sábado, 28 de setembro de 2013

Entreguismo sem segredo


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"A questão é se vai ser convertido em ação [a reação do governo brasileiro] ou se eles vão ficar expressando isso com palavras e nada vai acontecer. Vamos ver."

"Há várias coisas que eles podem fazer para tentar encontrar a solução, para mostrar aos Estados Unidos que eles estão preocupados com as denúncias de espionagem. Não sei se eles vão querer fazer isso ou se só estão mostrando ao povo que estão zangados. Acho que o ponto mais importante é o povo pressionar o governo brasileiro para fazer alguma coisa real contra essa invasão." [1]

Glenn Greenwald, jornalista estadunidense que revelou os documentos de espionagem obtidos por Edward Snowden.



Na última semana o Governo Dilma confirmou os alertas de Greenwald. Enquanto a Presidente discursava na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas e se dizia ultrajada com a espionagem do governo dos Estados Unidos [2], "mostrando ao povo que estão zangados" (tsc!), seus subalternos "convertiam em ação" o entreguismo das vias e recursos públicos do país.

Em um seminário organizado pelo Goldman Sachs, em Nova York, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, ofereceu aos estrangeiros a infraestrutura brasileira: portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e energia elétrica. E generosos recursos do BNDES para os mesmos investir e lucrar facilmente.

O BNDES vai bancar 70% dos investimentos em aeroportos e rodovias, 80% em ferrovias, 65% em portos, 50% em termelétricas a carvão e a óleo, 70% em hidrelétricas, 80% em energia alternativa e 70% para o setor de transmissão de energia elétrica. [3]

Se Dilma não viaja para promover pessoalmente o entreguismo manda seus subalternos para a tarefa. Assim, além de supérfluo, o cancelamento da viagem aos Estados Unidos não passa de jogo de cena para "mostrar ao povo que estão zangados".


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[1] "Brasil é o grande alvo dos EUA", diz jornalista que obteve documentos de Snowden (04/09/2013):

[2] Leia a íntegra do discurso de Dilma na Assembleia-Geral da ONU (24/09/2013):

[3] BNDES prevê US$ 243 bi para infraestrutura em 2014/17 (25/09/2013):

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domingo, 22 de setembro de 2013

Assange, Dilma e a soberania do Brasil

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Ao criticar a espionagem praticada pelo governo dos Estados Unidos ao Brasil, o australiano Julian Assange, fundador do Wikileaks, indagou: “Quem se importa com a soberania do Brasil?[1]

A movimentação do próprio governo brasileiro indica que não são apenas os países centrais que desprezam a soberania brasileira. Os governos petistas seguiram financiando a fundo perdido - e através da elevação de um endividamento pago pelo povo brasileiro - a desnacionalização da economia e o entreguismo dos recursos públicos e naturais locais às companhias estrangeiras. Hidrelétricas, estradas, portos e aeroportos privatizados e financiados com dinheiro público para o lucro privado estrangeiro. Nem a revelação de espionagem da Petrobras foi suficiente para segurar o ímpeto antisoberano do governo petista que não vacilou em se apressar a informar às empresas estrangeiras que o entreguismo do petróleo brasileiro estava mantido.

Essas relações econômicas têm criado uma convergência de interesses entre as multinacionais estrangeiras, algumas empresas brasileiras, fundos de pensão e a burocracia estatal - nos dois últimos encontramos muitos "companheiros" em postos de destaque.

Peguemos a Hidrelétrica de Jirau, apenas para ilustrar em um exemplo, como que esses interesses estão associados.

Construída com dinheiro público a referida hidrelétrica possui a seguinte composição acionária: a francesa Suez Energy possui 50,1% no negócio; as estatais Eletrosul e Chesf, 20% cada uma e a brasileira Camargo Corrêa, 9,9%. [2] É por isso que, como escrevi em 2011:

"Não foi por acaso que em meio a justa revolta dos trabalhadores de Jirau, submetidos a condições degradantes de trabalho, o Governo Dilma enviou a repressão [2], chancelou as demissões [3] e garantiu a manutenção do envio de dinheiro do BNDES para o consórcio seguir lucrando com a obra.[4] Claro: mexer com o consórcio significaria não apenas combater as empresas privadas (a francesa e a brasileira) mas também os burocratas envolvidos no negócio lucrativo." [3]

Em 2012, após nova revolta em Jirau, os operários foram chamados de "vândalos" e "bandidos" pelo Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. [4] Na ocasião houve repressão e prisões de trabalhadores. Doze operários dados como presos, simplesmente desapareceram. [5]

A mudança social de muitos "companheiros" e as relações advindas desse processo os tornam antisoberanos e antioperários, como nos atesta o caso de Jirau.

