Globo News mente sobre drogas na Aldeia Maracanã. Trabalhadores são demitidos por se solidarizar aos índios.
Em poucos dias duas demonstrações do que são capazes as classes dominantes na defesa da manutenção e ampliação de seus privilégios e interesses.
Na segunda-feira (14/01) a empresa Concrejato demitiu dois trabalhadores em retaliação ao fato deles terem demonstrado apoio aos índios da Aldeia Maracanã, no sábado, dia 12/01. Na manhã desse dia a Tropa de Choque cercou a Aldeia Maracanã e a Globo News, em uma sinistra demonstração de como a grande mídia deturpa o noticiário, disse que havia venda de drogas no local. A retratação da emissora só ocorreu após a denúncia dos índios ser divulgada na internet.
Os dois casos mostram os métodos espúrios que as classes dominantes utilizam sem constrangimento para defender seus interesses.
Abaixo a matéria das demissões e os vídeos sobre o caso da Aldeia Maracanã.
Concrejato diz que dispensa foi por ato de indisciplina dos carpinteiros.
Jornal do Brasil
Henrique de Almeida e Renan Almeida*
Por terem dado apoio, no sábado, à manifestação em favor da
permanência da Aldeia Maracanã no prédio do antigo Museu do Índio, os
carpinteiros José Antonio dos Santos, 47, e Francisco de Souza Batista,
33, acabaram demitidos dos empregos, na manhã desta segunda-feira (14),
pela empresa Concrejato, que participa da reforma do Estádio do
Maracanã.
Os dois trabalharam no turno da manhã no sábado, dia em
que a aldeia amanheceu cercada por soldados do Batalhão de Choque o que
provocou uma grande movimentação em solidariedade aos índios.
O apoio dos carpinteiros ao movimento
ocorreu no horário de almoço, quando eles decidiram ir à aldeia,
pulando o muro, uma vez que o portão estava interditado pelos soldados
do Batalhão de Choque.
“Vão derrubar um patrimônio
cultural, além de deixar desamparadas as pessoas que ali estão. Eu não
concordo”, defendeu José Antônio. Segundo Francisco, vários colegas
pensam como eles mas têm medo de se manifestarem.
"Como cidadão, não acho que Cabral esteja fazendo um bom governo. Não
acho legal destruir um monumento como este só para fazer nome ou
dinheiro. Acho que isto é uma coisa com a qual ninguém pode concordar",
disse Francisco.
Ao retornarem à obra, tiveram seus crachás
recolhidos por um funcionário do Consórcio Maracanã , formado pelas
construtoras Andrade Gutierrez e Odebraecht que recomendou que eles voltassem apenas na segunda-feira quando definiriam a situação de ambos.
“Quando eles tomam o crachá, em 99% dos casos o trabalhador é dispensado”, antecipou Francisco no sábado.
Nesta segunda-feira (14), em uma nítida perseguição política, os dois
receberam três papéis. Em um havia uma advertência, o segundo continha
uma demissão por justa causa e o terceiro seria a possibilidade de serem
transferidos de canteiro de obra. Os dois não aceitaram assinar nenhum
deles. Restou-lhe a demissão com seus direitos preservados.
José Antonio estava há cinco meses na obra.
Francisco já totalizava 17 meses de trabalho. Nenhum dos dois, até
então, havia tido qualquer problema disciplinar ou de falta. Jamais
foram advertidos. "Sou um trabalhador que me dou bem com todo mundo. Chego cedo, se precisar saio mais tarde. Jamais fui advertido", esclarece Francisco.
“Disseram que o consórcio não queria mais a gente
aqui no Maracanã. Queriam nos transferir, mas seria muito ruim para nós, então
concordamos em ser dispensados”, contou José Antonio.
Aldeia apóia operários
Ao serem informados da demissão
dos operários, os indígenas deram total apoio aos dois. Quando chegaram à
aldeia após serem demitidos, as palmas se misturaram a gritos de apoio
em diferentes dialetos indígenas. Um discurso foi feito por Marize de
Oliveira, uma das líderes indígena, que conclamou o Sindicato dos
Trabalhadores da Construção Civil a apoiar os operários.
Francisco, ao receber um cocar na cabeça como forma de agradecimento, explicou o que havia acontecido aos presentes.
"Pulamos
o muro porque quisemos. Sou um homem de caráter e temos que honrar
nossa cultura", disse ele, sob aplausos entusiasmados de uma comunidade
em estado de tensão por causa da possibilidade iminente de serem
expulsos do antigo Museu do Índio, lar da Aldeia Maracanã.
Os dois
operários ganharam a solidariedade do advogado e ex-deputado federal
Modesto da Silveira, conhecido defensor de presos políticos na ditadura
militar, advogado de direitos humanos e atualmente conselheiro da
comissão de ética da Presidência da República.Ele estava ali como
observador para tentar evitar atritos, evitar alguma agressividade que
violasse os direitos do cidadão.
Ele se dispô a acompanhar os
dois trabalhadores em uma conversa com "o capitão do mato" - termo que
usou para referir-se ao responsável pela obra que anunciou a demissão. A
ideia, porém, não foi levada adiante por conta do tumulto que poderia
causar. Modesto sugeriu aos operários que buscassem o apoio jurídico do
sindicato dos trabalhadores em construção civil.
Ato de indisciplina
Em
nota emitida às 17H00 desta segunda-feira, a empresa Concrejato nega
que tenha feito uma perseguição política e credita a demissão ao ato de
indisciplina dos dois carpinteiros, por eles terem se ausentado do
canteiro de obras, "desrespeitando as regras de trabalho do Consórcio Maracanã". A nota diz ainda que a dispensa ocorreu por eles "terem pulado o muro do Complexo Maracanã, inclusive uniformizados".
Segundo
os dois operários informaram ao Jornal do Brasil, quando deixaram o
canteiro de obras eles já tinha terminado o expediente de serviço e
estavam em horário de almoço. Abaixo a íntegra da nota:
"A
Concrejato esclarece que, no dia 12 de janeiro, os funcionários
Francisco de Souza Batista e José Antônio dos Santos Cezar deixaram a
obra do Maracanã, onde cumpriam expediente, desrespeitando as regras de
trabalho do Consórcio Maracanã, o que resultou em demissão.
A
empresa esclarece, ainda, que a medida tomada não foi influenciada pelo
apoio dos funcionários à manifestação que ocorreu na mesma data, no
prédio do antigo Museu do Índio. Tal fato ocorreu por eles terem pulado o
muro do Complexo Maracanã, inclusive uniformizados, expondo-os a
acidentes e abandonando o local de trabalho durante o expediente sem
qualquer solicitação de dispensa nem comunicado aos seus superiores.
A
Concrejato reforça que todos têm o direito de expressar sua opinião e
que a demissão foi ocasionada por indisciplina e pelo descumprimento das
regras de conduta e segurança que a empresa pratica".
*Do Projeto de estágio do Jornal do Brasil
Extraído de:
http://www.jb.com.br/rio/noticias/2013/01/14/perseguicao-politica-empresa-demite-operarios-por-apoio-a-indios-no-maracana/
Índio denuncia calúnia da Globo News
http://www.youtube.com/watch?v=-Lt-9YDMF40
Índio cobra retratação de repórter da Globo News
http://www.youtube.com/watch?v=tTM89rbXvvU
Globo News se retratando
http://www.youtube.com/watch?v=ApNSjqP17HI
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