domingo, 15 de janeiro de 2012

Um exemplo de como a conjuntura chacoalha as consciências

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Para a tristeza de muitos a roda da História seguiu girando, a conjuntura deu um salto e está derrubando alguns paradigmas, reabilitando outros que foram tidos como sepultados e como não poderia deixar de ser, tudo isso está chacoalhando as consciências dos indivíduos. O texto que segue, apesar de suas limitações, é uma prova viva disso.

Sejamos otimistas!



Eu era contra ...

Por Delegado Paulo Magalhães



Sou obrigado a confessar que era contra “sem-terra”, “sem-teto” e outros “sem-alguma coisa” que se punham como bárbaros bloqueando vias, estradas, invadindo terrenos e prédios públicos e enfrentando a polícia (representação do Estado) em claro descumprimento de ordens judiciais.

Confesso que não conseguia entender (nem admitir) como indivíduos que considerava “demagogos” (políticos e até autoridades públicas) se apresentavam como defensores dos movimentos ditos populares que, na minha opinião, não respeitavam a ordem e não passavam de desordeiros manipulados por interesses inconfessáveis.

Todavia hoje em dia, depois de constatar que a tal tripartição dos Poderes não passa de uma ficção; que na maioria das vezes o Judiciário (na figura de seus integrantes) faz o que o Executivo manda e protege o Legislativo na esperança de benesses “legais”; que pouco importa o direito individual em face do desvirtuamento dos mandamentos Constitucionais em detrimento de um interesse coletivo que só existe na interpretação miope de alguns, começo a aceitar a teoria de que este País somente terá solução se houver uma revolta popular que enfrente a corrupção disseminada nas entranhas administrativas tal qual um cancer.

Esta semana, como soldados do exército de Alarico, 1600 famílias resolveram enfrentar uma ordem judicial de despejo. Por cerca de oito anos a administração de São José dos Campos/SP deixou que necessitados se aglutinassem em uma área privada pertencente a empresa falida no bairro de Pinheirinhos. Depois de tanto tempo sem que fosse tomada qualquer providência efetiva, depois de pessoas se conhecerem e casarem no local criando novas famílias e até nascendo novos moradores na terra invadida, como se fosse um cágado, a Justiça se manifestou e determinou a retirada do povo – cidadãos brasileiros – que não tem para onde ir.

Por quê o Poder Público não agiu logo nos primeiros anos, em 2004, quando existiam na localidade apenas poucas pessoas “invasoras”?

Em fins de agosto de 410 o mesmo ocorreu em Roma. Acampado às portas da cidade mais poderosa do mundo (a época) o exército gótico, aliado do Império, passava fome. Em desespero, comandados por um general romano, os legionários godos a beira do motim invadiram e saquearam “a mãe do mundo” que sucumbiu pela primeira vez em 800 anos à espada de um conquistador. Contudo essa autofagia somente ocorreu porque os cidadãos romanos, habitantes da ”Capital” - da cidade mais poderosa de todos os tempos - também passavam fome e brigavam entre si em clara decadência, na esperança de conseguir migalhas que sobravam dos encastelados. Essa falta de harmônia se dava em virtude da corrupção desenfreada que assolava a administração, o Senado e a Justiça.

Qual a diferença entre a Roma do passado, a França de 1787 e o Brasil de hoje? Resposta: A tecnologia. Naqueles tempos idos inexistia telefone, radio/televisão e Internet. Uma informação levava meses para ser conhecida. Convocar a população para reuniões e manifestações era praticamente impossível devido as distâncias e a dificuldade de comunicação. Porém hoje é diferente. Em segundos o que ocorre no Norte é conhecido no Sul, comentado pelo Centro-Oeste e reflete na região Leste em território de 8.500.000 Km². No exato momento em que alguém de importância se manifesta contrário ou favorável a determinada causa as mídias virtuais divulgam este posicionamento e as discussões se iniciam, para apoiar ou criticar.

O sertanejo e o peão gaúcho acompanham as decisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em tempo real e até os drogados em momentos de lucidez têm acesso ao que a presidente da República fala através de jornais televisivos entre uma novela e outra.

Não existem mais alienados. O indivíduo pode ser desligado, irresponsável ou desprovido de coragem para defender seus ideais, mas sabe exatamente o que está acontecendo.

Quando uma ordem é dada para atender interesses contrários aos do povo ela precisa ser contestada. Quando a contestação pacifica e ordeira, pelos meios tradicionais, não oferece resultado porque justamente os que deviam proteger interesses sociais e da coletividade estão comprometidos com improbidades não resta alternativa senão convocar o exército de Brancaleone e defender o direito individual com “unhas e dentes” sob pena de sucumbir à vontade de uns poucos sobre todos.


Extraído de:
http://delegadopaulomagalhaes.com/?p=520
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