Entre
o final dos anos 90 e o início dos anos 2.000 a América Latina
viveu uma “onda progressista” que teve como base as lutas
populares contra as medidas neoliberais implementadas por vários
governos na região. Greves, protestos e até insurreições varreram
o continente chacoalhando regimes e derrubando governos. Partidos e
figuras políticas se fizeram presentes e, em alguns casos, lideraram
os protestos. Muitos deles se elegeram e, devido a pressão das
massas, recuaram em ataques e atenderam algumas demandas populares.
Seus
limites se tornaram evidentes para o grande público quando estourou
a crise econômica e eles passaram a aplicar medidas de ajustes para
seguir administrando o capital, embora chegassem a discursar contra o
capitalismo. Com isso entraram em declínio e tornaram-se tão
impopulares quanto os governos que combateram no passado. E como a
maior parte dos movimentos sociais que puxaram os protestos lá atrás
foram cooptados e a esquerda majoritária optou por atuar na órbita
destes governos obviamente que só havia sobrado a direita para
canalizar a insatisfação. Este aparente “giro à direita” das
massas tem sido chamado por alguns de “onda conservadora”.
Só
que há um grande porém nessa tal “onda conservadora”: as
massas, supostamente tragadas pelo conservadorismo, não só não dão
sustentação para os governos da direita como rejeitam suas medidas
de ajustes fiscais o que os têm tornado impopulares muito
rapidamente. Que o diga o ex-presidente chileno, Sebastian Piñera e
o atual presidente da Argentina, Maurício Macri.
É
uma situação bem distinta da “onda progressista” passada onde
havia uma sustentação dos tais governos pelas massas que apoiavam
as suas medidas. Não foi por acaso que em 2002 os venezuelanos foram
para as ruas e derrotaram o golpe de Estado.
Será
que com essa comparação mais do que adequada e necessária
finalmente ficou compreensível o que é uma “onda”, onde ela
existiu de fato e onde não há “onda” alguma?
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