segunda-feira, 20 de abril de 2015

O fracasso da governabilidade

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Quando Lula se aproximou dos velhos coronéis e de setores das classes dominantes para as eleições de 2002 muitos militantes, ativistas sociais e simpatizantes honestos acreditaram que se tratava de uma tática sofisticada elaborada pela direção do PT para poder enganar as oligarquias e fazer um governo popular e dos trabalhadores.

A própria direção do partido justificava essas alianças com o discurso de que estavam construindo uma governabilidade para poder administrar o país e que dessa forma as mudanças viriam mas que seriam lentas. Diante das medidas contraditórias abraçadas alegavam que a governabilidade exigia concessões. Criticado por manter a política econômica de Fernando Henrique e anunciar como primeira medida de seu governo uma contra-reforma na previdência que atacou direitos dos trabalhadores e privatizou parte dela, Lula se defendeu bradando que “não se pode dar cavalo de pau em transatlântico”.

Como se sabe o transatlântico não mudou de rota e a cada eleição, diante da apresentação de mais antigos inimigos como novos companheiros, o discurso da governabilidade era erigido por dirigentes e intelectuais petistas. Bandeiras históricas iam sendo abandonadas e os críticos de esquerda eram estigmatizados como inconsequentes apressados que não compreendiam a dinâmica da realidade social e política brasileira.

As reformas sociais nunca fizeram a mínima menção de serem propostas ou apreciadas, cada vez mais medidas do antecessor eram tomadas (privatizações, superávit primário, etc) mas ainda assim o mais importante era ter o controle do governo para “seguir avançando nas mudanças” - leia-se: medidas compensatórias apoiadas e toleradas pelas próprias classes dominantes que não raro lucravam com elas, como o Prouni, o Pronatec e o Minha Casa Minha Vida.

Mas quem muito se abaixa mostra o que não deve e perde o respeito, diz um ditado popular. Distribuição de cargos, queima de bandeiras históricas e apropriação das bandeiras dos antigos inimigos não foram suficientes para a governabilidade. Em seu “desenvolvimento” ela terminou por transformar-se no seu contrário até a sua própria negação. É exatamente isso que estamos assistindo neste momento em que Dilma entregou o governo, com a atuação decisiva de Lula, para o PMDB e o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, representante direto dos banqueiros.

E enquanto o Governo Dilma se afunda cada vez mais em desgaste e impopularidade devido às suas próprias ações, como a implementação de um ajuste fiscal que corta inclusive dos “avanços”, o PT reclama de um conservadorismo que ele próprio alimentou e fortaleceu com a sua tática de governabilidade e apela aos trabalhadores e a esquerda que desprezou para que defendam um governo que renunciou brancamente sem acenar com nenhuma mudança de rota do transatlântico mas apenas para permanecer no cargo de forma ainda mais subalterna.

É certo que a esquerda e muitos trabalhadores não tolerariam nenhum golpe. Mas não é isso que deseja a oposição demotucana como já deixou claro o próprio Fernando Henrique Cardoso, que criticou os pedidos de impeachment. Esse tipo de alarmismo não passa de espantalho para desviar o foco do retumbante fracasso que resultou a tão propalada governabilidade e tentar evitar que os trabalhadores lutem contra as medidas impopulares do próprio Governo Dilma.

A lição histórica que a tática política do petismo deixa é a de que governar com as velhas elites é governar para elas, inclusive se utilizando de seus métodos corruptos. Não é possível enganá-las se aliando com elas. Os enganados dessa história foram outros. Que estes aprendam a lição para que nunca mais sejam ludibriados e que outras organizações de esquerda não ousem trilhar esse caminho.

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