Isso pode nos indicar o porquê do Governo Dilma não ter agido com rigor no caso do escândalo de espionagem. Qualquer governo com o mínimo de vergonha na cara teria chamado o seu embaixador nos Estados Unidos de volta, assim como expulsado o deles do território nacional, e não pedido explicações ao espião.

Um fato ocorrido nessa semana é ilustrativo da seriedade e do empenho do Governo Dilma ante a questão violadora: enviaram, para a reunião das Nações Unidas (ONU) sobre a espionagem, uma embaixadora de baixo escalão que acabou substituída por uma estagiária. [6]

Maria Nazareth Farani Azevedo, embaixadora do Brasil na ONU, promoveu um almoço de despedida de seu posto, enquanto a estagiária se limitou a fazer anotações. Ou seja, a participação do Brasil em um encontro que lhe dizia respeito se limitou a "festa" e "anotações"! Um verdadeiro escárnio à soberania brasileira que deve ter rendido gargalhadas em Washington!


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[1] Julian Assange, sobre espionagem dos EUA: "Quem se importa com a soberania do Brasil?" (21/09/2013):

[2] Energia Sustentável do Brasil traz novo fornecedor de turbina e gerador para o Brasil. Energia Sustentável do Brasil - Press Release. 26/01/2009.

[3] Porque Palocci é culpado e já está condenado (28/05/2011):

[4] Ministro de Dilma chama trabalhadores de vândalos e bandidos (07/04/2012):

[5] São eles:
João de Lima Fontinele, Cícero Furtado da Silva, Antônio Luis Soares Silva, Ismael Carlos Silva Freitas, Lucivaldo Batista Moraes Castro, Antônio da Silva Almeida, Elielson Silva do Nascimento, Sebastião da Silva Lima, Herbert da Conceição Nilo, Leonilson Macedo Farias, José Ribamar dos Santos, Silvan Oliveira dos Santos.

[6] Governo põe estagiária em reunião de espionagem (21/09/2013):

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sábado, 21 de setembro de 2013

A saúde dos rentistas primeiro




Diante das massivas manifestações de junho a Presidente Dilma lançou um "pacto" com cinco pontos onde buscava "responder" as reivindicações populares que, entre outras coisas pediam mais verbas para a saúde pública.

Estranhamente o ponto número 1 do "pacto" era "responsabilidade fiscal", algo que não se viu em nenhum cartaz e em nenhuma palavra de ordem nas ruas do país. Era uma resposta do governo para os especuladores, garantindo que a política econômica que favorece o rentismo não seria modificada. Por tabela a resposta para os manifestantes era a de que os demais pontos do "pacto", como saúde e educação, não seriam atendidos.

Essa semana a Ministra do Planejamento do Governo Dilma, Miriam Belchior [1] , declarou ser inviável a destinação de 10% do orçamento da União para a saúde pública, mesmo com os tão celebrados recursos dos royalties do petróleo, apresentados como panacéia pelo governo.

Assim, fica claro, pelas palavras de Belchior, que as medidas anunciadas no "pacto" são cosméticas e não resolverão os problemas da saúde e da educação que necessitam ter seus recursos dobrados. O Estado brasileiro investe atualmente 5,3% do PIB em educação e 3,6% em saúde. Seria necessário dobrar esses valores para que tais áreas tivessem um funcionamento satisfatório. No entanto o Estado gasta menos em saúde (42%) do que as famílias (58%) e bem menos do que países como Espanha, Reino Unido e Suécia que investem de 7% a 9% do PIB em seus sistemas públicos de saúde. [2]

Em 2012 a saúde recebeu 4,17% e a educação 3,34% do orçamento da União [3]. Como a "responsabilidade fiscal" é a preocupação número 1 do Governo Dilma, no mesmo ano foram cortados R$ 5,5 bilhões da saúde e R$ 1,9 bilhão da educação [idem 2] , recursos que foram repassados para os especuladores que abocanharam 43,98% do orçamento do governo federal [idem 3]. Ou seja, 10% do orçamento para a saúde é inviável mas a metade dele para os especuladores não é!

