idas, vindas e trocas de nomes Jair Bolsonaro integrou o PP, um dos partidos mais corruptos do Brasil, por 20 anos. A sua última filiação ao mesmo ocorreu no ano do estouro do escândalo do mensalão onde o PP teve vários implicados. O partido liderou o número de denunciados na CPI dos Sanguessugas [11] e quase a metade de sua bancada no Congresso Nacional apareceu como investigada pela Operação Lavo Jato [12]. PSC, PFL, PTB, PPR e PDC foram as outras siglas da qual fez parte.

Em 30 anos de vida política e tendo passado por partidos recheados de corruptos não se conhece um único trabalho relevante de Bolsonaro contra a corrupção de seus correligionários. Mesmo assim ele tenta se vender como um combatente “radical” de corruptos:

Já que a imprensa diz que eu sou radical, vamos combater a corrupção com radicalismo sim, vamos combater a violência com radicalismo também.” [13]

Já sabemos que do combate “radical” da violência estão excluídos os milicianos. Mas e na política? Quais políticos seriam poupados ou não seriam combatidos com “radicalismo”? Algumas movimentações nos dão boas pistas.

Apesar de já integrar outros escândalos de corrupção e de ter assinado os mesmos decretos de pedaladas fiscais que Dilma, Michel Temer iniciou a sua gestão com o apoio de Bolsonaro, que reivindicava o governo e fazia sugestões:

Prezado Presidente Michel Temer, sua Secretária Especial de Direitos Humanos, Flávia Piovesan, no jornal O Globo, há poucos dias, fez o editorial que praticamente só faltou terminar com “Fora, Temer!” Ou seja, Presidente Michel Temer, nós temos que desaparelhar o Governo desses esquerdistas que estão aí, não podemos botar gente dentro do Governo que esteja aliado ao PT. Isso é inadmissível!” [14]

Não é o caso aqui destrinchar o caráter “esquerdista” de uma secretária que aceita ser nomeada por Temer mas importante ressaltar o silêncio de Bolsonaro diante de outra nomeação: Gustavo Perrella, filho de Zezé Perrella, dono do helicóptero interceptado pela Polícia Federal em 24 de novembro de 2013 com 450 kg de cocaína, o famoso “helicoca”, foi designado para o cargo de Secretário Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor. [15]

Em março de 2017, Jair Bolsonaro grava vídeo ao lado do filho Flávio, e no estilo caricato que lhe é peculiar, critica a Reforma da Previdência que “vai dar munição para o PT crescer em 2018” e pede para Temer “ser homem” e ter “coragem” de “cortar as indicações políticas” que geram “corrupção” e “ineficiência”, que assim ele “não vai responder por nada que antes de assumir” a Presidência [16]. Não responder por nada de antes? Que contraste para quem se apresenta como o combatente “radical” da corrupção!

Quando estourou o escândalo dos áudios de Joesley Batista, que atingiram em cheio Temer e Aécio (candidato de Bolsonaro no segundo turno de 2014 [17] e figura da qual anunciou desejar querer ser vice [18]), Bolsonaro gravou um vídeo em seu gabinete que começa com inserções do jornal Bom Dia Brasil da Rede Globo abordando o fato e logo a seguir ele faz uma fala de pouco mais de 2 minutos desancando o PT, sem mencionar uma única vez o nome do tucano e do peemedebista. [19]

No início de 2017, o deputado estadual Jorge Picciani (PMDB-RJ), que já havia sido delatado à Lava Jato [20], foi reeleito para presidir a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, com voto favorável de Flávio Bolsonaro. Como informa o jornal Extra: “Somente os cinco deputados do PSOL (Eliomar Coelho, Flavio Serafini, Marcelo Freixo, Paulo Ramos e Wanderson Nogueira) e o Dr. Julianelli (Rede) votaram contra a recondução do parlamentar ao cargo”. [21]

E por falar em voto, o tom do discurso dos Bolsonaros, quando votaram a favor da denúncia contra Michel Temer, foi bem diferente de quando votaram pelo impeachment de Dilma:

“Senhor Presidente [da Câmara]: o problema do Brasil não é a troca de Presidente [da República], é a corrupção. Pela abertura das investigações, meu voto é ‘não’”. (Eduardo Bolsonaro)

“Para ser uma grande nação o Brasil precisa de um presidente honesto, cristão e patriota. Meu voto é ‘não’”. (Jair Bolsonaro) [22]

O voto contra Temer em um momento em que a sua impopularidade batia recorde [23] levou o liberal Rodrigo Constantino a acusar os Bolsonaros de oportunismo, de ter tido tal postura por sobrevivência eleitoral [24]. Ainda que a linha de Constantino seja alertar para que estivessem fazendo o “jogo da esquerda” a falta de radicalismo contra os corruptos do PMDB salta aos olhos e parece indicar que o voto insonso pela investigação de Temer tenha tido interesses eleitoreiros mesmo.

