quinta-feira, 30 de junho de 2011

O Pacotarso, o RS e a Grécia

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Em uma sessão convocada em regime de urgência e que adentrou a madrugada de terça para quarta-feira (28 e 29 de junho), o Governo Tarso viu seu projeto de ataques à previdência pública e de calote nos precatórios ser aprovado pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul.

O "Plano de Sustentabilidade Financeira", nome pomposo e dramático do pacote do governo, aumentou para 14% a alíquota de desconto previdenciário para os servidores, criou a previdência complementar - privatizando parte da previdência pública - e fixou o teto de apenas 1,5% da receita para pagamento das "requisições de pequeno valor", as RPVs, legalizando o calote de grande parte dos precatórios. Ainda ficou para ser apreciada uma taxa de inspeção veicular que tributará o conjunto da população gaúcha.

A sessão foi tumultuada, durou aproximadamente 16 horas, e deputados petistas, como Raul Pont, foram chamados de "traidores" pelos servidores que assistiam nas galerias.

O governador Tarso Genro celebrou a vitória comparando a situação do Estado do Rio Grande do Sul com a Grécia, uma analogia tão infeliz e descabida quanto seu o pacote, chamado acertadamente de "PacoTarso" pelos servidores:
"O Rio Grande do Sul afastou, com essa decisão, que se instale uma crise grega, para fazer uma metáfora desejável. Na situação em que estava, o Estado chegaria num momento que seria impossível pagar a Previdência" [1]

A metáfora do governador não é nada desejável pois engrossa o discurso dominante de que a Grécia chegou na situação atual por "gastar" demais com a sua população que teria tantos direitos e benefícios que constituiria uma destestável nação de "privilegiados". Primeiro que tal assertiva não condiz com a realidade e segundo que o resgate dos banqueiros em crise promovido e que colaborou significativamente para a explosão da dívida grega simplesmente é omitida.

A metáfora do governador também é descabida porque se o seu governo corta dos servidores para evitar "uma crise grega", por outro lado ele aumentou generosamente as benesses dos apadrinhados políticos tendo aprovado ainda em janeiro o aumento do número de cargos de confiança e um reajuste de até 250% para os mesmos. [2]

O grande capital também tem recebido benesses do atual governador. Braskem e Hyundai receberam isenções fiscais para se instalar no Estado. A política de isenções ao grande capital, que foi praticada por Yeda Crusius (PSDB), Germano Rigotto (PMDB) e Antônio Britto (PMDB) diminui significativamente a arrecadação. Projeções indicam que em 2011 deixarão de entrar aproximadamente R$ 11 bilhões nos cofres do Estado devido a essa política de privilégios às classes dominantes. Política esta que não evita a saída das empresas beneficiadas como atesta recentemente o caso Azaléia. [3]

Endividamento em benefício do capital

Além das isenções fiscais o Governo Tarso está disposto a endividar ainda mais o Estado do Rio Grande do Sul para beneficiar o capital. Aqui a metáfora grega é complementamente desejável. Mas daí o governador se faz de rogado.

Em março a Assembléia Legislativa aprovou alguns projetos do governo. Entre eles estavam os PLs 67 e 68/2011 que autorizam o governo estadual a contrair empréstimos com o BNDES e o BIRD. Os recursos devem ser utilizados no "Programa de Apoio à Retomada do Desenvolvimento Econômico e Social do RS" (Proredes-RS). [4]

O Proredes é um programa de "desenvolvimento" proposto pelo governo gaúcho. Tem como objetivo, conforme consta no programa de governo do então candidato Tarso Genro, fazer "o Rio Grande crescer no ritmo do Brasil". [5]

Não cabe aqui fazer uma análise profunda da economia brasileira. Mas é importante assinalar que "desenvolvimento" e "crescimento" são coisas distintas, que o atual modelo de "desenvolvimento" do Brasil se caracteriza por aprofundar a produção e exportação de matérias-primas (o que inviabiliza um desenvolvimento mesmo nos marcos do capitalismo), o aumento da desnacionalização da economia e o aporte de vultuosos recursos do Estado brasileiro, via BNDES, para o grande capital nacional e estrangeiro lucrar.

A explanação acima é pertinente uma vez que a gestão federal é a fonte de inspiração do governador Tarso Genro, como ele não se cansa de afirmar. E o Proredes, por sua vez, expressa isso de forma cristalina. O programa começa pregando a colaboração de classes afirmando haver "lugar e papel para as grandes, pequenas e médias empresas, para os trabalhadores e trabalhadoras, para os produtores rurais e agricultura familiar, para as cooperativas e a economia popular solidária." [idem 5] O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Estadual (CDES-RS) colaboraria para a efetivação "deste trabalho". [idem 5]

Não precisa divagar muito para perceber o que está em andamento, basta olhar para a experiência federal. Pelas medidas que saíram do CDES nacional sabe-se perfeitamente qual o setor social que tem "lugar" e "papel". Foi desse espaço de colaboração de classes e de legitimação da política das classes dominantes que saiu o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), cujas privatizações são regadas a muito dinheiro do BNDES, onde os financiamentos subsidiados aumentam o endividamento público. E o PAC será uma das "fontes de financiamento" do plano de "desenvolvimento" do Governo Tarso:

"Inicialmente, os recursos previstos para o Programa serão advindos do Governo Federal, disponibilizados aos Estados a partir dos órgãos de financiamentos federais e dos seus diversos programas, como por exemplo o PAC I e II; dos recursos próprios do Estado para investimento; das fontes de financiamentos internacionais (BID, BIRD, Banco Mundial, Fonplata e outros); dos agentes locais de fomento, como o Banrisul, Caixa Estadual e BRDE; e da parceria com a iniciativa privada." [idem 5]

Com estas "fontes de financiamento" o governo gaúcho pretende um "desenvolvimento acelerado de setores produtivos, científicos e tecnológicos", de "regiões e microrregiões" e "da infraestrutura e logística" a partir "de uma atuação forte e consistente do Estado". [idem 5]

O PAC do governo federal também foi apresentado e celebrado como um programa estatista. Mas na prática tem se visto a entrega de vias, recursos naturais e muito dinheiro público para o grande capital - nacional e estrangeiro - investir e lucrar. Esse é o modelo de "desenvolvimento" que Tarso Genro quer praticar aqui no Rio Grande do Sul. E para isso vai aprofundar o endividamento do Estado, recorrendo até a instituições financeiras internacionais, o que será pago pelo conjunto da população gaúcha, seja através de recursos, seja através da perda de direitos e serviços públicos. A sequência dessa História já é mais do que conhecida: após se empanturrar com os financiamentos públicos que aumentam o endividamento do Estado as classes dominantes serão as primeiras a berrar contra o Estado "perdulário" e exigir mais um pacote para evitar "uma crise grega".


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[1] Aprovação de pacote "bloqueou a crise" e livrou o RS de ser uma nova Grécia, garante Tarso Genro (29/06/2011):
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Pol%EDtica&newsID=a3370310.htm

[2] Novo Governo, velhas medidas! (11/01/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2011/01/novo-governo-velhas-medidas.html

[3] Azaleia fecha fábrica em Parobé e demite 800 funcionários (09/05/2011):
http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/zhdinheiro/19,0,3303904,Azaleia-fecha-fabrica-em-Parobe-e-demite-800-funcionarios.html

[4] Assembleia aprova todos os projetos do pacote de Tarso e garante a criação de 325 cargos (22/03/2011):
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Pol%EDtica&newsID=a3249554.xml

[5] ProRedes RS
http://www.tarso13.com.br/programa-do-governo/proredes-rs/

Ler ainda:
Após 16 horas de sessão, deputados aprovam projetos do pacote de sustentabilidade do governo (29/06/2011):
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Pol%EDtica&newsID=a3370283.htm
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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Geórgia: protesto e repressão

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Há aproximadamente um mês o governo amigo das potências imperialistas ocidentais da Geórgia, uma ex-república soviética, Mikhail Saakashvili, empreendeu, uma brutal repressão contra a população que protestava contra o seu governo e as condições sócio-econômicas do país.