Em suma, para o Governo Dilma a saúde dos rentistas vem em primeiro lugar!

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[1] Ministra descarta vincular 10% do orçamento à saúde (19/09/2013):

[2] Royalties do petróleo: quem são os verdadeiros beneficiados? (25/08/2013):

[3] É por direitos! Auditoria da Dívida Já! – Confira o gráfico do orçamento de 2012

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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A revolução dos fazendeiros

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Mário Maestri


A Guerra Farroupilha [1835-45] foi um entre os muitos movimentos liberais provinciais contra o centralismo do Império e, a seguir, as tímidas concessões regenciais. A crise que abalava o Brasil era alimentada pelas dificuldades da economia escravista. Movimentos como a Balaiada e a Cabanagem radicalizaram-se com a participação das classes subalternizadas, levando os liberais regionais a abandonarem a luta.

O movimento farrapo interpretou as reivindicações dos criadores do meridião do RS. Sua longevidade deveu-se também à capacidade dos seus chefes de manterem as classes infames na sujeição. A revolta não galvanizou todo o RS. Os comerciantes, a população urbana, os colonos alemães mantiveram-se neutros ou optaram pelo Império, pois o programa farroupilha opunha-se aos seus interesses. Charqueadores e comerciantes escravistas temiam que a separação comprometesse o tráfico negreiro.

Essas defecções facilitaram a perda das grandes cidades e do litoral. Porto Alegre sublevou-se e resistiu aos farroupilhas, recebendo do Império o título de "Mui leal e valorosa". Em 1835, os farroupilhas dominavam a província. Em 1845, apenas as bordas da fronteira.

Propõe-se caráter progressista ao movimento porque parte das suas tropas era formada por peões, nativos e ex-cativos. Os gaúchos eram em geral descendentes de nativos que haviam perdido as terras comunitárias para os criadores. Eles acompanhavam os caudilhos nos combates como o faziam nas lides campeiras. O gaúcho buscava na guerra churrasco, saque e soldo. A política era monopólio dos proprietários.

Era antigo direito do homem livre substituir-se por, em geral, um liberto, quando arrolado. Os libertos eram obrigados a combater nas tropas farroupilhas; preferiam a guerra à escravidão; criam na promessa da liberdade. Os chefes farroupilhas reforçavam as tropas com cativos comprados.

Não houve democracia racial farroupilha. Negros e brancos marchavam, acampavam e morriam separados. Eram brancos os oficiais dos soldados negros. Em suas Memórias, Garibaldi lembrava: "[...] todos negros, exceto os oficiais [...]." Para a Constituição republicana eram cidadãos apenas os "homens livres".

A República apoiava-se no latifúndio e na escravatura. Os chefes farroupilhas jamais prometeram terras aos gaúchos e liberdade aos cativos, como Artigas. Eles dependiam dos cativos para explorar as fazendas. Terra e liberdade eram conquistas que deviam nascer das reivindicações das então frágeis classes sociais.

Não foi por democratismo que os farroupilhas exigiram do Império respeito à liberdade dos soldados negros. Eles receavam que se formasse guerrilha negra e que os ex-cativos se homiziassem no Uruguai. O Império não aceitava que negros gozassem da liberdade por combaterem a monarquia.

A solução encontrada foi o massacre do serro de Porongos, quando o general David Canabarro, chefe militar republicano, em conluio com o barão de Caxias, entregou os soldados negros aos inimigos, no mais vil fato de armas da história militar do Brasil. Carta do barão elucidou as razões da falsa surpresa militar.

Caxias ordenou ao coronel Francisco de Abreu que não temesse surpreender os rebeldes. A infantaria farrapa estaria desarmada, devido à "ordem de um ministro e do General-em-Chefe". Ele esperava que o "negócio secreto" levasse em "poucos dias ao fim da revolta" e solucionasse o caso dos soldados negros.

Caxias ordenava: "[...] poupe o sangue brasileiro quando puder, particularmente de gente branca da província ou índios, [...] esta pobre gente ainda nos pode ser útil no futuro." Preparava já a intervenção no Prata, na qual os ex-farrapos marcharam com o Império, em defesa das suas fazendas no Uruguai.

