sexta-feira, 2 de abril de 2010

Mídia "livre" admite que não é neutra

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Os mais antenados já haviam percebido que o discurso externo da mídia brasileira de que era imparcial e que se limitava a fazer jornalismo era falacioso. Bastava observar o tratamento da mesma às mobilizações sociais, o apoio aberto às privatizações, à política econômica neoliberal, etc.

No último dia 18, porém, a mídia nacional deu um salto qualitativo e confessou que cumpre um papel que não tem nada de imparcial e nem de profissional.

Neste dia, em reunião na Fecomércio, em São Paulo, a grande mídia privada, junto com empresários, através de uma de suas representantes, Maria Judith Brito (presidente da Associação Nacional dos Jornais e executiva da Folha de São Paulo) deu a seguinte declaração:

"A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo." [1]

Maria Judith afirma com todas as letras que a grande mídia privada não se limita a fazer jornalismo mas que tem sim posição política.

Mas e qual é a posição política desses grandes conglomerados? Só para ficar em um exemplo basta comparar o discurso da presidente da ANJ que agita a irrestrita "liberdade de imprensa" com o apoio que essa mesma imprensa dá ao fechamento que restringe a "liberdade de imprensa" das rádios comunitárias.

Defendem a "liberdade" dos grandes e poderosos, grupo do qual fazem parte, fazerem o quem bem entenderem: mentir, deturpar, ocultar, atacar os mais fracos, etc. Afinal como disse Paulo Uebel, outro defensor da mídia "livre", são os donos dos veículos de comunicação que escolhem "os conteúdos que estejam mais bem alinhados com os seus propósitos".[2]

Se os conteúdos devem estar de acordo com os propósitos do dono da mídia obviamente que a prática do jornalismo e a verdade dos fatos serão vitimados constantemente, transmitindo-se deturpações a milhões de telespectadores.

Fica cada vez mais claro que o atual modelo de mídia no país deve ser alterado. Os interesses - às vezes escusos - de meia dúzia de indivíduos não pode se sobrepor ao da sociedade brasileira.
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[1] Entidades de imprensa e Fecomercio estudam ir ao STF contra plano de direitos humanos (18/03/2010):
http://moglobo.globo.com/integra.asp?txtUrl=/pais/mat/2010/03/18/entidades-de-imprensa-fecomercio-estudam-ir-ao-stf-contra-plano-de-direitos-humanos-916107358.asp

[2] A liberdade na mídia privada é a que o patrão permite (05/03/2010):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2010/03/liberdade-na-midia-privada-e-que-o.html
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