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Com o fracasso dos atos do dia 12 de setembro convocados por MBL, Vem Pra Rua e demais setores da direita “arrependida” foi criada uma narrativa com o eixo central na “unidade” para tentar constranger a esquerda e a frente popular.
O pedido de “unidade” normalmente é antecedido da responsabilização da esquerda e da frente popular pelas ruas esvaziadas. O fato do ato da direita ter sido convocado com meses de antecedência, evidenciando a incompetência dos seus organizadores, não é mencionado. O caráter eleitoreiro é ocultado. E o exclusivismo com o qual o ato foi convocado só é lembrado para tentar criar uma aura de sensatez nos organizadores que, “cientes” da necessidade da “unidade”, mudaram aos 45 do segundo tempo o mote “Nem Bolsonaro, Nem Lula”, que sequer foi respeitado - quando na verdade perceberam o tamanho do fiasco que ocorreria.
Analogias históricas incongruentes, como as “Diretas Já” e os Aliados na Segunda Guerra Mundial, completam a narrativa. Curiosamente, mas não acidentalmente, a experiência histórica mais próxima da frente ampla que falam em editar não é mencionada: a “teoria dos campos” (progressistas x reacionários) que nos anos 30 reuniu comunistas, socialistas e liberais em frentes políticas amplas para enfrentar o fascismo e que fracassou em todas as tentativas.
O Fora Bolsonaro não é vazio de conteúdo. Os atos da esquerda e da frente popular têm tido mais público porque boa parte das pessoas que participam deles anseiam derrubar o plano de ajustes neoliberal junto com Bolsonaro. A direita “arrependida” quer tirar Bolsonaro para aplicar o ajuste sem ruídos e junto com a grande mídia tenta emplacar a ideia de que o ajuste é bom mas que não está funcionando pela falta de etiqueta do miliciano. Deixar de lado as diferenças, que não são de ideias mas de interesses antagônicos de classes, em pró de uma “unidade” que esvazie o conteúdo do Fora Bolsonaro só serve aqueles que querem salvar a causa real do desgaste de Bolsonaro: o plano econômico neoliberal. Em suma, só serve à direita – ela sabe disso e por isso prega unidades em torno de pautas vazias de conteúdo como também faz com a defesa abstrata da democracia.
Os atos mostraram que não precisamos do MBL e similares e que é preciso aproveitar o seu enfraquecimento social para jogá-los na lata do lixo da história e tacar fogo na lixeira. Votam de 80% a 90% das vezes nos projetos do governo porque são tão reacionários quanto Bolsonaro. Tendo em vista a queda da popularidade dele buscam descolar-se do mesmo para tentar sobreviver eleitoralmente.
Nos últimos dias após a “solução Temer” o próprio STF parece ter firmado um acordão com Bolsonaro para salvar Flávio [1] e a Globo lançou um editorial [2] sugerindo que, se mostrar na ONU o seu lado “Jair Peace and Love” (tsc!), estaria disposta a dar mais uma chance ao miliciano.
Todos esses fatos deixam claro que a unidade necessária para derrotar Bolsonaro é com todos os extratos do proletariado jogando peso na luta direta com atos menos espaçados e greve geral. Não foi em frente ampla com a direita, nem com acordos com a institucionalidade burguesa e tampouco com acordos entre burocratas partidários que os chilenos derrubaram a constituição de Pinochet, que os colombianos derrotaram os planos privatistas de Iván Duque, que os guatemaltecos reverteram os cortes na saúde e educação - apenas para citar alguns exemplos recentes.
Será com os métodos de luta da nossa classe que derrubaremos Bolsonaro e que saíremos da terra arrasada neoliberal. Combater o miliciano e o ajuste são parte da mesma luta. Equivocam-se os que criam um etapismo (primeiro tiramos Bolsonaro e depois enfrentamos o ajuste). Nossa classe tem mostrado disposição de luta. É preciso unificá-la, valorizá-la e aproveitá-la. Mais rua, menos institucionalidade. Mais luta, menos acordo de cúpula. Mais 2021, menos 2022.
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[1] A "coincidência" do adiamento do julgamento de Flávio Bolsonaro no STF. Thaís Oyama. UOL, 14/09/2021.
[2] Bolsonaro tem chance de reparar imagem do Brasil. O Globo, Editorial, 19/09/2021.
https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/bolsonaro-tem-chance-de-reparar-imagem-do-brasil.html