Os processos
sóciohistóricos e econômicos possuem as suas próprias dinâmicas
não se atendo ao calendário formal. Por isso a conjuntura no ano
que se encerra tem levado alguns analistas a concluir que o ano de
2014 não se acabará enquanto outros afirmam que 2015 já foi
antecipado.
Preciosismos à parte, o
fato é que os acontecimentos do presente prenunciam o que deverá
ser um futuro muito próximo. As classes dominantes e os governos a
seu serviço não só já anunciaram um período nada curto de ajuste
fiscal [*] como já o estão praticando.
Tão logo encerrou-se as
eleições e subiram-se as taxas de juros e os preços, hospitais
universitários foram privatizados e o seguro desemprego e o auxílio
doença sofreram cortes. Não bastasse isso e os trabalhadores já
começam a enfrentar falta de pagamentos de salários e de
benefícios. Foi o que ocorreu recentemente no Distrito Federal onde
os trabalhadores terceirizados do Estado fizeram uma semana de greve
devido a falta de pagamento do 13° salário, do vale transporte e do
vale alimentação. No início do mês eles já haviam paralisado
devido ao atraso do pagamento dos salários. Médicos residentes, por
não receberem as bolsas, e rodoviários, por falta de salário,
também cruzaram os braços.
Na Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ) os trabalhadores terceirizados da empresa
Construir Arquitetura e Limpeza, que fazem a higienização da
instituição, também paralisaram devido ao não pagamento dos
salários. O mesmo se deu em Porto Alegre onde os trabalhadores da
Cooperativa de Trabalho Rio-Grandense, que presta serviço para a
Secretaria Municipal de Educação, não receberam o 13° salário e
reivindicavam o FGTS e o INSS. Em Alagoas trabalhadores da empresa
Empresa Reluzir e Tigre Segurança, que presta serviços de limpeza,
cozinha e vigilânica para o Hospital Geral do Estado, paralisaram
por não terem recebido os salários. Também por falta de pagamento
paralisaram, no início do mês, no Piauí, os terceirizados do
Hospital Getúlio Vargas (HGV) e da Universidade Estadual do Piauí
(UESPI) e os do Detran-PI, na segunda quinzena. Some-se a tudo isso
ainda as mobilizações dos terceirizados da Petrobras.
Se, por um lado, tenta-se
impor à classe trabalhadora o pagamento da fatura da crise
capitalista que se aprofunda no país, por outro lado, esta mostra
disposição de luta e no calor desta começa a amadurecer a
consciência de seus interesses, superando suas próprias debilidades
e precariedades advindas de sua condição social e de trabalho e a
identificar quem são os seus reais inimigos. No Distrito Federal
terceirizados e servidores concursados chegaram a fazer atos em
conjunto.
Se 2014 não vai acabar
agora ou se 2015 foi antecipado pouco importa, a escolha da metáfora
é livre. O fato é que a atual onda de greves e paralisações de
trabalhadores terceirizados nos últimos dias de 2014 são mais do
que simples símbolos, representam o tom de uma queda de braços
entre as classes que marcará o próximo período e que definirá
quem vai pagar a conta da crise capitalista no Brasil.
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[*] O Governo Dilma já
anunciou que os dois primeiros anos do seu segundo mandato serão
marcados por um forte ajuste fiscal o que gerou críticas de alguns
de seus apoiadores que argumentam que com tal ajuste não será
possível manter os níveis de salários, renda, emprego e que
afetará negativamente a qualidade dos serviços públicos.
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