As conjunturas de crise
do capitalismo chacoalham a normalidade das sociedades burguesas,
expõem a realidade da representação da sua democracia gerando, ou
aprofundando, o descrédito da classe política perante as massas,
elevando assim os conflitos sociais e a polarização.
Nesse cenário a disputa
política se agudiza e ganham mais proeminência aqueles que
transparecem ser mais críticos do status quo, ainda que na essência
possam não ser antissistema. Às mobilizações dos trabalhadores e
dos oprimidos em defesa dos seus direitos atacados emerge uma direita
que tenta reagir de forma dura.
Foi nesse contexto que um
político com 30 anos de carreira ganhou visibilidade nacional.
Aproveitando-se da crise profunda do regime e o vácuo deixado pela
esquerda majoritária, Jair Bolsonaro aparece aos olhos de muitos
como um homem honesto, de posições firmes, em suma, o único capaz
de colocar o Brasil no rumo certo.
O presente artigo visa
abordar e explorar os supostos pontos fortes do deputado e por isso
pedimos compreensão por alguns fatos, aspectos e características
que não tenham sido mencionados ou que não foram desenvolvidos de
forma mais profunda.
Segurança pública
O Brasil possui a polícia
que mais mata no mundo. E a que mais morre também [1]. Supondo que
todos os mortos pela polícia tratam-se de delinquentes (o que
sabemos que não é o caso) fica evidente que a máxima “bandido
bom é bandido morto” já vigora, em parte, no país. Inúmeras
intervenções militares foram realizadas e até UPPs já dominaram
as periferias. Nosso país está entre os que mais matam ativistas de
direitos humanos no mundo [2]. Com exceção da morte de policiais
sabe-se que as demais são defendidas e/ou desejadas pela direita da
qual Bolsonaro faz parte. Os boatos sujos espalhados por muitos dos
seguidores do “mito” sobre Marielle Franco estão aí para
confirmar.
Apesar da ineficácia
delas a fórmula de Bolsonaro para o problema da violência é
simples: conceder aporte jurídico para os policiais matarem ainda
mais (e como efeito colateral omitido morrerem mais) e liberação do
porte de arma – o que supostamente deixaria os ladrões
constrangidos já que o cidadão comum poderia se defender, embora o
próprio deputado já tenha sido rendido e assaltado mesmo estando
armado [3].
Essa política simplista
baseada na repressão se guia pela máxima do “bandido bom é
bandido morto”. Porém, ela não vale para todos os bandidos, como
constata-se no debate abaixo:
“O SR. FLÁVIO BOLSONARO – (…) Eu queria ver essa energia que
V.Exa. usa para atacar locais onde a milícia domina também onde o
tráfico funciona. Por que V.Exa. não usa o mesmo critério?
Traficante pode? Se houvesse uma milícia no Morro da Coroa,
certamente V.Exa. teria chamado o parlamentar, sei lá, o
representante local daqui para ir depor na CPI que V.Exa. presidiu.
Por que esse esforço também? Nós não vemos quando uma comunidade
é dominada por traficantes.”
“O SR. MARCELO FREIXO – Só para reafirmar, Presidente, que o
Deputado Chico Alencar é morador de Santa Teresa, informação que
não foi aqui trazida.
Quero dizer que o nosso enfrentamento permanente aqui é a
insegurança pública, que é contra todas as formas de crime, ao
tráfico, à milícia, todas são inaceitáveis. Qualquer forma que
viola os direitos humanos é inaceitável, é evidente. Como também
não vou citar aqui deputados federais que defenderam a milícia, em
Brasília. Deputados muito próximos, inclusive – há o deputado
que me antecedeu aqui – que defenderam, dizendo que existiam
milícias boas. E nem por isso achei que o nobre Deputado tinha
envolvimento com milícia.
Mas, concluindo …
O SR. FLÁVIO BOLSONARO – Dê nome, Deputado! Eu não tenho medo de
falar o nome! O Deputado Jair Bolsonaro. Pode falar, Deputado!” [4]
O reconhecimento de
Flávio, que chegou a propor a legalização das milícias [5], é
confirmado pelo seu próprio pai em discurso na Câmara dos Deputados
em que criticou o relatório final da CPI das Milícias, realizada
pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro:
“O
meu Estado, lamentavelmente, é diferente dos demais. Para pior.
