domingo, 22 de abril de 2012

O amor dos mercados pelo Brasil

Na última semana passou pelo país o economista estadunidense Paul Krugman. Ele participou de um evento promovido pelo Sebrae em São Paulo, quarta-feira, dia 18.

Embora tenha repetido alguns engodos da propaganda governista, como o da "nova classe média", e tenha manifestado apoio a algumas medidas do governo brasileiro, Krugman não deixou de alertar que o Brasil, hoje, é "amado demais" pelos mercados tal qual o foram países atualmente em crise como a Grécia, a Espanha, Portugal e Irlanda. [1] 

A afirmação do economista deve ter deixado muita gente pensativa. Mas não surpreende os que buscam olhar para além das aparências. Em 2010 escrevi um artigo abordando o fato de Lula ser tão badalado e premiado pelas classes dominantes ao redor do mundo a ponto de ser considerado "o cara". [2] Sustentei, na época, que tamanha celebração externa se devia não a uma suposta eficiência da sua gestão mas ao fato de governar em benefício do capital.

Outro apontamento importante de Krugman foi com relação a valorização do Real. Segundo ele, tal processo se deve ao fluxo de capitais vindos do estrangeiro. E isso ocorre:
"(...) Não é porque as coisas se tornaram muito melhores no Brasil, mas é porque pioraram nos países mais avançados". [3]

Por aí se vê, contrariando o discurso corrente, a fragilidade e a dependência externa da economia brasileira.

Mas Paul Krugman, por ser keynesiano, não percebe que as crises do capitalismo têm sua origem no seu próprio modo de produção. Ele acredita que a especulação e a desregulamentação são os responsáveis pela crise em curso. Assim bastaria tirar da especulação e jogar na produção e no consumo. Por isso celebrou a queda dos juros e defendeu o fortalecimento do mercado interno brasileiro.

Ele, que fez uma importante analogia do Brasil com os países em crise outrora "amados" pelos mercados, vacila em reconhecer as consequências nefastas de se estimular o mercado interno com crédito, fórmula utilizada pelo seu próprio país e pela Europa no período pré-crise.


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[1] 'Amor' pelo Brasil contribui para real valorizado, diz economista (19/04/2012): https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/4/19/amor-pelo-brasil-contribui-para-real-valorizado-diz-economista/


[2] Porque Lula "é o cara"! (02/01/2010): 
http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2010/01/porque-lula-e-o-cara.html

[3] Nobel em Economia aconselha investir no mercado interno (19/04/2012): http://www.sp.sebrae.com.br/PortalSebraeSP/Noticias/SalaDeImprensa/Releases/Multisetorial/Paginas/NobelemEconomiaaconselhainvestirnomercadointerno.aspx
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sábado, 21 de abril de 2012

O Professor está sempre errado


21.04.12
 
O Professor Está Sempre Errado!...
 




Quando...
É jovem, não tem experiência;
É velho, está superado.

Não tem automóvel, é um coitado;
Tem automóvel, chora de "barriga cheia".

Fala em voz alta, vive gritando;
Fala em tom normal, ninguém escuta.

Não falta ao Colégio é um "Caxias"; 
Precisa faltar, é um "turista".
     
Conversa com os outros professores,
Está  "malhando" os alunos;

Não conversa, é um desligado.

Dá muita matéria, não tem dó dos alunos;
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.

Brinca com a turma, é metido a engraçado;
Não brinca com a turma, é um chato.

Chama à atenção, é um grosso;
Não chama atenção, não sabe se impor.

A prova é longa, não dá tempo;
A prova é curta, tira as chances do aluno.

Escreve muito, não explica;
Explica muito, o caderno não tem nada.

Fala corretamente, ninguém entende;
Fala a "língua" do aluno, não tem vocabulário.

Exige, é rude;
Elogia, é debochado.

O aluno é reprovado, é perseguição;
O aluno é aprovado, deu "mole".

Pois é, o professor está sempre errado.

Mas, se você conseguiu ler até aqui,
Agradeça a ele!

 
(autor desconhecido)
Fonte: E.E.E.M. Fernando Ferrari - Campo Bom.
Por Sergio Weber, Professor.
saweber@terra.com.br
 
Extraído de:
http://nucleo14cpers.blogspot.com.br/2012/04/mural-de-escola.html
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domingo, 15 de abril de 2012

Abrindo o Pacote Industrial de Dilma

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O artigo que segue foi o melhor dos poucos que foram escritos sobre o Pacote Industrial anunciado pelo Governo Dilma há poucas semanas. Foi elaborado por um setor que lamentavelmente ainda se mantém no interior do Partido dos Trabalhadores (PT), com uma linha crítica, quase de oposição ao governo é verdade, mas que continua lá. No entanto isso não anula os méritos da análise que vai além das aparências e da propaganda governista e midiática.


28/03/2012

A queda da indústria e o novo “pacto social”

Luiz Bicalho
Outros artigos deste autor




A tarefa da Esquerda Marxista é mostrar que as medidas de Dilma são a preparação para as medidas que a Grécia e Portugal tomam hoje, diretamente atacando todos os direitos dos trabalhadores

PAC, crise e “tsunami monetário”
Em meados de 2007, a Esquerda Marxista do PT escrevia sobre o PAC:

...O direcionamento dos investimentos do PAC na área de infraestrutura concentra-se em ferrovias, portos, estradas com vistas a melhorar as condições de exportação do Brasil.

O PAC vai ao sentido de reforçar a condição exportadora da economia brasileira. Como sabemos que a maior parte da nossa pauta de exportações é dada pelo agronegócio e por outros recursos naturais, não é exagero que o PAC direciona a nossa economia ao passado. Ou seja, diferentemente do antigo desenvolvimentismo que era pautado no fortalecimento do mercado interno e na substituição de importações, um dos grandes eixos do PAC será inevitavelmente a exportação de produtos primários. Exatamente como foi a economia brasileira até os anos 30 e 40...
Além do que já dissemos, o ministro da Agricultura Reinhold Stephanes está preparando uma série de medidas visando o fortalecimento do agronegócio, o chamado PAC do agronegócio, visando oferecer isenções de impostos para os “pobres” fazendeiros...Fazendeiros esses que já são beneficiados com uma série de créditos do BNDES...Fazendeiros esses que agora estão quase conseguindo verbas do FAT(dinheiro dos trabalhadores) para quitar suas dívidas...


Quase cinco anos depois, a burguesia brasileira, os dirigentes do PT e o governo reclamam da queda da participação da indústria no PIB nacional. Seria engraçado se não fosse trágico: eles fizeram um plano que organizava explicitamente o direcionamento da economia para o fortalecimento do agronegócio e da mineração e queriam que o resultado deste plano fosse outro além do que era previsto?

O Barão de Itararé, um humorista fino, disse uma vez: de onde nada se espera é que normalmente nada vem. Se os investimentos foram direcionados para estes setores, se durante estes cinco anos, inclusive durante o auge da crise (2008) foram estes os setores que “salvaram” o País, como agora reclamar do que antes pregavam?

O problema é que a galinha dos ovos de ouro pode estar chegando a um limite e este limite não é dado por nenhum problema com a “desindustrialização” do país, mas simplesmente porque os limites da economia capitalista se mostram de modo duro novamente: a China começa a “desacelerar” e no mundo inteiro todas as economias “grandes” despejam rios e rios de dinheiro para desvalorizar a sua própria moeda e conseguir com isso manter suas “exportações”.
Enquanto a crise grassava lá fora, enquanto o desemprego nos EUA chegava a 10%, e mais o subemprego e as pessoas que simplesmente tinham deixado de procurar emprego, mais de 25% da força de trabalho dos EUA não estava trabalhando e na Europa o desemprego pulava dos históricos 7% ou 8% para algo em torno de 20%, enquanto as revoltas operárias na China chegavam a enforcar gerentes e donos de fábrica, no Brasil reinava a “paz social” e o desemprego caia para um nível nunca antes visto, menos de 5%!

