segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Aplicativo da Seduc-RS e o caráter político da tecnologia

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Filósofos distintos ideologicamente como George Berkeley, David Hume e Immanuel Kant constataram a interferência das convicções do cientista na produção da ciência. A quem possa achar que isso só seria possível nas humanidades, inúmeros físicos no século XX mostraram que essa falta de neutralidade ocorria em sua área e nas ciências exatas como um todo.

Karl Marx foi além da interferência individual mais imediata nos ensinando que a ciência era absorvida pelo capital tornando-se uma das forças produtivas dele colocando-se, dessa forma, a serviço da necessidade de acumulação e reprodução do capital da burguesia. E como a burguesia não administra seus negócios de forma isolada, mas organizada politicamente como classe, a ciência torna-se instrumento da sua economia política.

É muito fácil perceber que uma tecnologia, por mais simples que seja, possua mais de uma aplicação. Um objeto rústico cortante pode ser utilizado tanto para alimentação quanto para o assassinato. Um sistema computacional moderno pode tanto auxiliar em operações médicas e salvar vidas quanto para bombardear cidades inteiras com drones e ceifar milhares de vidas.

Os conflitos humanos e de classes definirão qual será o uso da tecnologia e isso passa por quem tem o domínio sobre ela. Na atual era dos aplicativos e das redes sociais produzimos dados para grandes empresas que, de posse deles, os vendem e lucram. O Facebook que o diga! Os algoritmos, por sua vez, tentam nos influenciar política, ideológica e financeiramente.

Como dito anteriormente a burguesia não administra seus negócios de forma isolada mas organizada politicamente como classe. Isso nos remete ao governo. A Secretaria da Educação do Estado do Rio Grande do Sul (Seduc-RS) disponibilizou um aplicativo que substitui o diário de classe e as folhas de conteúdos dos professores, assim como oferece outras funcionalidades. Devido à sua praticidade ganhou a adesão de inúmeros profissionais da educação.

Mas como a tecnologia não é neutra e no capitalismo torna-se um instrumento a serviço da economia política da burguesia o aplicativo da Seduc-RS tornou-se um grande aliado da política de ajuste fiscal do governo do tucano Eduardo Leite. Com os dados alimentados pelos próprios educadores o governo tem passado por cima da autonomia das escolas e sem aviso prévio cancelado matrículas de alunos tidos como infrequentes, demitido professores contratados que estão atuando dentro de sua área mas fora de sua disciplina e realizado enturmações que lá na ponta geram mais demissões.

Um governo que assumiu anunciando que seguiria fechando turmas, turnos e escolas; que nega reajuste para o Magistério e ainda quer atacar o seu precário plano de carreira; que quer demitir os trabalhadores contratados para precarizá-los ainda mais; que desviou R$ 92 milhões de recursos de obras em escolas para aplicar em rodovias (incluindo algumas que serão privatizadas) e chega ao cúmulo da perversidade demitindo professores doentes em plena licença saúde; jamais poderia disponibilizar uma tecnologia em benefício da educação e das comunidades escolares.

O aplicativo do governo Leite é um Cavalo de Troia a serviço do ajuste fiscal, da destruição da educação pública e da sua privatização. Ele é parte do projeto “Educação Gaúcha Conectada” [*], um plano maior cuja cerimônia de lançamento contou com a presença de grupos como Lemann e Itaú.

Os profissionais da educação, conhecidos e reconhecidos por sua combatividade, precisam resistir a mais este ataque.

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[*] Educação Gaúcha Conectada beneficia mais de 28 mil alunos de Santa Maria e Cachoeira do Sul. Seduc-RS, 29/03/2019.



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