Nenhum Deputado Estadual faz campanha para buscar, realmente,
diminuir o poder de fogo dos traficantes, diminuir a venda de drogas
no nosso Estado. Não. Querem atacar o miliciano, que passou a ser o
símbolo da maldade e pior do que os traficantes. (...)”
[6]
Mesmo dentro de uma
lógica que enxerga na repressão e que foca nas armas a solução
para o problema da violência urbana como conciliar a máxima
“bandido bom é bandido morto” com a defesa dos bandidos da
milícia sem cair em contradição?
Além do mais, o porte de
armas não deve ser extensivo a todos. Em 2013, Bolsonaro apresentou
o Projeto de Decreto Legislativo 916/13 proibindo que os Agentes de
Fiscalização Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) pudessem andar armados
[7].
Essa proposta surgiu logo
após Bolsonaro ter sido autuado e multado em R$ 10 mil pelo Ibama
por pesca ilegal em uma área de conservação ambiental em Angra
[8]. O deputado ainda entrou com mandado de segurança para seguir
pescando na referida área, pedido que foi negado pelo Ministério
Público Federal (MPF) [9]. Posteriormente foi absolvido pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) [10], o que não apaga as suas ações
contraditórias e intenções nada nobres.
Corrupção
Entre idas, vindas e
trocas de nomes Jair Bolsonaro integrou o PP, um dos partidos mais
corruptos do Brasil, por 20 anos. A sua última filiação ao mesmo
ocorreu no ano do estouro do escândalo do mensalão onde o PP teve
vários implicados. O partido liderou o número de denunciados na CPI
dos Sanguessugas [11] e quase a metade de sua bancada no Congresso
Nacional apareceu como investigada pela Operação Lavo Jato [12].
PSC, PFL, PTB, PPR e PDC foram as outras siglas da qual fez parte.
Em 30 anos de vida
política e tendo passado por partidos recheados de corruptos não se
conhece um único trabalho relevante de Bolsonaro contra a corrupção
de seus correligionários. Mesmo assim ele tenta se vender como um
combatente “radical” de corruptos:
“Já que a imprensa
diz que eu sou radical, vamos combater a corrupção com radicalismo
sim, vamos combater a violência com radicalismo também.” [13]
Já sabemos que do
combate “radical” da violência estão excluídos os milicianos.
Mas e na política? Quais políticos seriam poupados ou não seriam
combatidos com “radicalismo”? Algumas movimentações nos dão
boas pistas.
Apesar de já integrar
outros escândalos de corrupção e de ter assinado os mesmos
decretos de pedaladas fiscais que Dilma, Michel Temer iniciou a sua
gestão com o apoio de Bolsonaro, que reivindicava o governo e fazia
sugestões:
“Prezado Presidente
Michel Temer, sua Secretária Especial de Direitos Humanos, Flávia
Piovesan, no jornal O Globo, há poucos dias, fez o editorial que
praticamente só faltou terminar com “Fora, Temer!” Ou seja,
Presidente Michel Temer, nós temos que desaparelhar o Governo desses
esquerdistas que estão aí, não podemos botar gente dentro do
Governo que esteja aliado ao PT. Isso é inadmissível!” [14]
Não é o caso aqui
destrinchar o caráter “esquerdista” de uma secretária que
aceita ser nomeada por Temer mas importante ressaltar o silêncio de
Bolsonaro diante de outra nomeação: Gustavo Perrella, filho de Zezé
Perrella, dono do helicóptero interceptado pela Polícia Federal em
24 de novembro de 2013 com 450 kg de cocaína, o famoso “helicoca”,
foi designado para o cargo de Secretário Nacional de Futebol e
Defesa dos Direitos do Torcedor. [15]
Em março de 2017, Jair
Bolsonaro grava vídeo ao lado do filho Flávio, e no estilo caricato
que lhe é peculiar, critica a Reforma da Previdência que “vai
dar munição para o PT crescer em 2018” e pede para Temer “ser
homem” e ter “coragem” de “cortar as indicações
políticas” que geram “corrupção” e
“ineficiência”, que assim ele “não vai responder
por nada que antes de assumir” a Presidência [16]. Não
responder por nada de antes? Que contraste para quem se apresenta
como o combatente “radical” da corrupção!