O salário aumenta, o desemprego diminui. Chegamos ao paraíso? A verdade é que nestes anos setores inteiros industriais eram desmantelados e a produção subia justamente nos setores de extração mineral: ferro, alumínio, petróleo. Se algo de novo havia e há no Brasil, é que às históricas e tradicionais produções de café, derivados da cana (açúcar e álcool), soja e ferro, se juntava agora o petróleo.

A promessa dos novos polos de produção da indústria química e de refino de petróleo ficou exatamente nos sonhos de verão que se dissolvem na primeira chuva de inverno, nem uma só refinaria foi construída ou iniciada neste período. Pelo contrário, vemos as rodovias, ferrovias, os caminhos da exportação crescerem e serem privatizados. Até os aeroportos entraram na onda das privatizações.

Resultado: o PIB cresceu e virou em 2010 um “pibão” que também, tal qual todos os sonhos de verão, dissolve-se na primeira trovoada, quando o gigante chinês desacelera.

E porque a China desacelera? Nenhuma novidade: apenas que o mundo, em termos de economia capitalista, continua a produzir muito mais do que pode produzir. Verdade que o acaso deu sua mãozinha e o terremoto, maremoto (que não poderiam, com a tecnologia atual, ser impedidos) fizeram o seu estrago no Japão. Verdade que a verdadeira falta de controle sobre a produção de energia nuclear no Japão transformou um acidente já complexo num desastre do qual ainda não sabemos todas as consequencias. Mas, se isso ajudou na quebra da produção, essa foi pequena e foi logo retomada e continuamos onde estávamos antes: se produz muito mais do que se pode consumir. Ou como explicam os marxistas, são as forças produtivas que se revoltam contras as cadeias que lhe impõe a propriedade privada dos meios de produção, a existência das nações e suas barreiras alfandegárias. O que leva à guerra “comercial”, “cambial”, ao “tsnunami monetário” na singular expressão de nossa Presidente.

Explicando: os Bancos Centrais “emitem” moeda eletrônica (títulos e empréstimos) no valor de mais de 8 trilhões de dólares no mundo inteiro (Europa, Inglaterra, EUA e Japão, somados). A sua moeda (Euro, Libra, Dólar e Yen) desvaloriza-se. As exportações destes países “caem” de valor no mercado mundial e as importações aumentam de valor. Eles passam a ter lucros e os outros países perdem. E porque todo mundo não faz isso também? Porque não pode, não tem força econômica para tal e vamos ver isso daqui a pouco.

Sim, é uma guerra entre as nações, é uma guerra entre os diversos monopólios pela dominação do mercado, é a anarquia capitalista a pleno vapor.
Mas, serão os números apresentados pelo governo, pelos jornais e pelos analistas verdadeiros? O que existe por detrás da queda da participação da indústria no PIB e das “medidas necessárias” para reverter esta queda?

Quebrando os juros e a previdência

E, de repente, num passe de mágica, o Banco Central do Brasil se torna “popular”. Derruba os juros nominais para 9,75% e anuncia que vai derrubá-los ainda mais, para 9%. O juro real, caso confirmada a atual taxa de inflação (5% ou 6% ao ano) será a menor taxa de juros do Brasil em toda a história da República! Sim, um feito e tanto. Mas, porque isso está sendo feito?

Ao mesmo tempo, o dólar que chegou a valer R$ 1,40 no ano passado chega a R$ 1,80 e o Ministro da Fazenda confirma que sim, “existe” um patamar abaixo do qual o dólar não pode cair. E que o governo vai mantê-lo acima dos R$ 1,80!

Nos jornais e blogs, as duas medidas são anunciadas e os economistas, analistas e até os nacionalistas (estes com mais discrição) comemoram. Mas, o que está por trás disso tudo?
Comecemos com a queda da participação da indústria no PIB. Um analista burguês, Marcelo de Paiva Abreu (antinacionalista e um pouco mais com os pés no chão), explica:
(OESP - Estadão )

A despeito do que se afirma, entre 2000 e 2011 a participação da indústria no PIB se manteve em torno de 27%-30%. Em 2011, foi exatamente igual à de 2000. O que está encolhendo é a participação da indústria de transformação (que não inclui petróleo e gás natural, minério de ferro e outras extrativas, produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana e construção civil): a participação era de 17,2% em 2000 e hoje é de 14,6%.
Isso não significa que o produto da indústria de transformação esteja em queda. Está perdendo participação no PIB, algo que decorre da evolução favorável das vantagens comparativas brasileiras em outros setores da economia. Além disso, essas comparações ocultam variações importantes de preços relativos. Os preços agrícolas no Brasil, por exemplo, aumentaram 20% em relação aos preços industriais no período 2000-2011. Ou seja, em termos reais, a perda de participação da indústria de transformação foi mais modesta do que indicam os valores nominais. (os grifos foram nossos).


Esta é a verdadeira razão pela qual, apesar da “queda nominal” do PIB “industrial” continuar, termos um salário em expansão na indústria e os empregos caíram muito pouco, onde caíram! Sim, professores e economistas, tirem da cara estes óculos bicicletas e olhem o mundo real! Mas, porque a indústria repercute esta queda de uma forma fantástica? Por um motivo simples: eles querem o seu sangue, eles querem o sangue dos operários para manter e ampliar os seus lucros! E, ai de nós, eles sabem muito bem que os tempos de bonança, quando começam a soprar os ventos congelantes vindos do lado da China, podem chegar ao fim muito cedo.

Previdentes, querem desde já começar a aplicar aqui as medidas de redução salarial que foram feitas nos EUA e na Europa. E o governo Dilma, servo obediente do capital, não responde as questões concretas apresentadas pelas centrais sindicais (redução da jornada de trabalho, aumento para aposentados e servidores) e repete o seu mantra: ‘é preciso defender a indústria e vocês tem que ficar comigo nesta! Não me deixem só!’

Sim, pois neste cipoal de lamentações, entre plumas e paetês, o governo vem fazendo a sua parte. Pena que ele não possa fazer tudo, o que cobre com uma ponta do cobertor descobre com a outra, pois o cobertor é curto e não pode cobrir tudo. Afinal, dolorosa lembrança, somos um país atrasado (não culturalmente, cientificamente ou produtivamente, mas sim por termos chegado atrasados ao mercado mundial), um pais que chegou depois ao capitalismo, quando o mercado mundial já se encontrava dividido e que depende dos países que chegaram antes (“adiantados”, imperialistas) para ter este acesso. E cada uma das medidas do governo, elas são dolorosamente anuladas pelos imperialistas.

Sim, Mantega e Dilma comandam a derrubada de valor do Real frente ao dólar! Os nacionalistas penhoradamente agradecem, só que o problema que parece simples (nossos produtos tornam-se mais baratos) se torna complexo: os exportadores dependem do crédito externo para poderem vender seus produtos! E este se torna, de repente, não mais que de repente, mais caro, em reais! Ou, em outras palavras, o que se dá com uma mão se retira com a outra. E, ai-ai, sofre também o povo trabalhador, que com o aumento do dólar, assistem os aumentos dos preços dos serviços e produtos que estão alinhados com os preços internacionais: saúde, informática, eletricidade, etc. Não é a toa que os jornais, logo depois da alta do dólar, noticiam o aumento dos preços dos remédios!

E o “aumentão” do salário mínimo em menos de um mês foi consumido e nem deu tempo de tomar aquela cervejinha que cada um de nós pretendia com o dinheirinho a mais do salário no final do mês! Tudo por culpa deste tal de “tsunami monetário” e da defesa contra ele que faz com que o nosso salário diminua. E se não nos defendermos? Aí teremos algumas fábricas fechando e também fábricas praticando a rotação de mão de obra para compensar os custos e poder concorrer com os importados. Em suma, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

E o engraçado de tudo isto é que a maioria destas “fábricas exportadoras” são todas multinacionais concorrendo com elas mesmas em outros países. Vejam só: a maioria dos carros importados não se trata de carros de montadoras que não existem aqui, mas exatamente de carros das montadora que aqui posam e podem manter juntos toda uma rede de vendas e de manutenção! Tristes nacionalistas de hoje: pedem o dólar baixo para conseguir proteger a Volks, a Ford, a Fiat, a Renault. Até a cervejinha do final de semana quem fabrica é a Ambev (fusão da Brahma com a Antartica) que foi comprada por uma cervejaria Belga. Realmente, defender o que?