Na madrugada de 14 de novembro de 1844, as tropas imperiais caíram sobre os 1.200 soldados farroupilhas. Cem combatentes foram mortos e 333 presos. Eram sobretudo negros.

A infâmia abriu as portas à rendição acertada em Ponche Verde. O Império pagaria as contas republicanas e manteria os postos dos oficiais. Os rebeldes aceitariam a anistia e entregariam os soldados negros restantes.

Em novembro de 1844, 220 lanceiros, aprisionados em Porongos e no Arroio Grande, foram remetidos ao Rio de Janeiro. Em início de 1845, 120 soldados negros foram entregues aos imperiais. Na Corte, em 1848, eles trabalhavam como cativos no Arsenal e na fazenda de Santa Cruz, como assinala Moacyr Flores em Negros na Revolução Farroupilha [Porto Alegre: EST, 2004]

Neste 20 de setembro, merece celebração sobretudo a vontade libertária dos milhares de cativos que aproveitaram o confronto senhorial para aquilombar-se e fugir sobretudo para o Uruguai, seguindo a sábia lembrança de que, se "deus é grande, o mato é maior!"


[*] Mário Maestri, 57, historiador, é professor do PPGH da UPF. E-mail: maestri@via-rs.net


Extraído de:
http://www.culturabrasil.org/rev_faz.htm


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domingo, 15 de setembro de 2013

Programa Mais Médicos

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Alan Gagno - estudante de medicina da UFF (integrante do DABT) 
Militante do Vamos à Luta


Uma das principais bandeiras levantadas durante as manifestações de junho que se alastraram pelo país foi a bandeira da saúde pública. Escutávamos com frequência palavras de ordem como “Da Copa, da Copa, da Copa eu abro mão... Eu quero mais dinheiro pra saúde e educação!”. Parecia incrível ver o país do futebol “abrindo mão” da Copa do Mundo de 2014 e exigindo melhorias em áreas básicas e historicamente negligenciadas como educação e saúde.

Em resposta aos anseios populares, o governo Dilma Rouseff (PT/PMDB) lançou, no dia 8 de julho de 2013, a Medida Provisória 621, a qual institui o Programa Mais Médicos. Na MP, estão contidas propostas como aumento do já longo curso de medicina para 8 anos, ampliação de vagas para o curso de medicina bem como criação de novas escolas médicas e a vinda temporária de médicos estrangeiros para suprirem áreas de demanda no interior do Brasil.

Contexto atual do SUS: subfinanciamento e sucateamento

De fato, há uma carência de médicos em áreas de interior e periferia do país, além de uma má distribuição dos médicos, que se concentram predominantemente nos grandes centros urbanos em detrimento de outras áreas. Esse é um problema crônico a ser enfrentado para que se amplie o acesso ao SUS, porém não da maneira como o governo apresentou, apontando o médico como o principal fator de solução para a crise estrutural da saúde e se desvinculando da responsabilidade de 10 anos de governo petista sem promover mudanças reais no quadro da saúde pública.

O investimento anual em saúde gira em torno de 4% do valor total do PIB, sendo que desses 4% mais da metade (54%) são destinados a subsidiar a iniciativa privada – que só atende a 25% da população -, e o ínfimo valor restante é que se destina de fato ao SUS público. Nota-se aí um grave problema de financiamento do SUS, com uma quantia que não dá para cobrir os gastos necessários para que se ofereça à população uma saúde de qualidade. Além disso, vale lembrar que aproximadamente 45% do PIB é destinado a pagar juros e amortizações da dívida interna e externa, alimentando banqueiros e especuladores da dívida em vez de ampliar os gastos em áreas sociais. Por isso, é necessário suspender imediatamente o pagamento da dívida para que ela possa ser submetida a uma auditoria. Do contrário, não será possível avançar no entrave do subfinanciamento da saúde.

Nesse contexto, o que se vê são unidades de saúde, em sua grande maioria, sucateadas, sem o mínimo necessário para a realização de um digno atendimento aos pacientes. Filas de espera enormes, demora na marcação de consultas e procedimentos, precária estrutura ambulatorial e de internação, falta de materiais básicos são alguns exemplos do que a população que utiliza o SUS enfrenta rotineiramente em busca de acesso aos serviços de saúde.

