quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A “onda fascista”

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Escrito por Duarte Pereira
Quarta, 05 de Novembro de 2014


Tomo a liberdade de compartilhar uma preocupação. As denúncias exageradas de ameaças de golpes militares e de avanço fascista no Brasil, com base em manifestações minoritárias, postagens de internet e arreganhos de generais de pijama, têm-me parecido um alarmismo exacerbado com três propósitos.

Primeiro: desviar a atenção das concessões ainda maiores ao grande capital transnacional e nacional e aos partidos conservadores que estão sendo preparadas pelo novo governo Dilma.

Segundo: obscurecer as responsabilidades do PT e dos governos Lula e Dilma – com sua inflexão social-liberal e neodesenvolvimentista de caráter capitalista, suas alianças espúrias e seus seguidos escândalos de corrupção ativa e passiva – pela divisão e debilitamento das correntes da esquerda socialista e do centro democrático e pela reemergência e revigoramento das correntes conservadoras e fascistas.

Terceiro: confundir ainda mais os setores oposicionistas de esquerda e de centro-esquerda que recuaram da oposição ao governo Dilma no segundo turno da eleição presidencial, preferindo apoiar sua reeleição em vez de anular o voto em sinal de protesto e insatisfação com as duas candidaturas restantes – e no fundamental equivalentes.

Parece-me que se procura atrair esses setores para uma união nacional em torno de Dilma em defesa do regime democrático supostamente ameaçado – por quais forças e com quais objetivos econômicos e sociais alternativos não se indica. Por que um golpe contra o governo social-liberal e neodesenvolvimentista da presidenta Dilma é necessário? A conjuntura atual em muito difere da enfrentada pelo governo Goulart.

Esse procedimento tumultuador, arrisco-me a avaliar, é antidemocrático. Embaralha o quadro político saído das urnas, dificulta a conscientização política dos trabalhadores assalariados e autônomos, assim como da juventude estudantil e da intelectualidade progressista quanto às reais alternativas em disputa.

O procedimento democrático, parece-me, consiste em aprofundar, sem truculências descabidas e com base em críticas fundamentadas, o debate das divergências políticas e ideológicas entre as correntes que apoiam o governo Dilma e as correntes de oposição a esse governo e, nessas, entre a oposição de direita, a oposição de centro e a oposição de esquerda, que precisa atualizar-se e reorganizar-se com urgência.


Extraído de:


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