Os manifestantes pediam pela renúncia do presidente, pediam por mais democracia e pouco ligavam para a celebração da data de "independência". As fotos a seguir dão uma ideia do que foi a repressão do governo. Clique nelas para ampliá-las.



Além de jovens e estudantes integravam a mobilização muitas pessoas com mais de 50 anos de idade e até mesmo aposentados.







A presença de idosos na manifestação não intimidou o governo que autorizou uma brutal repressão e ainda acusou a Rússia de estar por trás dos protestos:

Todo cidadão tem a liberdade de se expressar e protestar (...) mas os feitos destes dias não tem nada a ver com esta liberdade, são provocações orquestradas desde o estrangeiro, com um script escrito fora da Geórgia por nosso inimigo e ocupante.” Foram as palavras de Saakashvili [1]







Os excessos do governo georgiano não só não sensibilizou os representantes das potências imperialistas ocidentais como ainda ganhou a sua justificação:

“Preocupa-me que entre os manifestantes tenha elementos mais interessados em uma confrontação violenta que em um protesto pacífico” (John Bass, embaixador dos Estados Unidos em Tbilisi) [1]

Tem direito a se manifestar, mas o protesto deve terminar antes de amanhã, porque não podem ter direito a impedir a celebração de um desfile”. (Eric Fournier, embaixador francês) [1]









O saldo da repressão foram duas mortes, 28 manifestantes e nove policiais hospitalizados [2], além de mais uma vez os autoproclamados "campeões" da democracia e das liberdades demonstrarem toda a sua incoerência e cinismo.


Fotos extraídas de
Polícia reprime com violência protesto na Geórgia:
http://noticias.uol.com.br/album/110525georgia_album.jhtm#fotoNav=13

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[1] Geórgia: a revolução inoportuna (29/05/2011):
http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=16091:georgia-a-revolucao-inoportuna&catid=94:repressom-e-direitos-humanos&Itemid=108

[2] Dispersão de protesto da oposição na Geórgia deixa dois mortos
http://acritica.uol.com.br/noticias/Dispersao-protesto-oposicao-Georgia-mortos_0_506357103.html

Ver mais em:
Polícia dispersa manifestação da oposição na Geórgia (25/05/2011):
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2011/05/25/policia-dispersa-manifestacao-da-oposicao-na-georgia.jhtm

Protesto na Georgia acaba em confronto entre policiais e manifestantes (23/05/2011):
http://noticias.r7.com/videos/protesto-na-georgia-acaba-em-confronto-entre-policiais-e-manifestantes/idmedia/4dda9f563d146ee4860245c6.html
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quinta-feira, 23 de junho de 2011

EUA: homem rouba para ter tratamento médico

Sem dinheiro para tratar a saúde, homem rouba um dólar para ser preso e receber tratamento médico na prisão.



21/06/2011 - 18:06 | Thaís Romanelli | Redação
Nos EUA, homem rouba um dólar para ser preso e receber tratamento médico na cadeia

O norte-americano James Verone roubou um dólar em uma agência do banco RBC, em Gastonia, no Estado da Carolina do Norte, com o objetivo de ser preso. Isso porque, na cadeia, ele teria de graça o acompanhamento médico para tratar de suas duas hérnias de disco e outros problemas de saúde que ele não tinha dinheiro para pagar.

O caso ganhou repercussão após uma entrevista de Verone para o canal NBC. Desempregado, o ex-motorista de caminhão de 59 anos concluiu que a única forma de conseguir tratamento médico e um lugar para morar era na cadeira.

Verone então se dirigiu a uma agência bancária e entregou um bilhete à atendente dizendo "isto é um assalto, por favor, me dê um dólar" e esperou pela chegada da polícia para levá-lo preso. O plano, porém, não saiu exatamente como ele esperava já que, por ter levado apenas um dólar, Verone não foi acusado de assalto e sim de roubo de valor insignificante. Isso deve fazer com que sua pena seja inferior ao que tinha planejado.

