ESCRITO
POR MOYSES PINTO NETO
QUARTA,
18 DE JUNHO DE 2014
Sócrates vinha passeando
e de repente foi abordado pelo Militante Governista.
MG: Sócrates, não vai
me dizer que também concordas com as manifestações contra a Copa?
S: Mas por que me
perguntas isso?
MG: Porque, afinal de
contas, são manifestações de coxinhas.
S: E por que os
manifestantes são coxinhas?
MG: Ora, basicamente
porque se opõem ao governo e ao PT e, portanto, ao progresso do
país.
S: Então os
manifestantes contra a Copa são todos coxinhas porque se opõem ao
governo?
MG: Sim.
S: Mas não foi dentro do
estádio que nossa presidenta foi vaiada?
MG: Sim.
S: E se os manifestantes
são coxinhas, estando fora dos estádios porque protestando contra a
Copa, os que estavam dentro não eram coxinhas?
MG: Também eram
coxinhas, Sócrates.
S: Por quê?
MG: Porque xingaram a
Dilma.
S: Deixe-me entender:
dizes que apoias a Copa porque quem está contra é contra o governo
e por isso é coxinha. E ao mesmo tempo afirmas que quem está dentro
do estádio também é coxinha, porque xinga o governo.
MG: Sim.
S: Consequentemente,
estás me dizendo que, apoiando ou não apoiando a Copa, o sujeito é
coxinha.
MG: Não, Sócrates. Uma
coisa é apoiar a Copa enquanto celebração do futebol, do Brasil e
dos feitos do governo; outra coisa é ir ao estádio e participar da
Copa.
S: Então há quem apoie
a Copa, mas ao mesmo tempo seja contra quem está usufruindo a Copa e
contra aqueles que criticam a Copa?
MG: Sócrates, deixa eu
explicar melhor. O que estou dizendo é que, como nosso apoio ao
governo é incondicional, mesmo sendo contra a forma
como a Copa foi feita, nós apoiamos a Copa porque apoiamos tudo que
o governo faz. Ao contrário dos coxinhas da oposição.
S: Então existe a Copa
como uma “ideia” que vocês apoiam e a Copa real dos coxinhas que
vocês não apoiam?
MG: Mais ou menos,
Sócrates.
S: O que estás me
dizendo então é que, como há coxinhas fora e coxinhas dentro,
vocês ficam na posição de apoiar a Copa, por apoiar o governo, e
não apoiar o público (e consequentemente a organização que
direcionou para esse público) da Copa, porque vaiam o governo.
MG: É.
S: Mas ao mesmo tempo
vocês não podem aderir às manifestações contra a FIFA, uma vez
que, se o fizessem, estariam enfraquecendo o governo e fortalecendo
os coxinhas das ruas?
MG: Sim, mas há uma
diferença. Os coxinhas das ruas são menos coxinhas que os dos
estádios. Na verdade, devido à história do nosso partido e nosso
governo, temos até uma pequena simpatia pelos movimentos, já que
eles defendem coisas que defendíamos antigamente. Mas hoje o mais
importante é manter o governo forte, e isso significa recusar tanto
os menos quanto os mais coxinhas.
S: Então vocês são
contra a forma como a Copa foi feita, não contra a Copa enquanto
ideia, mas não podem aceitar que as manifestações contestem o
governo, já que a prioridade é fortalecer o governo.
MG: Sim, Sócrates.
S: Isso significa que o
interesse em defender a Copa é puramente estratégico, ou seja, tem
relação apenas com a defesa do governo em geral, sem
especificidades?
MG: É, mais ou menos
isso. O importante é que o PT siga no governo; por isso, apesar da
FIFA, das desocupações, da violência policial e tudo mais,
apoiamos o governo, mesmo que isso signifique contradições
específicas, já que a contradição seria ainda maior se fizéssemos
oposição à Copa (e por isso ao governo).
S: Deixa ver se eu
entendi: vocês apoiam a Copa porque apoiam o governo e, portanto,
rejeitam os protestos como coisa de coxinhas. Mas quem é que vai
usufruir a Copa mesmo?
MG: Os coxinhas master,
os que vaiaram em Itaquera.
S: Então, segundo vocês,
a melhor estratégia para lidar com os coxinhas das ruas (que são
coxinhas porque se opõem ao governo) é apoiar o evento em que quem
está são os coxinhas master?
MG: Não entendi.
S: Considerando que o
interesse é puramente estratégico, pergunto: é uma boa estratégia
apoiar um evento – mesmo não concordando com a forma que foi feito
– apenas “por apoiar” se justamente quem vai ao evento é
o público dos coxinhas master? Vocês não estão apoiando
para fortalecer exatamente aquilo que os enfraquece?
MG: Ah, Sócrates. Deixa
pra lá. Agora só falta me dizeres que não foi pênalti no Fred,
porque isso é coisa de coxinha!
S: Críton, devemos um
galo a Asclépio. Não te esqueças de pagar essa dívida!
Extraído de: