quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O referendo grego e os democratas ocidentais

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Há dois anos o governo "socialista" do Primeiro-Ministro grego, George Papandreou, massacra o seu povo com medidas impopulares enquanto repassa recursos para o grande capital. Mas de repente surge em público e apresenta, de forma surpreendente, uma proposta de um referendo popular relativo ao último acordo do seu país com a União Européia.

Não se pode acreditar que tal governo tenha decidido, de uma hora para outra, governar para o seu povo. Papandreou é cada vez mais odiado pelos gregos por suas medidas. Lideranças sociais que participam das mobilizações têm afirmado, em público, incluindo programas de televisão, que visam derrubar o seu governo. [1]

A proposta do Primeiro-Ministro visa salvar politicamente o seu governo e o próprio sistema político grego cada vez mais desacreditado aos olhos das massas. Não foi por acaso que junto com a proposta de referendo ele enviou ao Parlamento uma moção de confiança. [2] Caso a proposta seja aceita Papandreou ganha um gás político e ainda poderá chantagear o povo no referendo, afirmando que a rejeição do acordo representaria o caos. Mas se o Parlamento rejeitar a sua proposta ele poderá posar hipócritamente de defendor do povo. [3]

Evidentemente que, em meio às manobras das classes políticas e dominantes, está a ação popular que muitas vezes não se deixa levar por tais manobras. Esta pode desmanchar a hipocrisia de Papandreou.

Mas, seja como for, a hipocrisia do governante grego serviu para expor a das classes dominantes ocidentais. Tão pródigas em se apresentar como os campeões da democracia e das liberdades não tardaram em censurar, no mais alto grau, a possibilidade de referendo na Grécia. E sequer escondem que o motivo é a participação popular nesse processo.

Como as pesquisas de opinião e as ruas confirmam, a maioria dos gregos é contra o acordo, e o referendo poderia terminar com um resultado desfavorável ao grande capital, além de servir de inspiração para que outros povos pressionem seus respectivos governos para que possam opinar sobre os acordos espúrios com a banca.

"(...) Estas medidas de política económica diária não devem submeter-se à decisão popular, porque para isso existem as instituições do Governo e do parlamento", disse Diego López Garrido, secretário de Estado espanhol para a UE. [4]

O recado das classes dominantes ocidentais e suas lideranças políticas é claro: na democracia que vivemos quem decide não é o povo. E nem deve ser ele a decidir.

A simples ideia de referendo na Grécia derrubou as bolsas pelo mundo todo [5] mostrando a impossibilidade de uma democracia real no capitalismo. Nesse sistema o povo é chamado apenas para legitimar a própria dominação imposta pelo capital. A sua participação deve ser evitada sempre que tal possa resultar em mudanças efetivas, profundas, como deixou claro o secretário espanhol.

Separar a economia da política não faz o menor sentido. Enquanto não houver democracia na esfera econômica tampouco haverá na política. Por isso que a democracia representativa moderna, a democracia dos ricos, é uma farsa! [6] Uma farsa cujo jogo de cena dissimula cada vez menos gerando cada vez mais descontentamento e questionamento popular.


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[1] Grécia: a situação está se tornano revolucionária. Stamatis Karagiannopoulos. 19/10/2011:
http://www.marxist.com/grecia-situacao-esta-tornano-revolucionaria.htm

[2] Atenas vai lançar referendo sobre acordo europeu para redução da dívida aos bancos (31/10/2011):
http://economia.publico.pt/noticia/atenas-vai-lancar-referendo-sobre-acordo-europeu-para-reducao-da-divida-aos-bancos--1519046

[3] Desiludidos, gregos chamam referendo de "chantagem" (01/11/2011):
http://not.economia.terra.com.br/noticias/noticia.aspx?idNoticia=201111011438_RTR_1320158288nN1E7A00BW

[4] Governo espanhol confiante que não haverá referendo na Grécia (02/11/2011):
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=516491

[5] PANORAMA3-Referendo na Grécia mina humor dos mercados (01/11/2011):
http://veja.abril.com.br/noticia/economia/panorama3-referendo-na-grecia-mina-humor-dos-mercados

[6] O desgaste da democracia representativa moderna. (09/09/2010):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2010/09/o-desgaste-da-democracia-representativa.html
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