Em entrevista à NBC, o ex-caminhoneiro afirmou que tudo foi estrategicamente pensado. "Sou uma pessoa que raciocina logicamente, e foi a essa lógica que cheguei", disse. Segundo ele, após o roubo, ele chegou a sentar em uma cadeira próxima ao caixa para esperar a polícia, que demorou um pouco para chegar.
Verone contou ainda que planeja comprar um apartamento quando sair da prisão.
"Já estou olhando um condomínio. Conversei com um corretor de imóveis em Myrthe Beach", disse. De acordo com as contas do norte-americano, quando for libertado ele já terá idade suficiente para recolher o dinheiro do seguro social a que tem direito.

Ao fim Verone obteve sucesso na sua estratégia e realmente passou a receber o tratamento médico adequado na prisão. Entretanto, ele recomenda que outras pessoas jamais se inspirem nele.

Extraído de:
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticia/NOS+EUA+HOMEM+ROUBA+UM+DOLAR+PARA+SER+PRESO+E+RECEBER+TRATAMENTO+MEDICO+NA+CADEIA_12916.shtml
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sábado, 18 de junho de 2011

Charges sobre o mercado de trabalho

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Clique nas imagens para visualizá-las melhor.







"Privatizado

Bertold Brecht

Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente,
seu pão e seu salário.
E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence."

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domingo, 12 de junho de 2011

Lula teria prometido ajuda a multinacional

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Mostrando ser "o cara" das classes dominantes globais, o ex-presidente Lula, agora virou palestrante para as mesmas.

Em uma das palestras, proferidas para a Tetra Pak, ele teria prometido influenciar no Governo Dilma para que este tomasse medidas que ajudariam a multinacional sueca.

Não seria a primeira vez que Lula beneficiaria grandes empresas como atestam seus oito anos de mandato. Em 2008, por exemplo, a Scania, outra empresa sueca, não se acanhou de creditar às medidas do governo brasileiro grande parte do resultado da sua eficiência. [*]



Lula palestra para Tetra Pak e promete lobby por embalagens
11 de junho de 2011 • 11h52 • atualizado às 12h47

Lula foi premiado na segunda-feira no Ethanol Summit 2011, evento do setor alcooleiro
Foto: Eladio Machado/Terra

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu à multinacional Tetra Pak, que o contratou para uma conferência, usar de sua influência para tentar baixar os impostos das embalagens de leite, informou neste sábado o jornal Folha de S.Paulo. Conforme a publicação, Lula confirmou que aceitou ajudar a Tetra Pak, na quarta-feira passada, após uma conferência aos executivos da empresa sueca. "Eu disse que o companheiro Guido Mantega (ministro da Fazenda) estava discutindo com os governadores (...) e que se eu pudesse influenciar para que o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) se reduzisse, para o leite chegar com mais qualidade à casa das pessoas, não teria nenhum problema", afirmou Lula na sexta-feira, segundo o jornal.

Lula declarou que não trabalha como representante ou consultor de nenhuma companhia e afirmou que esse tipo de serviços "não faz parte" das conferências que realiza desde que passou a Presidência a Dilma Rousseff, em janeiro. "No dia em que eu quiser ser representante de uma empresa, eu deixarei a política e virarei consultor ou conselheiro de empresa. Por enquanto, eu quero ser conselheiro do PT e continuar fazendo política para ajudar o País", afirmou Lula, segundo a Folha. Conforme as versões divulgadas na imprensa, não confirmadas pelo ex-governante, ele recebe cerca de R$ 200 mil por palestra ministrada.

