domingo, 1 de novembro de 2015

Para quem o governismo apontará o dedo agora?

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O aprofundamento da crise econômica e política no país levou o PT a reunir o seu Diretório Nacional na última quinta-feira (29/10) para definir a atuação do partido que tem o poder central diante da conjuntura.

Evidentemente que a sua principal figura pública não poderia ficar de fora e o discurso de Lula foi revelador (para alguns), deu a linha para os petistas e aliados e como a dinâmica da crise acaba por expor as contradições tal linha acabou por aniquilar a principal argumentação distracionista dos governistas: a responsabilização de Eduardo Cunha e Joaquim Levy.

A seguir trechos importantes do discuro de Lula. Os grifos são meus.


Dilma mentiu na campanha eleitoral

“Nós tivemos um grande problema político, sobretudo com a nossa base, quando nós tomamos a atitude de fazer o ajuste, que era necessário fazer e estávamos discutindo com os trabalhadores quando foram anunciadas as mudanças dia 29 de dezembro, deixando muita gente nervosa e irritada.. Nós ganhamos as eleições com um discurso e, depois das eleições, nós tivemos que mudar o nosso discurso e fazer aquilo que a gente dizia que não ia fazer. Esse é um fato, esse é um fato conhecido de 204 milhões de habitantes e é um fato conhecido da nossa querida presidenta Dilma Rousseff” [1]

As crises econômicas do modo de produção capitalista sempre foram superadas aumentando o sofrimento e as privações das classes populares e trabalhadoras. Atualmente o ajuste fiscal é a fórmula utilizada pelas classes dominantes para tentar superar mais esta crise que, diferente das outras, é uma crise estrutural e não apenas cíclica.

O ajuste fiscal tem devastado a vida da base da pirâmide onde tem sido aplicado e era criticado há poucos anos atrás por Lula e Dilma, que gabavam-se de enfrentar a crise de forma diferente (o que nem era verdade).

O que teria mudado então? Em primeiro lugar, as crises capitalistas não resultam de uma má gestão do sistema mas do seu próprio funcionamento. Em segundo lugar, como o PT se limitou a administrar o modo de produção capitalista e, a fórmula anterior do consumo via crédito esgotou-se (como reconheceu a própria Dilma), restou aplicar o ajuste fiscal para manter o sistema funcionando. O ajuste fiscal só é “necessário” porque o PT se propôs a gerir o sistema em sua crise estrutural e não porque não exista outra alternativa.


A direita e os conservadores estão no governo

“Então, o ideal seria que a gente disputasse uma eleição e fizesse maioria, senão, o segundo ponto ideal seria ganhar as eleições só com os partidos de esquerda, só com os companheiros que pensam igual a gente. Mas não é possível também. Então, nós temos que ganhar as eleições com quem participa da coalizão conosco. E nós construímos uma coalizão muito ampla. É uma coalizão que tem vários partidos políticos, que o espectro ideológico escrito por qualquer cientista político seria considerado partido conservador ou partido de direita, mas se comportaram porque assumiram compromissos programáticos conosco e nos apoiaram e é com essa gente que nós temos que governar. São com esses companheiros que têm que participar do governo, para a gente construir não apenas a nossa governança, mas para a gente construir a maioria dentro do Congresso Nacional.” [ibidem]

Faltou informar que os partidos de esquerda não têm como compor com um governo que abraçou o programa das classes dominantes e os seus métodos políticos e corruptos. A primeira contra-reforma do governo Lula foi a privatização de parte da previdência pública, em 2003. Na ocasião os que cobraram um programa de esquerda e coerência do governo e do partido terminaram sendo expulsos.


O ajuste fiscal é anterior à nomeação de Joaquim Levy

“Não podemos jogar em cima do Levy os efeitos da crise, temos que jogar em cima de nós mesmos. Tem companheiro que fala ‘Fora Levy’ com a mesma facilidade com que falávamos ‘Fora FMI’. Não é a mesma coisa. O programa de ajuste estava feito antes de Levy chegar ao governo

A própria Dilma já havia deixado claro que o ajuste fiscal era do governo petista e não apenas do Ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Mas como Lula tem mais autoridade política a sua fala derruba definitivamente um dos pilares do distracionismo governista.


Fica Cunha!

