Dois casos. Duas classes. Dois discursos. E uma contradição exposta. É o que se viu, mais uma vez, no Estado do Rio Grande do Sul, na última sexta-feira (24) e no último sábado (25).
Caso 1, sexta-feira: o Governo Tarso anunciou, através da grande imprensa, o que ele chama de um cronograma para pagar o Piso Nacional dos Professores estaduais. A aliança do governador com a grande imprensa tem sido sistemática e visa confundir a opinião pública. Dessa vez não foi diferente.
A primeira confusão que o governo faz para enganar a sociedade é confundir cumprimento do piso de uma categoria com aumento salarial. Assim alardeia como aumento de 76,68%, a ser pago em sete parcelas até o final de 2014, o que seria para atingir o piso. São coisas distintas!
A segunda confusão é que, se cumprido o calendário do governo, o que será realizado e institucionalizado é o não pagamento do Piso Nacional para os professores!
O piso hoje é de R$ 1.187,97. O seu reajuste para este ano ainda está em discussão. Governos estaduais querem derrubar a fórmula de reajuste estabelecida pelo Ministério da Educação, que seria de 22% e trocá-la pelo INPC, que está em 6,08%.
Caso prevaleça o INPC o piso dos professores passaria para R$ 1.260,19. O calendário do Governo Tarso prevê o pagamento desse valor até o final de 2014. Ou seja, o piso estaria defesado em dois anos! Assim estaria legalizado o calote no piso dos professores estaduais!
O governismo, mais uma vez, alega problemas financeiros e chama de "acordo possível" o estelionato eleitoral do governador que prometeu o piso na campanha. Mas o caso 2 mostra a contradição desse discurso.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=wYvOAFQKHZM
Caso 2, sábado: o governador Tarso Genro participa da 22ª Abertura da Colheita do Arroz, em Restinga Seca. E anuncia, sem titubear, aos grandes fazendeiros, que "O Estado tem dinheiro para os arrozeiros". [1]
E não foi só disposição financeira que o governador ofereceu:
"(...) o governo estadual veio a Restinga Seca para se colocar mais uma vez à disposição do setor para, junto aos políticos de todos os partidos, liderar qualquer mobilização ao governo federal no sentido de valorizar ainda mais a nossa produção, representada por esta Abertura Oficial da Colheita em Restinga Seca" [2]
As palavras de Renato Rocha, Presidente da Federarroz, no mesmo evento realizado no ano passado, deixam claro que a disposição do governo petista não é só discurso:
"Em pouco mais de 45 dias desde a posse de Dilma Rousseff e Tarso Genro várias reivindicações foram atendidas, amenizando as dificuldades encontradas pelos arrozeiros neste momento em que começa a colheita." [3]
E este ano elenca o que já conseguiram:
"Tivemos um protocolo de intenções com o Banco do Brasil onde serão colocados R$ 700 milhões para a comercialização do arroz, R$ 500 milhões para EGF e R$ 200 milhões para a pré-comercialização e compra de insumos para a próxima safra. Também tivemos anúncio de recursos do Sicredi e do Banrisul para pré-comercialização e EGFs, no Balcão de Negócios. Com este volume anunciado aqui pelo Banco do Brasil deveremos chegar a R$ 900 milhões para a comercialização. Esse pacote de recursos, aliado as medidas que o ministro da Agricultura prometeu em editar com a maior brevidade possível, dá para projetar um cenário de comercialização mais favorável para esta safra". [4]
Um Estado seletivamente quebrado
Em menos de 24 horas o governo gaúcho mostrou, em dois casos que envolviam duas classes distintas, que o Rio Grande do Sul é um Estado seletivamente quebrado. Para os de baixo o calote é o "acordo possível" enquanto que para os de cima não faltam recursos.
Não foi a primeira vez que isso aconteceu no atual governo. No ano passado, enquanto Tarso dizia em um dia que o Estado se transformaria em uma Grécia caso o seu pacote, que privatizava a previdência pública e instituía o calote nos precatórios, não fosse aprovado [5] ; dizia em outro que não faltaria dinheiro para as multinacionais. [6] Isso sem falar nos reajustes de mais de 100% para os apadrinhados políticos. [7]
Fica cada vez mais visível que o Governo Tarso escolheu o lado de cima para governar e é por esse motivo que caloteia e ataca o andar de baixo.
No caso da educação pública o seu governo não se limita a atacá-la financeiramente mas aplica contra-reformas que prejudicam os filhos da classe trabalhadora reduzindo o seu horizonte profissional e disponibilizando-os gratuitamente para o empresariado.
O Governo Tarso não é apenas "inimigo da educação" como corretamente apontavam os outdoors do Sindicato dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS) espalhados recentemente. Ele é inimigo da classe trabalhadora! Os trabalhadores ficaram apenas na sigla do seu partido.
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[1] "O Estado tem dinheiro para os arrozeiros", diz Tarso Genro (25/02/2012):
http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/economia/noticia/2012/02/o-estado-tem-dinheiro-para-os-arrozeiros-diz-tarso-genro-3676101.html
[2] Tarso destaca parceria do governo com produtores na Abertura da Colheita do Arroz (25/02/2012):
http://www.estado.rs.gov.br/
[3] Abertura Oficial da Colheita do Arroz (09/03/2011):
http://copespt.blogspot.com/2011/03/abertura-oficial-da-colheita-do-arroz.html
[4] Colheita do Arroz abre com manifestações por melhores preços (25/02/2012):
http://federarroz.com.br/index.php?exe=noticia_detalhe&in=184
[5] O Pacotarso, o RS e a Grécia (30/06/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2011/06/o-pacotarso-o-rs-e-grecia.html
[6] Para as multinacionais têm dinheiro, anuncia Governo Tarso (03/07/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2011/07/para-as-multinacionais-tem-dinheiro.html
[7] Novo Governo, velhas medidas! (11/01/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2011/01/novo-governo-velhas-medidas.html
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