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junho
13th, 2014
Alvaro
Bianchi
Quem
xingou Dilma? Certamente não foram os manifestantes de junho, os
metroviários demitidos por Alckmin, os docentes e técnicos
administrativos em greve nas universidades estaduais paulistas, os
trabalhadores da justiça federal em greve, as comunidades expulsas
de suas terras pelas megaconstruções do governo federal. Estes
teriam bons motivos para tal, mas não estavam na Arena São Paulo. E
se estivessem, provavelmente, não teriam escolhido as mesmas
palavras lá usadas.
Foi
a “direita”? A “elite”? A “burguesia” ? Certamente as
vaias não vieram de Paulo Maluf e Kátia Abreu. Estes estão
abraçando Padilha e defendendo a copa contra os manifestantes. A
direita partidária ama Dilma porque esta lhes deu o que não tinham
com FHC: tranquilidade.
Também
não foram os empreiteiros que inundaram os cofres da campanha
eleitoral de Dilma. Nem os banqueiros que continuam faturando como
nunca graças aos juros astronômicos. Nem os latifundiários
agradecidos com o novo Código Florestal Nem louco queima dinheiro.
Muito menos banqueiros, empreiteiros e latifundiários.
É
constrangedora a pobreza sociológica e mesmo antropológica de quem
recorre a essas marcações conceituais jogando tudo no mesmo saco e
depois enfiando a mão para ver o que sai. Conhecem tanto da
burguesia brasileira quanto de estádios. Não sabem que esta
raríssimas vezes discorda em público do governo (o que o estudo de
Rodolfo Palazzo Dias mostrou é que os banqueiros nunca discordam em
público). E desconhecem que ela não senta a bunda em arquibancada,
abomina camarote vip e acha berrar em público obsceno.
Quem
xingou Dilma foram os estratos inferiores das upper classes, os quais
tem sido empurrados para baixo pelos processos de concentração e
centralização do capital estimulados pelo governo federal. Trata-se
de uma classe em transição, vitimada pela “distribuição de
renda” no interior da própria burguesia. São os empresários de
pequeno ou médio porte, sempre às voltas com as dívidas bancárias.
Os aventureiros cujas pequenas fortunas dependem da capacidade de
chegar primeiro ou de um lance de sorte. São os que abrem e fecham
negócios como quem troca um terno Armani. São os que vão fazer
compras em Miami para economizar trocados nas roupas de grife. São
os que preferem ter seus filhos na FGV e no Ibmec a vê-los se
misturar com os subalternos nas universidades públicas.
Bourdieu
teria dificuldade para entender essa low upper class. Os marcadores
de distinção aos quais recorre não são os diplomas nas melhores
universidades, uma assinatura da ópera ou da sinfônica, ou a visita
frequente aos museus. Ela não se distingue por meio do consumo dos
produtos da alta cultura européia. Com frequência toma emprestados
os gostos, os modos e a própria cultura das classes subalternas que
tanto odeia, não sem antes esteriliza-los e retirar deles todo traço
de originalidade.
A
low upper class Gosta de forró universitário, rodeios, comédias
stand up, Romero Brito e teatro besteirol. Distingue-se dos demais
pelas marcas que consome e pelos gastos astronômicos em bobagens. A
única coisa que esses marcadores permitem distinguir é sua
monumental estupidez. Por isso não tem pudor em encher a boca com um
palavrão.
Tudo
o que esta low upper class gostaria de ter é a segurança de um
empreiteiro com contratos com o governo federal ou de um banqueiro
protegido pelo Banco Central. Mas isso Dilma não deixa. Ela gosta de
empreiteiros e banqueiros de verdade. Os de mentirinha vão ficar
confinados no camarote, onde qualquer empresariozinho pode ser rei.
Vão vaiá-la e xingá-la. Os de verdade vão continuar frequentando
o Palácio do Planalto.
Extraído de:
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