Quando estourou o
escândalo dos áudios de Joesley Batista, que atingiram em cheio
Temer e Aécio (candidato de Bolsonaro no segundo turno de 2014 [17]
e figura da qual anunciou desejar querer ser vice [18]), Bolsonaro
gravou um vídeo em seu gabinete que começa com inserções do
jornal Bom Dia Brasil da Rede Globo abordando o fato e logo a
seguir ele faz uma fala de pouco mais de 2 minutos desancando o PT,
sem mencionar uma única vez o nome do tucano e do peemedebista. [19]
No início de 2017, o
deputado estadual Jorge Picciani (PMDB-RJ), que já havia sido
delatado à Lava Jato [20], foi reeleito para presidir a Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, com voto favorável de
Flávio Bolsonaro. Como informa o jornal Extra: “Somente os
cinco deputados do PSOL (Eliomar Coelho, Flavio Serafini, Marcelo
Freixo, Paulo Ramos e Wanderson Nogueira) e o Dr. Julianelli (Rede)
votaram contra a recondução do parlamentar ao cargo”. [21]
E por falar em voto, o
tom do discurso dos Bolsonaros, quando votaram a favor da denúncia
contra Michel Temer, foi bem diferente de quando votaram pelo
impeachment de Dilma:
“Senhor Presidente [da Câmara]: o problema do Brasil não é a
troca de Presidente [da República], é a corrupção. Pela abertura
das investigações, meu voto é ‘não’”. (Eduardo Bolsonaro)
“Para ser uma grande nação o Brasil precisa de um presidente
honesto, cristão e patriota. Meu voto é ‘não’”. (Jair
Bolsonaro) [22]
O voto contra Temer em um
momento em que a sua impopularidade batia recorde [23] levou o
liberal Rodrigo Constantino a acusar os Bolsonaros de oportunismo, de
ter tido tal postura por sobrevivência eleitoral [24]. Ainda que a
linha de Constantino seja alertar para que estivessem fazendo o “jogo
da esquerda” a falta de radicalismo contra os corruptos do PMDB
salta aos olhos e parece indicar que o voto insonso pela investigação
de Temer tenha tido interesses eleitoreiros mesmo.
Bolsonaro também só
votou contra Eduardo Cunha quando a sua situação se tornou
insustentável. O ex-presidente da Câmara dos Deputados já era um
notório corrupto com lista antiga e extensa quando era elogiado e ia
até na missa com o “mito”:
“Ontem, a convite, estive com o Presidente da Câmara dos Deputados
– Eduardo Cunha – em culto realizado na Assembleia de Deus
Ministério de Madureira – Rio de Janeiro.
Fui muito bem recebido por todos, em especial pelo seu líder, Pastor
Abner Ferreira.
Eduardo Cunha no comando representa uma Câmara independente,
evitando atos autoritários em Decretos Presidenciais, como censura à
internet e perseguições políticas dela decorrentes.” (Facebook
de Bolsonaro. Postagem apagada)
A referida igreja e o seu
presidente, Samuel Cássio Ferreira, irmão do Pastor Abner Ferreira,
estão sendo investigados pela Operação Lava Jato por suspeita de
lavagem de dinheiro em benefício de Eduardo Cunha [25]
Atualmente Bolsonaro vem
mantendo relações estreitas com políticos como o deputado Onyx
Lorenzoni (DEM-RS), que admitiu ter realizado caixa 2 com a JBS [26];
o prefeito de Parnaíba/PI, Mão Santa (PMDB-PI), ex-governador do
Piauí cujo governo foi marcado por práticas corruptas [27] tendo
sido cassado por compra de votos [28] e o senador Magno Malta
(PR-ES), indiciado pela Polícia Federal pelo escândalo da máfia
dos sanguessugas, que desviavam dinheiro de ambulância. [29]
Onyx organizou a viagem
ao Japão e fez parte da comitiva de Bolsonaro [30]. Mão Santa
recebeu o deputado em Parnaíba em evento que gerou críticas de
parte dos seus seguidores devido a fama de corrupto do prefeito, o
que não constrangeu Bolsonaro: “Considero muito o então
Senador Mão Santa”, respondeu a um seguidor intrigado [31].
