sábado, 28 de julho de 2012

Crise se aprofunda no mundo e no Brasil

.

A crise econômica se aprofunda no mundo e seus efeitos, antes manifestados de outra forma no nosso país [1], já não podem mais ser considerados uma "marolinha" [2] e tampouco se pode afirmar que estamos "blindados" dela. [3]

As medidas "anticrise" do governo brasileiro começam a mostrar os seus limites e a própria Presidente Dilma andou relativizando a importância do PIB [4] - contrariando a maioria de seus discursos anteriores sobre a crise, onde sempre exaltava o crescimento do mesmo.

Diante desse cenário o Governo Dilma não consegue se diferenciar dos governos estrangeiros que ela própria criticava e suas ações têm sido no sentido de atacar os direitos da classe trabalhadora e ampliar as benesses aos grandes conglomerados capitalistas. Na verdade os cortes no orçamento e as privatizações dos aeroportos já mostravam que era falacioso o discurso de que por aqui a crise era enfrentada sem atacar os trabalhadores e os serviços públicos. [idem 1]




Benefícios ao capital

Desde o final de 2011 o governo federal já anunciou oito pacotes despejando os mais variados benefícios, principalmente, para o grande capital:

"Depois da desoneração da folha da pagamento para 15 setores, da redução de IPI de automóveis e linha branca, de linhas de créditos para investimentos e de R$ 20 bilhões para os Estados, Dilma decidiu apelar para o poder de compra da União na busca de incentivos à indústria.

(...)

Batizado de PAC dos Equipamentos, o novo programa do governo prevê destinar R$ 8,4 bilhões para compras governamentais no segundo semestre de 2012.

Deste total, R$ 6,6 bilhões são de compras novas, não previstas no Orçamento, de máquinas e equipamentos e outros bens produzidos no Brasil.

A equipe econômica assegurou que os novos gastos anunciados ontem não vão reduzir a meta de superávit primário, de 3,1% do PIB -- a economia do governo para pagar juros da dívida." [5]

O trecho acima refere-se ainda ao sétimo pacote. O último foram duas Medidas Provisórias (MP) aprovadas dias 16 e 17 de julho pela Câmara dos Deputados. Uma delas, a MP 563, amplia a desoneração da folha de pagamentos e isenções fiscais [6]. A outra, a MP 564, aumentou o leque de empresas a serem socorridas pelo Estado, via BNDES, devido a crise econômica, além de destinar mais R$ 45 bilhões do Tesouro para o BNDES subsidiar o capital. [7]

Como o governo petista optou pela gestão do capitalismo, essas medidas longe de abolirem os efeitos da crise financeira, pavimentarão o caminho para futuros ataques à classe trabalhadora.

A desoneração da folha de pagamentos impacta diretamente na arrecadação da previdência e, assim, o irreal déficit alardeado poderá finalmente se tornar realidade. Já os recursos jogados do Tesouro para o BNDES elevam o endividamento público. Entre 2008 e 2011 essa operação custou aos contribuintes R$ 28 bilhões [8]. No mesmo período, segundo o Tesouro Nacional, a dívida pública passou de R$ 1,397 trilhão [9] para R$ 1,86 trilhão [10] - de acordo com o Auditoria Cidadã da Dívida esses valores não correspondem a realidade e são maiores do que o divulgado pelo governo e a mídia.


Ataques à classe trabalhadora

Quando as medidas acima fizerem seus estragos, as classes dominantes (as maiores beneficiadas delas) se fingirão de desentendidas, posarão de ultrajadas e apontarão o dedo para a classe trabalhadora, que será responsabilizada e chamada a arcar com o ônus de uma crise que não criaram para "salvar o país" (tsc!). Tem sido assim no mundo inteiro!

O próprio Governo Dilma já está pondo esse plano em marcha. Após sancionar a privatização de parte da previdência [11], o Palácio do Planalto pretende elevar a idade mínima para a aposentadoria ou impor uma fórmula (85/95) que em alguns casos será pior do que o atual fator previdenciário [12]. Esse último teria a sua abolição alardeada para tentar ocultar dos trabalhadores os novos ataques.

A intransigência e a truculência do governo diante das greves dos trabalhadores é outra face desse plano. Já é mais do que conhecida a atuação da Força Nacional na repressão aos trabalhadores dos canteiros de obras do PAC, como na Usina de Jirau, empreendimento tocado com dinheiro público e cujo maior acionista é uma empresa estrangeira, a franco-belga GDF Suez.

Em 24 de julho, mostrando a sua face autoritária, o Governo Dilma baixou um decreto antigreve para tentar abafar as inúmeras greves de servidores públicos enfrentadas por sua administração [13]. As palavras do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, deixam claro que o governo federal não está muito disposto às negociações e partiu para o confronto:

"Estamos endurecendo no que concerne à garantia de funcionamento do serviço público. O serviço público federal não ficará paralisado por conta de uma greve. E as medidas que forem necessárias para garantir este funcionamento serão tomadas, seja esta de convênio com estados e municípios assinadas hoje, sejam adoções de outros procedimentos, seja eventualmente o ajuizamento de ações na justiça." [14]




Triste fim de um partido que teve origem exatamente nas greves. Mas as más notícias - e decepções para alguns - não encerram por aí.

A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2013, aprovada pela Câmara dia 17 de julho, não prevê reajustes salariais nem para os servidores e nem para os aposentados que recebem mais do que o salário mínimo, mas, por outro lado, tem como meta um superávit primário de 155,9 bilhões - 12% superior ao deste ano. [15]

Aproximadamente 2.000 trabalhadores estão sendo ameaçados de demissão pela GM. O setor automotivo recebeu 26 bilhões em isenções fiscais desde 2008. Tendo em vista a quantidade de vagas criadas no período, cada emprego gerado pelas montadoras custou 1 milhão aos cofres públicos.

