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Encontrei a matéria "Maldição da lavoura", que foi publicada pelo Correio Braziliense em 4 de janeiro, e que está disponível no site do agronegócio goiano, portanto uma fonte insuspeita.
Nela fica claro que, diferentemente do que afirmou Arnaldo Jabor no Jornal da Globo, não é o agronegócio que "segura a barra" do Brasil, mas ao contrário, ele é que tem a sua barra segurada pela sociedade brasileira:
"(...) a agenda do próximo presidente, segundo especialistas, é aumentar a produtividade sem ampliar os gastos públicos, deixando-o mais competitivo e com preços atraentes. O trabalho de quem assumir o Palácio do Planalto será corrigir, ou ao menos amenizar, a disparidade entre gastos e resultados obtidos."
Se não for avisado com antecedência o leitor pode ter a impressão de que estamos diante de um órgão estatal. A seguir outro trecho da matéria mostra o tamanho do custo do agronegócio para a sociedade brasileira:
"(...) os produtores rurais se beneficiarão com mais de R$ 60 bilhões em financiamentos, a maioria oriunda de bancos oficiais federais e bancos privados. Esses recursos, somados ao orçamento do governo para incentivar a agropecuária, chegam a quase R$ 170 bilhões, valor que será gasto somente para produzir a safra. O montante é R$ 13,2 bilhões maior do que a receita que pode ser obtida com a venda de toda a produção nacional em 2010 — estimada em R$ 156,8 bilhões."
Sem dúvida é muito dinheiro! Mas o apetite daqueles que "seguram a barra do Brasil" está longe de estar saciado:
"(...) é preciso que o governo melhore os incentivos", reivindica Clécio Klein.
A matéria também aponta que a produtividade do agronegócio está aquém dos elevados investimentos:
"Um levantamento do Correio mostra que, enquanto os custos tiveram um crescimento chinês nos últimos oito anos, o valor obtido com a safra e a produtividade dos agricultores se elevaram a taxas brasileiras. Para a safra 2009/2010, iniciada em julho deste ano, o custo para concluir a produção nacional será maior do que o valor que pode ser obtido com a venda dela. Os dados são do Sistema Financeiro Nacional e de bancos de dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
(...)
Enquanto o orçamento do crédito rural cresceu 335,2% entre 2002 e 2010, o valor bruto da produção — quanto vale a safra brasileira — expandiu-se apenas 7% em igual período.
(...)
Na comparação entre custo e resultado, pode-se dizer que a produtividade caiu: se na safra 2002/2003 o Ministério da Agricultura aplicou R$ 24,7 bilhões para incentivar uma produção que valia R$ 146,5 bilhões, seis safras depois foi preciso um volume de dinheiro quase cinco vezes maior — R$ 107,5 bilhões — para incentivar uma produção que cresceu pouco e não atingiu os R$ 160 bilhões."
Apesar da generosidade do Estado com o agronegócio, o professor de inovação e competitividade da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda, não tem dúvida de quem é o culpado pela disparidade entre gastos elevados e produtividade:
"(...) há problemas e o mais negativo deles é o de eficiência dos governos".
Enquanto isso a agricultura familiar é responsável por 70% da produção de alimentos no país e emprega 75% da força de trabalho no campo, mesmo recebendo bem menos incentivos do governo.
Maldição da lavoura (04/01/2010):
http://www.agronegocio.go.gov.br/index.php?pg=noticias&id_noticia=2146
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