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Sempre se espera que a cada ano que se inicia as coisas sejam diferentes e melhores do que no ano encerrado. Mas na maioria das vezes esquece-se de que são as nossas ações que interferem no futuro para que ele seja de uma forma ou outra. Como disse Bertold Brecht "Em vez de serem apenas bons, esforcem-se para criar um estado de coisas que tornem possível a bondade" ou ainda de acordo com uma charge da Mafalda é o ano novo que espera que as pessoas sejam melhores. [1]
Pois 2011 começou, foi atravessado e está encerrando com uma série de lutas sociais espalhadas por praticamente todos os continentes. Foram tantas que é difícil lembrar de todas.
Com a crise do capitalismo como pano de fundo tornou-se inevitável o que muitos achavam impossível: a agência explosiva e ativa das massas nas ruas em lutas não apenas defensivas mas ofensivas em uma dimensão que alguns comparam com a "Primavera dos Povos" de 1848.
No Norte da África governos autoritários celebrados pelo Ocidente foram derrubados [2] e alguns seguem bastante questionados naquela região e no Oriente Médio, mas também no Ocidente os regimes políticos tiveram a sua "solidez" abalada e na Espanha jovens ocuparam praças para denunciar a democracia representativa burguesa como sendo uma falsa democracia. [3]
A juventude, aliás, tem sido um dos principais protagonistas dos novos movimentos sociais radicalizados. De geração tida como alienada estão a chacoalhar regimes. Isso, obviamente, não ocorre por acaso: os jovens têm visto cada vez mais reduzidas as suas perspectivas de futuro no atual sistema sócio-econômico. Os próprios organismos pró-status quo os têm chamado de "geração perdida". [4]
Como ninguém que não esteja acorrentado aceita morrer de braços cruzados a juventude não aceita a falta de perspectiva que lhes oferecem. No Chile se trava, há meses, uma luta radicalizada contra a mercantilização do ensino.
Mas não são apenas os filhos da classe trabalhadora que têm ocupado as ruas. A Europa foi palco de inúmeras greves de trabalhadores na Grécia, na Inglaterra, na Itália, em Portugal, Irlanda, Espanha, Bélgica, entre outros.
Em 2011 emergiu com força não apenas as lutas das massas, mas também categorias analíticas da realidade que eram tidas como ultrapassadas por alguns analistas e acadêmicos, inclusive alguns que se diziam progressistas. [5]
Se na Espanha a democracia burguesa foi apontada como uma farsa dentro de um Estado cujos partidos governam para uma mesma classe, nos Estados Unidos o movimento dos Ocupes percebeu e denunciou, com o slogan "99% versus 1%", que em uma sociedade de classes elas não apenas existem como têm interesses próprios e antagônicos. [6]
Esse verdadeiro despertar das massas possui, é verdade, algumas limitações e contradições decorrentes do contexto presente e principalmente do anterior. Mas o processo desencadeado em um ano que já é histórico está apenas começando e os enfrentamentos que virão podem corrigir as suas falhas.
Se só vence quem luta, se é a luta que muda a vida, se a luta chacoalha as consciências, e as massas estão lutando, então é possível dizer quem em 2011 a esperança de um outro mundo possível renasceu. Ainda mais que o ano velho deixou muitas pessoas melhores para o ano novo.
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[1] Um Ano Novo Feliz depende de nós! (31/12/2010):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2010/12/um-ano-novo-feliz-depende-de-nos.html
[2] O que o Ocidente dizia do Norte da África? (29/01/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2011/01/o-que-o-ocidente-dizia-do-norte-da.html
[3] Em busca da democracia real (20/05/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2011/05/em-busca-da-democracia-real.html
[4] FMI alerta para risco de "geração perdida" (12/05/2011):
http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=1850259
[5] A crise e as categorias marxistas (27/12/2010):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2010/12/crise-e-as-categorias-marxistas.html
[6] Wall Street como inimigo público nº 1 (17/10/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2011/10/wall-street-como-inimigo-publico-n-1.html
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