Movimento Brasil Livre
(MBL) e Vem Pra Rua, organizações que lideraram os atos pelo
impeachment de Dilma, chamaram ato em defesa da Lava Jato mas não
querem saber de “Fora Temer”.
Rogério Chequer,
coordenador do Vem Pra Rua, não tergiversou sobre o caráter do ato:
“queremos deixar bem claro que este não é um ato ‘fora,
Temer’” [1]. Isso poucos dias após Eduardo Cunha ter
delatado Michel Temer, de forma comprometedora, ao juíz Sérgio Moro
[2] – fato que, aliás, passou batido por MBL e Vem Pra Rua, que
guardaram um silêncio conveniente e cúmplice.
De forma descarada e
vergonhosa blindam um dos principais articuladores do fim da Lava
Jato, uma prática que tem sido corriqueira. No episódio em que
Temer criou um ministério para conferir foro privilegiado a Moreira
Franco, investigado pela Lava Jato, o MBL lamentou a criação do
ministério, não a blindagem de Franco. Posteriormente foram além,
repetindo o discurso dos integrantes do governo de que o caso de
Moreira Franco era diferente do de Lula [3]. No final de 2016, MBL e
Vem Pra Rua já haviam convocado outro ato “contra a corrupção”
mas pelo “Fica Temer” [4].
Assim, mostram que nunca
foram contra a corrupção mas apenas contra os desvios dos
concorrentes. Não foi por acaso que vários dos seus integrantes se
filiaram nos partidos que estão atolados até os fios de cabelo na
corrupção e que são investigados pela Lava Jato – isso depois de
proclamarem-se orgulhosamente “apartidários” [5].
Um apartidarismo que era
apenas da boca para fora. As relações dessas organizações com
partidos como PSDB, DEM, PMDB, Solidariedade, entre outros, já havia
sido divulgada na grande imprensa como em matéria publicada no UOL
em 27 de maio do ano passado [6]. Na ocasião, o MBL negava qualquer
financiamento, embora reconhecesse a utilização do aparato
fornecido pelos partidos, e ainda declarava que “Nos assombra
perceber que ainda temos gente que recusa a ação política
coordenada entre partidos e movimentos, numa clara demonstração de
fascismo e autoritarismo.” [7]
Não haveria o mínimo
“assombro” se os dirigentes do MBL não tivessem se declarado
“apartidários”. Também não ocorreria “assombro” caso os
partidos que coordenaram a luta política com seu movimento não
tivessem implicados em escândalos de corrupção, incluindo o mesmo
esquema o qual eles tanto denunciavam seus concorrentes.
Como nem todos são cegos
e incoerentes e como a base que ia nos atos chamados pelo MBL e Vem
Pra Rua era heterogênea, no dia 13 de março de 2016, os tucanos
Aécio Neves e Geraldo Alckmin foram vaiados e expulsos da Avenida
Paulista, tendo frustrado o seu desejo de subir no palanque com seus
aliados de movimento para consagrar “a ação política coordenada”
[8].
Se o fim formal do
apartidarismo foi selado com a filiação partidária ela
aprofundou-se com o apoio explícito a governos, dentro e fora do
país. O presidente Maurício Macri da Argentina foi muito “mitado”
pelo MBL até a sua política aprofundar o caos social e assim o
movimento jogou-o na invisibilidade tendo caído no “esquecimento”,
sem nenhuma mea culpa ou autocrítica. Atualmente apoiam os tucanos
João Dória Jr e Nelson Marchezan Jr. Com Temer o apoio se dá de
forma um pouco mascarada, principalmente através de blindagens,
exigências e defesa de suas medidas de ajuste fiscal.
Mas não foi apenas o seu
apartidarismo que mostrou-se farsante, aquela conversa de que
“primeiro se tira uns e depois o resto” também não passou de
discurso engana bobo. Para completar apoiam o ajuste fiscal que tem
massacrado o nível de vida do povo brasileiro, assim como os
governos que o aplicam.
Enquanto isso, Lula e o
PT trocam afagos [9], fazem acordos, alianças eleitorais [10] e até
votam nos ditos “golpistas” para presidir os parlamentos,
incluindo os candidatos de Temer no Congresso Nacional [11].