Bolsonaro também só votou contra Eduardo Cunha quando a sua situação se tornou insustentável. O ex-presidente da Câmara dos Deputados já era um notório corrupto com lista antiga e extensa quando era elogiado e ia até na missa com o “mito”:

“Ontem, a convite, estive com o Presidente da Câmara dos Deputados – Eduardo Cunha – em culto realizado na Assembleia de Deus Ministério de Madureira – Rio de Janeiro.

Fui muito bem recebido por todos, em especial pelo seu líder, Pastor Abner Ferreira.

Eduardo Cunha no comando representa uma Câmara independente, evitando atos autoritários em Decretos Presidenciais, como censura à internet e perseguições políticas dela decorrentes.” (Facebook de Bolsonaro. Postagem apagada)



A referida igreja e o seu presidente, Samuel Cássio Ferreira, irmão do Pastor Abner Ferreira, estão sendo investigados pela Operação Lava Jato por suspeita de lavagem de dinheiro em benefício de Eduardo Cunha [25]

Atualmente Bolsonaro vem mantendo relações estreitas com políticos como o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que admitiu ter realizado caixa 2 com a JBS [26]; o prefeito de Parnaíba/PI, Mão Santa (PMDB-PI), ex-governador do Piauí cujo governo foi marcado por práticas corruptas [27] tendo sido cassado por compra de votos [28] e o senador Magno Malta (PR-ES), indiciado pela Polícia Federal pelo escândalo da máfia dos sanguessugas, que desviavam dinheiro de ambulância. [29]

Onyx organizou a viagem ao Japão e fez parte da comitiva de Bolsonaro [30]. Mão Santa recebeu o deputado em Parnaíba em evento que gerou críticas de parte dos seus seguidores devido a fama de corrupto do prefeito, o que não constrangeu Bolsonaro: “Considero muito o então Senador Mão Santa”, respondeu a um seguidor intrigado [31]. Magno Malta vem sendo cotado para compor a vice-presidência em sua chapa [32]. Sobre a máfia dos sanguessugas o senador foi salvo por seus próprios pares. Na época, o relator do processo, senador Demóstenes Torres, pediu o arquivamento da representação contra Malta mesmo reconhecendo que haviam “fortes indícios” de que ele havia recebido vantagens ilícitas [33]. Malta ainda é suspeito de realizar caixa 2 [34] com dinheiro de uma das maiores fabricantes de móveis de cozinha do país, a Itatiaia, e de ter articulado uma emenda no programa Minha Casa Minha Vida para beneficiar a empresa. [35]


Não bastasse essas companhias nos últimos meses vieram à tona a evolução patrimonial da família Bolsonaro com a aquisição de 13 imóveis [36], a utilização do auxílio-moradia apesar de possuir imóvel próprio [37], o uso de recursos públicos em atividades tidas como do mandato para fazer campanha presidencial [38] e até o emprego de uma servidora fantasma [39]. As explicações variaram da tergiversação ao escárnio (usava o auxílio-moradia para “comer gente”) passando pela simples negação acompanhada de ataques virulentos contra os que divulgaram tais fatos.

Na página “Mentiram Para Mim Sobre o Jair” consta um print da resposta de Bolsonaro a um seguidor que questiona o recebimento do auxílio-moradia, assim como o fato do deputado ter votado a favor do aumento do próprio salário há alguns anos. A resposta foi a seguinte:

Aguardo relação daqueles que votaram aumento dos salários. Todas votações que participei sobre isso foram simbólicas. Outrossim, me aponte um só deputado que rejeitou tais aumentos. Resumindo, mesmo em votação simbólica foram beneficiados, inclusive eu, é ninguém nada devolveu. AGORA SÓ EU SOU ACUSADO DISSO TAMBÉM?” [40]

Restaria saber o que seria essa “votação simbólica” já que os votos dos deputados possuem consequências práticas. Em 2013, pelo menos ele não enrolou:

Fui ser deputado federal para não andar de ônibus, fusca, van, morar bem e pensar no bem do povo e da minha família. Ser pobre e miserável não é o que o vereador merece, mas também não precisa passar ao largo dos problemas do município.” [41]


Político antissistema?