Extraído de:
http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5181723-EI7896,00-Lula+palestra+para+Tetra+Pak+e+promete+lobby+por+embalagens.html

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[*] Carga pesada: BNDES financia lucro estrangeiro (18/06/2010):
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terça-feira, 7 de junho de 2011

Políticos gregos sentem a fúria do povo

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[Grécia] Políticos são atacados por manifestantes e fogem de barco na ilha de Corfu

Centro de Mídia Independente - Portugal, 04/06/2011

Na noite de quarta-feira (01 de junho), por volta das 22h30, centenas de "indignados", na ilha de Corfu, se reuniram em torno de um restaurante chamado Velha Fortaleza, onde estava acontecendo um jantar para os eurodeputados que participam em questões de imigração e refugiados na Europa.

Entre os eurodeputados presentes no jantar estava a ministra do Trabalho, Anna Dalara, Ntinos Vrettos, deputado do Pasok (Partido Socialista Grego), Angela Gerekou e Nikos Dendias, que é também vice-presidente do Conselho de Refugiados, entre outras autoridades.

Os manifestantes bloquearam a saída do restaurante, evitando que os políticos pudessem sair e começaram a gritar slogans como "ladrões" e "traidores", entre outros. Como resultado, foi enviado uma embarcação para a ministra, os eurodeputados e autoridades, para que pudessem deixar a ilha sem grandes transtornos.

O porta-voz do governo sob ataque

O porta-voz do governo grego Yiorgos Petalotis foi atacado e vaiado pelos cidadãos do bairro de Argyroupolis, em Atenas, onde participava de um ato do partido no poder, o Pasok. Mais de 50 pessoas o estavam esperando na porta, e, quando ele chegou, começou o ataque verbal e o lançamento de ovos, iogurtes e pedras. A multidão foi repelida pela polícia.

Este tipo de incidentes está crescendo na Grécia desde que o país entrou em recessão. O episódio mais grave até agora foi o espancamento do ex-ministro grego dos transportes Kostis Hatzidakis, quando este saia do Parlamento, em 15 de dezembro passado.

O vice-primeiro-ministro grego Theodoros Pangalos foi atacado por manifestantes várias vezes nos últimos meses.

Em setembro passado, o radiologista de 60 anos, Prapavesis Stergios, jogou um sapato contra o primeiro-ministro grego George Papandreou, quando ele deixava um evento internacional em Tessalônica.

O ministro da Saúde, Andreas Loverdos, foi forçado a deixar a apresentação do seu livro no início de março, após um grupo de cidadãos entrar na livraria em que estava acontecendo o evento e começar a insultá-lo. O deputado da oposição, da Nova Democracia, Aris Spiliotopoulos, também estava presente e teve de deixar o local entre vaias e insultos.

Os ataques contra funcionários do governo grego no último ano e meio já totalizam mais de 90.

Vídeos:
http://athens.indymedia.org/front.php3?lang=el&article_id=1299218

Extraído de:
http://pt.indymedia.org/conteudo/newswire/4863
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domingo, 5 de junho de 2011

Tarso preocupado com a (des)concertação espanhola

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O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, está de folga em Madrid, na Espanha, após a badalada "missão" na Coréia do Sul, onde fechou, sob os flashs e celebrações da grande mídia gaúcha, um acordo com uma fábrica de elevadores da Hyundai que se instalará no Estado.

A empresa coreana, em mais um gesto de generosidade ao capital demonstrada pelo governador (a Braskem foi a felizarda anterior [1]), receberá significativos benefícios fiscais. É bem distinto do que ocorrerá com os gaúchos, caso seja aprovado um pacote de medidas que o governador enviou a Assembléia Legislativa e que está sendo chamado de PacoTarso.

O PacoTarso além de atacar a previdência dos servidores, aumentando a contribuição de forma retroativa (até 2004) e privatizando parte dela; ainda empurra com a barriga o pagamento dos precatórios, promovendo o calote a milhares de pessoas que aguardam há anos na fila; e cria uma obscura taxa de inspeção veicular - cuja defesa no programa Canal Livre, da Rede Bandeirantes, no dia 8 de maio, foi uma descarada aposta na não visualização da medida por parte da população porque os setores influentes na mídia não seriam afetados e logo não protestariam.

