Por
Adolfo Santos (Coordenação Nacional da CST/PSOL) - dez 20, 2017
Em
editoriais e artigo assinado pelo dirigente Valério Arcary, o MAIS,
Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista, afirma que
devemos lutar para Lula ser candidato em 2018, já que uma possível
inabilitação por condenação por atos de corrupção significaria
um ataque aos direitos democráticos.
Vivemos
num tempo onde a multiplicação dos atos de corrupção faz
impossível ocultar o imenso mar de lama. O antigo papel de “fiscal
da ética”, representado pelo PT, esfumou-se com a chegada de Lula
à Presidência. Ao invés de restaurar a ética, preferiram se
locupletar. Daí que a justiça burguesa, a justiça dos ricos, numa
atitude que não lhe é natural, tenha-se visto obrigada a processar
notórios personagens de diferentes partidos e de grandes empresas,
para responder a um clamor popular.
Nesse
cenário, o da corrupção, e não da cassação de direitos por
ações políticas, se debate a possível candidatura de Lula. Alguns
políticos, como Sergio Cabral e Eduardo Cunha (PMDB), Eduardo
Azeredo (PSDB), Pedro Correa (PP), João Paulo Cunha, Antônio
Palocci, José Dirceu (PT), já estão inabilitados para participar
do pleito eleitoral. Deveríamos fazer uma campanha para exigir a
liberdade ou o arquivamento dos processos contra esses políticos
para que possam se apresentar nas próximas eleições?
Lula
é farinha do mesmo saco
Diferenciar
Lula, caso fosse condenado, destes ou de outros políticos e
empresários corruptos é no mínimo gerar uma grande confusão. É o
que faz o MAIS. No seu editorial de 13 de dezembro escrevem: “excluir
Lula das eleições é um grave ataque às liberdades democráticas”,
“é urgente a mais ampla unidade de ação em defesa das garantias
democráticas e do direito de Lula ser candidato […] que lidera
todas as pesquisas de intenção de voto”. Não se trata de
encabeçar circunstancialmente as pesquisas de intenção de votos,
pois isso não lhe outorga mais direitos.
Mas
o MAIS insiste na tese do golpe e da conspiração burguesa para
tirar Lula do páreo. “A classe dominante não deu o golpe para
dois anos depois o PT e Lula voltarem ao poder com outro governo de
colaboração de classes. A burguesia quer um governo burguês ‘puro
sangue’ que dê continuidade ao programa de extermínio dos
direitos sociais”. Os companheiros do MAIS se esquecem que o
próprio Lula repetiu mil vezes: “nunca antes na história os
banqueiros lucraram tanto” ou “nunca antes se fez um ajuste tão
grande como no início de meu governo”. A burguesia e o
imperialismo podem até desejar governos “puro sangue”, mas sabem
que o melhor serviço, para eles, foi prestado por Lula, queridinho
não só dos grandes empresários e banqueiros, mas dos próprios
Bush e Obama.
Claro
que a justiça não é neutra, mas daí a desistir de lutar por
justiça há um longo caminho. As possíveis condenações contra
Lula não significam simplesmente a criminalização da direção do
PT. É uma das tantas respostas que a justiça burguesa se viu
obrigada a adotar pela pressão das massas que não suportam mais
corrupção. Nossa pressão não pode ser para livrar a cara de Lula,
mais para efetivar as condenações dos políticos corruptos que se
apoderaram do estado para usá-lo em seu benefício, Lula entre eles,
à custa do sofrimento e das necessidades do povo trabalhador.
Nesse
lamaçal, Antônio Palocci não é o Judas da direção do PT que
enfiou uma faca pelas costas de Lula, como tenta nos inculcar Arcary.
Palocci é o resultado final da política da direção do PT. Não
há princípios éticos nem moralidade a ser defendida, a não ser
compadrios, relações espúrias e compromissos pessoais.
Uma
análise à medida para justificar uma política equivocada
Diferente
das análises do MAIS e de Valério Arcary, 2017 não “foi um ano
horribilis” (sic). Essa definição conduz a políticas
equivocadas. Definir 2017 como “um ano que não deixará saudades”
porque passaram projetos do governo contra os trabalhadores é
equivocado. Tivemos um primeiro semestre recheado de grandes
mobilizações, coroado com a maior greve geral da história do
Brasil; o ano está acabando com greves e mobilizações que
dificultam ao governo a aplicação de seu plano de ajuste. Insistir
nas debilidades do movimento e na força do inimigo pode servir
apenas para justificar suas políticas recuadas, de unidade com o
campo petista, mas desarmam o movimento.
O
ano de 2017 demonstrou-se um grande ano. O ano da greve geral; o ano
em que impedimos a votação da reforma da previdência; o ano em
que, se não avançamos mais para cima deles, foi pela traição das
direções majoritárias do movimento. Vamos rumo a 2018 com vigor, a
construir frentes únicas para potencializar a ação comum, como
propõem os companheiros do MAIS, mas não para salvar a cara de
Lula. Sim para derrotar as políticas de ajuste do ilegítimo governo
Temer, para continuar indignados contra esta Justiça dos ricos e
exigir o castigo e expropriação de bens dos corruptos, a liberdade
definitiva de Rafael Braga e o fim do genocídio de jovens negros das
periferias. O ano de 2017 nos deixa muitas lições, mas
fundamentalmente uma tarefa: construir urgentemente uma nova direção
sobre os escombros do lulopetismo.
Extraído
de:
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