domingo, 28 de dezembro de 2014

Trabalhadores já enfrentam o ajuste

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Os processos sóciohistóricos e econômicos possuem as suas próprias dinâmicas não se atendo ao calendário formal. Por isso a conjuntura no ano que se encerra tem levado alguns analistas a concluir que o ano de 2014 não se acabará enquanto outros afirmam que 2015 já foi antecipado.

Preciosismos à parte, o fato é que os acontecimentos do presente prenunciam o que deverá ser um futuro muito próximo. As classes dominantes e os governos a seu serviço não só já anunciaram um período nada curto de ajuste fiscal [*] como já o estão praticando.

Tão logo encerrou-se as eleições e subiram-se as taxas de juros e os preços, hospitais universitários foram privatizados e o seguro desemprego e o auxílio doença sofreram cortes. Não bastasse isso e os trabalhadores já começam a enfrentar falta de pagamentos de salários e de benefícios. Foi o que ocorreu recentemente no Distrito Federal onde os trabalhadores terceirizados do Estado fizeram uma semana de greve devido a falta de pagamento do 13° salário, do vale transporte e do vale alimentação. No início do mês eles já haviam paralisado devido ao atraso do pagamento dos salários. Médicos residentes, por não receberem as bolsas, e rodoviários, por falta de salário, também cruzaram os braços.

Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) os trabalhadores terceirizados da empresa Construir Arquitetura e Limpeza, que fazem a higienização da instituição, também paralisaram devido ao não pagamento dos salários. O mesmo se deu em Porto Alegre onde os trabalhadores da Cooperativa de Trabalho Rio-Grandense, que presta serviço para a Secretaria Municipal de Educação, não receberam o 13° salário e reivindicavam o FGTS e o INSS. Em Alagoas trabalhadores da empresa Empresa Reluzir e Tigre Segurança, que presta serviços de limpeza, cozinha e vigilânica para o Hospital Geral do Estado, paralisaram por não terem recebido os salários. Também por falta de pagamento paralisaram, no início do mês, no Piauí, os terceirizados do Hospital Getúlio Vargas (HGV) e da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e os do Detran-PI, na segunda quinzena. Some-se a tudo isso ainda as mobilizações dos terceirizados da Petrobras.

Se, por um lado, tenta-se impor à classe trabalhadora o pagamento da fatura da crise capitalista que se aprofunda no país, por outro lado, esta mostra disposição de luta e no calor desta começa a amadurecer a consciência de seus interesses, superando suas próprias debilidades e precariedades advindas de sua condição social e de trabalho e a identificar quem são os seus reais inimigos. No Distrito Federal terceirizados e servidores concursados chegaram a fazer atos em conjunto.

Se 2014 não vai acabar agora ou se 2015 foi antecipado pouco importa, a escolha da metáfora é livre. O fato é que a atual onda de greves e paralisações de trabalhadores terceirizados nos últimos dias de 2014 são mais do que simples símbolos, representam o tom de uma queda de braços entre as classes que marcará o próximo período e que definirá quem vai pagar a conta da crise capitalista no Brasil.


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[*] O Governo Dilma já anunciou que os dois primeiros anos do seu segundo mandato serão marcados por um forte ajuste fiscal o que gerou críticas de alguns de seus apoiadores que argumentam que com tal ajuste não será possível manter os níveis de salários, renda, emprego e que afetará negativamente a qualidade dos serviços públicos.


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