Embora os governos petistas privatizem desde o primeiro mandato de Lula, tanto este em 2006, como Dilma Rousseff em 2010 não se acanharam de se apresentar como os candidatos antiprivatistas nos respectivos processos eleitorais. Então pré-candidata, a sucessora de Lula, proferiu as seguintes palavras:
"Não permitirei, se
tiver forças para isto, que o patrimônio nacional, representado por
suas riquezas naturais e suas empresas públicas, seja dilapidado e
partido em pedaços. Tenham certeza de que nunca, jamais me verão
tomando decisões ou assumindo posições que signifiquem a entrega
das riquezas nacionais a quem quer que seja". [1]
Posteriormente,
já candidata, Dilma não mediu palavras para qualificar o que
representaria o entreguismo do pré-sal: "Desde já eu afirmo
a minha posição: é um crime privatizar a Petrobras ou o pré-sal.
(...) Isto seria um crime contra o Brasil."
http://www.youtube.com/watch?v=htT-s8XIS9s
Ciente
de que suas palavras passadas seriam cobradas, a Presidente e seus
apoiadores partiram para uma tergiversação a qual revelou suas
contradições. Para negar o caráter privatista do leilão de Libra
passaram a celebrar o regime de partilha e atacar o de concessões,
que foi praticado por FHC [2]. Mas se esqueceram de dois detalhes: o
primeiro é de que o ex-presidente Lula também utilizou o regime de
concessões para entregar o petróleo brasileiro (mais até do que
FHC) e o segundo é de que as concessões foram apresentadas como
boas iniciativas pela própria Dilma e por seus apoiadores quando da
privatização dos aeroportos - outro episódio onde buscaram
tergiversar diante de mais uma empreitada privatista.
Sobre
o caráter privatista do leilão de Libra, basta simplesmente
levantar os questionamentos feitos pelo engenheiro Paulo Metri:
"A presidente Dilma
fala que o leilão não correspondeu a uma privatização. A Shell e
a Total não são empresas privadas estrangeiras? A CNPC e a CNOOC
não são empresas estrangeiras? Elas não passarão a ter a posse de
uma parcela do petróleo e do lucro gerados? Não poderão fazer com
suas parcelas de petróleo o que bem quiserem? Não poderão remeter
suas parcelas de lucro para o exterior? Então, desculpe-me
presidente, mas isto é privatização e a negação do fato é
tergiversação." [3]
Mas
o "crime" não foi praticado apenas contra o pré-sal,
contra a Petrobras também. No primeiro semestre o Governo Dilma
promoveu uma captação externa de US$ 11 bilhões em títulos,
aprofundando os interesses privados e especulativos no interior da
empresa. Parte dos especuladores se queixaram do baixo preço da
gasolina no Brasil. Menos de um mês depois, o Copom, servilmente,
anunciou mais um possível aumento na gasolina até o final do ano, o
que pode se tornar real nos próximos dias. [4]
Sobre
a suposta vantagem do regime de partilha, vale conferir as palavras
do economista Paulo Passarinho:
"Entretanto, o fato
de termos uma legislação baseada no regime de partilha não nos
assegura que o interesse nacional e uma visão estratégica do uso do
petróleo estejam assegurados. E um bom exemplo disso é o próprio
caso do leilão de Libra.
O percentual mínimo de
partilha definido pela ANP como referência para os interessados no
campo de Libra – e que acabou sendo incorporada na proposta feita
pelo consórcio vencedor – foi de 41,65%. Trata-se de um percentual
extremamente reduzido. Países produtores, que adotam o regime de
partilha – como é o caso da Noruega ou da China – exigem de 60 a
80% do óleo extraído, afora outras exigências, especialmente no
caso chinês, de contrapartidas das empresas concessionárias.
Mas, há um detalhe
extremamente relevante: esse percentual de partilha não incide –
como muitos imaginam – sobre o total do óleo produzido. Este
percentual é aplicado em relação ao chamado óleo-lucro, a parcela
de óleo que é resultado do desconto dos custos de produção em
relação ao total de óleo produzido. Os custos de produção do
consórcio responsável pelo campo são ressarcidos em petróleo e,
desse modo, o que o consórcio é obrigado a partilhar com a União é
apenas a parte restante do óleo, que representa o que seria o “lucro
líquido”, em petróleo, da produção. Importante de destacar,
também, que os royalties a serem recolhidos pelo consórcio serão
em dinheiro e esse valor estará igualmente incluído como custo de
produção.
