quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Mais uma vez "à espera de um milagre"

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Nem bem o galo da pancada da eleição da Câmara dos Deputados se formou e já abundam análises que dizem que dessa vez Bolsonaro vai se estrepar porque está refém do Centrão. Quantas vezes já ouvimos que o fato "tal" iria fazê-lo derreter sozinho e cair de podre?

Esse tipo de análise, ao melhor estilo "à espera de um milagre", é extremamente danoso porque fomenta o marasmo e substitui a ação pelo papel de espectador. Seu recado é: espere! E nisso já se passaram dois anos de desgoverno e não é mais possível esperar.

Sobre o argumento do momento: é muita ingenuidade ou pensamento mecanicista vulgar considerar que um homem que passou a vida inteira no Centrão será refém dele apenas porque esse campo político é demasiado fisiológico e carece de fidelidade.

Alguns complementam alegando que Bolsonaro estaria com um dilema insolúvel: criar um programa de renda mínima (ou renovar o auxílio emergencial ou aumentar a base dos beneficiários do Bolsa Família) para se cacifar para a reeleição e assim desagradar a burguesia que reza o credo da austeridade ou abandonar tal tipo de proposta e desagradar as classes populares. Ora, é plenamente viável Bolsonaro pactuar com a burguesia um programa de renda mínima paralelo a um plano de ajustes e contrarreformas liberais.

O que vai definir a permanência ou não de Bolsonaro é a luta de classes. Se a burguesia decidir que ele deve ser rifado o Centrão o "trairá", porém, o desfecho para as classes populares não seria dos melhores nessa situação. Para que o desfecho seja favorável às classes populares estas precisariam sair às ruas com as suas demandas. Nesse caso o Centrão "trairia" por medo do movimento de massas.

A eleição da Câmara desmoralizou a linha da frente ampla e da conciliação de classes. Chega de ficar "à espera de um milagre". A única alternativa para a esquerda e as forças populares é a mobilização dos de baixo.

 

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