Mas o governo não dá trela e diminui os juros. Ah, sim, fórmula mágica defendida por 10 entre 10 sindicalistas, por 10 entre 10 industriais e ai estamos todos juntos, olha que bonitinho, capital e trabalho, achando um ponto comum para se revoltarem contra este malvado setor financeiro. O grande problema é que a dívida interna (a famosa dívida pública) foi construída com estes altos juros que se tornaram um ponto de atração de capitais e que o “Brasil” para financiar o seu déficit em transações correntes precisa de mais de 60 bilhões de dólares por ano de “investimentos” para financiar.

Vamos traduzir isto em linguagem de gente comum: é o seguinte, aquelas coitadas das multinacionais que precisam do dólar barato pra exportar e que sem ele continuam a exportar talvez um pouco menos, mas continuam a fazê-lo, tem com consequencia de suas vendas no Brasil e no exterior, de produtos fabricados aqui, um lucro imenso. É o superlucro que tornam as coisas tão caras aqui. E este lucro é “enviado ao exterior”. Da mesma forma são enviados ao exterior os “juros” e os “serviços” da dívida. Uau, agora sim, é fácil entender. As empresas tomam emprestado no exterior para poderem comprar e vender no mercado interno e externo. E tem que pagar. E pagam mais que do que tomaram, os chamados juros e serviços. E remetem seus lucros para o exterior. Então, de onde vem o dinheiro para cobrir estas coisas? Ora, ora, ora, vem para o Brasil como empréstimos, como tomador de dinheiro na dívida pública. Assim, se o tal do juro cai muito quem é que vai aplicar dinheiro no Brasil? Dai que se cair o juro, o bicho pega, se ficar o juro alto, o bicho come!

Isto tudo sem falar da poupança, que aí os “grandes”, caso o juro caia, colocam o dinheiro na poupança. E os bancos têm que emprestar a juros baixos para financiamentos de compras de casas. Emprestar a juros altos todos eles estão emprestando. Então, se caem os juros, o dinheiro vai para a poupança e vai para empréstimos imobiliários, saindo da circulação geral. E menos dinheiro em circulação significa que para os entendidos da política econômica: o real sobe de valor, ou seja, anula as medidas que derrubam o real e valoriza o dólar.

Se você acompanhou tudo: o cobertor é curto e quando cobre algo (aumenta o valor do dólar, cai os juros), as consquencias destes movimentos levam a que falte dólar (e ai não pode exportar, a medida não consegue resolver o problema do comercio exterior) e cai o valor da moeda (portanto, aumenta o valor do Real frente ao dólar). E quem perde com tudo isso?

Os empresários, banqueiros, economistas, analistas se desesperam. Então, não há nada que possamos fazer? Alguém que algum dia leu Marx (ou, se não o leu, leu as linhas do seu balanço da empresa) chega a singular conclusão: façamos os trabalhadores pagar por isso! Vamos reduzir o seu salário. Mas isso é ilegal. Ora, ora, dizem os analistas, isso é conosco, e o governo apresenta e retoma os seus planos anteriores: “desonera” a folha de pagamentos (ou seja, diminui o valor que vai para a previdência e que entra como salário indireto) e cria o fundo de pensão dos servidores.
Medidas “simples”: cobram dos trabalhadores o que não lhes é permitido obter no mercado mundial. Diminuem o salário sem dizer que o diminuem e criam um fundo para que possam investir com o dinheiro do povo daqui sem recorrer ao mercado externo.

O problema é que todo mundo tá fazendo isso, e o resultado é: o mercado se contrai, o consumo da burguesia não pode substituir o consumo da classe trabalhadora e o mundo vai para uma crise de superprodução! Produz mais do que pode consumir! E, claro, todas as medidas para sair da crise levam inevitavelmente a mais crise.

Dilma e os trabalhadores

Mencionemos de passagem: na reunião com as centrais sindicais, a presidente Dilma não só não cedeu um milímetro, como ainda por cima pediu que eles a ajudassem na sua “política industrial”. Já mostramos onde nos conduz essa política: do lugar atual...para o lugar atual. Da crise para a crise. Mas o que não mostramos é que existe um componente nisso: o que Dilma precisa é que os trabalhadores aceitem as medidas, o Funpresp (fundo de pensão dos servidores), a desoneração da Folha de pagamentos com o roubo de dinheiro que deveria ser dos trabalhadores, a reforma tributária que diminui impostos diretos (que pagam os capitalistas) e aumenta os indiretos (como IPI, ICMS) que são pagos pelos trabalhadores.

O que Dilma precisa é que os trabalhadores aceitem que a sua “agenda”, os seus direitos, cada vez mais estão e estarão jogados para as calendas gregas, por assim dizer, e que olhem os gregos e veja o seu futuro se vocês não desistirem de ganhar direitos.

O que Dilma precisa é que o MST desista de receber terras e fique quietinho no seu canto, promovendo vez ou outra alguma marcha desde que não voltem a realizar ocupações de terras.

O que Dilma precisa é que a CUT assine com as outras centrais sindicais o pacto de defesa da indústria, esqueça os trabalhadores e venha como um cordeirinho para o seu colo para ter sua lã arrancada e ser sacrificado aos deuses do mercado.

O que Dilma precisa é que o PT resmungue e grite contra o PT, que o PMDB finja estar insatisfeito e que no final das contas continuemos um governo da “ampla base aliada” ou da “restrita base aliada”, onde os direitos dos trabalhadores sempre serão esquecidos. Ela necessita que todo mundo fale da corrupção e esqueça que nosso rico dinheiro dos impostos não desaparece com a esponjinha da corrupção, mas sim no ralo largo do pagamento da dívida e de seus serviços. Sim, isto é que Dilma precisa.

A tarefa da Esquerda Marxista é mostrar que as medidas de Dilma são a preparação para as medidas que a Grécia e Portugal tomam hoje, diretamente atacando todos os direitos dos trabalhadores.

A tarefa da Esquerda Marxista é mostrar aos trabalhadores que não existe saída sob o capitalismo, com juros altos ou baixos, com dólar alto ou baixo. Qualquer medida para aumentar ou diminuir juros e o dólar, cai inevitavelmente sobre as costas da classe trabalhadora, no Brasil e no mundo. Afinal das contas, para mudar tudo isso, é necessário uma revolução proletária que exproprie o capital no Brasil e no mundo, que abra caminho para o socialismo.

Extraído de:

http://www.marxismo.org.br/index.php?pg=artigos_detalhar&artigo=948

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sábado, 14 de abril de 2012

Governo do PT inspira direitista venezuelano

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Henrique Capriles, candidato da oposição de direita venezuelana, disse se inspirar no modo petista de governar o Brasil.


http://tv.estadao.com.br/videos,sou-um-seguidor-do-modelo-brasileiro-diz-capriles,160784,259,0.htm

Festejada pela direita internacional a gestão petista já havia sido apontada como "modelo" a ser seguido em 2010 pela Secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton.
http://oglobo.globo.com/economia/hillary-sugere-que-chavez-se-espelhe-no-brasil-3045618
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sábado, 7 de abril de 2012

Em benefício do capital Tarso aumentará endividamento público

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Como venho alertando em sucessivos artigos desde o ano passado, o Governo Tarso, seguindo o exemplo dos governos Lula e Dilma, tinha projetos que resultariam no aumento do endividamento público, cuja fatura ele próprio fará recair sob os ombros do andar de baixo, para beneficiar o capital.

Esse plano, que antes aparecia de forma dissimulada, agora está escancarado e virou lei. Na última semana a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou uma modificação no Proredes (programa de "desenvolvimento") que prevê claramente que parte dos recursos que o Estado tomará junto ao BNDES desaguarão para a iniciativa privada.

O trecho da notícia que reproduzo abaixo, e que confirma minhas assertivas, é do próprio site do PT gaúcho. Os destaques são meus.



