domingo, 6 de janeiro de 2019

Os libertadores Guedes e Bolsonaro

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Em seu discurso de posse o Ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, afirmou que “Nós temos que libertar as futuras gerações desse regime trabalhista previdenciário que nós temos hoje. O governo democrático vai inovar e abandonar a legislação fascista da carta del lavoro.” [1]

De fato, se o programa de governo for cumprido o resultado final será que as futuras gerações terão uma previdência aos moldes da chilena (onde 90,9% dos que conseguem se aposentar ganham pouco mais da metade do salário mínimo do país [2]) e um mercado de trabalho formal nos níveis da informalidade, como desejou o próprio presidente [3] chegando até mesmo a acenar com a possibilidade de extinção da Justiça do Trabalho [4].

É preciso assinalar que no Chile, dado o mal estar social que tem gerado mobilizações, o governo do direitista Sebastián Piñera está tendo que propor alterações no regime previdenciário de capitalização [5] e que a flexibilização de direitos trabalhistas no Brasil não implicou na geração de empregos prometida e ainda aumentou a informalidade [6].

As consequências assinaladas não constituem nenhuma novidade mas como estamos em um momento onde as obviedades precisam ser ditas então há a necessidade de lembrá-las. Que os liberais tenham como princípio a não ingerência estatal nas relações laborais é uma coisa. Que tentem vender o paraíso com isso já são outros quinhentos, afinal, a realidade tem sido rica em demonstrar o oposto. Agora que se arvorem os libertadores dos outros beira a estupidez. Mas como a estupidez tem sido a marca desse governo...

As legislações laborais surgiram pela luta organizada da classe trabalhadora. Nenhum governo deu nada de bonzinho. Otto von Bismarck criou o primeiro sistema de previdência público no século XIX após as lutas dos trabalhadores alemães e franceses. Era preciso “entregar anéis para não perder os dedos” precavia ele que havia colaborado na repressão da Comuna de Paris. Getúlio Vargas criou a legislação trabalhista no Brasil na esteira de uma greve geral em 1917 e na tomada de poder que se antecipava às lutas populares: “Façamos a revolução antes que o povo a faça”, advertiu o então governador de Minas Gerais aliado de Vargas, Antônio Carlos de Andrada. Portanto, falar de direitos trabalhistas como mero paternalismo não passa de uma desqualificação rasa e sem sentido, em suma, é puro mito (palavra adequada para o momento).

Mas chama a atenção o fato dos pretensos defensores da liberdade de escolha alheia se postarem como “libertadores” dos outros. Logo eles que acusam a esquerda de “engenharia social”. E tudo isso sem consultar aqueles que desejam “libertar”. Sabem que os “libertados” rejeitam massivamente tal “libertação”. Em recente pesquisa do DataFolha 57% dos entrevistados se colocaram contra a redução de direitos trabalhistas [7]. Não foi por acaso que tal “libertação” foi escondida e dissimulada durante as eleições.

O que os “libertadores” não contam é que também são muito generosos. Sim! Paulo Guedes foi presidente da Bozano Investimentos até três dias após a vitória de Bolsonaro. A referida empresa possui investimentos em vários ramos, entre eles o de previdência privada [8]. Com a “libertação” a empresa de Guedes poderia assumir esse fardo que tanto oprime o trabalhador brasileiro. Quanta generosidade né?


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[1] Discurso de Posse de PAULO GUEDES como Ministro da Economia do Governo Bolsonaro. 02/01/2019.

[2] Como é se aposentar no Chile, o 1º país a privatizar sua Previdência. 16/05/2017.

[3] Jair Bolsonaro defende mudanças na lei trabalhista que aproxime mercado da informalidade. 13/12/2018.

[4] Jair Bolsonaro concede ao SBT a primeira entrevista após posse - Parte 1 | SBT Brasil (03/01/18).

Jair Bolsonaro concede ao SBT a primeira entrevista após posse - Parte 2 | SBT Brasil (03/01/18).

Jair Bolsonaro concede ao SBT a primeira entrevista após posse - Parte 3 | SBT Brasil (03/01/18).

[5] Chile, que usa capitalização na Previdência, estuda reforma. 06/10/2018.

[6] Reforma trabalhista não gerou empregos e aumentou informalidade, avaliam especialistas. 26/11/2018.

[7] Maioria da população é contra redução de leis trabalhistas e privatizações em série de estatais, diz Datafolha. 05/01/2019.

[8] Tanque Cheio: Todos os conflitos de interesse de Paulo Guedes no superministério da Economia. Breno Costa, 28/11/2018.



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