Em São Paulo, cidade que
acusam de ser o ninho da reação nacional, votaram no candidato do
DEM, partido do Fernando Holiday do MBL, para a presidência da
Câmara Municipal [12]. O rapaz, que está se adaptando rapidinho à
política institucional mesquinha, não tardou a devolver a gentileza
votando no petista Senival Moura para a Comissão de Transportes da
Câmara em um acordo avalizado pelo prefeito tucano João Doria Jr
[13].
No que tange ao ajuste
fiscal nos movimentos sociais e na oposição parlamentar o PT não
tem sido consequente na luta pela sua derrota e onde governa aplica
medidas que não deixam a desejar ao ajuste de Temer, que na
realidade nada mais é do que a continuidade do ajuste de Dilma e do
PT [14].
A história está
comprovando que os dois grupos políticos que há pouco tempo atrás
tentaram polarizar a política brasileira só desejam chegar e
manter-se no poder. Para este objetivo exploraram (e exploram quando
possível) a boa intenção e a justa indignação de milhares de
pessoas. Como atesta o caso de São Paulo citado, nos bastidores eles
se entendem e se arranjam na distribuição de cargos. Ambos desejam
o fim da Lava Jato e o ajuste fiscal para manter seus podres
privilégios.
O desafio segue sendo a
formação de um terceiro campo político independente, classista,
anti ajuste fiscal, sem o rabo preso, que tenha como atuação
política prioritária a mobilização social para de fato mudar o
país e não apenas promover alguma dança nas cadeiras
institucionais.
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[1] MBL e Vem Pra Rua
convocam manifestações a favor da Lava Jato. 14/02/2017.
[2] Depoimento Eduardo
Cunha a Sérgio Moro (completo). 07/02/2017.
[3] Em maio de 2016 a
então presidente Dilma Rousseff nomeou Lula Ministro da Casa Civil o
que ia lhe conferir foro privilegiado.
[4] Vem Pra Rua e MBL
mantêm convocação de ato sobre pacote anticorrupção. 30/11/2016.
[5] Movimentos
pró-impeachment mudam discurso e vão às urnas. 17/01/2016.
[6] Áudios mostram que
partidos financiaram MBL em atos pró-impeachment. 27/05/2016.
[7] NOTA OFICIAL DO MBL
SOBRE MATÉRIA CALUNIOSA DO UOL. 30/05/2016.
[8] Alckmin e Aécio são
hostilizados na chegada à manifestação na Paulista. 13/03/2016.
[9] Lula dá conselhos a
Temer e diz estar à disposição para diálogo: ‘Me chama’.
Josias de Souza, 03/02/2017.
[10] PT e PCdoB se
coligam com golpistas em metade das cidades brasileiras. Cleber
Lourenço, 22/08/2016.
[11] PT decide apoiar
candidatos da base de Temer para o comando do Congresso. 20/01/2017.
[12] No item 11 da nota
da bancada municipal do PT paulistano de 26/12/2016 consta a
explicação do apoio a Milton Leite do DEM para a presidência da
Câmara:
[13] Coordenador do MBL
vota em petista em comissão da Câmara de SP. 10/02/2017.
[14] Esta afirmação por
vezes gera polêmica. Por isso algumas lembranças são necessárias:
- A PEC dos gastos de Temer tem a sua origem no “Novo Regime
Fiscal” do governo Dilma, tanto que o governo do PT no Piauí
aprovou uma versão estadual da PEC de Temer com o nome “dilmista”.
- O teor do plano de acordo da dívida com os Estados de Temer, que é
uma verdadeira chantagem, é o mesmo do PLP 257/16 de Dilma.
- A contra-reforma do Ensino Médio de Temer tem a sua base na
proposta do governo Dilma.
- Dilma já havia se comprometido com uma nova contra-reforma na
previdência e atacado direitos trabalhistas.
- Tanto Dilma quanto Temer vetaram proposta de auditar a dívida
pública brasileira.
- A entrega do restante do pré-sal já havia sido apoiada por Dilma
em votação no Senado Federal em 25/02/2016.
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