Plenário

03/04/2012 | 17:49

Aprovada ampliação de áreas beneficiadas por empréstimo do BNDES

A Assembleia Legislativa aprovou, nesta terça-feira (3), projeto que altera a lei que autoriza o Estado a contrair empréstimo junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social para financiar o Programa de Apoio à Retomada do Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Proredes-RS). A proposta amplia as áreas que deverão receber os recursos.

Criado com o propósito de reduzir as desigualdades regionais e impulsionar o desenvolvimento do Estado, o Proredes tem como foco áreas como infraestrutura, ciência e tecnologia, cadeias produtivas, educação e desenvolvimento social. Com a mudança autorizada pelos deputados, o programa passará a apoiar o setor privado, por meio da instalação de distritos industriais e parques tecnológicos; e financiar a modernização do sistema produtivo rural e a construção de habitação para a população de baixa renda. Também foram autorizadas a qualificação da segurança pública e o aumento do capital do BADESUL.

O projeto, segundo o deputado Raul Pont (PT), apenas discrimina as áreas que serão financiadas, cumprindo determinação do banco. “Quando a autorização foi aprovada pela Assembleia no ano passado, as negociações do BNDES recém tinham iniciado. O acordo final só foi fechado em janeiro, tornando necessárias adequações”, frisou.


Por Olga Arnt.



A íntegra da notícia pode ser acessada em:

http://www.ptsul.com.br/t.php?id_txt=37505
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Ministro de Dilma chama trabalhadores de vândalos e bandidos

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Gilberto Carvalho, Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República do Governo Dilma, chamou de "vândalos" e "bandidos" os trabalhadores que se rebelaram contra as degradantes condições de trabalho às quais estão submetidos na Usina Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia.

Mostrando a real face de um governo cujos trabalhadores ficaram esquecidos na sigla do partido, o Ministro se coloca na linha de frente de defesa das grandes empreiteras nacionais e estrangeiras responsáveis pela obra que é financiada com farto dinheiro público assumindo o discurso anti-operário delas para justificar a repressão e a exploração dos trabalhadores que engordam as contas dessas corporações.

Abaixo segue um bom artigo sobre o caso, de quem está mais próximo da dura realidade vivenciada pelos operários desmentindo categoricamente o "Ministro das Empreiteras".


quarta-feira, 4 de abril de 2012

VANDALISMO OU PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO?

Comissão Pastoral da Terra de Rondônia

Mais uma vez nos deparamos com um quadro que nos mostra o quanto os grandes projetos que visa o crescimento “econômico” e o “progresso” sejam eles dos Governos ou de outros grupos, não levam em conta algo que deveria ser prioridade para quem defende o progresso e o desenvolvimento econômico que é o SER HUMANO. Enquanto a pessoa humana continuar sendo tratada tão somente como mera mercadoria, instrumento de exploração para gerar riquezas para uma minoria de pessoas que detém o poder econômico cenas reais como a que vi e vivi pela segunda vez aqui em Porto Velho repetirá.

O ginásio do SESI em Porto Velho – foi mais uma vez espaço de “deposito” de trabalhadores migrantes que fugiram do “fogo” do canteiro Jirau. A cena não é muito diferente do que se passou em março do ano passado: milhares de trabalhadores do Maranhão, Pará, Rio Grande do Norte, Piauí, São Paulo... Saem correndo do canteiro de obra levando consigo seus poucos pertences e outros perdendo parte do que estava levando pelo caminho que tiveram que fazer a pé até o portão principal do canteiro mais precisamente três quilômetros para tomar um ônibus que os conduziria até a cidade de Porto velho. O grande questionamento que se escuta de todos os lados é: Porque eles fizeram isso? Porque queimaram 36 alojamentos? Respostas, com certeza haverá várias dependendo do lado em que eu me coloco.

Para alguns, assim como para o ministro Gilberto Carvalho, que afirmou que foi um ato de vandalismo, para outros que foi um ato isolado de um pequeno grupo que não queria voltar ao trabalho, e assim por diante. O que eu discordo, pois acredito que o migrante- trabalhador que sai de sua terra deixando sua família, para garantir o pão de cada dia, não é vândalo, ou será que trabalhador agora é sinônimo de vândalo? Pergunto eu, não será pela precarização do trabalho nas Usinas do rio Madeira?

Acompanhando hoje e o ano passado esta realidade de perto vi homens de todas as idades sem um horizonte, olhares perdidos, sentimento de insegurança e às vezes até medo do desconhecido. Vi seres humanos sentados em um cimento duro de um ginásio de esporte ou sentados em suas malas enquanto aguardavam um encaminhamento ou resposta. Escutei várias vozes expressando descontentamento.

Há 26 dias os operários do canteiro de obra da Jirau estava em greve, reivindicando reajuste de 30 % salarial. Em assembleia realizada no dia 02 de abril não entrando em acordo, mesmo com o Sindicato tentando manipular a votação pelo fim da greve, segundo relatou alguns trabalhadores. Isto porque a proposta da empresa era de que eles retornassem ao trabalho, a empresa pagaria do dia 6 até o dia 10 de abril os 8 dias trabalhados do mês de março e dos dias 11 a 14 de abril os restantes de dias para aqueles que voltasse imediatamente ao trabalho. E concederia um aumento de 5%. Segundo nos contou trabalhadores esta proposta da empresa não era possível de aceitar. Só que após o fim da tumultuada assembleia alguns trabalhadores foram obrigados a trabalharem escoltados por policias da força nacional. Relatou-nos ainda um trabalhador que a policia tem responsabilidade pelo que aconteceu por agir de forma violenta dentro do canteiro. Segundo os trabalhadores nos desabafou dizendo, que se a empresa cedesse e pagasse o reajuste de 10% e abolisse as faltas eles estavam decidido a retornarem ao trabalho. Escutamos companheiros que nos contaram que houve mortes ali. Falam de 4, 3, 2, mortes. Os números podem variar, mas o fato é que vidas foram ceifadas – vidas de trabalhadores migrantes. Vidas sacrificadas no “altar da Ganância”.

É o grande capital, com o agronegócio e cada vez, com mais força o hidronegócio, avança sobre campos e cidades. Aqui na bela e rica região amazônica não é diferente. Mas Caminhamos porque sonhamos com a vida respeitada, com a terra e o pão partilhados, com trabalho para todos, com nossas crianças na escola, com a saúde digna, moradia e lazer.

Temos que nos fazer presentes em todos os lugares, aonde a luta pelos direitos fundamentais dos trabalhadores acontece, e continuar firmes na resistência histórica da classe trabalhadora. (...)


Extraído de:
http://cptrondonia.blogspot.com.br/2012/04/vandalismo-ou-precarizacao-do-trabalho.html
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sexta-feira, 6 de abril de 2012

Justiça quer calar solidariedade aos operários de Belo Monte

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Conforme venho alertando já há um bom tempo o Brasil vive uma escalada autoritária contra os movimentos sociais, os trabalhadores em greve e os pobres que "estorvam" os interesses do capital.

Os casos de abusos e intolerância, que espizinham as próprias leis do país, não cessam de se avolumar. Governos dos mais variados partidos e até a "justiça" têm sido agentes ativos em um processo que aumenta a liberdade e as benesses para o capital em uma ponta e a repressão às classes subalternas em outra.


A estapafúrdia criminalização da moléstia!

Juiz de Altamira impõe interdito proibitório ao Movimento Xingu Vivo baseado em denúncia fantasiosa de que quatro de seus membros teriam fechado a Transamazônica, atacado ônibus do Consorcio construtor e colocado em perigo os moradores de Altamira.

Publicado em 04 de abril de 2012

Por Verena Glass

Na última segunda feira, 2, o juiz estadual da comarca de Altamira, Wander Luís Bernardo, deferiu parcialmente uma ação do Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) contra o Movimento Xingu Vivo para Sempre, sua coordenadora, Antonia Melo, seu jornalista, Ruy Sposati, e outras duas pessoas vinculadas a luta social em Altamira. Sem certificar-se da veracidade de acusações fantasiosas do CCBM, Bernardo emitiu um mandado proibitório, em caráter liminar, impondo multa de até 100 mil reais caso os citados cometam “qualquer moléstia à posse” do consórcio ou ao exercício das atividades dos trabalhadores, ou ainda impeçam seu acesso aos canteiros.