Magno Malta vem sendo cotado para compor a vice-presidência em sua
chapa [32]. Sobre a máfia dos sanguessugas o senador foi salvo por
seus próprios pares. Na época, o relator do processo, senador
Demóstenes Torres, pediu o arquivamento da representação contra
Malta mesmo reconhecendo que haviam “fortes indícios” de que ele
havia recebido vantagens ilícitas [33]. Malta ainda é suspeito de
realizar caixa 2 [34] com dinheiro de uma das maiores fabricantes de
móveis de cozinha do país, a Itatiaia, e de ter articulado uma
emenda no programa Minha Casa Minha Vida para beneficiar a empresa.
[35]
Não bastasse essas
companhias nos últimos meses vieram à tona a evolução patrimonial
da família Bolsonaro com a aquisição de 13 imóveis [36], a
utilização do auxílio-moradia apesar de possuir imóvel próprio
[37], o uso de recursos públicos em atividades tidas como do mandato
para fazer campanha presidencial [38] e até o emprego de uma
servidora fantasma [39]. As explicações variaram da tergiversação
ao escárnio (usava o auxílio-moradia para “comer gente”)
passando pela simples negação acompanhada de ataques virulentos
contra os que divulgaram tais fatos.
Na página “Mentiram
Para Mim Sobre o Jair” consta um print da resposta de Bolsonaro a
um seguidor que questiona o recebimento do auxílio-moradia, assim
como o fato do deputado ter votado a favor do aumento do próprio
salário há alguns anos. A resposta foi a seguinte:
“Aguardo relação
daqueles que votaram aumento dos salários. Todas votações que
participei sobre isso foram simbólicas. Outrossim, me aponte um só
deputado que rejeitou tais aumentos. Resumindo, mesmo em votação
simbólica foram beneficiados, inclusive eu, é ninguém nada
devolveu. AGORA SÓ EU SOU ACUSADO DISSO TAMBÉM?” [40]
Restaria saber o que
seria essa “votação simbólica” já que os votos dos deputados
possuem consequências práticas. Em 2013, pelo menos ele não
enrolou:
“Fui ser deputado
federal para não andar de ônibus, fusca, van, morar bem e pensar no
bem do povo e da minha família. Ser pobre e miserável não é o que
o vereador merece, mas também não precisa passar ao largo dos
problemas do município.” [41]
Político
antissistema?
Diante da desmoralização
dos políticos e partidos tidos como tradicionais a postura
histriônica de Jair Bolsonaro com seus discursos bravateiros
transmite a muitos a imagem de um homem forte e valente, uma espécie
de antipolítico que estaria disposto a enfrentar o sistema. Essa
imagem acaba sendo reforçada para o seu público mais fiel a cada
vez que suas contradições são expostas publicamente,
principalmente em veículos da grande mídia.
É verdade que boa parte
da burguesia não quer Bolsonaro presidente. Mas isso não tem nada a
ver com civilidade ou com socialismo e sim pelo fato de que temem que
ele não consiga lhes proporcionar um governo estável. Temem que
seus discursos reacionários contra mulheres, gays, indígenas, entre
outros setores oprimidos, joguem ainda mais gasolina e inflamem uma
sociedade polarizada que vive uma crise econômica, política e
social sem precedentes na sua história e que pode explodir nas ruas
a qualquer momento. A burguesia demanda calmaria social, ou o mínimo
de conflito possível, para seguir seus planos de ajustes.
