O
economista liberal Eugen von Böhm-Bawerk (1851-1914) foi um dos
grandes nomes da Escola Austríaca. Ele tentou, sem sucesso é claro,
refutar a teoria do valor e da mais valia de Karl Marx. Mas alguns,
principalmente na atualidade, ainda dão crédito para as
“refutações” de Bawerk. Vou pegar apenas um dos pontos e
contrastar com a realidade para mostrar a fragilidade de sua
“refutação” da mais valia.
Um
dos argumentos de Bawerk contra a mais valia era a de que os
empresários adiantavam o salário para os trabalhadores e que isso
por si só já tornaria a mais valia insustentável. Adam Smith, um
século antes, já havia mostrado a inconsistência de tal afirmação:
"[...]
o trabalho de um manufator geralmente acrescenta algo ao valor dos
materiais com que trabalha: o de sua própria manutenção e o do
lucro de seu patrão. [...] Embora o manufator tenha seus
salários adiantados pelo seu patrão, na realidade ele não custa
nenhuma despesa ao patrão, já que o valor dos salários geralmente
é reposto juntamente com um lucro, na forma de um maior valor do
objeto no qual seu trabalho é aplicado." (Adam Smith. A
Riqueza das Nações, Vol. 1, CAP. III - A Acumulação de Capital,
ou o Trabalho Produtivo e o Improdutivo)
Mas
para quem ainda quiser manter de pé esse argumento de Bawerk terá
agora o desafio de contrastá-lo com um fato da realidade recente: há
poucos dias o governo da Hungria aprovou no parlamento uma alteração
na legislação trabalhista que amplia de 250 para 400 as horas
extras anuais de trabalho e permite que as empresas paguem tais horas
adicionais em até 3 anos! Isso se realmente pagarem!
De
qualquer forma temos que no melhor cenário pagarão não adiantado
como sugeria Bawerk mas atrasado – e com um tempo posterior
bastante significativo. Como se pode perceber usando os critérios do
austríaco teríamos que admitir a existência de mais valia nesse
caso.
.