O disparate desta decisão está no fato de que o juiz se deu o direito de, pressupondo algum tipo de intenção imaginária por parte do Xingu Vivo de cometer alguma “moléstia”, criminalizar o movimento ao lhe impor um interdito proibitório. Gravíssima, no entanto, é a série de mentiras mirabolantes inventadas pelo CCBM para justificar o pedido de citação do movimento e seus membros.

De acordo com o Consórcio, nos dia 29, 30 e 31 de março, Antonia, Ruy e os demais citados, “em flagrante ofensa ao direito de propriedade e ao princípio do livre exercício da atividade econômica”, teriam praticado “diversos atos ilícitos lesivos não só ao Autor [CCBM], como também à segurança dos colaboradores (…) e dos moradores da região de Altamira/PA”.

Segundo o CCBM, os “réus” teriam bloqueado a BR 230 “numa espécie de parede humana”, invadido os ônibus da empresa e provocado distúrbios, “tais como bater nos vidros e laterais dos ônibus [e] obrigar que os motoristas abandonassem os veículos”, gritando “palavras intimidatórias”. Antonia, Ruy e os outros dois citado teriam então fechado a Transamazônica, impedindo a passagem de todos os veículos.

Para “provar” suas acusações, o CCBM anexou fotos que “retratam o ambiente criado” supostamente por Antonia, Ruy e os outros “réus”, chamando-os de desequilibrados e incapazes de “exercer atividades dentro do limite da razoabilidade”. As fotos, inclusive, provariam que o jornalista Ruy Sposati teria liderado a invasão dos ônibus e o bloqueio da rodovia.

Assim sendo, demandou o Consórcio, o juiz Bernardo deveria proibir Antonia, Ruy, os outros dois citados e “quaisquer pessoas indeterminadas que pratiquem atos de turbação”, que o façam nos canteiros de obra e nas “estradas federais, estaduais, municipais, entroncamentos, etc” que dão acesso a eles. Também exigiu que o juiz determine “que a Policia Militar e a Força de Segurança Nacional garantam a segurança do Autor [CCBM], de seus funcionários [e de] sua posse”, e que sejam proibidos protestos e manifestações que prejudiquem o andamento da construção da usina. A Policia e a Força Nacional, demanda o CCBM, devem garantir a sua paz.

A verdade dos fatos

Nos citados dias 29, 30 e 31 de março, estourou em Belo Monte uma greve geral em função de GRAVES MOLÉSTIAS cometidas pelo CCBM contra seus trabalhadores. Como de praxe e exigido pela sua função de jornalista, Ruy Sposati cobriu o fato, como único profissional a produzir informações para o site do Xingu Vivo, a imprensa nacional e internacional, e a quem interessasse, sobre os acontecimentos. Neste mesmo período, Antonia Melo estava em atividades com emissários de uma organisação estrangeira, um dos citados encontrava-se em Belém, e o outro em momento algum compareceu às atividades dos trabalhadores em greve, ocorridas no perímetro e na cidade de Altamira (muito distante, portanto, dos canteiros de obras).

Dito isto, não pretendemos nos estender sobre quão ridícula é a presunção de que quatro pessoas tenham fechado a Transamazônica “numa espécie de parede humana”, invadido ônibus, molestado motoristas e ameaçado a segurança dos moradores de Altamira. Nem sobre a patética tentativa do CCBM de usar fotos que “retratam o ambiente criado” – e não as supostas moléstias propriamente ditas – para criminalizar os citados.

Denunciamos como de extrema gravidade a mentira intencional ao judiciário por parte do CCBM, para tentar cercear o direito constitucional dos citados de ir e vir, de estar em vias públicas, e de se manifestar livremente.

Denunciamos como de extrema gravidade a exigência do CCBM de que a Justiça lhe conceda o direito de usar forças de segurança públicas como milícia privada.

Denunciamos como de extrema gravidade a tentativa do CCBM de criminalizar lideranças sociais, e, em especial, o jornalista do Xingu Vivo, no intuito de cercear a liberdade de expressão e de encobrir as moléstias do Consórcio contra seus operários.

Acima de tudo, denunciamos como de extrema gravidade a emissão, por parte da Justiça, de uma liminar sem fundamentos comprovados, e, mais grave, diante da estapafúrdia dos argumentos apresentados.

Assim sendo, exigimos a imediata suspensão do interdito proibitório para que o Estado Democrático de Direito seja minimamente respeitado, e para que a Justiça não seja exposta a uma incômoda situação vexatória.

Altamira, 3 de abril de 2012

Movimento Xingu Vivo para Sempre

Clique aqui para ler o Interdito Proibitório

Clique aqui para ler a Inical do CCBM


Extraído de:

http://www.xinguvivo.org.br/2012/04/04/nota-a-estapafurdia-criminalizacao-da-molestia/

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Aposentado grego se suicida e deixa mensagem para os explorados

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Dimitris Christoulas, farmacêutico grego aposentado, 77 anos, disparou um tiro sobre a própria cabeça na última quarta-feira (04/04) próximo a uma árvore em plena Praça Syntagma, Atenas.

A crescente pauperização da vida social na Grécia resultante dos planos de ajuste neoliberal praticado pelos governos submissos ao capital, e que não poupa nem os aposentados, motivou o ato.

Como parte dos planos para "salvar" o país helênico as aposentadorias foram reduzidas de 15% a 20% atingindo em cheio o orçamento das famílias.

No bolso do casaco de Cristoulas foi encontrado um bilhete onde ele justificava o suicídio e exortava os explorados a resistir:


"O governo de Tsolakoglou acabou com a possibilidade de eu poder sobreviver com uma pensão digna, que paguei sozinho durante 35 anos sem nenhuma ajuda do Estado. E, sendo que a minha idade avançada não me permite reagir de forma dinâmica (embora se um colega grego pegasse uma Kalashnikov, eu estaria bem atrás dele), não vejo outra solução senão pôr, de forma digna, fim à minha vida, para que eu não me veja obrigado a revirar o lixo para assegurar o meu sustento. Eu acredito que os jovens sem futuro um dia vão pegar em armas e pendurar os traidores deste país na praça Syntagma, assim como os italianos fizeram com Mussolini em 1945."


Tsolakoglou foi Primeiro Ministro da Grécia em 1941 e permitiu a entrada dos nazistas no país. Assim o aposentado fez a analogia daquele governo com o atual que permite a entrada da banca que confisca o presente e o futuro do seu povo.

A morte do aposentado gerou comoção e revolta. Tão logo chegou ao seu conhecimento e o povo se concentrou na Praça Syntagma para prestar homenagens a Cristoulas e protestar contra o governo. Alguns manifestantes foram presos.

As taxas de suicídio na Grécia têm crescido com a crise social. Só em 2010 o aumento foi de 18%, sendo de 25% a alta apenas em Atenas. Antes da crise o país tinha a menor taxa de suicídio da Europa.

O suicídio de Cristoulas fez muitos lembrar do tunisino Mohamed Bouazizi, vendedor ambulante cujo suicídio foi a gota que fez o copo transbordar e desembocar na revolta que derrubou Ben Ali e inspirou outros movimentos pelo mundo árabe.

Se o mesmo se passará na Grécia e se o povo de Christoulas pegará em armas ainda não se sabe. O certo é que os planos de ajustes do capital exigirão uma reação cada vez mais organizada e decidida do povo contra o status quo.
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quinta-feira, 5 de abril de 2012

Deficiente é agredido em protesto na Espanha

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Um homem, que participava de uma mobilização social contra a política de ajustes do governo espanhol e que se equilibrava em uma muleta, foi covardemente agredido pela polícia na Catalunha. A cena pode ser conferida no vídeo abaixo:



http://www.youtube.com/watch?v=MvKxZBDu80s&feature=player_embedded


Essa não foi a primeira vez que um deficiente físico foi vítima de agressão na Espanha. No ano passado um cadeirante também foi espancado pela polícia quando participava de protestos contra os planos de ajustes do governo em Barcelona.

