sábado, 9 de março de 2013

Algumas considerações sobre Hugo Chávez

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O falecimento do presidente da Venezuela, Hugo Chávez Frías, na última terça-feira (05/03), foi o fato político da semana, com repercussão mundial. Seu legado deve repercutir por muito tempo na política interna do seu país, onde há uma grande comoção popular, com milhares chorando nas ruas a perda do líder.

Chávez foi produto da resistência popular contra o neoliberalismo, cujo episódio mais expressivo foi o Caracazo, em 1989, quando as massas saíram às ruas contra o pacote do então presidente Carlos Andrés Perez. Para sufocar a revolta o governo enviou o exército, que reprimiu duramente o povo, tendo assassinado entre 300 (dados oficiais) e 3.500 pessoas (dados de órgãos independentes).

Em 1992, Chávez e outros militares do seu grupo político, o Movimento Bolivariano Revolucionário 200 (MBR-200), tentaram um golpe de Estado contra Perez, mas acabou fracassando. A ação, contra um governo impopular, acabou projetando Hugo Chávez politicamente, que elegeu-se presidente do país pela primeira vez em 1998.


Um governo socialista?

Algumas mudanças introduzidas pelo Governo Chávez nos seus primeiros anos de gestão, ganhou a simpatia de amplos setores da esquerda mundial, principalmente o controle sobre as reservas petrolíferas, alguns programas sociais e as mudanças constitucionais referendadas pelo povo.

Contrastando com o entreguismo descarado de outros governos da região, o venezuelano se envolveu em enfrentamentos com a direita no plano interno e o imperialismo estadunidense e seus aliados no plano externo. Em 2002, Chávez sofreu um golpe de Estado, que foi derrotado em menos de 48 horas pela mobilização popular. No mesmo ano houve uma greve patronal, também derrotada pelo povo.

Todos esses elementos, aliados ao discurso do próprio Chávez que falava em "socialismo do século XXI" levou muitos lutadores honestos e grupos políticos de esquerda a acreditar (e alguns ainda acreditam) que a Venezuela rumava para o socialismo. Porém, os limites do governo venezuelano não tardariam a aparecer e demonstrar que o real caráter da proposta bolivariana de Chávez é o velho nacionalismo burguês e não o socialismo.

O nacionalismo burguês, em geral, inicia com um relativo enfrentamento ao imperialismo pelo fato deste dominar setores importantes da economia local e com a direita tradicional e as elites locais por serem sócias minoritárias da exploração externa. Mas como o seu limite é o próprio capitalismo, retrocedem cedo ou tarde junto com as oscilações do sistema. A Líbia foi um caso clássico nesse sentido. Após um período nacionalista Kadafi vinha, nos últimos anos, aprofundando uma política de privatização e de desnacionalização da economia local, tendo privatizado 1/3 das estatais e tinha o objetivo de privatizar metade da economia nos próximos 10 anos. [1]

Na Venezuela tão logo a crise financeira capitalista eclodiu e a "revolução" bolivariana ao invés de avançar para o anti-imperialismo e o anti-capitalismo, acabou iniciando um forte declínio. O presidente Hugo Chávez, em vez de liderar uma política de combate aos especuladores, resolveu atacar os trabalhadores e chegou a dizer que em tempos de crise não se faz greve!

Nos últimos anos cresceram no país as chamadas empresas mistas, que nada mais são do que espécies de parcerias público-privadas, principalmente no setor petrolífero, onde as multinacionais estrangeiras são chamadas a lucrar com a exploração do petróleo venezuelano.

A dívida pública, que foi auditada no Equador, nunca foi questionada pelo governo bolivariano. O Mercosul, que fortalece as relações de mercado e capitalistas, foi priorizado em detrimento da Alba.

Do ponto de vista político a direita golpista de 2002 foi anistiada - e conforme demonstrou recentemente o Wikileaks já preparava outro golpe [2] - e Chávez se aproximou do governo da Colômbia, tendo inclusive entregue ao país vizinho o jornalista sueco Joaquín Pérez Becerra, considerado "terrorista" pelo governo colombiano.

Todos esses retrocessos do nacionalismo burguês bolivariano possibilitou o crescimento eleitoral da direita no país, cuja figura mais expressiva hoje é Henrique Capriles.


Lutar para avançar!

A comoção popular gerada pela morte de Chávez deverá beneficiar politicamente o candidato da situação na eleição vindoura. Por outro lado, a sanha golpista da direita e os retrocessos do nacionalismo burguês bolivariano não se encerrarão.

O aprofundamento da crise capitalista mundial e seus reflexos na Venezuela deverão levar a mais ataques por parte do governo. Há, por exemplo, uma proposta de atrelar os sindicatos ao governo.

Nesse contexto, para evitar perdas e conquistar avanços, o povo venezuelano deverá se manter vigilante e fazer o que tem feito nos últimos vinte anos: se organizar e se mobilizar. Foi assim que derrotaram os planos neoliberais, os golpes de Estado e que arrancaram conquistas do próprio Governo Chávez. Governo nacionalista burguês que negou o marxismo e o comunismo, como podemos constatar nos vídeos abaixo: 


http://www.youtube.com/watch?v=oKRifz3O5nE


http://www.youtube.com/watch?v=2bIl4Uii5GI 



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[1] Um manifesto em defesa do governo (18/11/2012):
http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2012/11/um-manifesto-em-defesa-do-governo.html

[2] Wikileaks mostra ação dos EUA na Venezuela (24/02/2013):
http://www.brasil247.com/pt/247/mundo/94464/


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