“Nós não podemos ficar mais seis meses esperando discutir CPMF. Nós temos que começar a votar amanhã, se fosse o caso, porque tudo o que interessa à oposição é que a gente arrume 500 pretextos para discutir qualquer assunto e depois a gente não discutir o que interessa de verdade que é aprovar as coisas que a Dilma mandou para o Congresso Nacional. Primeiro vamos tentar derrubar o Eduardo Cunha, depois derrubar o impeachment e depois, se as coisas darem certo, a gente vota as coisas que a Dilma quer. Acho que é importante a gente medir, porque o tempo do governo é um tempo que urge. Vocês sabem que nossa situação é uma situação que precisamos urgentemente começar a recuperar o potencial que a presidenta já teve, ou será que vocês não acompanham pesquisa de opinião pública?” [ibidem]

O que inicialmente foi desdenhado pelos governistas como fofoca da grande mídia terminou por se confirmar: o PT está empenhado na defesa de Eduardo Cunha e costura um acordão junto com o PSDB para livrar o presidente da Câmara dos Deputados de qualquer tentativa de cassação após a descoberta de contas na Suíça e outras atitudes suspeitas.

A prioridade no ajuste fiscal e não em “derrubar Eduardo Cunha” pode ter parecido, em um primeiro momento, uma forma oculta de defesa do deputado que foi confirmada em um segundo momento quando o Diretório Nacional do PT aprovou por não representar contra Cunha no Conselho de Ética. Ruía, assim, outro pilar do distracionismo governista.


Velhinha de Taubaté? Chupa Cabra? ET de Varginha? Quem será o novo culpado?

Se em anos anteriores os governistas defendiam os governos petistas por seus “programas sociais” (sic) sem deixar de apelar para o medo do fantasmagórico “golpe das elites”, desde o ano passado este último tem sido inflado com o adendo da “onda conservadora”. Esta estaria comprovada pela composição do Congresso Nacional cujo presidente, deputado Eduardo Cunha, seria a expressão máxima do reacionarismo dominante.

Não é o ponto aqui fazer a análise histórica e social das instituições políticas da democracia burguesa e do Congresso brasileiro, tampouco dissertar sobre os limites da chamada tática da governabilidade. Quem quiser ler as minhas considerações a respeito desses dois assuntos clique aqui [2] e aqui [3]. A questão é como se comportarão os governistas agora que suas manobras distracionistas foram derrubadas pelo próprio Lula?

A Resolução Política sobre Conjuntura [4] do Diretório Nacional do PT emitida no dia 29 chega a falar das “forças mais reacionárias”, de “conservadorismo” e de “expedientes golpistas”. É um discurso que perde fôlego uma vez que o partido e o seu governo estão empenhados em manter Eduardo Cunha.

Os próprios governistas nos movimentos sociais já estão modificando a sua linha e abandonando o “Fora Cunha”. A presidente da UNE, Carina Vitral, declarou: “Fazemos oposição política ao Cunha mas não vamos entrar nessa de ‘fora’ porque senão é fora muita gente. Não queremos causar instabilidade política no país”. Já na UEE-SP, a UJS/PCdoB votou contra uma resolução política pelo “Fora Cunha” com o argumento de “defesa da legalidade e da democracia”. [5]

Se o ajuste é “necessário”, se Cunha e o Congresso conservador não devem ser importunados de quem se queixarão agora os governistas? Quem irão culpar? A Velhinha de Taubaté? O Chupa Cabra? O ET de Varginha?

Não se sabe ainda qual será a próxima distração governista para tentar desviar o foco e blindar o governo Dilma mas uma coisa é certa: o seu empenho será mantido e o próprio Lula não deixou de agradecer os pelegos pelo seu esforço:

“É importante o PT não esquecer que a base de sustentação do nosso partido nesse momento difícil está na lealdade, no compromisso e no comportamento do movimento social. Vários movimentos. (…) E o movimento tem defendido o governo na rua, defendendo o governo no trabalho e isso tem sido uma base extraordinária de sustentação que dá oxigênio e motivação para a nossa presidenta.
(...)
Fico imaginando que se o movimento social estivesse carrancudo e falando mal do governo como é que a gente estaria nisso.” [idem 1]

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[1] Lula na reunião do diretório nacional do PT — assista na íntegra

[2] Congresso conservador e reforma política. 16/11/2014.

[3] O fracasso da governabilidade. 20/04/2015.

[4] Resolução Política sobre Conjuntura. Reunião do Diretório Nacional do PT. Brasília, 29 de outubro de 2015.

Conheça as novas resoluções do Diretório Nacional do PT. 29/10/2015.

[5] Acordão para salvar corrupto, machista e LGBTfóbico? Tô #FORACunha



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