Por entender que fazem parte de um mesmo processo, reproduzo o artigo que redigi sobre a agressão ao cadeirante no ano passado.


domingo, 29 de maio de 2011

O cadeirante de Barcelona

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A imagem do cadeirante sendo agredido pela polícia em Barcelona, na Espanha, é o típico fato que dispensa argumentos. Mas a cena chocante representa mais do que isso: ela expressa de forma explícita a atual conjuntura política e econômica, onde os de baixo, os mais fracos são impiedosamente atacados pelas classes dominantes. Ela resume perfeitamente o que estamos vivendo. É um símbolo da atualidade!

Acampados há duas semanas em várias praças espalhadas pelo país a população espanhola protesta contra os planos de ajuste do governo contra o povo, contra o sistema econômico e pede por uma democracia real, uma democracia de verdade, pois sente que os políticos não os representam. Eles perceberam a grande farsa que é a democracia representativa dos ricos e se deram conta quem são os reais representados nela.

À pedido dos governos e das classes dominantes locais, o governo espanhol, que não descarta uma ofensiva em outras cidades, ordenou a polícia que iniciasse a retirada dos manifestantes da praça da Catalunya na última sexta-feira. [*] A operação foi violenta, com 121 feridos, de acordo com a grande mídia, e tendo sobrado até para o cadeirante.

O episódio deve ter reforçado no imaginário dos manifestantes suas convicções sobre a atual "democracia". Esta, porém, mantém-se inquestionável no Ocidente. Não vimos nenhum jornalista brasileiro da grande mídia se solidarizar ao cadeirante espanhol, que sequer aparece na maioria das matérias, nem denunciar que o regime espanhol não passa de uma ditadura dos ricos disfarçada de democracia. Ah, se fosse algum governo indesejado pelo Ocidente...

A imagem do cadeirante de Barcelona acuado, encolhido, tentando se defender da ofensiva policial covarde é o símbolo dos nossos tempos. Um tempo onde as classes dominantes, responsáveis pela atual crise econômica, empreendem uma ofensiva violenta, em todos os sentidos, contra os direitos das classes subalternas, pouco importando-se com a sorte dessas.

O policial não abusou sozinho do cadeirante: por trás dele havia a mão das classes dominantes. É a mesma mão que está tascando os direitos sociais e econômicos obtidos com muita luta e sangue pela classe trabalhadora ao longo de anos. Uma mão que já não consegue mais aparentar ser invisível.

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[*] Confronto entre manifestantes e polícia fere 121 em Barcelona (27/05/2011):
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/05/confronto-entre-manifestantes-e-policia-fere-121-em-barcelona.html

http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2011/05/o-cadeirante-de-barcelona.html
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terça-feira, 3 de abril de 2012

Política Industrial de Tarso: um entreguismo sem precedentes

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Desde o início da sua gestão o Governo Tarso tem se notabilizado por demonstrar, em curtíssimos espaços de tempo, para quem realmente governa.

Onze dias após a sua posse o governo conseguiu a aprovação, em regime de urgência, de um generoso aumento para os apadrinhados políticos. [1] Dois dias depois seu Secretário da Fazenda veio a público reclamar das dificuldades financeiras do Estado e fazer advertências aos servidores referente a reajustes salariais. [2]

Em 27 de junho de 2011 Tarso esteve em Guaíba inaugurando uma Zona Industrial onde operariam várias multinacionais. E dirigindo-se a elas o governador não titubeou: "Vai ter dinheiro. Guaíba é prioridade" [3]. Na mesma linha foi o seu Secretário Executivo do CDES, Marcelo Danéris: "As empresas terão o que precisam para funcionar" [ibidem].
Um dia depois o governo se mobilizava pela aprovação de um pacote que instituía o calote nos precatórios e a privatização da previdência pública com o argumento de que se tais medidas não fossem aprovadas o Rio Grande do Sul se transformaria em uma Grécia. [4]

Em 10 de janeiro de 2012 o governador Tarso Genro manifestou interesse em conceder um 13° salário para os seus secretários. [5] Um dia depois o Secretário da Fazenda veio novamente a público para afirmar que o Estado não pagaria o piso dos professores por problemas financeiros. [6]

Em 24 de fevereiro do corrente ano o Governo Tarso apresenta à sociedade gaúcha um cronograma de reajustes que não paga o piso dos professores. Reclama, mais uma vez, de problemas fiscais e afirma ser o "acordo possível". Um dia depois o governador participa de um evento com grandes fazendeiros. E a eles declara: "O Estado tem dinheiro para os arrozeiros" [7]

Dando sequência a essa postura, nas últimas semanas o governo mostrou uma política para os trabalhadores da educação pública e outra para o empresariado.


Ataques à educação pública

A tarde de 20 de março de 2012 certamente entrará para a História do Rio Grande do Sul e do Brasil. Nesse dia o Governo Tarso legalizou o não cumprimento da lei do piso que ele próprio assinou quando ocupava cargos no governo federal. [8]

A sua base na Assembléia Legislativa aprovou, sob forte vaia dos professores, um cronograma de reajustes que levará o piso para apenas R$ 1.260 no final de 2014! Atualmente o piso se encontra em R$ 1.451.

Na defesa da traição do compromisso de campanha [9] o governador e os deputados petistas passaram a atacar o índice de reajuste definido pelo Fundeb. Para Tarso a lei de reajuste do Fundeb é "totalmente furada". [10] O deputado Raul Pont qualificou de "índice irreal e impráticável" o valor estabelecido pelo Fundeb e defendeu a sua substituição pelo INPC:
"O Congresso deve agir com rapidez e responsabilidade para evitar que a lei do piso se torne impraticável e vire letra morta." [11]

Ao contrário do que tenta fazer crer Pont e seus companheiros de partido, ainda que o índice de reajuste fosse o INPC a proposta do governo seria pagar em 2014 o piso de 2011!

Outro aspecto que deve ser mencionado é que a fórmula agora tida como "totalmente furada" do Fundeb foi assinada pelo atual governador quando estava no governo federal. [12]

A esse festival de traições, ilegalidades e incoerências soma-se uma atitude antidemocrática de empurrar goela abaixo e com falsos debates [13], medidas como uma meritocracia que responsabiliza os professores pela evasão escolar e uma contra-reforma na educação que disponibilizará os filhos da classe trabalhadora gratuitamente para o empresariado lucrar.


Política Industrial: manutenção e ampliação de benesses ao capital

Oito dias depois o Governo Tarso anuncia uma política industrial cujos benefícios ao empresariado superam os concedidos por governos como Antônio Britto, Germano Rigotto e Yeda Crusius. Para se ter uma ideia estão previstas mais de 200 ações!

Em um tom completamente distinto do dirigido aos professores e trabalhadores o governador afirma que:
"Conhecíamos a realidade do Estado e, por esse motivo, optamos por não pedir tempo à sociedade gaúcha e tampouco lamentar as dificuldades financeiras. Preferimos dar respostas imediatas à população e constituir as condições para a execução de políticas de médio e de longo prazo." [14]

São palavras reveladoras que evidenciam que o calote no piso do magistério não se deu por uma tragédia do acaso mas que é fruto da opção política de governar para os de cima. Os fatos, como alguns relatados anteriormente, já comprovavam isso.

