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Pelo menos desde o início
do corrente ano já era praticamente consenso entre os próprios
economistas da ordem, incluindo os governistas, que o modelo
“anticrise” adotado em 2008, baseado no estímulo do consumo via
crédito, havia se esgotado e que diante de tal cenário seria
necessário “apertar os cintos” e aprofundar as privatizações.
“2015 será ano de ajustes”, diziam, tendo em vista a
impopularidade das medidas e uma eleição no meio do caminho.
Como a necessidade do
capital era elevada as medidas de ajustes não puderam esperar 2015 e
já se sabia que seriam implementadas tão logo acabassem as
eleições. Assim foi feito e ocorreram aumento de juros, de preços,
privatizações de hospitais universitários, cortes de recursos do
seguro desemprego e auxílio doença, todas receitas de um cardápio
indigesto mais extenso que será servido de forma corriqueira no
próximo período.
O governo que dizia
mentirosamente que combatia a crise financeira de forma distinta de
seus pares mundo a fora agora não mais poderá se gabar desse feito
imaginário [1]. O aprofundamento do ajuste fiscal e das
privatizações, como remédio para a crise, deixará completamente
desacreditado esse discurso.
É o programa escolhido
diante da crise, e não apenas a confiança dos mercados, que está
por trás das nomeações de Dilma na economia e em outras áreas –
nomeações que frustraram muitos dos que votaram nela no segundo
turno acreditando que assim evitavam um retrocesso – e por isso
engana-se quem tenta fazer uma analogia com as nomeações
conservadoras de Lula em 2003.
Os crescentes efeitos da
crise já não são negados nem pela Presidente, que pediu “união
contra crise internacional” [2] aos países da Unasul, nem pelos
burocratas sindicais que já se colocaram à disposição para rifar
os direitos dos trabalhadores. [3]
Ciente de que a
conjuntura social é tensa, que o povo brasileiro tem demonstrado
disposição de luta e que suas medidas para garantir o processo de
acumulação e reprodução do capital são impopulares e poderão
ter fortes e massivas resistências, o Governo Dilma já se prepara
para reprimir o movimento de massas como atestam as 9 mil bombas
compradas para o treinamento das forças policiais visando as
Olimpíadas do Rio de Janeiro. [4]
Diante dessa conjuntura
os setores de esquerda críticos ao governo, assim como os ativistas
e movimentos sociais não comprometidos com o mesmo, devem organizar
e mobilizar desde a base os trabalhadores, estudantes e as classes
populares, preparando-os para o duro ajuste que virá.
Não cabem vacilos com
pautas distracionistas pois está em jogo quem vai pagar a conta da
crise capitalista que se aprofunda no país e o Governo Dilma já
está enviando essa fatura para o andar de baixo.
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[1] A crise no Brasil.
(06/05/2012):
[2] Dilma pede união
contra crise internacional (06/12/2014):
[3] Centrais sindicais
propõem 'modelo europeu' de manutenção do emprego (25/11/2014):
[4] Temendo "agitações
sociais", governo compra 9.000 bombas para as Olimpíadas
(10/12/2014):
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