Tarso estaria na Espanha para descansar e refletir sobre a conjuntura atual daquele país:
“São dias em que estou aqui por minha conta para me atualizar das grandes questões políticas da Espanha”, disse ele. [2]

O governador gaúcho tem motivos para estar preocupado. A "concertação" política espanhola que sempre foi um dos seus modelos preferidos está sob forte questionamento popular. Foi inspirado nela que Tarso criou o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), nacional e agora estadual [3], um espaço de colaboração de classes de onde saíram medidas como o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) que privatiza inúmeras vias públicas e beneficia as grandes empresas nacionais e estrangeiras, como em Jirau, e as medidas de ataques à previdência, como a dos servidores gaúchos.

Na Espanha surgiu com força uma geração "indignada" com a "concertação" política na qual os partidos da ordem e os dirigentes sociais oportunistas assinam com as classes dominantes medidas de ataques à classe trabalhadora. "Isso não é democracia", "queremos uma democracia real", bradam os "indignados" espanhóis que estão inspirando outros povos pela Europa, como os gregos e os portugueses.

Tarso pregou uma "concertação" política para o Rio Grande do Sul durante a campanha eleitoral. De olho na experiência externa, fez alianças com partidos da direita tradicional, criou o CDES-RS de onde tem saído medidas de ataques aos trabalhadores e de benefícios ao capital, com o aval de setores como a CUT, e tem ampliado as isenções fiscais ao capital.

A "concertação" espanhola, menina dos olhos de Tarso, está em crise e sob forte contestação popular. A colaboração de classes travestida de "governar para todos", onde estariam juntos trabalhadores, empresários e sindicalistas "modernos" em busca de um consenso pelo bem comum, é uma empulhação cada vez menos convincente. E é por isso que a "indignação" crescente na Europa se volta não apenas contra as elites econômicas e os partidos da ordem à seu serviço mas também aos dirigentes sociais traidores.

Não se sabe até quando a empulhação vai durar no Brasil. Mas se sabe que ela tem limites. Consciente disso, e de olho na experiência externa, Tarso deve estar colocando os bigodes de molho. Até porque pipocam lutas pelo país, tanto dos servidores como dos trabalhadores do setor privado, cujo caso mais radicalizado se deu nas obras do PAC.


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[1] Governo Tarso concede isenções fiscais à Braskem (30/04/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2011/04/governo-tarso-concede-isencoes-fiscais.html

[2] Tarso faz quatro dias de descanso em Madri (05/06/2011):
http://wp.clicrbs.com.br/andremachado/2011/06/05/tarso-faz-quatro-dias-de-descanso-em-madri/?topo=52,1,1,,171,e171

[3] CDES recomenda a Tarso prioridade para educação e alerta para risco de desindustrialização (02/06/2011):
http://rsurgente.opsblog.org/2011/06/02/cdes-recomenda-a-tarso-prioridade-para-educacao-e-alerta-para-risco-de-desindustrializacao/
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Os ''indignados'' e a Comuna de Paris

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26/05/2011 - 15:10 | Atilio Borón | Buenos Aires

Talvez por uma dessas surpresas da história, o grande levantamento popular que hoje comove a Espanha (e que começa a reverberar no resto da Europa) estala na coincidência com o 140° aniversário da Comuna de Paris, um gesto heróico, no qual a demanda fundamental também era a democracia. Mas uma democracia concebida como governo do povo, pelo povo e para o povo, e não como um regime a serviço do patronato e no qual a vontade e os interesses populares estão inexoravelmente subordinados ao imperativo da ganância empresarial.

Precisamente por isso as demandas dos "indignados" têm ressonâncias que evocam imediatamente aqueles que, com as armas em mãos, saíram para defender os parisienses nas heróicas jornadas de 1871, culminando na constituição do primeiro governo da classe trabalhadora, claro que restrito à cidade de Paris.