Orgulhoso do seu entreguismo Tarso chega a alfinetar seus antecessores por terem sido entreguistas limitados:
"Não ficaremos apenas na simples adoção de incentivos ou isenções fiscais." [ibidem]

De fato as propostas do governo petista vão além. Elas preveêm, por exemplo, o aumento do endividamento do Estado para beneficiar o empresariado:
"Num contexto amplo de cooperação que envolve Municípios, a União e agentes financeiros nacionais e internacionais, o Estado projeta alocar recursos da ordem de mais de R$ 1,8 bilhão, financiados por meio de recursos próprios, do BNDES e do Programa PROREDES do BIRD, que viabilizarão investimentos totais de R$ 2,6 bilhões em infraestrutura até 2014." [ibidem]

Dando uma ideia do que pensam nossos atuais governantes, Flávio Koutzii, petista histórico e ex-Secretário de Estado na Assessoria Superior do Governo Tarso, defendeu tal política da seguinte forma:
"(...) É claro, isso vai aumentar o volume da nossa dívida, mas destaco o fato de que o tema da dívida não tem solução nos termos em que está, nem para nós nem para os outros estados, é impagável. Não tem como escapar de uma renegociação da dívida nos próximos anos, alterando seus termos. Para começo de conversa, deixar de ter aqueles 13% obrigatórios (da receita do Estado para pagar a dívida com a União)." [15]

Perguntado se elevar a dívida seria positivo, Koutzii complementa:
"É positivo porque dinamiza a capacidade de investir, de ter um volume mais respeitável aos assalariados no Estado. Então, todos esses elementos são ativantes e positivos, com a ressalva de sermos obrigados a aumentar a dívida. Mas, ao mesmo tempo, existe um elemento da dinâmica econômica que ajuda em geral o Estado em vários compartimentos." [ibidem]

A dívida é impagável mas o Governo Tarso segue pagando-a e sem questionar. Aumentar essa dívida impagável beneficia os assalariados - que com a desculpa das finanças são arrochados, tem direitos cortados e serviços privatizados - e não o empresariado que abocanhará o dinheiro. A que ponto chegaram os dirigentes petistas para justificar um ato de entreguismo sem precedentes na História do Rio Grande do Sul.

O Banco Mundial, cujos empréstimos são acompanhados de uma cartilha de ajustes neoliberais a serem implementados, andou sobrevoando, feito urubu, o Estado recentemente. E avisou que a liberação dos recursos estará condicionada ao atendimento de exigências, as quais serão monitoradas pelo banco. [16]

As isenções fiscais, que já vinham sendo praticadas como antesala da política industrial [17], serão ampliadas:
"Foram apresentadas medidas para 22 setores. O de Semicondutores, por exemplo, ganhará a desoneração do ICMS nas operações com produtos beneficiários do Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Indústria de Semicondutores (PADIS). O de Leite e Derivados contará com um programa específico para aumentar a produtividade e qualidade do leite e a agregação do valor, com revisão dos benefícios fiscais vigentes." [ibidem]

E para não deixar dúvidas sob a órbita de que classe gravita a sua gestão o governador Tarso esclarece:
"O lançamento deste novo plano não será algo “solto”, alheio aos programas que estão sendo executados pelo governo. Pelo contrário, a Política Industrial do Rio Grande do Sul está articulada com diversas ações (...)" [ibidem 14]

Alguns professores já vinham denunciando que a contra-reforma da educação pública também não estava solta, que era parte complementar dos planos do governo e do empresariado. A entrega gratuita dos filhos da classe trabalhadora ao empresariado, justificada pela "necessidade de aproximação da realidade", estabelecida pela contra-reforma, parece confirmar tais denúncias.

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[1] Novo Governo, velhas medidas! (11/01/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2011/01/novo-governo-velhas-medidas.html

[2] Agora Governo Tarso diz que não tem dinheiro (13/01/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2011/01/agora-governo-tarso-diz-que-nao-tem.html

[3] Para as multinacionais têm dinheiro, anuncia Governo Tarso (03/07/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2011/07/para-as-multinacionais-tem-dinheiro.html

[4] O Pacotarso, o RS e a Grécia (30/06/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2011/06/o-pacotarso-o-rs-e-grecia.html

[5] Tarso quer dar mais privilégios para os amigos (12/01/2012):
http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2012/01/tarso-quer-dar-mais-privilegios-para-os.html

[6] Calote no Piso do Magistério? (13/01/2012):
http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2012/01/calote-no-piso-do-magisterio.html

[7] Governo Tarso: dinheiro e disposição para os de cima, calote e descaso para os de baixo (26/02/2012):
http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2012/02/governo-tarso-dinheiro-e-disposicao.html

[8] Sob vaias, Assembleia aprova reajuste do magistério em longa sessão (20/03/2012):
http://sul21.com.br/jornal/2012/03/sob-vaias-assembleia-aprova-reajuste-do-magisterio-em-longa-sessao/

[9] Tarso prometendo o Piso dos Professores na campanha (15/01/2012):
http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2012/01/tarso-prometendo-o-piso-dos-professores.html

[10] Governador rejeita o próprio filho! (04/03/2012):
http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2012/03/governador-rejeita-o-proprio-filho.html

[11] Governo trabalha para pagar o piso sem mexer no plano de carreira, dizem petistas (22/03/2012):
http://www.ptsul.com.br/t.php?id_txt=37398

[12] Tarso também assinou a Lei do Fundeb! (01/04/2012):
http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2012/04/tarso-tambem-assinou-lei-do-fundeb.html

[13] Professores são impedidos de distribuir documento em Conferência (10/12/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com.br/2011/12/professores-sao-impedidos-de-distribuir.html

[14] Política Industrial: Modelo de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio Grande do Sul. Secretaria de Desenvolvimento e Promoção do Investimento. Porto Alegre, 28/03/2012.
http://www.sdpi.rs.gov.br/upload/20120328144626politica_industrial___modelo_de_desenvolvimento_industrial_do_estado_do_rio_grande_do_sul.pdf

[15] Flavio Koutzii: Orçamento Participativo é dívida do governo Tarso (05/03/2012):
http://rsurgente.opsblog.org/2012/03/05/flavio-koutzii-orcamento-participativo-e-divida-do-governo-tarso/

[16] R$ 70 milhões do Banco Mundial chegam ao RS em julho (21/03/2012):
http://wp.clicrbs.com.br/andremachado/2012/03/21/r-70-milhoes-do-banco-mundial-chegam-ao-rs-em-julho/?topo=52,1,1,,171,e171

[17] No site do PT/RS a matéria que noticia sobre as medidas adotadas para a política industrial, informa que:
"Parte das ações que compõem a Política Industrial já estão em andamento, como a adequação do Fundopem e do Integra-RS, a Sala do Investidor e a Economia da Cooperação."
http://www.ptsul.com.br/noticias.php?id_txt=37458
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domingo, 1 de abril de 2012

Jornalista teria sido demitido por pressão de tucanos

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Resenha de ‘A privataria tucana’ causa demissão de jornalista na revista da Biblioteca Nacional

29/03/2012

Gabriel Bonis

A demissão de dois profissionais da revista de História da Biblioteca Nacional semanas após a publicação de uma resenha favorável ao livro “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr – fato que despertou a ira de parlamentares do PSDB, alvo de denúncias na obra – colocou o veículo no centro de uma polêmica sobre uma suposta intervenção do partido no caso. A demissão foi apontada na imprensa na coluna do jornalista Elio Gaspari, na Folha de S. Paulo, da quarta-feira 28.

Publicado em 24 de janeiro, o texto do jornalista Celso de Castro Barbosa foi alvo críticas de tucanos, que liderados pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), ameaçaram processar a publicação, editada pela Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional (Sabin) e que da Biblioteca Nacional recebe apenas material de pesquisa e iconografia.

Como resultado, a revista retirou a resenha do ar. “Fui censurado e injuriado”, diz o jornalista em entrevista a CartaCapital.

Barbosa destaca que a remoção do texto ocorreu apenas “após o chilique do PSDB” em 1º de fevereiro, nove dias depois da publicação em destaque na primeira página do site da revista. O motivo seria uma nota divulgada em um jornal carioca, segundo a qual a cúpula do partido estava “possessa” com a revista, tida pela legenda como do governo.

A evidente pressão externa fez com que o jornalista recebesse um chamado do editor-chefe da publicação, Luciano Figueiredo, naquele mesmo dia. “Ele [Figueiredo] disse concordar com quase tudo que havia escrito, mas o Gustavo Franco [ex-presidente do Banco Central no governo FHC] leu, não gostou e resolveu mobilizar a cúpula tucana."

Para conter o movimento, relata, o editor-chefe se comprometeu a escrever uma nota assumindo a culpa pela publicação do texto. “Eu disse: ‘Culpa de que? Ninguém tem culpa de nada. É uma resenha de um livro.’”