Mais importante, ainda: a
ANP – aparentemente sem nenhum tipo de respaldo na própria lei de
partilha, o que poderia dar base para a anulação deste leilão de
Libra, de acordo com ações que tramitam na justiça – estabeleceu
que esse percentual de 41,65% não é fixo. Dependendo do volume de
produção do campo e do preço do barril do petróleo no mercado
internacional, esse percentual de partilha irá variar em uma faixa
entre 9,93% e 45,56%." [5]
Fernando
Siqueira, engenheiro, ex-presidente e atual vice-presidente da AEPET
(Associação de Engenheiros da Petrobras), dá detalhes da variação
mencionada por Passarinho:
"O resultado foi o
pior possível; 40% do petróleo irão para o consórcio para pagar
os custos de produção; 15% dos royalties irão para o consórcio
(ele paga os royalties em reais e recebe de volta em petróleo), e
60% destes 55% irão para as estrangeiras; a União vai receber
41,65% dos 45% que sobraram, ou seja, 18,72% em média, pois o edital
criou uma variação nesse percentual que favorece o consórcio. Uma
excrescência inédita em contratos de partilha.
Explicando: quando as
condições forem muito favoráveis (produção acima de 25.000
barris por poço), o consórcio dá para a União mais 3,91%
(41,65+3,91 = 45,56%). Mas, quando as condições forem as piores, ou
seja, produção diária abaixo de 4.000 barris/dia e o petróleo
abaixo de US$ 60 por barril, a União cede 31,72% do seu percentual
(41,65 – 31,72= 9,93) para o consórcio. Assim, o que vai para a
União variará de 9,93% a 45,56 do óleo/lucro, que é 45%. Logo, a
União receberá de 4,45% (9,93x45) a 20,5% (45,56x45) do total do
óleo produzido. Então, o consórcio vencedor ficará com 95,55% a
79,5% do petróleo de Libra; 40% disto irá para a Petrobrás e 60%
para empresas estrangeiras.
Portanto, mesmo a União
recebendo 15% de royalties em dinheiro e 15% de Imposto de Renda, o
resultado foi péssimo para o país. Lembro que, no mundo, os países
exportadores ficam com a média de 80% do óleo produzido." [6]
A
descoberta do pré-sal tornou o regime de partilha "ultrapassado",
segundo Ildo Sauer, engenheiro, professor da USP e ex-diretor de
energia e gás da Petrobras durante o Governo Lula:
"(...) Vender
petróleo já descoberto, em leilão, sem quantificar exatamente seu
valor, é uma inovação absolutamente estarrecedora, criada por este
governo, inspirado na legislação do modelo de partilha, proposto em
2002, como um avanço em relação às concessões, quando ainda
persistia um risco grande em relação aos modelos geológicos.
Porém, quando o pré-sal foi confirmado (uma teoria de décadas, que
só pôde ser comprovada com o avanço da geofísica e dos novos
modelos computacionais, nos anos de 2004, 2005, 2006 e 2007 na
Petrobras), o modelo de partilha foi superado, já ali. No estágio
em que nos encontramos, depois que o modelo geológico do pré-sal
foi confirmado, com uma nova e imensa província petrolífera
confirmada, o normal, em qualquer país do mundo, seria delimitar o
volume de petróleo envolvido e eventualmente até certificar tal
volume. Depois, definir uma estratégia, o que não foi feito."
[7]
Fernando
Siqueira denuncia que nos termos estabelecidos o regime de partilha
celebrado pelo Planalto e seus seguidores ficou similar às
concessões:
"O edital do leilão
é tão ruim que conseguiu nivelar a partilha com o contrato de
concessão, que é péssimo. Sendo Libra campo gigante, na concessão
apareceria a Participação Especial, que seria da ordem de 20%; e,
como os royalties subiram para 15%, com a concessão, a União
ficaria com 35%, que, somado o Imposto de Renda, chegaria a 50%.
