Rosi
Messias (CST-PSOL) - Secretária Geral do PSOL-RJ
JUN
28, 2017
Desde
o mês de março têm ocorrido importantes calendários unitários de
lutas e greves, que culminaram com a greve geral do dia 28 de abril e
a Marcha dos 100 mil à Brasília no dia 24 de maio. No entanto essa
unidade, muito progressiva, foi rompida com o lançamento da Frente
Ampla em Defesa das Diretas, no mesmo dia em que foi convocada a data
da segunda greve geral. A Frente é impulsionada pelo PT, PCdoB, PDT
e PSB (este último era da base de sustentação do governo Temer) e
REDE (partido financiado pelo Banco Itaú). Integram-na também
diversos movimentos sociais que compõem as Frentes Brasil Popular e
Povo Sem Medo, importantes correntes do PSOL, o MTST e organizações
como o MAIS. Essa Frente se sustenta principalmente na construção
de atos shows com Caetano Veloso, Milton Nascimento, entre outros
artistas. realizados aos domingos, que reúnem milhares de pessoas,
em especial na hora em que os famosos artistas se apresentam.
“Diretas
já” é a politica do PT para impedir uma saída classista
Avaliamos
que a campanha das Diretas é uma política consciente do PT e de
setores da burguesia para atrair a esquerda e impedir que surja um
polo alternativo contra o PT, PSDB e PMDB. Esta política serve para
dividir o movimento de massas, busca diluir a classe trabalhadora
como classe social e impedir o desenvolvimento do ascenso pela via da
ação direta do movimento de massas. E ainda busca uma cortina de
fumaça para que Lula e o PT continuem buscando um “acordão”
para salvar o regime politico em crise. Esse podre regime do sistema
financeiro e das empreiteiras, onde a corrupção e a aplicação dos
ajustes neoliberais têm sido a marca desde Sarney, Collor, Itamar,
passando por FHC, até a frente popular de Lula e Dilma, reforçado
agora com Temer.
O
movimento pelas Diretas busca blindar Lula pela esquerda, para que o
mesmo volte em 2018 como “salvador da pátria”, depois de seu
partido, o PT, ter governado o país durante 13 anos para o grande
capital. Isso explica porque as Frentes não convocaram nenhum ato
pelo Fora Temer no dia do julgamento do TSE, bem como as tentativas
das centrais sindicais de desmontar a greve geral. Desta forma,
setores da própria burguesia podem utilizar a pauta das Diretas para
tentar descomprimir o movimento de massas, canalizando a insatisfação
popular para o voto. Um exemplo disso é a Folha de São Paulo que em
seu editorial voltou a defender as Diretas, bem como a CCJ do Senado
junto a partidos e dirigentes burgueses como REDE, PDT e PSB, Roberto
Requião, Ronaldo Caiado e FHC. Pelo mesmo motivo, a juventude tucana
na UNE se somou à campanha do PT e do PCdoB pelas Diretas!
Não
estamos na mesma conjuntura de 1984
Somos
terminantemente contrários a uma eleição indireta porque é
inadmissível que o Congresso Nacional – um covil de bandidos –
eleja o novo presidente da República. Nesse ponto temos um
importante acordo. Porém, avaliamos ser um erro ter como política
mobilizar pela consigna das eleições diretas. Em nossa visão, há
um erro de análise e caracterização das correntes de esquerda ao
comparar a conjuntura de 2017 com a queda da ditadura militar no
Brasil.
No
final dos anos 70 e início dos anos 80, o país viveu um forte
ascenso oxigenado pela crise econômica e sob um governo militar
desde 1964. Esse regime atuava com métodos altamente repressivos
contra a classe trabalhadora, instalou o AI5, dissolveu o Congresso
Nacional, colocou partidos na ilegalidade e suprimiu diversas
liberdades civis. Frente a esse regime repressor, estavam colocadas
para o movimento de massas tarefas democráticas para mudar o regime
e obter direitos civis como votar para presidente.
A
conjuntura de 2017 é completamente diferente: também há um ascenso
das lutas acompanhado por um processo de ruptura com o PT; o
impeachment da Dilma não significou nenhuma mudança do regime
político, ou seja, não saímos de um regime democrático burguês
para um regime totalitário, como em 1964. Com o impeachment da Dilma
tivemos uma mudança de governo e não do regime, ainda que o governo
Temer tente aprofundar o ajuste fiscal iniciado pelo próprio PT.
Importante
debate com companheiras e companheiros do MAIS
Vimos
com muita preocupação que correntes que reivindicam a tradição
morenista estão entre as mais entusiastas da política de “Diretas
já”. Neste sentido gostaríamos de abrir um debate com
companheiras e companheiros do MAIS. Em nossa opinião esta
organização parte de uma caracterização equivocada, de que o
governo Dilma sofreu um golpe, que há uma “onda conservadora” em
avanço, e que as lutas não têm sido suficientes para gestar
alternativas independentes.
Dessa
forma, buscam o caminho de fazer frentes com setores burgueses, para
derrotar um inimigo pior e comum – que seria uma direita
fascistoide – e para isso se utilizam de um eixo democrático.
