25/03/2014
Na tarde do dia 25 de
março de 2014, três estudantes e um membro da comunidade foram
detidos por policiais federais à paisana no bosque do Centro de
Filosofia e Ciências Humanas (CFH) por portar uma pequena quantidade
de maconha consigo. Perto dali, na lanchonete do CFH, outro estudante
era abordado e sua mochila revistada por outro policial à paisana,
recebendo também voz de prisão.
Um grupo de estudantes e
a vice-diretora do centro questionaram a ação dos policiais, uma
vez que vários princípios constitucionais e direitos humanos foram
violados. Houve um princípio de confusão quando os policiais se
mantiveram irredutíveis às tentativas de impedir a prisão
arbitrária dos acadêmicos. Os estudantes propuseram que o acadêmico
detido assinasse um termo circunstanciado ali mesmo e fosse liberado,
procedimento recorrente nestes casos. Os policiais à paisana
conduziram o aluno para um carro particular, mas a professora e o
grupo de estudantes impediram a saída do veículo. Os policiais
chamaram reforços da Polícia Federal e da Polícia Militar,
aumentando assim o clima de tensão que já vinha crescendo. Durante
algumas horas os mais de 300 estudantes, professores e técnicos
impediram que a viatura saísse da universidade. O batalhão de
Choque da PM mais a ação de diversos policiais federais fizeram
valer as ordens dadas anteriormente. Os policiais iniciaram a
violência com gás de pimenta, balas de borracha e bombas de efeito
moral sendo lançadas contra os manifestantes. Com muita força e
truculência, cinco pessoas foram levadas para a delegacia, deixando
a comunidade chocada e perplexa. Mas não inerte. Todos os cinco já
estão soltos mediante a assinatura de termo circunstanciado e suas
presenças conosco só aumentam nossa força.
O que nos deixa inquietos
e em busca por respostas são alguns pontos importantes:
1 - A clara violação
policial dos direitos humanos consolidados por acordos
internacionais, dos quais o Brasil é signatário, ao não se
identificarem, não informarem para onde estavam levando os
estudantes, algemá-los sem necessidade, utilizando-se de força
desproporcional, claramente abusando do seu poder de polícia.
2 – A falta de debate
com toda a comunidade acadêmica e a sociedade a respeito da política
de drogas, sendo a única ação visível sobre o assunto a constante
vigilância e criminalização.
3 - O custo exorbitante
que esta operação teve para todos nós, contribuintes. Foram
disponibilizados ao menos 20 policiais federais e uma quantidade
ainda maior de policiais militares, mais o batalhão de Choque.
Somam-se a isso duas viaturas que foram tombadas em repúdio pela
ação dos policiais e toda a grande quantidade de munição
empregada na ação repressora.
4 – Os prejuízos de
tal operação não são apenas financeiros. Dezenas de feridos,
vários deles encaminhados ao Hospital Universitário, forte
repressão aos olhos das crianças que saíam assustadas das duas
creches da UFSC naquele momento. Tudo isto explicita a face
autoritária e violenta do Estado que permanece, a poucos dias da
data em que o golpe civil-militar de 1964 completa 50 anos.
Tudo isso para prender 5
pessoas e 3 cigarros de maconha.
Ou seja, todo o debate
atual de combate às drogas e políticas públicas foi silenciado
violentamente, justamente onde se faz mais necessária a construção
de ideias e projetos transformadores - a Universidade.
Estamos ocupando a
reitoria em forma de protesto e ação contra toda a violência
ocorrida nesta universidade no dia de hoje. Exigimos a polícia fora
do campus, um novo de projeto de iluminação da universidade, o
imediato afastamento e punição aos responsáveis pela operação e
a revogação do memorando da reitoria que autoriza a PM na UFSC e
proibe as festas. Queremos também debates sobre desmilitarização
da polícia e legalização e regulamentação das drogas.
Convocamos todos para a
Assembleia Geral da UFSC, nesta quarta, 26, às 11h, na Reitoria,
para definirmos todas as pautas e o futuro do movimento!
Levante do Bosque
Extraído de:
O original encontra-se
em:
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