Ciente desse receio
Bolsonaro tem buscado a confiança dos mercados para a sua campanha
eleitoral. Vem removendo o pouco de nacionalismo que apresentava em
sua precária visão econômica, área a qual reconhece a sua
ignorância, e trocando pelos chavões do liberalismo econômico.
Paulo Guedes, responsável pelo programa econômico de Bolsonaro,
propõe privatizações para a redução da dívida pública [42]
quando é mais do que sabido que estas as elevam. Assim, de
assistente-de-estagiário-de-dublê-de-direitista-conservador
Bolsonaro vem tentando emplacar o campeão do livre mercado.
Se essa postura está
longe de ser antissistema, suas posições anteriores indicam que não
há mudança de rumo nesse sentido. Bolsonaro votou, por exemplo, a
favor das Reformas Trabalhistas de Temer [43] e de Fernando Henrique
Cardoso [44]. Apoia o ajuste fiscal. Votou a favor da PEC dos Gastos.
Esta última merece um detalhamento para verificar o quanto Bolsonaro
já está enquadrado por um sistema do qual nunca foi inimigo.
Em outubro de 2016 Temer
envia à Câmara dos Deputados a PEC dos Gastos e convida os
deputados para uma janta. Bolsonaro rejeita o convite e grava um
vídeo em casa atacando a PEC, a qual qualifica de “medida
draconiana”, chama Temer de “traidor” que estaria
cometendo “uma injustiça” contra os militares que o
apoiaram com um “congelamento de salários por 20 anos”,
declara “voto contrário” e que denunciaria da “tribuna
da Câmara as reais intenções” do governo com ela [45].
Porém, as coisas se
passaram de forma totalmente distinta. No dia da votação Bolsonaro
se reuniu pela manhã, em uma sala da Câmara, com “ministros do
governo Temer e algumas autoridades militares” e alegando que
lhe foi prometido que os “integrantes das forças armadas não
serão esquecidos”, arrega e muda o seu voto, restabelecendo “o
compromisso Jair Bolsonaro e governo Temer” pela “manutenção
da nossa democracia” e declara: “assim sendo o meu voto
nesta tarde será ‘sim’ à PEC do Teto”. [46]
Tais declarações foram
proferidas em vídeo gravado no seu gabinete logo após a referida
reunião. Nele chama a atenção o tom ameno e o semblante apático
de Bolsonaro. É um mistério o que aconteceu naquela sala mas é
fato inegável que o “mito” foi impiedosamente enquadrado pelo
sistema. Seja como for a mudança brusca de posição gerou crise em
sua base [47]. E no ano seguinte as Forças Armadas sofreram um corte
de 44% nos seus recursos, cumprindo-se assim a promessa de que não
seriam esquecidas. [48]
Mito
A primeira forma de
tentar explicar o mundo em que vive criada pela humanidade foram os
mitos. Tratavam-se de elaborações fantasiosas da realidade que
posteriormente foram superadas pela filosofia. Nas ciências
sócio-históricas e no debate político quando alguém, ou algum
fato, é tratado como “mito” é porque se está diante de algo
enganoso. Nesse sentido quando se diz “o mito fulano de tal” ou
“o fato tal é um mito” está a se dizer que o que dizem sobre
aquela pessoa ou fato não é exatamente aquilo que se diz, que não
é verdadeiro, que é enganoso, uma farsa e pode ser até uma grande
fraude.
Com tal caracterização
em mente, somente alguém extremamente limitado intelectualmente pode
celebrar ser chamado de “mito”. Mas aqui é que a ironia encontra
coerência: do ponto de vista do conceito clássico de “mito” é
completamente acertado atribuir tal alcunha a Jair Bolsonaro,
conforme constatamos ao longo do texto, ainda que seus seguidores
tentem atribuir outro sentido ao termo.
Há alguns mitos na
cabeça de boa parte da esquerda também. Alguns ativistas não
separam os apoiadores de Bolsonaro que são direitistas convictos
daqueles que são simplesmente confusos politicamente e que o apoiam
por enxergá-lo como um político honesto e de posições firmes.