Assim, os companheiros se limitam a propor políticas “possíveis”,
devido a uma suposta situação desfavorável “correlação de
forças”. Insistem na tese de que as “Diretas não se contrapõem
à greve geral”, mas abstraem de que no manifesto de lançamento da
Frente não há uma palavra em defesa da greve geral. Somente no
cronograma, entre dezenas de tarefas aparece perdida a greve geral de
30/06.
Nenhuma
eleição burguesa vai barrar as reformas neoliberais, pois é
estratégico para a burguesia recuperar sua taxa de lucro. Em uma
eleição sob as atuais regras eleitorais algum candidato da ordem
vai vencer, depois de enganar o povo, para em seguida voltar a
aplicar as reformas neoliberais, seja PMDB, PSDB ou, REDE, PDT, PSB
ou PT/PCdoB. E isso explica o completo ceticismo da população com
as eleições burguesas, representado em índices altos de abstenção,
votos brancos, nulos e votos-castigo.
O
maior perigo que sofremos hoje não são as politicas
“ultraesquerdistas”, mas as politicas oportunistas do PT, de Lula
e das maiores centrais sindicais burocráticas, como a CUT e CTB, que
estão desesperados por costurar um acordão para salvar o governo
Temer (PMDB/PSDB) e por isso procuram desmontar a greve geral. É um
erro colocar em pé de igualdade o ultraesquerdismo e o oportunismo,
diluindo completamente a responsabilidade e a política nefasta das
direções burocráticas.
A
Frente pelas Diretas é uma reinvenção da Frente Popular!
A
Frente Popular busca se reciclar e para isso inventa teses, “novas”
teorias e atua sobre as correntes de esquerda para impedir que surjam
novas direções combativas. Não basta defender a Frente de Esquerda
Socialista como item de propaganda e ser parte ativa da Frente Povo
Sem Medo e da Frente pelas Diretas. Essa Frente nada mais é que a
reinvenção da Frente Popular, para que Lula volte a governar esse
país, respaldado pelas organizações de esquerda. Exemplo disso é
a reunião realizada em 18/06. de forma secreta, por Tarso Genro
(PT), Lindbergh Farias (PT), Guilherme Boulos (MTST), Ivan Valente
(PSOL) e Marcelo Freixo (PSOL) para discutir uma estratégia comum
para a esquerda.
Em
nossa tradição, é importante recordar que os partidos
revolucionários só fazem Frentes com direções operarias
burocráticas ou socialdemocratas. O Problema é que os companheiros
do MAIS são parte de uma frente com partidos burgueses, elevando a
unidade quase a um princípio quando fica claro que a burocracia e as
direções burguesas e reformistas a utilizam como uma armadilha
mortal para levar a luta operária para o campo da conciliação de
classes. Essa frente é programática e em seu manifesto reza:
“somente a eleição direta, portanto a soberania popular é capaz
de restabelecer a legitimidade do sistema político”. De maneira
alguma defendemos que as eleição burguesas são uma expressão da
soberania popular, pois se trata de uma armadilha para legitimar o
regime democrático burguês, que está em estado de decomposição.
Para
os revolucionários, ao contrário dos reformistas – que se
utilizam da necessidade de unidade dos trabalhadores para diluir as
fronteiras de classe e salvar o regime – a unidade de ação e as
frentes sempre exigem delimitação de classe (trabalhadores x
burguesia). Portanto, a tática de unidade de ação ou de frentes é
desde o início e em todo momento de unidade e de confronto, de
ruptura.
A
esquerda tem que abandonar a Frente com setores burgueses e construir
de fato uma Frente de Esquerda!
É
verdade que o impeachment interrompeu relativamente o ciclo de
experiência com a velha direção lulista e petista e que
conjunturalmente essas direções se fortalecem. Mas não podemos ser
impressionistas. O PT é o partido que traiu a nossa classe e que vem
perdendo votos e apoio entre os trabalhadores/as e foi um dos
partidos mais repudiados na jornada de junho de 2013. E mesmo que
Lula volte à presidência da República, diante de uma falta de
alternativa eleitoral da esquerda, não voltará a ser direção
política da classe e nem mesmo, pela crise econômica, terá
condições de repartir “migalhas” para o povo, como fez em 2003.
Por
fim, há ainda outro problema com a pauta das “Diretas já”, pois
ela não ajuda a fortalecer e unificar a luta. Exemplo disso foi a
plenária esvaziada das Diretas que ocorreu no Rio de Janeiro. A
Frente pelas Diretas veio para dividir a luta unitária contra as
Reformas e pelo Fora Temer, que é o que vem unificando o conjunto da
classe trabalhadora, setores populares e a juventude massivamente. O
eixo para derrotar Temer e as Reformas neoliberais em curso é manter
essa unidade nas ruas.
Por
isso é fundamental que os companheiros/as da esquerda, como as
correntes do PSOL, o MTST e o MAIS abandonem a Frente Ampla com
setores burgueses e junto com PSTU, PCB, CSP-CONLUTAS construam uma
alternativa classista, sem os Lulistas, que lutem pela manutenção
da greve geral, construindo um programa econômico alternativo, para
sair da crise, na perspectiva de um governo da esquerda, dos
trabalhadores e do povo.
Extraído de:
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