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Chegou ao fim um dos piores governos da História do Estado do Rio Grande do Sul. Yeda Crusius comandou um governo marcado por escândalos de corrupção, arrogância, prepotência, descaso com o serviço público, perseguição e criminalização dos movimentos sociais e benefícios ao capital financeiro e às oligarquias locais. Por tudo isso a sua simples saída do Palácio Piratini representa um alívio para a maioria dos gaúchos. Em seu lugar tomou posse, nesta manhã, o petista Tarso Genro, eleito no primeiro turno. Mas o que os gaúchos podem esperar do seu governo?
Além do sentimento de alívio pela saída da tucana, muitos ativistas e cidadãos gaúchos honestos e com ideias progressistas alimentam grandes ilusões na gestão vindoura. Têm em mente ainda a gestão de Olívio Dutra e o pensamento de que o PT gaúcho é diferente do PT nacional, que é mais de esquerda, etc.
Primeiramente é preciso observar que o Governo de Tarso não será parecido com o de Olívio. Tarso destacou desde a campanha que a sua gestão seria diferente, mais "aberta", inspirada no Governo Lula. Por isso buscou colocar para dentro do seu governo setores das oligarquias gaúchas como o PP, e ainda partidos como o PDT e o PTB (este último, assim como o PP foi parte da base aliada do Governo Yeda). Tais alianças apontam para um determinado programa de governo, o qual será tratado mais adiante.
Em segundo, ainda dentro deste ponto, é preciso salientar que nem mesmo Olívio seria o mesmo da outra gestão. Isso ocorre porque o processo de transformação do PT não passou incólume pelos pampas como podem imaginar alguns. Tanto Olívio quanto Tarso, assim como outros dirigentes do PT gaúcho, fizeram parte do Governo Lula e apóiam a sua gestão. O PT gaúcho não é mais tão diferente do PT nacional, tanto que em 2006 o então candidato ao governo do Estado, Olívio Dutra, buscou apoio de Rigotto do PMDB no segundo turno contra Yeda Crusius.
O programa de governo
Óbviamente haverá algumas diferenças do Governo de Tarso Genro para o de Yeda. Uma das primeiras a serem sentidas será a substituição da perseguição, repressão e criminalização dos movimentos sociais pela sua cooptação como fez o Governo Lula, fonte de inspiração de Tarso.
Neste sentido, além da pressão material sobre os dirigentes sociais ainda será criado um espaço de "diálogo" onde estarão presentes todos os setores sociais onde sentarão na mesma mesa trabalhadores e empresários. É o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o famoso Conselhão. Pela experiência nacional sabe-se que a balança pende, em geral, para o segundo grupo.
Por fim cabe destacar que, se a cooptação substituirá a repressão, esta última não está do todo descartada já que, como disse o próprio governador eleito, os movimentos sociais serão tratados dentro dos marcos da legalidade.[1]
Tendo o Governo Lula como inspiração sabe-se que este não abdicou à repressão, até porque há setores que não se curvaram à cooptação.
Assim como Lula em relação a Fernando Henrique, Tarso também apresentará pontos de contato com Yeda. Se no final do ano alguns integrantes do PT polemizaram sobre as privatizantes Parcerias-Público-Privadas (PPPs) de Yeda, Tarso não as contestou[2] e seu futuro Secretário da Infraestrutura, Beto Albuquerque, defendeu novas PPPs na gestão petista.[3] Além do mais no final do ano o governo Yeda aprovou, por unanimidade, ou seja com os votos do PT, isenções fiscais para empresas atuarem próximas dos presídios privatizados, abrindo caminhos para as PPPs contestadas.[4] Por fim, sempre vale lembrar que as PPPs foram aprovadas no Governo Lula.
Outra medida com a qual Tarso já se comprometeu com o empresariado, e que é apoiada pelos tucanos e seus aliados mais próximos, é a Reforma da Previdência.[5]
Há indícios mais do que suficientes de que o Governo Tarso Genro não só será diferente do que foi a gestão de Olívio Dutra (e aliás o próprio Olívio seria diferente do que foi devido a transformação do próprio PT) como será um governo muito similar ao de Lula, que contemplará as oligarquias locais e atacará os trabalhadores. É por isso que políticos como Cézar Busatto, outrora antipetista raivoso, está assanhado com o governo petista: "A minha expectativa para o governo Tarso é a melhor possível", disse de olho na experiência de Lula que teria "despolarizado a política do país".[6]
Cabe ressaltar que o "modo Lula de governar" foi rechaçado no Rio Grande do Sul nas últimas duas eleições, onde o seu candidato presidencial ficou em segundo lugar. É muito cedo para saber se Tarso Genro terá o mesmo tratamento do eleitor no plano eleitoral, mas não é cedo para dizer que no plano programático causará desilusão em muitos cidadãos progressistas honestos que mantêm na memória as lembranças do passado.
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[1,6] PT volta ao poder no Estado com discurso moderado (31/12/2010):
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1§ion=Pol%EDtica&newsID=a3161295.xml
[2] Tarso Genro fala sobre infraestrutura e desenvolvimento da região (24/10/2010):
http://www.jornalnh.com.br/eleicoes2010/noticia,cd-288618,POLITICA:TARSO+GENRO+FALA+SOBRE+INFRAESTRUTURA+E+DESENVOLVIMENTO+DA+REGIAO.htm
[3] Futuro secretário defende PPP para construir RS-010
http://psbrs.org.br/v1/index.php/artigos/5391-futuro-secretario-defende-ppp-para-construir-rs-010
[4] Incentivos são aprovados (24/11/2010):
http://www.clicrbs.com.br/pioneiro/rs/impressa/11,3119001,157,15958,impressa.html
[5] Tarso prevê "muitas resistências" em mudanças na Previdência (19/10/2010):
http://zerohora.clicrbs.com.br/especial/rs/zhdinheiro/19,0,3079973,Em-reuniao-com-integrantes-da-Agenda-2020-Tarso-defende-mudancas-na-Previdencia.html
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