Um governo que durou pouco mais de dois meses e que logo foi massacrado pelo exército francês com a aberta cumplicidade e cooperação das tropas de Bismarck, que pouco antes havia infligido uma humilhante derrota aos herdeiros dos exércitos napoleônicos. A crueldade contra os parisienses que tiveram a ousadia de querer tomar o céu por assalto e fundar uma democracia verdadeira foi terrível: calcula-se que mais de trinta mil comuneiros foram esmagados pelas armas, em execuções sumárias sem juízo prévio.

A Comuna foi afogada em um rio de sangue e, para indenizar seus "crimes," a Assembléia Nacional decidiu erigir, na coluna mais elevada de Paris, em Montmartre, a basílica de Sacré Coeur, construída com os fundos recolhidos por uma subscrição popular por toda a França - para honra dos parisienses, só uma ínfima parte do arrecadado proveio da cidade martirizada pela reação.

Paris foi derrotada, mas as parisienses e os parisienses não foram postos de joelhos. A Comuna desacreditava a institucionalidade burguesa, insanavelmente corrupta porque sabia que, ao aparatoso emaranhado de leis, normas e agências governamentais, só lhe preocupava consolidar a riqueza e os privilégios das classes dominantes e manter o povo submetido; exigia uma democracia direta e participativa e a derrogação do parlamentarismo, essa viciosa deformação da política convertida em oca charlatanice e âmbito de todo tipo de transações e negociações completamente alheias ao bem-estar das maiorias; demandava a criação de uma nova ordem política, executiva e legislativa, desta vez baseada no sufrágio universal (homens e mulheres igualmente, não como ocorreria depois nos capitalismos democráticos, nos quais o "universal" se referiria exclusivamente aos machões) e com representantes revogáveis e diretamente responsáveis ante seus mandantes.

Os comuneiros queriam uma democracia genuína, não fictícia, na qual tanto os representantes do povo como a burocracia estatal não gozassem de privilégios, com remuneração equivalente à do salário médio de um operário, entre outras medidas, tais como a consumação da separação entre a Igreja e o Estado e a universalização da educação laica, livre e obrigatória para homens e mulheres igualmente.

Basta olhar os documentos dos "indignados" de hoje para comprovar a assombrosa atualidade das demandas dos comuneiros e o pouco, muito pouco, que mudou na política do capitalismo. Os jovens e não tão jovens que reinventam cerca de 150 praças da Espanha não são "apolíticos", ou "anti-políticos", como certa imprensa nos quer fazer acreditar, mas pessoas profundamente politizadas que levam a sério a promessa de democracia e que, por isso mesmo, rebelam-se contra a falsa democracia, oriunda das entranhas do franquismo e consagrada no tão aplaudido Pacto de la Moncloa, exibido como um ato exemplar de engenharia política democrática ante os povos latino-americanos.

Uma democracia que os acampados denunciam como um engano, um simulacro que, sob suas roupas engomadas, oculta a persistência de uma cruel ditadura que descarrega o peso da crise desatada pelos capitalistas sobre os ombros dos trabalhadores. O que a "exemplar" democracia da Moncloa propõe para enfrentá-la é o despotismo do mercado, inimigo irreconciliável de qualquer projeto democrático: facilitar as demissões dos trabalhadores, reduzir seus salários, cortar os direitos trabalhistas, congelar as pensões e aumentar a idade necessária para aposentar-se, diminuir o emprego público, cortar os orçamentos de saúde e educação, privatizar empresas e programas governamentais e, coroando tudo isto, reduzir ainda mais os impostos às grandes fortunas e às empresas para que, com o dinheiro excedente, invistam em novos empreendimentos.

A famosa e mil vezes refutada "teoria do derrame", uma vez mais, supõe que o povo é idiota e que não se dá conta de que, se os ricos têm mais dinheiro, é necessário um milagre para que não sucumbam à tentação do cassino financeiro global, de modo a investir na criação de empresas geradoras de novas fontes de trabalho. A experiência indica que a tentação é muito grande.

