segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Definindo o segundo turno em uma palavra

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No último domingo (31/10) chegou ao fim um dos segundos turnos mais bizarros da História, talvez o mais, de uma eleição para o Palácio do Planalto. Sem divergências no plano econômico e de reformas, Dilma e Serra apelaram para questões pontuais para tentar se diferenciar um do outro. O resultado dessa estratégia foi a demonstração do cinismo e da incoerência dessas candidaturas.

Primeiro foi José Serra levantando a questão do aborto de forma conservadora. Com isso ele buscava jogar na defensiva a candidata petista. E conseguiu. Dilma, ao invés de aproveitar a oportunidade para clarificar esse debate, acabou capitulando de forma vexatória à proposta conservadora. Sequer ela atinou em utilizar uma saída "saboneteira" como fez Marina Silva no primeiro turno ao propor um plebiscito para decidir sobre o tema.

Por outro lado, o discurso de Serra sobre o aborto foi para o ralo quando veio à tona que sua mulher teria realizado um aborto quando eles estavam exilados no Chile durante o período da ditadura militar. Assim além de conservador o discurso de Serra se mostrou incoerente. Logo o tucano deixou de falar nesse assunto.

Mas se Serra tentou encarnar o candidato anti-aborto, Dilma tentou reeditar o cínico argumento do PT como o partido anti-privatista, afinal a tática já havia dado certo em 2006 com Lula, apesar dele ter realizado privatizações já no seu primeiro mandato.

Dilma então se dirigia ao seu adversário como sendo ele o único privatista do segundo turno e ela e seu partido como os campeões da anti-privatização. O tucano então partiu para a denúncia das privatizações realizadas pelo Governo Lula, em especial do pré-sal, como se ele representasse uma candidatura nacionalista e estatista. Aqui sobrou cinismo e incoerência para ambos em todas as formas que colocavam o debate, afinal tanto o PT quanto o PSDB privatizaram e a própria Dilma defendeu na campanha a privatização da Infraero.

Se isso já não bastasse ainda ensaiaram um debate ético. Dilma atacava Serra por seu assessor e o tucano a petista por Erenice Guerra. Era o sujo falando do mal lavado.
Quase no final da campanha ainda sobrou tempo para o escarcéu da bolinha de papel e da bexiga d'água.

Enfim, com tanta baixaria, cinismo e incoerência só há uma palavra para definir este segundo turno: dissimulação!

Foi esta a prática corrente de Dilma e Serra durante toda a segunda volta do pleito eleitoral.
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