sexta-feira, 5 de março de 2010

A liberdade na mídia privada é a que o patrão permite

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Quem confirma o título desse post é Paulo Uebel, conhecidíssimo e festejado nos círculos liberais brasileiros e ferrenho defensor da mídia "livre" dos proprietários privados.

Abaixo segue o artigo na íntegra. Em negrito alguns pontos que comentarei na sequência:


Liberdade de escolha
Paulo Uebel ("O Dia", 02/03/2010)

Muitas pessoas confundem liberdade de expressão com garantia de divulgação. Ou seja, entendem que, para que exista, de fato, liberdade de expressão, suas ideias, preferências e credos devem ser propagados por todos os meios, inclusive os que são de propriedade privada. Se não forem largamente difundidos, na opinião dessas pessoas, haverá censura e, portanto, não estaremos respeitando a liberdade de expressão que deve vigorar em países democráticos.

Ocorre que esse entendimento não é viável nem desejável. Dois conceitos devem ser esclarecidos. Em primeiro lugar, a liberdade de expressão não garante que todas ideias, todas as preferências e todos os credos estejam presentes em todos os jornais, rádios, emissoras de televisão, livros e músicas.

Cada proprietário de veículo de comunicação, de editora ou de gravadora deve ter liberdade para escolher os conteúdos que estejam mais bem alinhados com os seus propósitos, desde que, evidentemente, sejam respeitadas as leis locais.

Em segundo lugar, ocorre censura quando o Estado, para impedir ou controlar a liberdade de expressão, criminaliza certas ações, impõe certas restrições ou inicia perseguições contra pessoas, associações ou empresas que estejam criticando o governo.

É evidente que não ocorre censura quando um editor não publica um artigo ou não faz uma matéria porque, na opinião dele, o conteúdo não está adequado a linha editorial do jornal. Se o entendimento de que tudo deve ser publicado e de que todos os pontos de vista devem ser incluídos prevalecesse, não estaríamos diante de um ambiente com liberdade de expressão, mas de um ambiente com obrigação de expressão, o que é completamente diferente.

http://www.imil.org.br/artigos/liberdade-de-escolha/
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Comentário:

O artigo de Paulo Uebel é interessante na medida em que confirma muito do que têm dito há tempos os críticos do modelo de mídia privada. Mais uma vez, tergiversações e relativizações à parte de setores mais vacilantes, é o outro lado quem confirma o que alguns do "lado de cá" chegaram a negar.

Segundo ele, quem define o que será publicado pelos veículos de comunicação é o dono do mesmo tendo em vista "os seus propósitos". Nada de novidade nisso! Porém, estamos lidando com ferramentas de interesse público por influenciar no modo de pensar e de agir de milhões de pessoas, que não podem, ou não deveriam, ficar à mercê dos "propósitos" e dos interesses particulares de meia dúzia de indivíduos.

Durante o golpe de Estado na Venezuela em 2002, por exemplo, a mídia privada, defendendo os seus "propósitos" manipulou imagens na tentativa de ganhar a opinião pública para o seu intento golpista.

Uebel troveja contra uma suposta "obrigação de expressão" que seria advinda da defesa da expressão de todos os pontos de vista. No entanto defende a "obrigação de expressão" que meia dúzia de particulares impõem a milhões de pessoas, criando uma visão de mundo que atende aos seus "propósitos" e não à qualidade da informação e compromisso com a verdade, que acabam ficando ainda mais comprometidos quando "não é viável nem desejável" que seja ouvido os setores sociais e posições divergentes.
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