A resposta da falsa democracia espanhola – na realidade, uma sórdida plutocracia que os jovens querem destronar e substituir por uma democracia digna desse nome – ante a crise provocada pela insaciável voracidade da burguesia é aprofundar o capitalismo, aplicando as receitas do FMI até que a sociedade sangre e afunde no desânimo, na miséria e aceite uma "solução neofascista" que recomponha a ordem perdida. Não há transformação possível dentro da trama pseudo-democrática espanhola porque seu famoso bipartidarismo demonstrou não ser outra coisa que as duas caras de um só partido: o do capital.

Mas agora a conspiração entre o PSOE e o PP encontrou-se com um obstáculo inesperado: alentados pelos ventos que desde o norte da África cruzam o Mediterrâneo, os jovens, vítimas principais do saque, "disseram basta e começaram a andar", como uma vez expressou o Comandante Ernesto Che Guevara em seu célebre discurso de 1964 ante a Assembléia Geral das Nações Unidas.

Nada voltará a ser como antes na Espanha. O desprestígio de sua classe política parece ter ultrapassado o ponto de não retorno e a crise de legitimidade da pseudo-democracia chega a profundidades insondáveis; se egípcios e tunisianos puderam desfazer-se das corruptas camarilhas governantes, por que também não poderiam fazer os "indignados"?

As obscenas incoerências éticas do verdadeiro reitor da economia espanhola, o FMI, não podem mais que irritar e mobilizar as camadas cada vez mais amplas de cidadãs e cidadãos: enquanto estes padecem todo tipo de corte em suas rendas e seus direitos trabalhistas, os bandidos do FMI decidem premiar Dominique Strauss-Kahn com uma indenização de 250 mil dólares por ter renunciado antecipadamente ao seu cargo... E por ter incorrido em um gravíssimo delito como o assalto sexual a uma trabalhadora africana em um hotel de Nova York! Afora isso, desfrutará de uma suculenta aposentadoria que é negada a milhões de espanhóis e europeus em Portugal, Grécia, Irlanda, Islândia...

E essas são as pessoas que dizem saber como se sai da situação na qual está afundando o mundo, a pior crise econômica da história! Sem haver lido os clássicos do marxismo, a vida ensinou aos "indignados" que não há democracia possível sob o capitalismo. Como dizia Rosa Luxemburgo, sem socialismo não há nem haverá democracia, e o capitalismo é insanavelmente antagônico à democracia. A história deu um veredicto inapelável: mais capitalismo, menos democracia, no Norte opulento e industrializado e igualmente no Sul global.

A vida lhes ensinou também que, quando juntam suas vontades, se organizam e se educam no debate de idéias para superar a idiotização de massas programadas pela indústria cultural do capitalismo, sua força é capaz de paralisar a partidocracia e colocar em crise a pseudo-democracia que os enganava. Se persistem em sua luta poderão também derrotar a prepotência do capital e, eventualmente, iniciar uma nova etapa na história, não somente da Espanha, mas também da Europa. Os povos do mundo inteiro apontam hoje seus olhos às ruas e praças da Espanha, onde está sendo realizado um combate decisivo.

Extraído de:
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/OS+INDIGNADOS+E+A+COMUNA+DE+PARIS+_1507.shtml

O original encontra-se em:
http://www.atilioboron.com/2011/05/los-indignados-y-la-comuna-de-paris.html
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quarta-feira, 1 de junho de 2011

O MST está perdendo a razão de existir

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A principal reivindicação do MST, a luta pela reforma agrária, está perdendo a razão de ser.
A afirmação é do atual governador do Rio Grande do Sul, o petista Tarso Genro. Tal declaração foi dada no programa Canal Livre, da Rede Bandeirantes, no dia 8 de maio.

O governador petista parece não querer mais disfarçar de que lado está. Seu governo no Rio Grande do Sul, que ele diz ser inspirado no Governo Lula, começou aumentando os privilégios do capital e dos apadrinhados políticos.

Que a base do MST tire suas conclusões e não permita mais que alguns de seus dirigentes vacilantes sigam chamando "voto no PT" para "derrotar a direita".


http://www.youtube.com/watch?v=oSsl_6scs1E
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