A mitologia do
nazifascismo criada em torno de Bolsonaro aliada a linha do “fascismo
não se dialoga se combate” leva alguns a simplesmente fechar o
necessário diálogo com o grupo dos confusos, perdendo a
oportunidade de desmitificar o “mito”.
Outra consequência grave
dessa mitologia é a crença de que para derrotar Bolsonaro é válido
não apenas se jogar no colo de Lula e do PT mas apoiar qualquer
outro candidato, inclusive do PSDB, em um eventual segundo turno.
Apesar das pesquisas o
quadro eleitoral ainda está indefinido e não se sabe com precisão
o potencial de votos dos candidatos, dada a crise profunda do regime.
O certo é que o melhor caminho para neutralizar ou reduzir as
chances da direita é atuar com independência política, sem
capitular a falsa polarização, e mobilizando pelas demandas
concretas. Os atos por Marielle e Anderson, por exemplo, foram tão
contundentes e tiveram tanto apoio popular que obrigaram Bolsonaro a
silenciar.
_______________________________________________________________
[1] Anuário Brasileiro
de Segurança Pública 2016. Fórum Brasileiro de Segurança Pública
(FBSP).
[2] Brasil está entre os
quatro líderes globais em homicídios de ativistas. 17/03/2018.
[3] Marginais rendem
Bolsonaro e levam motocicleta e arma. Jornal A Tribunal de Imprensa,
Rio de Janeiro, Quarta-feira, 5 de julho de 1995.
[4] ALERJ. Sessão do dia
10/03/2010.
[5] Bolsonaro vai
apresentar projeto de legalização das milícias. 16/03/2007.
[6] Críticas ao
relatório final da CPI das Milícias, realizada pela Assembléia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Discurso de Jair Bolsonaro.
Sessão do dia 17/12/2008.
[7] Proposta proíbe uso
de arma de fogo por fiscais ambientais. 01/10/2013.
Projeto de Decreto Legislativo (PDC) 916/2013. Jair Bolsonaro.
[8] Bolsonaro teme ficar
inelegível se condenado por pesca ilegal. 17/05/2013.
[9] Bolsonaro pede
autorização para pescar em área de preservação ambiental.
16/05/2013.
[10] 2ª Turma julga
improcedente denúncia contra deputado Jair Bolsonaro por crime
ambiental. 01/03/2016.
[11] Partidos do mensalão
lideram lista de sanguessugas; Rio e SP estão no topo
[12] Quase metade do PP
será investigado; veja a distribuição por partido
[13] Bolsonaro: Vou
combater a corrupção e a violência com radicalismo
[14] Jair Bolsonaro.
Discurso na Câmara dos Deputados. Diário da Câmara dos Deputados,
nº 131, p.45, 03/08/2016.
[15]
Dono de helicóptero apreendido com cocaína assume no Ministério do
Esporte. 18/06/2016.
[16]
BOLSONARO DETONA TEMER E DIZ PRA ELE TOMAR VERGONHA NA CARA E VIRAR
HOMEM. 24/03/2017.
[17]
Bolsonaro pediu que Deus ajudasse o Brasil a votar em Aécio para
Presidente. 19/05/2017.
[18]
"Se eu não for candidato, quero ser vice de Aécio", diz
Jair Bolsonaro. 22/05/2014.
http://www.infomoney.com.br/mercados/noticia/3360622/nao-for-candidato-quero-ser-vice-aecio-diz-jair-bolsonaro
[19]
Bolsonaro comenta o fim do Temer e afirma que o pior está por vir!!!
18/05/2017.
https://www.youtube.com/watch?v=XP97ChI-LDU
[20]
Delator diz que Picciani pediu propina em três campanhas eleitorais.