Dessa forma, a MP 621 surge como uma maquiagem no caos em que se encontra o SUS. É chamada de “medida emergencial”, mesmo após uma década de governo com cortes anuais em gastos sociais e incentivo a modelos privatizantes de saúde, tais como as Organizações Sociais (OSs) e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH).

Ampliação do curso de medicina como serviço civil obrigatório, aumento do quadro de vagas para medicina e abertura de novas escolas médicas

A proposta de se ampliar o curso de medicina para oito anos, criando um segundo ciclo que mascara um serviço civil obrigatório, é mais uma medida na contramão do que é idealizado para uma formação de médica de qualidade e voltada para os interesses da população. Inserir um segundo ciclo de dois anos a mais, no qual o estudante deve atuar no SUS praticamente como um médico, mesmo sem ter diploma, é precarizar ainda mais as relações e trabalho. Cria-se um “semi-médico”, que não tem salário, mas uma bolsa que não garante direitos trabalhistas nem vínculo.

O governo se utiliza da desculpa que está se baseando no sistema inglês de formação médica, no entanto deturpa completamente o que é feito na Inglaterra ao propor da maneira como o faz no Brasil. Ainda é predominante, aqui, o modelo de medicina biologicista, hospitalocêntrico e medicalizador, ao contrário da Inglaterra, que tem forte enfoque na atenção básica e na formação generalista. Aumentar o curso sem se preocupar em modificar a formação nas escolas médicas, com um ensino que seja socialmente referenciado, pautado na determinação social do processo saúde-doença e com foco na atenção básica, é irresponsável e não gera melhorias à saúde da população.

Além disso, ainda há o problema da preceptoria desses “semi-médicos”. Hoje já se vê um problema grave de preceptoria nos internatos e residências médicas, muitas vezes o estudante ou profissional em formação ficando desassistidos em suas atividades diárias.

Em relação à ampliação de vagas e à abertura de novas escolas médicas, surge a preocupação com a intensificação do processo de mercantilização do ensino protagonizado pelo governo do PT, que já é visto por meio de programas como o REUNI, que aumenta o número de vagas nas universidades sem garantir qualidade adequada, precarizando o ensino, e o PROUNI, que destina verba para a criação de bolsas em instituições privadas de ensino em vez de se investir em instituições públicas, contribuindo para o processo de privatização do ensino.

Outro problema é a concentração das escolas médicas nos grandes centros urbanos, com poucas unidades situadas no interior e periferias do país. A chance da pessoa que se formou num determinado centro urbano permanecer lá é grande, haja vista as maiores oportunidades de emprego oferecidas, bem como a possibilidade de se estender para atividades de docência, pesquisa entre outras coisas.

A abertura de vagas e criação de novas escolas deve perpassar, sim, pelo rol de políticas públicas reestrurantes da saúde. Mas que sejam instituições públicas, sérias e comprometidas  com o interesse coletivo. É necessário, para ampliar vagas, que se amplie o investimento nas instituições públicas para garantir uma formação de qualidade. E, além disso, como já dito anteriormente, é preciso atentar para o ideal que se quer passar ao longo da formação médica, que não deve ser o ideal preconizado pelo complexo médico-industrial, grande defensor do modelo centrado nos grandes complexos hospitalares e na medicalização. É isso o que gera lucro para os empresários da saúde e mantém a lógica de mercado nessa área. Para garantir formação integral e voltada às demandas sociais, deve haver uma formação generalista, centrada na atenção básica em saúde.

Interiorização

É notável a necessidade de se promover a interiorização não só de médicos,  mas de todos os profissionais de saúde pelo país. Realmente, há muitas cidades ainda que não contam sequer com uma unidade e/ou um profissional de saúde. Entretanto, não é incentivando formas de precarização do trabalho que iremos avançar nesse processo.

A maneira proposta pelo programa contribui ainda mais para a precarização das relações de trabalho no SUS. O pagamento será por meio de uma bolsa, que não se constitui enquanto salário, portanto não assegura direitos trabalhistas que foram conquistados pela classe trabalhadora com muita luta, como 13º salário, FGTS, férias remuneradas, adicionais de insalubridade e estabilidade. Além disso, a contratação é em caráter temporário, por 3 anos, e via EBSERH. Ignorando toda a discussão de inconstitucionalidade e de caráter privatista da empresa nas universidades e passando por cima do Conselho Nacional de Saúde, o governo do PT se mostra mais uma vez na contramão do interesse público, estimulando, a partir da MP 621, que as contratações se deem pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares.

