segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A expansão do neoliberalismo em meio a sua crise

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Ao contrário do que chegaram a acreditar alguns, a atual crise financeira bem longe de frear o neoliberalismo o está aprofundando drasticamente. É o que tem deixado explícito as medidas tomadas pelos governos ao redor do mundo, e na Europa em especial, onde os direitos dos trabalhadores e o papel do Estado estão sendo reduzidos, arrancando entusiasmados aplausos até dos liberais radicais mais exigentes.

Se do ponto de vista popular o neoliberalismo está desgastado, do ponto de vista das classes dominantes há uma impossibilidade estrutural de abandonar os seus pressupostos. A ampliação da internacionalização do capital, a globalização da sua produção, o peso da financeirização, a fusão de setores do capital produtivo com o financeiro, a reestruturação produtiva, a elevada competitividade, entre outros, são fatores que transformaram de tal forma a estrutura do capital que não deixam margem para as classes dominantes implementarem um outro tipo de capitalismo. Não é por acaso que não recuem mesmo com a Europa literalmente em chamas.

Algumas medidas superficialmente analisadas por alguns causou a falsa impressão de que o neoliberalismo estava sendo freado. Como exemplo pode-se citar as estatizações de bancos e grandes empresas e a lei de controle do sistema financeiro.

No primeiro caso tratam-se de estatizações emergenciais que logo são revertidas quando o saneamento estatal deixa as empresas em melhores condições, conforme atesta o exemplo da GM nos Estados Unidos. [*]

No segundo caso, aparentemente mais convincente, é duvidoso acreditar que de fato ocorrerá um controle do sistema financeiro que beneficiará os consumidores conforme alardeado, pois assim como o Estado as suas agências reguladoras também estão de joelhos para o grande capital. E mesmo que haja um controle que venha a beneficiar de alguma forma os consumidores, é falacioso dizer que com tal medida se pode impedir futuras crises do capitalismo.

O resultado do aprofundamento do neoliberalismo pós-crise será:

1) Um mundo onde a propriedade privada dos meios de produção estará ainda mais concentrada em poucas mãos: o Estado só tem salvado os grandes capitalistas deixando os pequenos e médios por conta própria.

2) Trabalhadores com menos direitos e recursos: a experiência Histórica tem mostrado que direitos sociais uma vez suprimidos dificilmente são reestabelecidos, além do mais os cortes de salários e previdência deixarão os trabalhadores com menos recursos financeiros.

3) Maior concentração da riqueza: as medidas tomadas no presente que transferem recursos dos mais pobres para os mais ricos, em uma espécie de Robin Hood às avessas, concentrarão ainda mais a riqueza e a propriedade dos meios de produção.

Mais do que perceber que o neoliberalismo está sendo aprofundado e dar a luta contra ele, como têm feito bravamente os trabalhadores na Europa, é preciso compreender que as transformações estruturais do capital não deixam margem para outro tipo de capitalismo. Outro mundo capitalista não é possível! Por isso é preciso transformar a luta contra o neoliberalismo em luta contra o capitalismo.

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[*] GM faz oferta pública de ações nesta quinta nos EUA e busca recorde (18/11/2010):
http://g1.globo.com/carros/noticia/2010/11/gm-faz-oferta-publica-de-acoes-nesta-quinta-nos-eua-e-busca-recorde.html

Governo dos EUA diz que recebeu mais US 1,8 bi por IPO da GM (02/12/2010):
http://oglobo.globo.com/economia/mat/2010/12/02/governo-dos-eua-diz-que-recebeu-mais-us-1-8-bi-por-ipo-da-gm-923171053.asp
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