Ao criticar a espionagem
praticada pelo governo dos Estados Unidos ao Brasil, o australiano
Julian Assange, fundador do Wikileaks, indagou: “Quem se importa
com a soberania do Brasil?” [1]
A movimentação do
próprio governo brasileiro indica que não são apenas os países
centrais que desprezam a soberania brasileira. Os governos petistas
seguiram financiando a fundo perdido - e através da elevação de um
endividamento pago pelo povo brasileiro - a desnacionalização da
economia e o entreguismo dos recursos públicos e naturais locais às
companhias estrangeiras. Hidrelétricas, estradas, portos e
aeroportos privatizados e financiados com dinheiro público para o
lucro privado estrangeiro. Nem a revelação de espionagem da
Petrobras foi suficiente para segurar o ímpeto antisoberano do
governo petista que não vacilou em se apressar a informar às
empresas estrangeiras que o entreguismo do petróleo brasileiro
estava mantido.
Essas relações
econômicas têm criado uma convergência de interesses entre as
multinacionais estrangeiras, algumas empresas brasileiras, fundos de
pensão e a burocracia estatal - nos dois últimos encontramos muitos
"companheiros" em postos de destaque.
Peguemos a Hidrelétrica
de Jirau, apenas para ilustrar em um exemplo, como que esses
interesses estão associados.
Construída com dinheiro
público a referida hidrelétrica possui a seguinte composição
acionária: a francesa Suez Energy possui 50,1% no negócio; as
estatais Eletrosul e Chesf, 20% cada uma e a brasileira Camargo
Corrêa, 9,9%. [2] É por isso que, como escrevi em 2011:
"Não
foi por acaso que em meio a justa revolta dos trabalhadores de Jirau,
submetidos a condições degradantes de trabalho, o Governo Dilma
enviou a repressão [2], chancelou as demissões [3] e garantiu a
manutenção do envio de dinheiro do BNDES para o consórcio seguir
lucrando com a obra.[4] Claro: mexer com o consórcio significaria
não apenas combater as empresas privadas (a francesa e a brasileira)
mas também os burocratas envolvidos no negócio lucrativo." [3]
Em 2012, após nova
revolta em Jirau, os operários foram chamados de "vândalos"
e "bandidos" pelo Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da
Presidência da República, Gilberto Carvalho. [4] Na ocasião houve
repressão e prisões de trabalhadores. Doze operários dados como
presos, simplesmente desapareceram. [5]
A mudança social de
muitos "companheiros" e as relações advindas desse
processo os tornam antisoberanos e antioperários, como nos atesta o
caso de Jirau.
Isso pode nos indicar o
porquê do Governo Dilma não ter agido com rigor no caso do
escândalo de espionagem. Qualquer governo com o mínimo de vergonha
na cara teria chamado o seu embaixador nos Estados Unidos de volta,
assim como expulsado o deles do território nacional, e não pedido
explicações ao espião.
Um fato ocorrido nessa
semana é ilustrativo da seriedade e do empenho do Governo Dilma ante
a questão violadora: enviaram, para a reunião das Nações Unidas
(ONU) sobre a espionagem, uma embaixadora de baixo escalão que
acabou substituída por uma estagiária. [6]
Maria Nazareth Farani
Azevedo, embaixadora do Brasil na ONU, promoveu um almoço de
despedida de seu posto, enquanto a estagiária se limitou a fazer
anotações. Ou seja, a participação do Brasil em um encontro que
lhe dizia respeito se limitou a "festa" e "anotações"!
Um verdadeiro escárnio à soberania brasileira que deve ter rendido
gargalhadas em Washington!
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[1] Julian Assange, sobre
espionagem dos EUA: "Quem se importa com a soberania do Brasil?"
(21/09/2013):
[2] Energia Sustentável
do Brasil traz novo fornecedor de turbina e gerador para o Brasil.
Energia Sustentável do Brasil - Press Release. 26/01/2009.
[3] Porque Palocci é
culpado e já está condenado (28/05/2011):
[4] Ministro de Dilma
chama trabalhadores de vândalos e bandidos (07/04/2012):
[5] São eles:
João de Lima Fontinele,
Cícero Furtado da Silva, Antônio Luis Soares Silva, Ismael Carlos
Silva Freitas, Lucivaldo Batista Moraes Castro, Antônio da Silva
Almeida, Elielson Silva do Nascimento, Sebastião da Silva Lima,
Herbert da Conceição Nilo, Leonilson Macedo Farias, José Ribamar
dos Santos, Silvan Oliveira dos Santos.
[6] Governo põe
estagiária em reunião de espionagem (21/09/2013):
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