domingo, 22 de setembro de 2013

Assange, Dilma e a soberania do Brasil

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Ao criticar a espionagem praticada pelo governo dos Estados Unidos ao Brasil, o australiano Julian Assange, fundador do Wikileaks, indagou: “Quem se importa com a soberania do Brasil?[1]

A movimentação do próprio governo brasileiro indica que não são apenas os países centrais que desprezam a soberania brasileira. Os governos petistas seguiram financiando a fundo perdido - e através da elevação de um endividamento pago pelo povo brasileiro - a desnacionalização da economia e o entreguismo dos recursos públicos e naturais locais às companhias estrangeiras. Hidrelétricas, estradas, portos e aeroportos privatizados e financiados com dinheiro público para o lucro privado estrangeiro. Nem a revelação de espionagem da Petrobras foi suficiente para segurar o ímpeto antisoberano do governo petista que não vacilou em se apressar a informar às empresas estrangeiras que o entreguismo do petróleo brasileiro estava mantido.

Essas relações econômicas têm criado uma convergência de interesses entre as multinacionais estrangeiras, algumas empresas brasileiras, fundos de pensão e a burocracia estatal - nos dois últimos encontramos muitos "companheiros" em postos de destaque.

Peguemos a Hidrelétrica de Jirau, apenas para ilustrar em um exemplo, como que esses interesses estão associados.

Construída com dinheiro público a referida hidrelétrica possui a seguinte composição acionária: a francesa Suez Energy possui 50,1% no negócio; as estatais Eletrosul e Chesf, 20% cada uma e a brasileira Camargo Corrêa, 9,9%. [2] É por isso que, como escrevi em 2011:

"Não foi por acaso que em meio a justa revolta dos trabalhadores de Jirau, submetidos a condições degradantes de trabalho, o Governo Dilma enviou a repressão [2], chancelou as demissões [3] e garantiu a manutenção do envio de dinheiro do BNDES para o consórcio seguir lucrando com a obra.[4] Claro: mexer com o consórcio significaria não apenas combater as empresas privadas (a francesa e a brasileira) mas também os burocratas envolvidos no negócio lucrativo." [3]

Em 2012, após nova revolta em Jirau, os operários foram chamados de "vândalos" e "bandidos" pelo Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. [4] Na ocasião houve repressão e prisões de trabalhadores. Doze operários dados como presos, simplesmente desapareceram. [5]

A mudança social de muitos "companheiros" e as relações advindas desse processo os tornam antisoberanos e antioperários, como nos atesta o caso de Jirau.

Isso pode nos indicar o porquê do Governo Dilma não ter agido com rigor no caso do escândalo de espionagem. Qualquer governo com o mínimo de vergonha na cara teria chamado o seu embaixador nos Estados Unidos de volta, assim como expulsado o deles do território nacional, e não pedido explicações ao espião.

Um fato ocorrido nessa semana é ilustrativo da seriedade e do empenho do Governo Dilma ante a questão violadora: enviaram, para a reunião das Nações Unidas (ONU) sobre a espionagem, uma embaixadora de baixo escalão que acabou substituída por uma estagiária. [6]

Maria Nazareth Farani Azevedo, embaixadora do Brasil na ONU, promoveu um almoço de despedida de seu posto, enquanto a estagiária se limitou a fazer anotações. Ou seja, a participação do Brasil em um encontro que lhe dizia respeito se limitou a "festa" e "anotações"! Um verdadeiro escárnio à soberania brasileira que deve ter rendido gargalhadas em Washington!


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[1] Julian Assange, sobre espionagem dos EUA: "Quem se importa com a soberania do Brasil?" (21/09/2013):

[2] Energia Sustentável do Brasil traz novo fornecedor de turbina e gerador para o Brasil. Energia Sustentável do Brasil - Press Release. 26/01/2009.

[3] Porque Palocci é culpado e já está condenado (28/05/2011):

[4] Ministro de Dilma chama trabalhadores de vândalos e bandidos (07/04/2012):

[5] São eles:
João de Lima Fontinele, Cícero Furtado da Silva, Antônio Luis Soares Silva, Ismael Carlos Silva Freitas, Lucivaldo Batista Moraes Castro, Antônio da Silva Almeida, Elielson Silva do Nascimento, Sebastião da Silva Lima, Herbert da Conceição Nilo, Leonilson Macedo Farias, José Ribamar dos Santos, Silvan Oliveira dos Santos.

[6] Governo põe estagiária em reunião de espionagem (21/09/2013):

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