quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Bawerk, Hungria e mais valia

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O economista liberal Eugen von Böhm-Bawerk (1851-1914) foi um dos grandes nomes da Escola Austríaca. Ele tentou, sem sucesso é claro, refutar a teoria do valor e da mais valia de Karl Marx. Mas alguns, principalmente na atualidade, ainda dão crédito para as “refutações” de Bawerk. Vou pegar apenas um dos pontos e contrastar com a realidade para mostrar a fragilidade de sua “refutação” da mais valia.

Um dos argumentos de Bawerk contra a mais valia era a de que os empresários adiantavam o salário para os trabalhadores e que isso por si só já tornaria a mais valia insustentável. Adam Smith, um século antes, já havia mostrado a inconsistência de tal afirmação:

"[...] o trabalho de um manufator geralmente acrescenta algo ao valor dos materiais com que trabalha: o de sua própria manutenção e o do lucro de seu patrão. [...] Embora o manufator tenha seus salários adiantados pelo seu patrão, na realidade ele não custa nenhuma despesa ao patrão, já que o valor dos salários geralmente é reposto juntamente com um lucro, na forma de um maior valor do objeto no qual seu trabalho é aplicado." (Adam Smith. A Riqueza das Nações, Vol. 1, CAP. III - A Acumulação de Capital, ou o Trabalho Produtivo e o Improdutivo)

Mas para quem ainda quiser manter de pé esse argumento de Bawerk terá agora o desafio de contrastá-lo com um fato da realidade recente: há poucos dias o governo da Hungria aprovou no parlamento uma alteração na legislação trabalhista que amplia de 250 para 400 as horas extras anuais de trabalho e permite que as empresas paguem tais horas adicionais em até 3 anos! Isso se realmente pagarem!

De qualquer forma temos que no melhor cenário pagarão não adiantado como sugeria Bawerk mas atrasado – e com um tempo posterior bastante significativo. Como se pode perceber usando os critérios do austríaco teríamos que admitir a existência de mais valia nesse caso.



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