Escrito por Duarte
Pereira
Quarta, 05 de Novembro de
2014
Tomo a liberdade de
compartilhar uma preocupação. As denúncias exageradas de ameaças
de golpes militares e de avanço fascista no Brasil, com base em
manifestações minoritárias, postagens de internet e arreganhos de
generais de pijama, têm-me parecido um alarmismo exacerbado com três
propósitos.
Primeiro: desviar a
atenção das concessões ainda maiores ao grande capital
transnacional e nacional e aos partidos conservadores que estão
sendo preparadas pelo novo governo Dilma.
Segundo: obscurecer as
responsabilidades do PT e dos governos Lula e Dilma – com sua
inflexão social-liberal e neodesenvolvimentista de caráter
capitalista, suas alianças espúrias e seus seguidos escândalos de
corrupção ativa e passiva – pela divisão e debilitamento das
correntes da esquerda socialista e do centro democrático e pela
reemergência e revigoramento das correntes conservadoras e
fascistas.
Terceiro: confundir ainda
mais os setores oposicionistas de esquerda e de centro-esquerda que
recuaram da oposição ao governo Dilma no segundo turno da eleição
presidencial, preferindo apoiar sua reeleição em vez de anular o
voto em sinal de protesto e insatisfação com as duas candidaturas
restantes – e no fundamental equivalentes.
Parece-me que se procura
atrair esses setores para uma união nacional em torno de Dilma em
defesa do regime democrático supostamente ameaçado – por quais
forças e com quais objetivos econômicos e sociais alternativos não
se indica. Por que um golpe contra o governo social-liberal e
neodesenvolvimentista da presidenta Dilma é necessário? A
conjuntura atual em muito difere da enfrentada pelo governo Goulart.
Esse procedimento
tumultuador, arrisco-me a avaliar, é antidemocrático. Embaralha o
quadro político saído das urnas, dificulta a conscientização
política dos trabalhadores assalariados e autônomos, assim como da
juventude estudantil e da intelectualidade progressista quanto às
reais alternativas em disputa.
O procedimento
democrático, parece-me, consiste em aprofundar, sem truculências
descabidas e com base em críticas fundamentadas, o debate das
divergências políticas e ideológicas entre as correntes que apoiam
o governo Dilma e as correntes de oposição a esse governo e,
nessas, entre a oposição de direita, a oposição de centro e a
oposição de esquerda, que precisa atualizar-se e reorganizar-se com
urgência.
Extraído de:
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