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Com o
aprofundamento da crise capitalista no país como pano de fundo
tomaram posse, no dia 1º de janeiro, os governos eleitos e reeleitos
pelo país, incluindo o governo central.
Depois
de prometer, mentir e esconder seus reais programas nas eleições
eis que os candidatos eleitos começaram a expor e aplicar as medidas
que realmente defendem: ataques aos direitos das classes
trabalhadoras e populares e benesses para si e para os grandes grupos
econômicos.
Se
durante a campanha eleitoral Dilma acusou corretamente Marina Silva e
Aécio Neves de pretenderem entregar a economia para os banqueiros e
que iam tomar medidas que tiravam dos trabalhadores para dar aos
mesmos, tão logo encerrou-se a eleição e ela própria nomeou uma
equipe econômica de confiança do mercado financeiro, tendo colocado
no Ministério da Fazenda, Joaquim Levy, homem do Bradesco, ou seja,
um representante direto dos banqueiros. Cabe ainda ressaltar que Levy
coordenou o programa econômico do então candidato presidencial
Aécio Neves que o considera “amigo pessoal”. [1]
O
Governo Dilma ainda aumentou por duas vezes as taxas de juros para
beneficiar os banqueiros e especuladores e promoveu, via Medida
Provisória (MP), há dois dias do final de 2014, mudanças nas
regras da concessão do seguro-desemprego e do auxílio-doença, com
o objetivo declarado de economizar com os trabalhadores para entregar
aos banqueiros e especuladores. [2] Privatizações de hospitais
universitários e aumentos de preços completaram esse cardápio nada
modesto e indigesto servido nos últimos dois meses do ano findante e
que, a depender do governo que já anunciou pelo menos dois anos
seguidos de ajuste fiscal [3], integrará a dieta dos brasileiros no
próximo período.
Com
tais medidas fica completamente desmoralizado o argumento do
retrocesso alardeado na campanha. Mas o estelionato eleitoral e o
ajuste não marcam apenas o governo central. Em São Paulo, o
governador tucano Geraldo Alckmin, escondeu da população a real
gravidade da crise hídrica para se reeleger e agora anuncia, junto
com o prefeito petista Fernando Haddad, aumento das tarifas do
transporte coletivo (metrô, CPTM e ônibus), o que evidencia que PT
e PSDB atuam conjuntamente para garantir os interesses das classes
dominantes e tentar ludibriar o povo – tanto que escolheram um
período de férias para anunciar o aumento pois temem protestos
massivos como os de junho de 2013.
No Rio
Grande do Sul, onde José Ivo Sartori (PMDB) se elegeu em cima do
desgaste do Governo Tarso, cuja marca foi o calote no piso do
magistério, os deputados aprovaram na Assembleia Legislativa um
aumento de 33,1% nos próprios salários e ainda de 75,6% para o
salário do vice-governador e secretários e 55,4% no do governador.
[4] No mesmo período o vice-governador eleito, o empresário José
Paulo Cairoli, se batia contra o reajuste de 16% no salário mínimo
regional, cujo índice considerava elevado.
Embora
“Sem discurso para exigir sacrifícios” [5], como alertou
a própria colunista de Zero Hora, Rosane de Oliveira, sem
ruborizar-se minimamente o senhor Sartori e a sua base de deputados,
pregando o catastrofismo anunciaram “medidas duras” [6]
para o povo gaúcho e pedem sua paciência e compreensão. Uma das
primeiras ações do governador eleito será assinar um decreto
suspendendo, por 180 dias, pagamentos com fornecedores, congelamento
de concursos públicos e nomeações e até compra de materiais de
expediente! [7] 20 mil trabalhadores podem perder o emprego devido à
suspensão dos pagamentos a fornecedores. [8]
Como se
percebe nas palavras e ações dos próprios governos não há
motivos para a mínima ilusão em nenhum deles. Integrantes e
beneficiários do atual modelo sócioeconômico os políticos eleitos
já escolheram sacrificar o andar de baixo para tentar manter o
processo de acumulação e reprodução do capital no país, uma vez
que o modelo “anticrise” de consumo via crédito esgotou-se.
Se os
governadores utilizam a desculpa de crises locais para pregar a
inevitabilidade do ajuste contra o povo o governo Dilma usa a
desculpa da retomada do crescimento da economia. Trata-se de uma
curiosa mudança de discurso uma vez que antes ela se gabava de
enfrentar a crise financeira de forma distinta de outros governos
pelo mundo - o que uma análise criteriosa mostrava ser inverídico.
[9]
Mas se
antes a aparência enganava agora não mais se poderá ocultar a
essência das medidas econômicas. O caminho do ajuste fiscal para
sair da estagnação, vendido agora como panacéia, pode conduzir o
país à recessão como ocorreu com Grécia, Espanha, Portugal, entre
outros.
Se as
próprias classes dominantes e os políticos a seu serviço falam em
aperto, ajustes, medidas duras e impopulares, ou seja, se eles
próprios anunciam um presente e futuro próximo nada promissores
para o andar de baixo, nada mais resta à classe trabalhadora, às
classes populares, aos estudantes e demais explorados do que a
rejeição de todos esses governos e organizar-se e mobilizar-se para
derrotar as suas medidas.
Não
cabem vacilos com pautas distracionistas nem com frentes governistas
que visam confundir e blindar o governo. Está em jogo quem vai pagar
a conta da crise capitalista no país e as classes dominantes e os
governos ao seu serviço já mostraram que pretendem sugar o sangue
do povo e devorar a sua carcaça empalidecida se preciso for.
_________________________________________________
[1]
Aécio ironiza provável indicação de Levy. 25/11/2014.
[2]
Governo aperta o cerco contra abusos na concessão de
seguro-desemprego e outros benefícios. 29/12/2014.
[3]
Governo focará em ajuste fiscal por dois anos antes de priorizar
crescimento. 30/11/2014.
[4]
Vice de Sartori é contra aumento de 16% para trabalhadores, mas pode
ter salário reajustado em 75%. Rachel Duarte, 15/12/2014.
[5]
Sem discurso para exigir sacrifícios. Rosane de Oliveira,
18/12/2014.
[6]
José Ivo Sartori toma posse e fala em 'medidas duras' contra crise
no RS. 01/01/2015.
[7]
Rosane de Oliveira: governo Sartori começa com pacote de cortes.
01/01/2015.
[8]
Sindicato prevê 20 mil demissões com suspensão de pagamentos a
fornecedores do Estado. 02/01/2015.
[9]
A
crise no Brasil. Jorge Nogueira, 06/05/2012.