No dia seguinte o diário O Globo destacou a história e um pronunciamento da Sabin a dizer que os textos da revista são analisados pelos editores, mas aquela resenha não havia sido editada. “Subentende-se que publiquei por minha conta”, ironiza Barbosa.

Por outro lado, em matéria publicada na terça-feira 27 no site do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, dois editores da revista, Vivi Fernandes de Lima e Felipe Sáles, desmentem a Sabin e confirmam ter editado a resenha antes da publicação no site.

Críticas a Serra

O texto de Barbosa destaca a vivacidade do jornalismo investigativo no livro e sugere que José Serra esteja “morto”. O ex-governador de São Paulo também é citado como a figura com a “imagem mais chamuscada” pelas denúncias, além de questionar a origem de seu patrimônio. (Leia o texto aqui)

Inconformado com a resenha, Guerra chegou a enviar cartas de protesto à ministra da Cultura, Ana de Hollanda, e a Figueiredo. Outros tucanos alegaram que a publicação era pública, trazia os nomes da presidenta Dilma Rousseff, e de Hollanda no expediente e recebia verba da Petrobrás. Logo, deveria se manter isentada de questões políticas.

Mas Barbosa destaca que a dona da revista é a Sabin. “Uma entidade privada, composta inclusive por bancos.”

O patrocínio, defende, não seria impedimento para a manifestação de opiniões no veículo. “Não está escrito na Constituição que em revista patrocinada pela Petrobras a manifestação contra eventuais adversários do governo é proibida.”

A revista, por outro lado, preferiu divulgar nota pedindo desculpas aos ofendidos pelo texto, além de alegar não defender “posições político- partidárias”.

Em meio ao ocorrido, Barbosa afirma ter sido ameaçado com um processo por Guerra e, após a pressão dos tucanos, seus editores avaliaram que seria menor que trabalhasse em casa.

Devido à situação, o jornalista revela ter questionado o posicionamento de Figueiredo em um email aberto à redação, no qual perguntava sobre a nota que o editor-chefe escreveria em seu apoio. “Ele escreveu uma nota mentirosa e deu para o presidente da Sabin assinar. Depois, em 29 de fevereiro, me demitiu.”

Sobre a reação tucana, Barbosa acredita que o partido poderia ter agido de outra forma. “Vivemos em um país livre e a Constituição me garante o direito à opinião.”

O jornalista se refere a declarações de parlamentares do PSDB, que o chamaram de “servidor público a favor do aparelhamento do Estado”. “Se há algum erro no tom, é deles [tucanos], não meu. Sequer tinha carteira assinada e cumpria jornada sem direito trabalhista.”

Um dos motivos pelo qual Barbosa processa a revista. “Na ação, também peço indenização por danos morais e uma retratação pela nota mentirosa.”

Procurada, a Sabin informou, via nota assinada pelo presidente da instituição, Jean-Louis Lacerda Soares, que “não interfere no conteúdo editorial da revista”, pois a “atribuição relacionada ao conteúdo é do Conselho Editorial”.

A sociedade nega ter sofrido interferência externa nas demissões e diz que o jornalista Celso de Castro Barbosa foi demitido pelo então editor Luciano Figueiredo, por sua vez, dispensado “exclusivamente por razões administrativas.”

A reportagem de CartaCapital também contatou Luciano Figueiredo por meio da assessoria de imprensa da Universidade Federal Fluminense, instituição na qual leciona, e foi informada de que o historiador não poderia dar entrevistas.

Outra tentativa foi realizada por email, mas não houve resposta do professor até o fechamento desta reportagem.

O PSDB divulgou, nesta sexta-feira 30, nota na qual afirma que a “a própria Revista de História da Biblioteca Nacional constatou ter cometido um erro ao publicar o artigo” e “lamenta o retorno do assunto”, ressaltando que “não teve nenhum tipo de interferência na demissão dos profissionais.”

Na nota, Guerra afirma que o partido tem o direito de ir contra a resenha e também à Justiça. Ele nega interferência no caso.

*Atualizado às 12h55 de sexta-feira 30.

Extraído de:
http://www.cartacapital.com.br/politica/resenha-de-a-privataria-tucana-causa-demissao-de-jornalista-na-revista-da-biblioteca-nacional/


Abaixo a resenha original

27.03.2012

O jornalismo não morreu

Privataria Tucana prova que a reportagem de investigação está viva e José Serra, aparentemente, morto

Celso de Castro Barbosa

Engana-se quem imagina morta a reportagem de investigação no Brasil. Embora os jornalões, revistas semanais e emissoras de TV emitam precários sinais vitais do gênero, ele está vivíssimo, como prova A Privataria Tucana, livro do premiado repórter Amaury Ribeiro Jr.

Lançado em dezembro e recebido pela grande imprensa com estridente silêncio, seguido de críticas que tentaram desqualificar a reportagem e o autor, o sucesso do livro, já na terceira edição e no topo das listas dos mais vendidos, não se deve a suposto sentimento antitucano. Até porque os fatos objetivos relatados não poupam o PT. Não há santos na Privataria.

Com base em documentos oficiais, da CPI do Banestado e outros que o autor conseguiu em cartórios, Amaury torna pública a relação de dirigentes do PSDB e a abertura de contas no exterior de empresas de fachada, responsáveis pelo retorno ao Brasil do dinheiro sujo da corrupção. Dinheiro que voltou, naturalmente, limpo.

Muita gente deve explicações à Justiça que, nesse episódio como em outros envolvendo expressivos representantes da elite brasileira, move-se a passos de tartaruga. Ou simplesmente não se move. Pelo cargo que ocupou na época das tenebrosas transações, as privatizações da era FHC, José Serra, então ministro do Planejamento e depois duas vezes candidato à presidência, prefeito e governador de São Paulo, é quem tem a imagem mais chamuscada, para não dizer estorricada, ao fim da Privataria Tucana.

De origem humilde, o tucano paulista exibe patrimônio incompatível com os rendimentos de um político. Tudo em nome de sua filha, Verônica, que ao lado de Ricardo Sérgio, tesoureiro das campanhas de Serra e Fernando Henrique, emergem como principais parceiros do ex-governador no propinoduto que marcou a venda das empresas de telecomunicação.

Além de jogar uma pá de cal na aura de honestidade de certos tucanos, o livro de Amaury tem ainda o mérito de questionar, involuntariamente, a atuação da grande imprensa no país. Agindo como partido único, onde só é permitida uma única opinião, jornais, revistas e mídia eletrônica defenderam, com unhas e dentes, a privatização. O principal argumento era a vantagem que traria aos consumidores: eficiência e tarifas baixas por causa da concorrência. Passados mais de dez anos, o Brasil cobra tarifas de telefone das mais altas do planeta e as concessionárias são campeãs de reclamação nos Procons.

Não bastasse, ao ignorar o lançamento do livro, a imprensa hegemônica mostra sua face semelhante à dos piratas: um olho tapado, que nada vê, e outro atento à movimentação dos adversários.

Encontrado em:
http://jornalistas.org.br/noticias.php?idn=2062
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Tarso também assinou a Lei do Fundeb!

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Não é apenas a Lei do Piso Nacional dos Professores que Tarso Genro assinou e não quer cumprir. A Lei 11.494 de 2007, que instituiu o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), também recebeu a rubrica do atual governador do Estado do Rio Grande do Sul.

Em seu artigo 2° a lei diz que:

"Os Fundos destinam-se à manutenção e ao desenvolvimento da educação básica pública e à valorização dos trabalhadores em educação, incluindo sua condigna remuneração, observado o disposto nesta Lei."

Hoje o Governo Tarso e seus aliados rejeitam a base de cálculo para o reajuste do piso dos professores instituído por uma lei que o próprio governador assinou e atuam politicamente para derrubar o índice do Fundeb e substituí-lo pelo INPC, cujos reajustes são baixos e não dariam conta de alcançar a valorização dos parcos salários recebidos pelos docentes.

Tarso cara-de-pau! Assina leis e depois não só não quer cumpri-lás como atua para revogá-las!


No link abaixo encontra-se o texto da referida lei onde se pode verificar a rubrica do governador.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/Lei/L11494.htm
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