domingo, 27 de março de 2011

As rebeliões nas obras do PAC

.

A vida real concreta do povo brasileiro parece bem distinta daquela alardeada na campanha eleitoral. Quem não lembra da candidata Dilma Rousseff com capacete de operário exaltando as maravilhas das obras do PAC?

O tal "Plano de Aceleração do Crescimento (PAC)" privatiza serviços públicos e entrega vultuosos recursos do BNDES para grandes empresas - estrangeiras inclusive - lucrar com o suor e sangue dos contribuintes e trabalhadores brasileiros. Seria mais adequado chamar de "Plano de Aceleração do Capital" esse plano mesquinho de dupla exploração, pois é exatamente isso que ele é.


A Usina Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, de onde partiu o primeiro grito de desespero dos trabalhadores é controlada por uma empresa francesa, a GDF Suez, que possui 50% das ações da ESBR (Energia Sustentável do Brasil), consórcio que administra a construção da Usina. A Camargo Corrêa, com menos de 10% das ações, também integra o consórcio. Em 2009, o BNDES aprovou um financiamento de R$ 7,2 bilhões para Jirau e, em 2008, R$ 6,1 bilhões para Santo Antônio.[1] Um vergonhoso ato de entreguismo!

A rebelião dos trabalhadores de Jirau tinha como pano de fundo as condições degradantes de trabalho, alojamento e alimentação, descalabros que já vinham ocorrendo há um bom tempo.[2]


Dois dias depois a resposta do Governo Dilma acompanhou as reivindicações, mas não as dos trabalhadores, mas as do consórcio que chamou de vandalismo o ato dos mesmos:
"Governo envia Força Nacional para conter violência em usina de Jirau
(...)
O Ministério da Justiça, em nota, confirmou o envio das tropas, mas não especificou a quantidade do efetivo deslocado por considerar a informação estratégica e de segurança nacional. O documento ainda informa que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, aceitou o pedido feito pelo governador de Rondônia, Confúcio Moura."
[3]

Não bastasse isso o governo ainda assegurou que, mesmo com os descalabros, manterá o entreguismo do dinheiro público do BNDES ao consórcio. [idem 1]

Não há como não lembrar enojado dos governistas apelando aos setores de esquerda, na eleição, por um voto "contra a repressão aos movimentos sociais" e "contra o entreguismo e as privatizações" de Serra.

Poucos dias depois foi a vez de trabalhadores de outras duas obras do entreguista e privatista PAC, soltarem o seu grito de desespero com demandas similares às dos trabalhadores de Jirau. Foi na Usina Termelétrica de Pecém, no Ceará, e na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. [4] Em 2009, o BNDES, aprovou um aporte de R$ 1,4 bilhão para a Pecém. [5]

Além dos largamente denunciados impactos sociais e ambientais de algumas dessas obras do PAC detecta-se agora condições de trabalho análogas as de séculos passados. Apesar disso a governista CUT ao invés de exigir do seu governo o cancelamento do entreguismo, a punição das empresas e o respeito aos direitos dos trabalhadores, está buscando um "pacto" junto com àqueles que trataram os trabalhadores de forma desumana e sugam os recursos dos contribuintes brasileiros.[6]

A CUT busca com essa manobra ocultar e dissimular a culpa dos principais responsáveis por esta situação: o Governo Dilma (que eles apóiam), os governos estaduais e os consórcios (que financiaram a campanha de Dilma).


______________________________________________

[1] BNDES manterá financiamento para Jirau e Santo Antônio (21/03/2011):
http://economia.estadao.com.br/noticias/economia+brasil,bndes-mantera-financiamento-para-jirau-e-santo-antonio,59328,0.htm

[2] O efeito dominó da revolta em Jirau (23/03/2011):
http://blogdosakamoto.uol.com.br/2011/03/23/o-efeito-domino-da-revolta-em-jirau/

[3] Governo envia Força Nacional para conter violência em usina de Jirau (17/03/2011):
http://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/03/governo-envia-forca-nacional-para-conter-violencia-em-usina-de-jirau.html

[4] Além de Jirau, revolta de operários afeta outras duas grandes obras do PAC (22/03/2011):
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/03/22/alem-de-jirau-revolta-de-operarios-afeta-outras-duas-grandes-obras-do-pac.jhtm

[5] Termelétrica do Pecém vai receber R$ 1,4 bi do BNDES (22/05/2009):
http://www.cearaportos.ce.gov.br/index.php/informacoes/listanoticias/14-lista-de-noticias/305-termeletrica-do-pecem-vai-receber-r-14-bi-do-bndes-

[6] Rebelião em Jirau provoca proposta de pacto entre CUT, governo e empregadores para obras do PAC (24/03/2011):
http://www.rondonoticias.com.br/?noticia,92391,rebelio-em-jirau-provoca-proposta-de-pacto-entre-cut-governo-e-empregadores-para-obras-do-pac-
.