Ou seja, em vez de promover contratações por meio de concursos públicos, Regime Jurídico Único (RJU), com a criação de um plano de cargos, carreiras e salários para os profissionais da saúde, com estabilidade e garantia dos direitos trabalhistas, o governo Dilma opta por intensificar a precarização do trabalho desses profissionais. Dessa forma, colabora com os interesses de mercado em detrimento dos interesses sociais.

Vinda de médicos estrangeiros

Quanto à vinda de médicos estrangeiros, não se pode transferir a responsabilização do Programa Mais Médicos para os profissionais que estão vindo de outros países. Nos últimos dias, temos visto manifestações xenofóbicas e de caráter corporativista por parte de alguns grupos médicos, o que causou revolta e vergonha à população e aos setores que de fato estão lutando por melhorias na saúde pública do país. Não podemos confundir os atores. Os trabalhadores estrangeiros não são responsáveis pela política do governo brasileiro, apenas foram contratados e vieram exercer suas atividades no país.

Entendemos que a vinda desses profissionais não irá solucionar as questões apontadas ao longo do texto, além de julgarmos necessário que fosse feita alguma avaliação desses médicos antes de inciarem seu trabalho, mas isso não justifica atitudes como as presenciadas nos últimos dias durante o desembarque de médicos estrangeiros no Brasil.

A luta continua!

Há vinte e cinco anos atrás, surgia a proposta de criação do Sistema Único de Saúde, um sistema que fosse voltado às reais necessidades de saúde da população, baseado em princípios como a universalidade, equidade e integralidade, e que fosse capaz de garantir acesso universal e irrestrito a todas as regiões do país. Apesar da luta permanente dos movimentos sociais, setores da saúde e grupos políticos, o descompromisso dos governos desde então não permitiram que o SUS avançasse e se efetivasse por inteiro. Enquanto o setores privados  mantiverem seu poder e influência na saúde, a possibilidade de um sistema universalmente público, gratuito e de qualidade estará altamente comprometida e fadada ao fracasso.

Medidas de caráter imediatista e eleitoreiro como o Programa Mais Médicos e o PROVAB, que fracassou como política de governo, são apenas formas de desviar o foco dos principais problemas do SUS.

A saída é continuarmos na luta pelo SUS que queremos, lutando pelo aumento do financiamento, por estímulos reais para a área da atenção básica, por uma carreira de estado para profissionais de saúde, por uma formação médica referenciada nas demandas sociais, pelo fim das privatizações da saúde, pelo fim dos subsídios do Estado à medicina privada, entre muitos outros exemplos de lutas a serem travadas.

Nesse sentido, é muito importante buscarmos participar dos Fóruns Municipais e Estaduais de Saúde, estar atento à Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde, participar das discussões promovidas por movimentos sociais, Centros/Diretórios Acadêmicos (CAs/DAs), Diretórios Centrais dos Estudantes (DCEs), partidos políticos engajados na luta da saúde e executivas nacionais de curso como a Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina (DENEM).

Defender o SUS é dever de todos e todas. Vamos à luta!


Extraído de:
http://vamosalutanacional.blogspot.com.br/2013/08/programa-mais-medicos.html


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domingo, 1 de setembro de 2013

Agentes da Brigada Militar infiltrados (P2) no Piquete da Greve dos Correios

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Por Manisfesto POA [*]

"Por volta das 09:30 da manhã de hoje [30/08/2013], estávamos, nós os trabalhadores de Correios paralisados e diretores do SINTECT-RS garantindo o piquete na greve da nossa categoria, quando notamos a presença destas três pessoas desconhecidas entre os camaradas conhecidos. Fomos perguntar quem eram, e depois de muita hesitação eles revelaram ser oficiais do 9º Batalhão. Soldada Simone, Tenente Machado, e um capitão que eu esqueci o nome. Essa é a polícia do Tarso e do PT aqui no estado. Uma polícia repressiva, que cada dia mais vem aumentando sua repressão e espionagem sobre os movimentos sociais e de trabalhadores!"
http://www.youtube.com/watch?v=nGdVZe90-Ys
 
[*] Extraído de: < https://www.facebook.com/ManifestoPoa/posts/521143844625494 >