quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O fracasso de Copenhague

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A Conferência de Copenhague organizada pela ONU para tratar das questões climáticas durou duas semanas e terminou em um estrondoso fracasso. Ela terminou sem que se estabelecesse uma única medida a ser adotada pelos Chefes de Estados reunidos. Sequer um documento final foi redigido.
A própria ONU reconheceu que o máximo que a Conferência conseguiu foi uma mera "carta de intenções" [1] que foi elaborada às pressas no apagar das luzes tendo saído de um acordo entre os chamados países em desenvolvimento (Brasil, China, África do Sul e Índia) com os Estados Unidos. Mesmo assim a "carta de intenções" sofreu duras críticas ainda no plenário do evento.

O que está por trás do fracasso da Conferência de Copenhague é a incapacidade estrutural do sistema capitalista de enfrentar a degradação ambiental da qual ele próprio é responsável. Não por acaso a maior potência capitalista do globo, os Estados Unidos (que é o maior poluidor), é a que mais resiste em seguir as medidas ambientais. O ex-presidente americano, George W. Bush, dizia que se seguisse o limitado Protocolo de Kyoto quebraria a economia do seu país. Nesse caso ele dizia a verdade.

Quem esperava uma atitude distinta de Obama se frustrou. O objetivo inicial da Conferência visava debitar a crise ambiental na conta dos países subdesenvolvidos e permitir que os países desenvolvidos seguissem poluindo livremente. A declaração de Obama à jornalistas antes de sair de Copenhague mostra que tal objetivo ainda não foi de todo abandonado: "(...) para avançar não é suficiente que (só) os países desenvolvidos mudem”. [2]

A União Européia e seus empresários lamentaram o fracasso de Copenhague e estudam taxar os produtos dos países que mais poluem. Seriam, então, os capitalistas europeus os arautos do ambientalismo? A declaração do ministro belga, Paul Magnette, evidencia o real motivo:
"Se alguns países entre os maiores emissores (de gases de efeito estufa) no mundo continuam a impor obstáculos à adoção de objetivos vinculantes de redução das emissões, a União Europeia deve adotar, como permite o relatório da OMC de 26 de junho, uma taxa de carbono sobre os produtos importados desses países que fazem uma concorrência desleal a nossas empresas". [3]

É uma opinião compartilhada pelo francês Nicolas Sarkozy e pela alemã Angela Merkel mais precupados em "tranquilizar" as empresas dos seus respectivos países, nervosas com "os concorrentes desleais", do que com a degradação ambiental do planeta. [4]
O principal "concorrente desleal" é a China. Coincidência, ou não, as promessas do ministro belga não tardaram em se concretizar e se materializaram na decisão da União Européia que estendeu o prazo de retaliação aos calçados chineses. [5]

A China é o segundo país que mais poluí no mundo. Alcançou esse posto depois que abarrotou seu território de multinacionais capitalistas - hoje mais de 400 das 500 maiores empresas do mundo estão instaladas no país asiático.
Matéria do "The New York Times" de 2007 reproduzida pelo "Último Segundo" mostra que o desenvolvimento do capitalismo na China desenvolveu também, de forma elevada, a degradação ambiental com consequências internas e até externas:
"A principal causa de morte na China é o câncer devido à poluição, segundo o ministério da Saúde. (...) O problema da China se tornou o problema do mundo. Dióxido de enxofre e óxido de nitrogênio emitidos por usinas caem na forma de chuva ácida em Seul, Coréia do Sul e Tóquio. Grande parte da poluição de Los Angeles vem da China, segundo o Journal of Geophysical Research." [6]

É porque o capitalismo chinês é selvagem e os outros bonzinhos? Não é a conclusão do próprio The New York Times: "Nenhum país na história se tornou uma grande potência industrial sem criar um legado de danos ambientais (...)" [7]

Faltou completar dizendo que a forma de produção industrial do capitalismo com a sua incessante necessidade de crescimento e expansão ilimitados é ecologicamente insustentável pois os recursos naturais são limitados.
Não é por acaso que no topo da lista dos países mais poluentes do mundo [8] estão exatamente os mais ricos. [9]
E também não é por acaso que um dos efeitos da crise econômica mundial, que afetou além dos bancos grandes empresas do chamado setor produtivo, foi a redução da poluição no planeta com a diminuição em 3% das emissões de dióxido de carbono devido a contração da atividade industrial. [10]

O fracasso de Copenhague foi estrondoso e surpreendeu até os críticos porque sequer conseguiu encenar um faz de conta. Ficou evidente as contradições de interesses entre os capitalistas e principalmente a incapacidade do atual sistema econômico de enfrentar o grave problema ambiental.
As cartas estão dadas. A humanidade está na esquina da sua própria História: ou suplanta o sistema capitalista ou será suplantada por ele!




[1] http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2009/12/20/copenhague-resultou-apenas-em-carta-de-intencoes-admite-onu-915294464.asp

[2] http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1420918-17816,00-OBAMA+DEIXA+COPENHAGUE+E+DIZ+QUE+FICA+UM+COMPROMISSO+SIGNIFICATIVO.html

[3, 4] http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2009/12/22/ue+decepcionada+com+o+desastre+de+copenhague+procura+uma+resposta+9253046.html

[5] http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=402107

[6, 7] http://ultimosegundo.ig.com.br/new_york_times/2007/08/27/conforme_a_china_cresce_poluicao_do_pais_atinge_niveis_cada_vez_mais_extremos__980628.html

[8] http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u9264.shtml

[9] http://siteresources.worldbank.org/DATASTATISTICS/Resources/GDP.pdf

[10] http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=35622&op=all