Isto atesta o absurdo
desse leilão: num campo já descoberto, testado e comprovado como o
maior do mundo, os avanços conseguidos pelo governo Lula foram
anulados pelo governo Dilma. Um retrocesso brutal." [idem 6]
Outro
argumento amplamente difundido pelo governo e os apoiadores do leilão
é o de que a Petrobras não teria condições de explorar o campo de
Libra sozinha. A assertiva segundo a qual o Estado não tem condições
de tocar determinado serviço público é a mais utilizada para
justificar as privatizações. Aqui o governismo mostra falta de
originalidade pois apropriou-se do discurso dos demotucanos - um
discurso falso pois as privatizações são regadas com farto
dinheiro público.
Esse
argumento, porém, foi desmentido pela própria presidente da
Petrobras, Maria da Graça Foster, na CPI da Espionagem, conforme
lembra a Federação Única dos Petroleiros (FUP):
"Temos uma estima
absoluta por Libra, que é muito valiosa para a Petrobrás",
ressaltou Graça, frisando que a empresa "tem condições
técnicas e estruturais de assumir 100% do campo”. A presidenta foi
além: "A Petrobrás sabe melhor do que qualquer outra empresa
como explorar Libra porque fomos nós quem descobriu o campo, a mais
de seis mil metros de profundidade. Eu não conheço nenhuma outra
empresa que esteja tão preparada quanto a Petrobrás para fazer
Libra acontecer". Graça Foster esclareceu também que "o
sentimento dentro da companhia é de que o leilão de Libra é desejo
do governo e não da Petrobrás". [8]
Como
último refúgio o governismo poderia se escudar na estatal Pré-Sal
Petróleo S/A (PPSA). Porém, Siqueira esclarece como a empresa está
sendo dirigida:
"Deverá ter um
papel fundamental: evitar que as duas maiores causas de fraudes na
produção mundial ocorram: o superfaturamento dos custos de produção
(ressarcidos em petróleo) e a medição a menor do petróleo
produzido. Todavia, a Dilma nomeou raposas para esse galinheiro: o
presidente será o Osvaldo Petrosa, primeiro brasileiro a defender o
fim do monopólio e braço direito do David Zilbertstajn na ANP; e
Antonio Claudio, sócio do presidente do IBP (Instituto Brasileiro de
Petróleo), que na realidade comanda o lobby em favor das empresas
estrangeiras por aqui. Este é o preocupante futuro desta empresa:
fiscalizar quem eles defendem." [idem 6]
A
nomeação de defensores de interesses de empresas privadas para
postos de destaque na área de energia não é nenhuma novidade. O
próprio Ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, foi apontado
pela diplomacia estadunidense como amigo das empresas privadas e
favorável à privatizações no setor, conforme revelou o Wikileaks
em 2011. [9]
Ilegalidades
e valores irreais
Uma
série de ações foram movidas para barrar o leilão de Libra.
Siqueira aponta algumas das principais ilegalidades do mesmo:
"(...) Eu denunciei
pelo menos três ilegalidades que subsidiaram as ações, a saber: a)
o artigo 2º da nova lei define áreas estratégicas: são aquelas
com baixo risco e alta produtividade. Libra tem risco zero e é o
maior campo do mundo; o artigo 12º diz que áreas estratégicas
devem ser entregues à Petrobrás em contrato de partilha e sem
leilão; b) o edital cria uma variação do percentual, como já
citado, que fará com que, na maior parte do tempo, o percentual do
óleo/lucro da União fique abaixo daquele estipulado pelo CNPE
(Conselho Nacional de Política Energética), ferindo a Lei; c) o
artigo 2º (2,8.1) e o item 6.3 do contrato dizem que o consórcio
terá o direito de ser ressarcido, em óleo, do valor do royalty que
pagar. Isto fere as Lei 12.351/10 (e 12.734/12) do petróleo no
artigo 42 § 1º, que diz que o royalty não pode ser ressarcido em
nenhuma hipótese." [idem 6]
De
acordo com o item a, o leilão em si teria sido ilegal! O b e c
tratam de valores e revelam como os royalties já começam a serem
surrupiados e que é falacioso o argumento de que 85% da renda de
Libra será do Estado brasileiro. Passarinho conta como a Presidente
Dilma chegou nesse valor e revela quais são os reais valores que
ficarão com o Estado brasileiro:
"A rigor, sob o
pretexto de se leiloar o petróleo, o governo precipitou uma venda
apressada e por preço vil do maior campo de petróleo já descoberto
pela Petrobrás. Nesta venda, a Petrobrás foi utilizada pelo governo
para a formação de um consórcio com quatro empresas estrangeiras,
cujo papel é apenas de caráter financeiro. Para tanto, além da
parcela em óleo que iremos pagar pelo custo da produção – que
pode variar de US$ 30 a US$ 50 por barril extraído, o que representa
um percentual de 30 a 50% do valor do barril, calculado hoje em US$
100 – iremos entregar ao consórcio a maior parte do óleo lucro. E
desta parte-lucro que caberá ao consórcio, 60% do petróleo irão
para as mãos dos anglo-saxões, holandeses, franceses e chineses.