Diante da desmoralização dos políticos e partidos tidos como tradicionais a postura histriônica de Jair Bolsonaro com seus discursos bravateiros transmite a muitos a imagem de um homem forte e valente, uma espécie de antipolítico que estaria disposto a enfrentar o sistema. Essa imagem acaba sendo reforçada para o seu público mais fiel a cada vez que suas contradições são expostas publicamente, principalmente em veículos da grande mídia.

É verdade que boa parte da burguesia não quer Bolsonaro presidente. Mas isso não tem nada a ver com civilidade ou com socialismo e sim pelo fato de que temem que ele não consiga lhes proporcionar um governo estável. Temem que seus discursos reacionários contra mulheres, gays, indígenas, entre outros setores oprimidos, joguem ainda mais gasolina e inflamem uma sociedade polarizada que vive uma crise econômica, política e social sem precedentes na sua história e que pode explodir nas ruas a qualquer momento. A burguesia demanda calmaria social, ou o mínimo de conflito possível, para seguir seus planos de ajustes.

Ciente desse receio Bolsonaro tem buscado a confiança dos mercados para a sua campanha eleitoral. Vem removendo o pouco de nacionalismo que apresentava em sua precária visão econômica, área a qual reconhece a sua ignorância, e trocando pelos chavões do liberalismo econômico. Paulo Guedes, responsável pelo programa econômico de Bolsonaro, propõe privatizações para a redução da dívida pública [42] quando é mais do que sabido que estas as elevam. Assim, de assistente-de-estagiário-de-dublê-de-direitista-conservador Bolsonaro vem tentando emplacar o campeão do livre mercado.

Se essa postura está longe de ser antissistema, suas posições anteriores indicam que não há mudança de rumo nesse sentido. Bolsonaro votou, por exemplo, a favor das Reformas Trabalhistas de Temer [43] e de Fernando Henrique Cardoso [44]. Apoia o ajuste fiscal. Votou a favor da PEC dos Gastos. Esta última merece um detalhamento para verificar o quanto Bolsonaro já está enquadrado por um sistema do qual nunca foi inimigo.

Em outubro de 2016 Temer envia à Câmara dos Deputados a PEC dos Gastos e convida os deputados para uma janta. Bolsonaro rejeita o convite e grava um vídeo em casa atacando a PEC, a qual qualifica de “medida draconiana”, chama Temer de “traidor” que estaria cometendo “uma injustiça” contra os militares que o apoiaram com um “congelamento de salários por 20 anos”, declara “voto contrário” e que denunciaria da “tribuna da Câmara as reais intenções” do governo com ela [45].

Porém, as coisas se passaram de forma totalmente distinta. No dia da votação Bolsonaro se reuniu pela manhã, em uma sala da Câmara, com “ministros do governo Temer e algumas autoridades militares” e alegando que lhe foi prometido que os “integrantes das forças armadas não serão esquecidos”, arrega e muda o seu voto, restabelecendo “o compromisso Jair Bolsonaro e governo Temer” pela “manutenção da nossa democracia” e declara: “assim sendo o meu voto nesta tarde será ‘sim’ à PEC do Teto”. [46]

Tais declarações foram proferidas em vídeo gravado no seu gabinete logo após a referida reunião. Nele chama a atenção o tom ameno e o semblante apático de Bolsonaro. É um mistério o que aconteceu naquela sala mas é fato inegável que o “mito” foi impiedosamente enquadrado pelo sistema. Seja como for a mudança brusca de posição gerou crise em sua base [47]. E no ano seguinte as Forças Armadas sofreram um corte de 44% nos seus recursos, cumprindo-se assim a promessa de que não seriam esquecidas. [48]


Mito

A primeira forma de tentar explicar o mundo em que vive criada pela humanidade foram os mitos. Tratavam-se de elaborações fantasiosas da realidade que posteriormente foram superadas pela filosofia. Nas ciências sócio-históricas e no debate político quando alguém, ou algum fato, é tratado como “mito” é porque se está diante de algo enganoso. Nesse sentido quando se diz “o mito fulano de tal” ou “o fato tal é um mito” está a se dizer que o que dizem sobre aquela pessoa ou fato não é exatamente aquilo que se diz, que não é verdadeiro, que é enganoso, uma farsa e pode ser até uma grande fraude.

