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"A desvalorização do mundo humano aumenta na razão direta do
aumento de valor do mundo dos objetos."
(Karl Marx)
Poucas vezes um fato da realidade concreta tem a capacidade de reunir em si, de forma clara e didática, quase todos os elementos de uma sociedade. Pois o ocorrido na noite de quinta-feira (04/10), na cidade de Porto Alegre, conseguiu.
A
truculenta repressão da Brigada Militar aos jovens que protestavam
em frente à Prefeitura contra a privatização dos espaços públicos
na capital gaúcha para proteger um boneco inflável de uma
multinacional, é um símbolo dos nossos tempos. Tempos onde os
objetos são divinizados e protegidos e a dignidade humana
negligenciada e violada.
Marx
desvendou como se processa a alienação na sociedade capitalista,
fenômeno gerado pela teia de relações que engendram o
funcionamento do sistema e que favorecem a coisificação da vida
social onde o "mundo dos objetos" vai se valorizando e o
"mundo humano" vai se desvalorizando.
Uns 80
homens e 22 viaturas foram mobilizadas para proteger um objeto de
aproximadamente 100 pessoas que protestavam [1]. É um contingente
impressionante diante da envergadura do ato, nem parecia que faltava
efetivo policial como vive reclamando nossas autoridades.
A alegada
proteção, se é que era essa a intenção, foi um fracasso. Como
observou o jornalista Mário Marcos foi "exatamente depois da
chegada dos soldados que tudo vira um tumulto." [2]
De fato
os vídeos divulgados até o momento não permitem dizer com firmeza
que o ataque partiu dos manifestantes. No entanto a Prefeitura, a
Brigada Militar [3] e alguns colegas de profissão de Mário Marcos
não vacilaram em qualificar os jovens de "vândalos".
Mesmo tendo tido um colega de profissão agredido gratuitamente
(Bruno Alencastro, repórter fotográfico de ZH [4] ).
Por outro
lado as cenas não deixam dúvidas da truculência policial ao
espancarem, em grupo, pessoas caídas no chão e até quem se
limitava a filmar.
O
simbolismo da violação da dignidade humana para a defesa de um
simples boneco inflável possui, além de elementos da esfera social
(coisificação, alienação, etc) elementos da esfera política.
As
instituições políticas existem para dar amparo e reproduzir a vida
social existente. E na sociedade capitalista as forças de repressão
do Estado têm como principal finalidade proteger a propriedade
privada das classes dominantes.
O boneco
inflável era de propriedade da Coca-Cola, assim como parte do Largo
Glênio Peres, que foi entregue à multinacional pela gestão do
Prefeito José Fortunati em um acordo desconhecido pela maioria da
população porto-alegrense. Há, portanto, poderosos interesses em
jogo.
É
importante salientar que o chefe último da Brigada Militar é o
governador do Estado do Rio Grande do Sul, no caso o senhor Tarso
Genro. E este cidadão ficou em silêncio por três dias, só
emitindo uma nota vergonhosa e tergiversadora quando a votação para
às eleições municipais já estavam encerrando. [5]
O Governo
Tarso vem sendo marcado pelo aprofundamento dos privilégios às
multinacionais com ampliação da política de isenções fiscais,
financiamentos e endividamento do Estado para subsidiá-las. Seria
esse episódio uma extensão dessa política?
O calote
no piso do magistério já é um símbolo da incoerência e da
trapaça política desse governo. O forte aparato policial truculento
mobilizado para defender o "mundo dos objetos" e atacar o
"mundo dos homens" pode se transformar no símbolo do
servilismo do Governo Tarso às multinacionais.
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[1] Vídeo na
internet mostra momento em que mascote da Copa foi derrubado
(05/10/2012):
[2] Brigada x
manifestantes: pelas imagens, quem tem razão? (05/10/2012):
[3] Em um primeiro
momento a Brigada Militar tentou dar uma cara "técnica" a
sua ação repressora contra a "baderna". Segundo o Major
André Luiz Córdova:
"Toda ação gera uma reação. Fizemos uma reação técnica e
proporcional à violência que acontecia com os policiais e outras
pessoas. Não usamos armas de fogo. Utilizamos instrumentos que
impedem riscos de violência contra terceiros e granada de efeito
moral para criar condições de coibir a ação baderneira"
Conforme os vídeos iam sendo divulgados e o tecnicismo ia se
revelando em uma odiosa truculência, os agentes da Brigada foram
sendo obrigados a reconhecer, ainda que com ressalvas e tentativas de
justificação, que cometeram excessos: "houve agressões das
duas partes", disse o Coronel Alfeu Freitas.
[4] Protesto na
Capital termina em confronto com a polícia e ataque a mascote da
Copa (04/10/2012):
[5]
Nota de esclarecimento (07/10/2012):
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