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É incrível como a linha de argumentação da turma pró-mercado oscila de uma forma similar a da cotação das bolsas de valores. Em outro artigo demonstrei como, em pouco tempo, o liberal almofadinha do capital financeiro Rodrigo Constantino passou da veneração do sistema financeiro americano, apontado como modelo a ser seguido, aos ataques mais bizarros. Bizarros porque, o mesmo padrão de Banco Central independente apontado como referência, deixou de sê-la em questão de pouco mais de um ano.[1]
Agora o mais novo aspirante a ídolo da direita brasileira se superou em suas caracterizações contraditórias. Em apenas 21 dias Rodrigo Constantino escorregou feio na casca de banana retórica.
Em 17 de maio analisando a atual crise financeira que assola a Europa, Constantino descascava a Grécia, a Itália, Portugal e Espanha e poupava a Alemanha da seguinte maneira:
"Os alemães, que foram mais responsáveis e fizeram parte do dever de casa, são chamados para pagar a conta dos excessos dos gregos, portugueses, espanhóis e italianos."[2]
Pois da mesma forma que no caso do sistema financeiro americano, bastou a crise bater na porta do país louvado, para que Constantino mudasse o tom:
"É chegada a hora de apertar os cintos, cortar a fartura dos parasitas, reduzir privilégios. O welfare state irresponsável finalmente encontra a realidade. Ainda é muito pouco, muito tarde. Os governos quebraram as nações. É tempo de ajustes dolorosos. Será que os atuais líderes mundiais serão capazes de enfrentar os desafios da falência do modelo atual? Eis que a ilusão do paternalismo estatal encontra a realidade das leis econômicas..."[3]
Tal comentário se deu no dia 7 de junho, ou seja, em apenas 21 dias os alemães passaram de "mais responsáveis" que os outros à "irresponsáveis quebradores de nações" como seus vizinhos continentais.
É nessa linha que, avançando mais um dia no calendário, Constantino vai colocar de vez os alemães no saco outrora diferenciado:
"O governo de Angela Merkel anunciou cortes de quase US$ 100 bilhões nos gastos, além da demissão de 15 mil funcionários públicos. A gravidade da situação na Europa não permite mais a farra das cigarras. É chegada a hora de ajustes dolorosos, porém necessários."[4]
Coerente não?
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[1] A crise na Irlanda e o silêncio neoliberal (09/02/2010):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2010/02/crise-na-irlanda-e-o-silencio.html
[2] Dançando no Vulcão (17/05/2010):
http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2010/05/dancando-no-vulcao.html
[3] Encontro entre ilusão e realidade (07/06/2010):
http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2010/06/encontro-entre-ilusao-e-realidade.html
[4] Ajustes Necessários (08/06/2010):
http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2010/06/ajustes-necessarios.html
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