Com tal caracterização em mente, somente alguém extremamente limitado intelectualmente pode celebrar ser chamado de “mito”. Mas aqui é que a ironia encontra coerência: do ponto de vista do conceito clássico de “mito” é completamente acertado atribuir tal alcunha a Jair Bolsonaro, conforme constatamos ao longo do texto, ainda que seus seguidores tentem atribuir outro sentido ao termo.

Há alguns mitos na cabeça de boa parte da esquerda também. Alguns ativistas não separam os apoiadores de Bolsonaro que são direitistas convictos daqueles que são simplesmente confusos politicamente e que o apoiam por enxergá-lo como um político honesto e de posições firmes.

A mitologia do nazifascismo criada em torno de Bolsonaro aliada a linha do “fascismo não se dialoga se combate” leva alguns a simplesmente fechar o necessário diálogo com o grupo dos confusos, perdendo a oportunidade de desmitificar o “mito”.

Outra consequência grave dessa mitologia é a crença de que para derrotar Bolsonaro é válido não apenas se jogar no colo de Lula e do PT mas apoiar qualquer outro candidato, inclusive do PSDB, em um eventual segundo turno.

Apesar das pesquisas o quadro eleitoral ainda está indefinido e não se sabe com precisão o potencial de votos dos candidatos, dada a crise profunda do regime. O certo é que o melhor caminho para neutralizar ou reduzir as chances da direita é atuar com independência política, sem capitular a falsa polarização, e mobilizando pelas demandas concretas. Os atos por Marielle e Anderson, por exemplo, foram tão contundentes e tiveram tanto apoio popular que obrigaram Bolsonaro a silenciar.

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[1] Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2016. Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

[2] Brasil está entre os quatro líderes globais em homicídios de ativistas. 17/03/2018.

[3] Marginais rendem Bolsonaro e levam motocicleta e arma. Jornal A Tribunal de Imprensa, Rio de Janeiro, Quarta-feira, 5 de julho de 1995.

[4] ALERJ. Sessão do dia 10/03/2010.

[5] Bolsonaro vai apresentar projeto de legalização das milícias. 16/03/2007.

[6] Críticas ao relatório final da CPI das Milícias, realizada pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Discurso de Jair Bolsonaro. Sessão do dia 17/12/2008.

[7] Proposta proíbe uso de arma de fogo por fiscais ambientais. 01/10/2013.

Projeto de Decreto Legislativo (PDC) 916/2013. Jair Bolsonaro.

[8] Bolsonaro teme ficar inelegível se condenado por pesca ilegal. 17/05/2013.

[9] Bolsonaro pede autorização para pescar em área de preservação ambiental. 16/05/2013.

[10] 2ª Turma julga improcedente denúncia contra deputado Jair Bolsonaro por crime ambiental. 01/03/2016.

[11] Partidos do mensalão lideram lista de sanguessugas; Rio e SP estão no topo

[12] Quase metade do PP será investigado; veja a distribuição por partido

[13] Bolsonaro: Vou combater a corrupção e a violência com radicalismo

[14] Jair Bolsonaro. Discurso na Câmara dos Deputados. Diário da Câmara dos Deputados, nº 131, p.45, 03/08/2016.

[15] Dono de helicóptero apreendido com cocaína assume no Ministério do Esporte. 18/06/2016.

[16] BOLSONARO DETONA TEMER E DIZ PRA ELE TOMAR VERGONHA NA CARA E VIRAR HOMEM. 24/03/2017.

[17] Bolsonaro pediu que Deus ajudasse o Brasil a votar em Aécio para Presidente. 19/05/2017.

