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Massacre
na África do Sul traz à tona memórias do Apartheid
16.08.2012
José
Antonio Lima. Carta Capital
Policiais sul-africanos cercam
corpos de mineiros mortos em Marikana. A cena fez lembrar o
Apartheid. Foto: AFP
A cena era muito comum nos anos em
que a África do Sul era dominada pelo regime segregacionista do
Apartheid. De armas na mão, policiais observam os corpos de
manifestantes no chão, ensanguentados, após o protesto ser
“contido” pelas autoridades. Nos anos 1990, os policiais eram
brancos e, os mortos, todos negros lutando por igualdade. Hoje, os
corpos continuam sendo de negros, mas muitos policiais também são.
O conflito não é racial, mas trabalhista. É a África do Sul de
2012, livre do atroz regime da supremacia branca, mas ainda flagelado
pela desigualdade e por um mercado de trabalho cruel.
A chacina de quinta-feira 16 ocorreu
nas minas de Marikana (a 40 quilômetros de Johannesburgo), onde a
empresa britânica Lonmin obtém 96% da platina que exporta para todo
o mundo. As cenas jogaram os sul-africanos mais de uma década para
trás. Em trajes de choque e fortemente armados, os policiais
montavam barricadas com arame farpado quando foram flanqueados por
grupos de trabalhadores, muitos deles armados com machetes, lanças e
outras armas improvisadas. A polícia, então, abriu fogo contra os
manifestantes. Após a salva de tiros, pelo menos sete corpos ficaram
no chão. A agência Reuters afirmou que até 18 pessoas
podem ter sido assassinadas.
Nesta sexta-feira 17, as notícias
mostraram que o massacre foi ainda maior. Pelo 34 pessoas morreram e
outras 78 ficaram feridas e foram levadas aos hospitais de
Rustemburgo e Johannesburgo, duas das maiores cidades da região.
Imediatamente após o massacre, a polícia sul-africana não se
manifestou. Nesta sexta, foi inevitável. E as declarações não
servem para explicar o banho de sangue. “A polícia teve que usar a
força para se proteger do grupo que estava atacando”, disse Riah
Phiyega, um ex-executivo de bancos que é o comandante da polícia
sul-africana desde junho.
Horas depois das mortes, o
presidente da África do Sul, Jacob
Zuma, emitiu um comunicado lamentando o episódio e prometendo
levar os culpados à Justiça. Segundo Zuma, há na África do Sul
“espaço suficiente na ordem democrática para que qualquer disputa
seja resolvida por meio do diálogo sem rompimentos da lei ou
violência”.
A fala de Zuma não encontra ecos na
sociedade sul-africana. Segundo a agência Reuters, o jornal
Sowetan questionou em editorial nesta sexta-feira o que
havia mudado no país desde 1994, quando o Apartheid chegou ao fim.
Para a publicação, os negros pobres continuam sendo tratados como
objetos pelo governo. Instituições ligadas aos direitos humanos
condenaram o massacre, também assemelhando o ato policial ao tipo de
comportamento que as autoridades tinham durante o auge do regime
racista.
Armados, mineiros ocupam monte
perto da mina de Marikana, nesta quinta-feira 16, antes do confronto
com a polícia. Foto: AFP
O massacre em Marikana é o ponto
culminante de seis dias de violência. Desde 10 de agosto, quando a
paralisação teve início, trabalhadores que tentaram furar a greve
foram atacados e pelo menos dez pessoas morreram, entre elas dois
policiais. Há relatos de que a violência é resultado da rivalidade
de oito meses provocada por uma disputa de poder entre dois
sindicatos de mineiros, um existente há mais de 20 anos e outro
recém-aberto. Um líder grevista afirmou ao jornal sul-africano The
Star que os 3 mil mineiros estavam ali em nome próprio, após
décadas de “negociações infrutíferas” dos sindicatos. Os
trabalhadores tinham, segundo este líder, duas reivindicações.
Serem recebidos por diretores da Lonmim e um aumento salarial dos
atuais 5000 rands (equivalente a 1200 reais) para 12000 (cerca de
2900 reais).
Barnard Mokwena,
vice-presidente-executivo da mineradora, afirmou que a empresa estava
interessada em negociar por meio de “estruturas reconhecidas”
(leia-se os sindicatos) e que não pretendia dar aumento salarial. A
grande preocupação da Lonmim é com a queda de mais de 6% de suas
ações na Bolsa de Londres e com o fato de ter deixado de produzir
cerca de 15 mil onças (425 quilos) de platina nos últimos seis
dias. A diretoria da Lonmim se recusou a comentar o massacre em suas
minas. A empresa se limitou a dizer, à agência Associated Press,
que se tratava de uma “operação policial”.
O vídeo abaixo, da rede de tevê
Al-Jazeera (em inglês), do Catar, mostra imagens do massacre (cenas
fortes):
http://www.youtube.com/watch?v=meqSjgMKv-I&feature=player_embedded
Extraído de:
http://www.cartacapital.com.br/internacional/massacre-na-africa-do-sul-traz-a-tona-memorias-do-apartheid/
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