A precipitação, o
entreguismo ou a irresponsabilidade do governo ficou ainda mais
evidente, no próprio dia do suposto leilão, quando Dilma Rousseff,
em pronunciamento à Nação, teve a desfaçatez de apresentar o dado
de que “85% de toda a renda a ser produzida no campo de Libra vão
pertencer ao Estado brasileiro e à Petrobrás”. Para se chegar a
essa aritmética de marketing, a mirabolante conta levou em
consideração os R$ 15 bilhões do bônus de assinatura a ser pago
pelo consórcio, os royalties, o óleo-lucro que cabe à União e à
Petrobrás e o valor dos impostos brutos – sem os descontos que as
empresas têm direito. Uma verdadeira salada contábil, que deixa no
ar a sensação que os gringos foram enrolados e somente estarão
levando 15% de um negócio em que pagaram para ter direito a 60%...
O mais importante do
negócio do petróleo é a propriedade de fato do próprio óleo,
conforme procuramos demonstrar. Neste sentido, se o preço do barril
for calculado em US$ 100, o custo de produção em 40% e levando-se
em conta o ressarcimento do custo dos royalties (15%) teremos como
óleo-lucro um percentual de 45% da produção total (100-40-15).
Aplicando-se o percentual de 41,65% - que já alertamos que não será
fixo, podendo ser inferior – como a cota-parte da União neste
óleo-lucro, o Estado brasileiro ficará na verdade com apenas 18,74%
(41,65% x 45) de toda a produção do petróleo. Levando-se em conta
que a Petrobrás detém 40% no consórcio a ser ressarcido em óleo
pelos custos incidentes na produção, a empresa teria direito também
a uma parcela de 22% (40% x 55) dessa produção total do campo.
Porém, é forçoso
reconhecer que a União tem apenas uma parte do total de ações da
empresa, que é uma sociedade de capital aberto e com muita
participação estrangeira. Mesmo assim, levando em conta que o
destino desse óleo que caberá à Petrobrás poderá ser definido
pelo próprio governo, somando-se os 22% da parte da empresa com os
18,74% da União, poderemos ter controle de fato sobre apenas 40% do
total a ser produzido em Libra. E com os gringos ficando com os 60%
restantes dessa valiosa produção." [idem 5]
Importante
assinalar que o bônus de 15 bilhões, o qual Dilma incluiu no
cálculo para se chegar no falacioso índice de 85%, será destinado
para o superávit primário, ou seja, para o pagamento da dívida
pública, indo para o bolso dos especuladores, não para o Estado.
O
potencial do campo de Libra não é totalmente conhecido, embora se
saiba que o seu volume de petróleo praticamente equivale ao
produzido pelo Brasil em toda a sua História. Sauer explica de forma
didática esse espantoso leilão:
"(...) O governo
resolve fazer um leilão que assemelho ao seguinte: suponha que cada
campo de petróleo corresponde a uma fazenda cheia de bois. E o dono
da fazenda vai leiloá-la sem sequer contar o número de bois. É o
caso de Libra. A ANP diz que pode ter entre 8 e 12 bilhões de
barris, mas muitos geólogos da Petrobras acreditam até em 15. Como
fazer o leilão? Péssimo sinal. Indica que estamos abrindo mão de
uma estratégia global em benefício de um contrato microeconômico,
que se resolve sozinho. Uma vez assinado o contrato com o consórcio,
incluindo a Petrobras como operadora ou financiadora, ela pode
participar em até 70%. (...)
(...)