A garantia da manutenção dos empregos foi o argumento do governo petista para a concessão dessa benesse bilionária. Agora que ficou claro que tal medida foi tomada em benefício das montadoras e não dos trabalhadores, conforme alardeado, a Presidente surge, após um significativo tempo de silêncio, "cobrando" a parte das multinacionais no acordo. A firmeza dessa postura fica evidente quando, no mesmo discurso em que "cobra" as montadoras, Dilma anuncia que ampliará as benesses para o capital no país. [16]


Como no exterior

Ajustes fiscais, cortes no orçamento, privatizações, ataques aos direitos e a organização dos trabalhadores, ampliação de isenções fiscais, financiamentos subsidiados, economia cada vez maior para pagar os especuladores, etc, mostram que as ações tomadas visam garantir os interesses das grandes empresas e dos bancos e não dos trabalhadores brasileiros.

As medidas já tomadas e as que se anunciam mostram que as gestões petistas não se diferenciam dos governos estrangeiros, que demagogicamente criticam, quando se trata de enfrentar a crise econômica.

Isso ocorre porque o PT optou por gerir o capitalismo, sistema no qual muitos dos seus dirigentes estão muito bem acomodados, e assim suas medidas "anticrise" visam manter a acumulação e a reprodução do capital em nosso país.

Tendo em vista que em uma sociedade de classes não há contradição em uma ponta sem impacto em outra, para aliviar e garantir os interesses do capital em crise o governo ataca e atacará cada vez mais os trabalhadores brasileiros. O que aparecia ocultado pela dissimulação saltará aos olhos de todos!

_____________________________________________

[1] A crise no Brasil (06/05/2012):
http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2012/05/crise-no-brasil.html

[2] Lula: crise é tsunami nos EUA e, se chegar ao Brasil, será 'marolinha' (04/10/2008):
http://oglobo.globo.com/economia/lula-crise-tsunami-nos-eua-se-chegar-ao-brasil-sera-marolinha-3827410

[3] Dilma diz que Brasil está 'blindado' contra a crise (28/11/2011):
http://www1.folha.uol.com.br/poder/1013305-dilma-diz-que-brasil-esta-blindado-contra-a-crise.shtml

    Dilma reafirma que Brasil está "blindado" contra crise e que "não sai por aí, feito louco, se endividando" (28/11/2011):
http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-11-28/dilma-reafirma-que-brasil-esta-blindado-contra-crise-e-que-nao-sai-por-ai-feito-louco-se-endividando

[4] Grandeza da nação não é medida pelo PIB, diz Dilma (12/07/2012):
http://www.cartacapital.com.br/economia/grandeza-da-nacao-nao-e-medida-pelo-pib-diz-dilma/

[5] Dilma anuncia o sétimo pacote contra crise econômica (28/06/2012):
http://www.agora.uol.com.br/brasil/ult10102u1111768.shtml

[6] Câmara aprova texto-base da MP que desonera folha de pagamento (17/07/2012):
http://sul21.com.br/jornal/2012/07/camara-aprova-texto-base-da-mp-que-desonera-folha-de-pagamento/

[7] Câmara aprova Medida Provisória que concede incentivos à indústria (17/07/2012):
http://sul21.com.br/jornal/2012/07/camara-aprova-medida-provisoria-que-concede-incentivos-a-industria/

[8] Subsídio do Tesouro para BNDES atinge R$ 28 bi em três anos (08/06/2012):
http://www1.folha.uol.com.br/poder/1101771-subsidio-do-tesouro-para-bndes-atinge-r-28-bi-em-tres-anos.shtml

[9] Dívida pública federal termina 2008 em R$ 1,397 trilhão (29/01/2009):
http://oglobo.globo.com/economia/divida-publica-federal-termina-2008-em-1397-trilhao-3126555

[10] Dívida pública sobe 10% em 2011, para R$ 1,86 trilhão, diz Tesouro (30/01/2012):
http://g1.globo.com/economia/mercados/noticia/2012/01/divida-publica-sobe-10-em-2011-para-r-186-trilhao-diz-tesouro.html

[11] Dilma sanciona lei que cria novo fundo de previdência do servidor (02/05/2012):
http://g1.globo.com/politica/noticia/2012/05/dilma-sanciona-lei-que-cria-novo-fundo-de-previdencia-do-servidor.html

[12] Fim do Fator previdenciário: um plano de lobo na pele de cordeiro. Paulo Perazzo. (11/07/2012):
http://ne10.uol.com.br/coluna/por-dentro-da-previdencia/noticia/2012/07/11/fim-do-fator-previdenciario-um-plano-de-lobo-na-pele-de-cordeiro-353998.php

[13] DECRETO Nº 7.777, DE 24 DE JULHO DE 2012
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2012/Decreto/D7777.htm

[14] Dilma descentraliza função de agências reguladoras (25/07/2012):
http://exame.abril.com.br/brasil/politica/noticias/dilma-descentraliza-funcao-de-agencias-reguladoras
http://exame.abril.com.br/brasil/politica/noticias/dilma-descentraliza-funcao-de-agencias-reguladoras?page=2

[15] Comissão aprova texto base da LDO 2013;primário é de R$155,9bi (17/07/2012):
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2012/07/17/comissao-aprova-texto-base-da-ldo-2013primario-e-de-r1559bi.htm

[16] Dilma cobra manutenção de emprego como contrapartida a incentivo (27/07/2012):
http://www.valor.com.br/brasil/2767314/dilma-cobra-manutencao-de-emprego-como-contrapartida-incentivo
.