Diego Vitello - 03/04/2018
A
luta contra o fascismo não teve em Trotsky apenas um apaixonado
defensor de uma frente operária com a social-democracia alemã
contra a evidente massificação do nazismo de Hitler. Teve também,
um combatente permanente contra a aliança dos Partidos Comunistas
com os setores “mais democráticos” da Burguesia.
Foi
uma realidade que o partido Nacional-Socialista, com Hitler à
frente, ia se tornando uma força social a cada dia maior, surfando
na crise da sociedade alemã, que ainda colhia as desgraças do
“Crash” de 29. Manifestações de massa e um aparato ARMADO
crescente eram a marca desse movimento. Os ataques, com métodos de
Guerra Civil, contra as organizações da classe operária,
aumentavam a cada dia. Trotsky considerou que a política da
Internacional Comunista, já completamente nas mãos de Stalin,
cometia um erro brutal ao não fazer uma frente operária com a
Social-democracia para a ação contra a ascensão de Hitler.
Não
podemos esquecer que dois anos depois do triunfo de Hitler na
Alemanha, a Internacional Comunista vota a desastrosa política da
Frente Popular, que em síntese era a proposta de aliança com os
setores “mais democráticos” da burguesia contra o fascismo.
Trotsky condenou brutalmente essa política, que levou a nada menos
que a traição de Stalin a Revolução Espanhola, assim como aos
processos revolucionários que se abriram na Itália e na França no
pós-guerra. Era óbvio que nenhum setor burguês poderia ser aliado
permanente na luta contra o fascismo. Infelizmente, a orientação da
Internacional Comunista foi compor governos em comum com a burguesia,
em nome do combate ao fascismo. Sim, em tempos onde o Nazi-Fascismo
comandava a Alemanha, a Itália e crescia em todo mundo, Trotsky
condenou a política da Frente Popular.
O
que ocorre hoje no Brasil, é completamente diferente em nossa
opinião. Porém, alguns utilizam o fantasma do fascismo, para
esconder sua covardia política. Obviamente que a política concreta
não pode ser uma “guerra de citações”. Mas a luta contra o
fascismo tem uma longa história, e dela temos que tirar lições.
Hoje, felizmente não temos no Brasil um forte movimento neofascista
organizado. Não vemos marchas de milhares aplaudindo Bolsonaro.
Bolsonaro tem votos, mas isso é qualitativamente diferente de “mover
milhões” nas ruas. Há a utilização de métodos fascistas como
no caso do assassinato de Marielle. Seria uma doce ilusão achar que
numa democracia burguesa em crise não surjam coisas do tipo. Vão
existir. Sempre existiram. Lutamos com todo mundo contra elas. Assim
como saímos às ruas numa ampla unidade de ação há duas semanas.
Vale lembrar que no Governo Dilma o exército foi utilizado para
reprimir manifestações contra a Copa e invadir favelas, em tempos
onde Rafael Braga era preso por portar Pinho Sol. E NINGUÉM à época
falava em fascismo. Segundo os imbecis intelectuais do petismo,
vivíamos um “fortalecimento da democracia”, enquanto o número
de presidiários no Brasil dobrava, em Lei sancionadas por Lula.
O
PT, habilmente fala agora em onda fascista, para engolir a antiga
oposição de esquerda. Ao ver Valério Arcary como um dos oradores
do ato ontem, não me atrevo a dizer que não tiveram certo sucesso.
O PT, em nome da luta contra um fascismo que não existe no Brasil
como movimento de massas organizado e combatendo por uma estratégia,
tenta “lavar a cara” do desastre político que significaram seus
governos e ao mesmo tempo colocar embaixo do braço o principal
partido que fez oposição pela esquerda a ele durante os treze anos
em que governou o país: o PSOL. “Mata dois coelhos, com uma
tacada.”
A
saída para a esquerda passa longe de atos como o de ontem. Utilizar
Trotsky para defender atos como o de ontem é uma vergonha total, que
busca, consciente ou inconscientemente, manchar uma história. Não
precisamos de uma nova Frente Popular, sob a bênção dos
milionários agentes políticos das empreiteiras que viraram os
dirigentes do PT. A história já mostrou a quem serve esse projeto.
Aprendamos com ela, não alimentemos fantasmas que não existem, sob
a pena de condenar por no mínimo mais uma década a construção de
uma forte alternativa de esquerda com independência de classe no
país.
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