Está claro, portanto,
que a visão adotada pelo governo - com a respectiva missão
delegada à ANP, a partir de uma avaliação superficial do Conselho
Nacional de Política Energética (CNPE), de promover o leilão
açodadamente - indica um desastre político. Ainda que o governo
diga que resultarão muitos recursos e dinheiro dessa estratégia,
está claro que não é bem assim. Estamos abrindo as portas para um
modelo de entrega. É a maior privatização da história brasileira,
muito maior do que a promovida pelos tucanos. Essa senhora Rousseff,
de uma tacada só, está promovendo a maior privatização e entrega
da história. Repito que não há notícia no mundo, de país algum,
que resolva leiloar e vender petróleo, sem saber quanto do produto
já foi descoberto. Isso não se faz! É contra qualquer noção de
gestão de recursos naturais, no curto, médio e longo prazo."
[idem 7]
E
a queixa de setores da mídia? E a ausência de determinadas
empresas? São questionamentos que bem pode levantar os apoiadores do
Planalto.
Com
relação a primeira questão vale ressaltar que a pressão de alguns
setores da grande mídia privada era para que o entreguismo fosse
ainda maior, não era contra o leilão. No Jornal da Globo de 17 de
outubro o jornalista Arnaldo Jabor atacou os opositores do leilão,
repetiu os argumentos do Planalto e classificou o negócio como
"ideal para o Brasil".
http://www.youtube.com/watch?v=U7kftB0jjG4
http://g1.globo.com/jornal-da-globo/videos/t/edicoes/v/modelo-nao-monopolista-do-petroleo-e-ideal-para-o-brasil/2896229/
Sobre
a segunda questão, Siqueira esclarece:
"A meu ver, foi um
jogo de cartas marcadas. A baixa concorrência foi proposital para
reduzir a competição e pagar um percentual ridículo sobre um campo
descoberto testado e comprovado como o maior do mundo. Previ isto em
audiência pública no Senado no dia 25/9/2013.
Outro fator que pesou foi
a denúncia de espionagem feita pelo Edward Snowden, que também
mencionei na audiência: a Halliburton fornece o software Open Wells,
que processa todos os dados estratégicos da Petrobrás. Seus
analistas de sistemas têm acesso a todas as informações da
Companhia. Snowden revelou que, a cada 72 horas, uma massa de dados
da Petrobrás é remetida para os Five Eyes: EUA, Inglaterra,
Austrália, Canadá e Nova Zelândia. Para atenuar o motivo mais que
suficiente para o cancelamento dos leilões, as empresas dos EUA e
Inglaterra saíram... Mas o braço europeu do cartel ficou: Total e
Shell, que participaram, pertencem aos mesmos donos." [idem 6]
Há
ainda o argumento de que o petróleo se desvalorizará daqui há
algumas décadas e que por isso o Brasil deve apressar a entrega do
mesmo. Ora, primeiro que esses nostradamus (em minúsculo mesmo) não
apresentam a matéria-prima que substituirá o petróleo e segundo
faltaria explicar porque as multinacionais (que de bobas não têm
nada) se interessam tanto por esse recurso e o imperialismo
estadunidense chega ao ponto de realizar guerras e espionagem
industrial para tentar se apossar de tal recurso natural se as
alternativas ao mesmo já estão assim tão iminentes.
Repressão
em pró do entreguismo
Guarda Municipal, Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Federal, Força Nacional, Exército e Marinha [10], foram mobilizados para garantir que o entreguismo fosse realizado. Uma verdadeira operação de guerra, que superou o Governo FHC, que enviou o Exército contra os petroleiros em 1995. [11]
Manifestantes,
partidos de esquerda e movimentos sociais que protestaram em frente
ao Hotel Windsor Barra, local onde ocorreu o leilão, denunciaram
intimidações, ingerência no movimento (tentativa de proibir um
carro de som) e início de agressões por parte das forças de
repressão enviadas pelo governo.
Cinicamente
a grande mídia não só ocultou esses fatos como não vacilou em
apontar o dedo para os "vândalos" do protesto, enquanto
sob forte proteção e conforto um patrimônio trilionário do povo
brasileiro era dilapidado vergonhosamente pelos mesmos que dirigem as
forças de repressão responsáveis pela "ordem"
entreguista.
O
crescimento da repressão contra os movimentos sociais e sindicais já
era uma realidade muito antes das jornadas de junho terem questionado
profundamente as estruturas políticas e econômicas [12]. O
entreguismo das gestões petistas também se dá desde o primeiro
mandato de Lula.