[18] "Se eu não for candidato, quero ser vice de Aécio", diz Jair Bolsonaro. 22/05/2014.
http://www.infomoney.com.br/mercados/noticia/3360622/nao-for-candidato-quero-ser-vice-aecio-diz-jair-bolsonaro

[19] Bolsonaro comenta o fim do Temer e afirma que o pior está por vir!!! 18/05/2017.
https://www.youtube.com/watch?v=XP97ChI-LDU

[20] Delator diz que Picciani pediu propina em três campanhas eleitorais. 05/11/2016.
https://oglobo.globo.com/brasil/delator-diz-que-picciani-pediu-propina-em-tres-campanhas-eleitorais-20416334

[21] Jorge Picciani é reeleito presidente da Assembleia Legislativa do Rio. 01/02/2017.
https://extra.globo.com/noticias/extra-extra/jorge-picciani-reeleito-presidente-da-assembleia-legislativa-do-rio-20856388.html

[22] Veja como votou Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro na denúncia contra Michel Temer l 02/08/2017.
https://www.youtube.com/watch?v=gu8YVEpdq5g

[23] Datafolha aponta que 54% querem Lula preso e 89% avaliam que Câmara deve autorizar denúncia contra Temer. 02/10/2017.
https://g1.globo.com/politica/noticia/datafolha-aponta-que-54-querem-lula-preso-e-89-avaliam-que-camara-deve-autorizar-denuncia-contra-temer.ghtml

[24] Bolsonaro vota de acordo com campanha petista e global pela saída de Temer, e é detonado por editor de direita. Blog do Rodrigo Constatino, 02/08/2017.
http://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/artigos/bolsonaro-vota-de-acordo-com-campanha-petista-e-global-pela-saida-de-temer-e-e-detonado-por-editor-de-direita/

[25] Supremo manda para Moro investigação sobre pastor aliado de Eduardo Cunha. 12/05/2016.

[26] Onyx Lorenzoni admite ter recebido dinheiro de caixa dois da JBS. 19/05/2017.
http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/em-video-deputado-onyx-lorenzoni-admite-ter-recebido-dinheiro-de-caixa-2/

[27] Governo de Mão Santa no Piauí enfrenta enxurrada de acusações. 07/11/2001.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u26486.shtml

[28] TSE cassa mandato de Mão Santa. 07/11/2001.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0711200111.htm

[29] Sanguessuga: PF indicia senador Magno Malta. 05/05/2007
http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL31859-5601,00.html

[30] No Japão, Bolsonaro faz série de reuniões com empresários. 26/02/2018.

[31] Facebook de Jair Bolsonaro, 04/04/2017.

[32] Bolsonaro oferece vaga de vice na chapa ao PR. 22/03/2018.
http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,bolsonaro-oferece-vaga-de-vice-na-chapa-ao-pr,70002237311

[33] Magno Malta é absolvido por insuficiência de provas. 28/11/2006.

[34] E-mails indicam repasse de R$ 100 mil a senador Magno Malta. 14/08/2016.
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/08/1802586-e-mails-indicam-repasse-de-r-100-mil-a-senador-magno-malta.shtml

[35] Senador articulou emenda para empresa, sugere e-mail. 18/09/2016.

[36] Patrimônio de Jair Bolsonaro e filhos se multiplica na política. 07/01/2018.

[37] Com imóvel próprio, Bolsonaro ganha auxílio-moradia da Câmara. 08/01/2018.

[38] Presidenciável, Bolsonaro usa cota parlamentar em pré-campanha. 19/04/2017.

[39] Bolsonaro emprega servidora fantasma que vende açaí em Angra

[40] 60) Jair votou no aumento do próprio salário? 30/06/2016.

[41] 'Parlamentar não deve andar de ônibus', diz deputado Jair Bolsonaro. 12/08/2013.

[42] 'O governo é muito grande, bebe muito combustível', diz economista de Bolsonaro. 25/02/2018.

[43] 55a. LEGISLATURA. Terceira Sessão Legislativa Ordinária. Sessão Extraordinária nº 083 – 19/04/2017. Proposição: REQ Nº 6292/2017 - URGÊNCIA PARA APRECIAÇÃO DO PL Nº 6.787/2016 - Nominal Eletrônica.

[44] PL 5483/2001. Altera o artigo 618 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.

[45] BOLSONARO SOBRE A PEC 241. 09/10/2016.

[46] PEC 241 - TETO PARA OS GASTOS PÚBLICOS - O VOTO DE JAIR BOLSONARO. 10/10/2016.

[47] Seguidores de Bolsonaro se revoltam com voto do deputado na PEC 241. 13/10/2016.

[48] Forças Armadas sofrem corte de 44% dos recursos. 14/08/2017.


Artigo publicado primeiramente no Facebook do Combate – Classista e Pela Base, em 29/03/2018.


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