sábado, 3 de julho de 2010

A Irlanda e o mito da austeridade

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Diante da crise financeira muito tem se dito de que não há outra saída a não ser cortar os "gastos", ou seja, os direitos sociais, a aposentadoria e o emprego. "É necessário austeridade!", gritam as classes dominantes ao redor do globo e na Europa em especial.

O caso da Irlanda, no entanto, mostra que tal política pode aprofundar, e não resolver a crise. O país, que foi muito celebrado por suas reformas liberais antes da crise, aprofundou tais medidas e o resultado foi o aumento da recessão.


Irlanda paga caro por austeridade financeira

Após adotar medidas de austeridade há dois anos, a desaceleração econômica só piorou

The New York Times | 30/06/2010 15:10

Enquanto grandes economias da Europa se concentram em apertar o cinto, elas estão seguindo o caminho da Irlanda. Mas a antes próspera nação está em dificuldades, sem nenhum sinal de uma reviravolta à vista.

Quase dois anos atrás, um colapso econômico forçou a Irlanda a cortar gastos públicos e aumentar os impostos, tipo de medidas de austeridade que os mercados financeiros estão agora impondo sobre as nações industriais mais avançadas.

"Quando a situação das finanças públicas foi exposta, o que todos queriam era garantir a confiança dos investidores internacionais na Irlanda para que pudéssemos continuar a pedir dinheiro emprestado", disse Alan Barrett, economista-chefe do Instituto de Pesquisa Econômica e Social da Irlanda. "Grande parte do argumento era: 'Vamos acabar com isso rapidamente'."

Em vez de ser recompensada por suas ações, no entanto, a Irlanda está sendo penalizada. Sua crise econômica foi certamente mais acentuada do que se o governo tivesse gastado mais para manter as pessoas trabalhando.

Sem o estímulo do dinheiro, a economia irlandesa recuou 7,1% no ano passado e permanece em recessão.

O desemprego no país de 4,5 milhões de habitantes é superior a 13% e as fileiras dos desempregados de longa duração - aqueles que estão fora do mercado há um ano ou mais - mais do que duplicou, chegando a 5,3%.

Agora, os irlandeses estão sendo alertados de que há mais por vir. "O fato é que não há nenhuma maneira fácil de cortar os déficits", disse o primeiro-ministro Brian Cowen. "Aqueles que afirmam que há uma maneira mais fácil ou uma opção suave não veem o mundo real."

Apesar de seus esforços extenuantes, a Irlanda tem sido empurrada para a mesma categoria vergonhosa de Portugal, Itália, Grécia e Espanha.

O país agora paga 3% mais do que a Alemanha em seus títulos de referência, em parte porque os investidores temem que o programa de austeridade, por retardar o crescimento e até agora não ter reduzido a dívida, vai tornar mais difícil para que Dublin pague suas contas.

Outras nações europeias, incluindo a Grã-Bretanha e a Alemanha, estão seguindo o exemplo da Irlanda, argumentando que a única forma de restaurar o crescimento é convencer os investidores e seu próprio povo de que a dívida pública vai encolher.

O G20 determinou por escrito no fim de semana que vai fazer da redução do déficit sua principal prioridade, apesar das advertências do presidente Barack Obama de que a austeridade pode bloquear uma recuperação global.

Os políticos locais têm aumentado os impostos e cortado os salários de enfermeiros, professores e outros funcionários públicos em até 20%.

Cerca de 30 bilhões de euros (US$ 37 bilhões) estão sendo injetados em bancos moribundos como o Anglo Irish, que foi nacionalizado após fazer empréstimos em excesso a desenvolvedores.

O orçamento passou de excedentes em 2006 e 2007 para um déficit de escalonamento de 14,3% do Produto Interno Bruto no ano passado - pior do que a Grécia. Ele continua a deteriorar.

Drenada de dinheiro depois de uma bolha imobiliária no estilo americano, a Irlanda teve de pedir bilhões emprestados; sua dívida, antes muito baixa pode corresponder a 77% do PIB neste ano.

* Por Liz Alderman


Extraído do Último Segundo:
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/nyt/irlanda+paga+caro+por+austeridade+financeira/n1237688728071.html

O original encontra-se no The New York Times:
http://www.nytimes.com/2010/06/29/business/global/29austerity.html?_r=1&dbk
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