05/11/2016.
https://oglobo.globo.com/brasil/delator-diz-que-picciani-pediu-propina-em-tres-campanhas-eleitorais-20416334
[21]
Jorge Picciani é reeleito presidente da Assembleia Legislativa do
Rio. 01/02/2017.
https://extra.globo.com/noticias/extra-extra/jorge-picciani-reeleito-presidente-da-assembleia-legislativa-do-rio-20856388.html
[22]
Veja como votou Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro na denúncia
contra Michel Temer l 02/08/2017.
https://www.youtube.com/watch?v=gu8YVEpdq5g
[23]
Datafolha aponta que 54% querem Lula preso e 89% avaliam que Câmara
deve autorizar denúncia contra Temer. 02/10/2017.
https://g1.globo.com/politica/noticia/datafolha-aponta-que-54-querem-lula-preso-e-89-avaliam-que-camara-deve-autorizar-denuncia-contra-temer.ghtml
[24]
Bolsonaro vota de acordo com campanha petista e global pela saída de
Temer, e é detonado por editor de direita. Blog do Rodrigo
Constatino, 02/08/2017.
http://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/artigos/bolsonaro-vota-de-acordo-com-campanha-petista-e-global-pela-saida-de-temer-e-e-detonado-por-editor-de-direita/
[25]
Supremo manda para Moro investigação sobre pastor aliado de Eduardo
Cunha. 12/05/2016.
[26]
Onyx Lorenzoni admite ter recebido dinheiro de caixa dois da JBS.
19/05/2017.
http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/em-video-deputado-onyx-lorenzoni-admite-ter-recebido-dinheiro-de-caixa-2/
[27]
Governo de Mão Santa no Piauí enfrenta enxurrada de acusações.
07/11/2001.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u26486.shtml
[28]
TSE cassa mandato de Mão Santa. 07/11/2001.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0711200111.htm
[29]
Sanguessuga: PF indicia senador Magno Malta. 05/05/2007
http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL31859-5601,00.html
[30]
No Japão, Bolsonaro faz série de reuniões com empresários.
26/02/2018.
[31]
Facebook de Jair Bolsonaro, 04/04/2017.
[32]
Bolsonaro oferece vaga de vice na chapa ao PR. 22/03/2018.
http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,bolsonaro-oferece-vaga-de-vice-na-chapa-ao-pr,70002237311
[33]
Magno Malta é absolvido por insuficiência de provas. 28/11/2006.
[34]
E-mails indicam repasse de R$ 100 mil a senador Magno Malta.
14/08/2016.
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/08/1802586-e-mails-indicam-repasse-de-r-100-mil-a-senador-magno-malta.shtml
[35] Senador articulou
emenda para empresa, sugere e-mail. 18/09/2016.
[36] Patrimônio de Jair
Bolsonaro e filhos se multiplica na política. 07/01/2018.
[37] Com imóvel próprio,
Bolsonaro ganha auxílio-moradia da Câmara. 08/01/2018.
[38] Presidenciável,
Bolsonaro usa cota parlamentar em pré-campanha. 19/04/2017.
[39] Bolsonaro emprega
servidora fantasma que vende açaí em Angra
[40] 60) Jair votou no
aumento do próprio salário? 30/06/2016.
[41] 'Parlamentar não
deve andar de ônibus', diz deputado Jair Bolsonaro. 12/08/2013.
[42] 'O governo é muito
grande, bebe muito combustível', diz economista de Bolsonaro.
25/02/2018.
[43] 55a. LEGISLATURA.
Terceira Sessão Legislativa Ordinária. Sessão Extraordinária nº
083 – 19/04/2017. Proposição: REQ Nº 6292/2017 - URGÊNCIA PARA
APRECIAÇÃO DO PL Nº 6.787/2016 - Nominal Eletrônica.
[44] PL 5483/2001. Altera
o artigo 618 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.
[45] BOLSONARO SOBRE A
PEC 241. 09/10/2016.
[46] PEC 241 - TETO PARA
OS GASTOS PÚBLICOS - O VOTO DE JAIR BOLSONARO. 10/10/2016.
[47] Seguidores de
Bolsonaro se revoltam com voto do deputado na PEC 241. 13/10/2016.
[48] Forças Armadas
sofrem corte de 44% dos recursos. 14/08/2017.
Artigo publicado
primeiramente no Facebook do Combate – Classista e Pela Base,
em 29/03/2018.
.