Mas
o leilão de Libra foi um divisor de águas para muitos ativistas e
intelectuais que demonstraram paciência com o governo até aqui.
Fernando Siqueira e Ildo Sauer estão longe de serem marxistas, assim
como Emanuel Cancella, sindicalista petroleiro que desligou-se do
Partido dos Trabalhadores (PT) após o episódio. [13]
As
rupturas podem crescer no próximo período uma vez que com o
aprofundamento da crise capitalista em escala global e seus cada vez
mais inegáveis efeitos no país aliado a opção do PT em manter o
status quo, o obrigará a aumentar cada vez mais o entreguismo para
garantir o processo de acumulação e reprodução do capital. Mas
isso não ocorre sem contradições em uma sociedade dividida em
classes e à resistência popular o governo responderá com cada vez
mais repressão, até porque vem perdendo cada vez mais o controle
sobre os movimentos sociais e sindicais.
Se
ampliará, portanto, a possibilidade e necessidade de reorganização
do movimento social, sindical e popular para lutar decididamente por
outro modelo sócioeconômico.
____________________________________________________
[1]
Em tom plebiscitário, Dilma critica privatizações e estagnação
econômica (10/04/2010):
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u718987.shtml
[2]
Dilma chama de 'xenofobia burra' ataques a estatais chinesas do
pré-sal (25/10/2013):
http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2013/10/dilma-diz-que-preconceito-contra-estatais-chinesas-e-201cxenofobia-burra201d-5808.html
[3]
Libra: Day After. Paulo Metri. 23/10/2013.
http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=8980:submanchete231013&catid=72:imagens-rolantes
[4]
Royalties do petróleo: quem são os verdadeiros beneficiados?
(25/08/2013):
http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2013/08/royalties-do-petroleo-quem-sao-os.html
[5]
A polêmica sobre Libra. Paulo Passarinho. 25/10/2013.
http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=8989:submanchete251013&catid=72:imagens-rolantes
[6]
‘No maior campo de petróleo já descoberto do mundo, Dilma
conseguiu anular até os avanços de Lula’. Fernando Siqueira,
entrevista para o Correio da Cidadania. 22/10/2013.
http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=8978:manchete221013&catid=34:manchete
[7]
‘Governo está promovendo, com o pré-sal, a maior privatização e
entrega da história’. Ildo Sauer, entrevista para o Correio da
Cidadania. 16/10/2013.
http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=8955:manchete161013&catid=72:imagens-rolantes
[8]
Graça Foster: 'Petrobrás tem condições de assumir 100% de Libra'
(23/09/2013):
http://www.fup.org.br/2012/o-petroleo-e-nosso/2221845-graca-foster-qpetrobras-tem-condicoes-de-assumir-100-de-libraq
[9]
Wikileaks: EUA apontaram Lobão como defensor da privatização do
setor elétrico (27/06/2011):
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/13056/wikileaks+eua+apontaram+lobao+como+defensor+da+privatizacao+do+setor+eletrico.shtml
[10]
Mais de 1.100 agentes de segurança atuarão no leilão do Campo de
Libra (18/10/2013):
http://www.sul21.com.br/jornal/todas-as-noticias/geral/mais-de-1-100-agentes-de-seguranca-atuarao-no-leilao-do-campo-de-libra/
Exército
já ocupa frente de hotel onde ocorrerá leilão do pré-sal
(20/10/2013):
http://www.sul21.com.br/jornal/todas-as-noticias/economia-todas-as-noticias/exercito-ja-ocupa-frente-de-hotel-onde-ocorrera-leilao-do-pre-sal/
[11]
Petróleo: a historia se repete. Heitor Scalambrini. 22/10/2013.
http://www.diarioliberdade.org/opiniom/opiniom-propia/42774-petr%C3%B3leo-a-historia-se-repete.html
[12]
Brasil: aumenta o entreguismo e a repressão (12/05/2013):
http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2013/05/brasil-aumenta-o-entreguismo-e-repressao.html
[13]
PT: A despedida de Emanuel Cancella, do Sindipetro (24/10/2013):
http://www.viomundo.com.br/politica/pt-a-despedida-de-emanuel-cancela-do-sindipetro.html
.