Trechos de um artigo de Leon Trotsky de novembro de 1911. Muito apropriado para o momento.
"Uma
greve, inclusive uma modesta, tem conseqüências sociais:
fortalecimento da auto-confiança dos operários, crescimento do
sindicato, e, com não pouca freqüência, uma melhora na tecnologia
produtiva. O assassinato do dono da fábrica provoca apenas efeitos
policiais, ou uma troca de proprietário desprovida de toda
significação social.
Para
que um atentado terrorista, mesmo um que obtenha "êxito",
crie confusão na classe dominante, depende da situação política
concreta. Seja como for, a confusão terá vida curta; o estado
capitalista não se baseia em ministros de estado e não é eliminado
com o desaparecimento deles. As classes a que servem sempre
encontrarão pessoas para substituí-los; o mecanismo permanece
intacto e em funcionamento.
Todavia,
a desordem que produz um atentado terrorista nas filas da classe
operária é muito mais profunda. Se para alcançar os objetivos
basta armar-se com uma pistola, para que serve esforçar-se na luta
de classes? Se um pouco de pólvora e um pedaço de chumbo bastam
para perfurar a cabeça de um inimigo, que necessidade há de
organizar a classe? Se tem sentido aterrorizar os altos funcionários
com o ruído das explosões, que necessidade há de um partido? Para
que fazer passeatas, agitação de massas, eleições, se é tão
fácil alvejar um ministro desde a galeria do parlamento?
Para
nós o terror individual é inadmissível precisamente porque
apequena o papel das massas em sua própria consciência, as faz
aceitar sua impotência e volta seus olhos e esperanças para o
grande vingador e libertador que algum dia virá cumprir sua missão.
Os
profetas anarquistas da "propaganda pelos fatos" podem
falar até pelos cotovelos sobre a influência estimulante que
exercem os atos terroristas sobre as massas. As considerações
teóricas e a experiência política demonstram o contrário. Quanto
mais "efetivos" forem os atos terroristas, quanto maior for
seu impacto, quanto mais se concentra a atenção das massas sobre
eles, mais se reduz o interesse das massas por eles , mais se reduz o
interesse das massas em organizar-se e educar-se.
Porém
a fumaça da explosão se dissipa, o pânico desaparece, um sucessor
ocupa o lugar do ministro assassinado, a vida volta à sua velha
rotina, a roda da exploração capitalista gira como antes: só a
repressão policial se torna mais selvagem e aberta. O resultado é
que o lugar das esperanças renovadas e da excitação
artificialmente provocada vem a ser ocupado pela desilusão e a
apatia.
(…)
Antes
de elevar-se à categoria de método para a luta política, o
terrorismo faz sua aparição sob a forma de ato individual de
vingança. Assim foi na Rússia, pátria do terrorismo. O açoitamento
dos presos políticos levaram Vera Zasulich a expressar o sentimento
de indignação geral com um atentado contra o general Trepov. Seu
exemplo repercutiu entre a intelectualidade revolucionária,
desprovidas do apoio das massas. O que começou como um ato de
vingança perpetrado em forma inconsciente foi elevado a todo um
sistema em 1879-1881. As ondas de atentados anarquistas na Europa
Ocidental e América do Norte sempre se produzem depois de alguma
atrocidade cometida pelo governo: fuzilamentos de grevistas ou
execuções de opositores políticos. A fonte psicológica mais
importante do terrorismo é sempre o sentimento de vingança que
busca uma válvula de escape.
(…)
Nos
opomos aos atentados terroristas porque a vingança individual não
nos satisfaz. A conta que nos deve pagar o sistema capitalista é
demasiado elevada para ser apresentada a um funcionário chamado
ministro. Aprender a considerar os crimes contra a humanidade, todas
as humilhações a que se vêem submetidos o corpo e o espírito
humanos como excrescências e expressões do sistema social
imperante, para empenhar todas nossas energias em uma luta coletiva
contra este sistema: essa é a causa na qual o ardente desejo de
vingança pode encontrar sua maior satisfação moral."
Ler na íntegra em:
https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1911/11/terrorismo.htm
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