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Quando Lula se aproximou
dos velhos coronéis e de setores das classes dominantes para as
eleições de 2002 muitos militantes, ativistas sociais e
simpatizantes honestos acreditaram que se tratava de uma tática
sofisticada elaborada pela direção do PT para poder enganar as
oligarquias e fazer um governo popular e dos trabalhadores.
A própria direção do
partido justificava essas alianças com o discurso de que estavam
construindo uma governabilidade para poder administrar o país e que
dessa forma as mudanças viriam mas que seriam lentas. Diante das
medidas contraditórias abraçadas alegavam que a governabilidade
exigia concessões. Criticado por manter a política econômica de
Fernando Henrique e anunciar como primeira medida de seu governo uma
contra-reforma na previdência que atacou direitos dos trabalhadores
e privatizou parte dela, Lula se defendeu bradando que “não se
pode dar cavalo de pau em transatlântico”.
Como se sabe o
transatlântico não mudou de rota e a cada eleição, diante da
apresentação de mais antigos inimigos como novos companheiros, o
discurso da governabilidade era erigido por dirigentes e intelectuais
petistas. Bandeiras históricas iam sendo abandonadas e os críticos
de esquerda eram estigmatizados como inconsequentes apressados que
não compreendiam a dinâmica da realidade social e política
brasileira.
As reformas sociais nunca
fizeram a mínima menção de serem propostas ou apreciadas, cada vez
mais medidas do antecessor eram tomadas (privatizações, superávit
primário, etc) mas ainda assim o mais importante era ter o controle
do governo para “seguir avançando nas mudanças” - leia-se:
medidas compensatórias apoiadas e toleradas pelas próprias classes
dominantes que não raro lucravam com elas, como o Prouni, o Pronatec
e o Minha Casa Minha Vida.
Mas quem muito se abaixa
mostra o que não deve e perde o respeito, diz um ditado popular.
Distribuição de cargos, queima de bandeiras históricas e
apropriação das bandeiras dos antigos inimigos não foram
suficientes para a governabilidade. Em seu “desenvolvimento” ela
terminou por transformar-se no seu contrário até a sua própria
negação. É exatamente isso que estamos assistindo neste momento em
que Dilma entregou o governo, com a atuação decisiva de Lula, para
o PMDB e o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, representante direto
dos banqueiros.
E enquanto o Governo
Dilma se afunda cada vez mais em desgaste e impopularidade devido às
suas próprias ações, como a implementação de um ajuste fiscal
que corta inclusive dos “avanços”, o PT reclama de um
conservadorismo que ele próprio alimentou e fortaleceu com a sua
tática de governabilidade e apela aos trabalhadores e a esquerda que
desprezou para que defendam um governo que renunciou brancamente sem
acenar com nenhuma mudança de rota do transatlântico mas apenas
para permanecer no cargo de forma ainda mais subalterna.
É certo que a esquerda e
muitos trabalhadores não tolerariam nenhum golpe. Mas não é isso
que deseja a oposição demotucana como já deixou claro o próprio
Fernando Henrique Cardoso, que criticou os pedidos de impeachment.
Esse tipo de alarmismo não passa de espantalho para desviar o foco
do retumbante fracasso que resultou a tão propalada governabilidade
e tentar evitar que os trabalhadores lutem contra as medidas
impopulares do próprio Governo Dilma.
A lição histórica que
a tática política do petismo deixa é a de que governar com as
velhas elites é governar para elas, inclusive se utilizando de seus
métodos corruptos. Não é possível enganá-las se aliando com
elas. Os enganados dessa história foram outros. Que estes aprendam a
lição para que nunca mais sejam ludibriados e que outras
organizações de esquerda não ousem trilhar esse caminho.
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