O aprofundamento da crise
econômica e política no país levou o PT a reunir o seu Diretório
Nacional na última quinta-feira (29/10) para definir a atuação do
partido que tem o poder central diante da conjuntura.
Evidentemente que a sua
principal figura pública não poderia ficar de fora e o discurso de
Lula foi revelador (para alguns), deu a linha para os petistas e
aliados e como a dinâmica da crise acaba por expor as contradições
tal linha acabou por aniquilar a principal argumentação
distracionista dos governistas: a responsabilização de Eduardo
Cunha e Joaquim Levy.
A seguir trechos
importantes do discuro de Lula. Os grifos são meus.
Dilma mentiu na
campanha eleitoral
“Nós
tivemos um grande problema político, sobretudo com a nossa base,
quando nós tomamos a atitude de fazer o ajuste, que era necessário
fazer e estávamos discutindo com os trabalhadores quando foram
anunciadas as mudanças dia 29 de dezembro, deixando muita gente
nervosa e irritada.. Nós ganhamos as eleições com um discurso
e, depois das eleições, nós tivemos que mudar o nosso discurso e
fazer aquilo que a gente dizia que não ia fazer. Esse é um fato,
esse é um fato conhecido de 204 milhões de habitantes e é um fato
conhecido da nossa querida presidenta Dilma Rousseff” [1]
As crises econômicas do
modo de produção capitalista sempre foram superadas aumentando o
sofrimento e as privações das classes populares e trabalhadoras.
Atualmente o ajuste fiscal é a fórmula utilizada pelas classes
dominantes para tentar superar mais esta crise que, diferente das
outras, é uma crise estrutural e não apenas cíclica.
O ajuste fiscal tem
devastado a vida da base da pirâmide onde tem sido aplicado e era
criticado há poucos anos atrás por Lula e Dilma, que gabavam-se de
enfrentar a crise de forma diferente (o que nem era verdade).
O que teria mudado então?
Em primeiro lugar, as crises capitalistas não resultam de uma má
gestão do sistema mas do seu próprio funcionamento. Em segundo
lugar, como o PT se limitou a administrar o modo de produção
capitalista e, a fórmula anterior do consumo via crédito esgotou-se
(como reconheceu a própria Dilma), restou aplicar o ajuste fiscal
para manter o sistema funcionando. O ajuste fiscal só é
“necessário” porque o PT se propôs a gerir o sistema em sua
crise estrutural e não porque não exista outra alternativa.
A direita e os
conservadores estão no governo
“Então,
o ideal seria que a gente disputasse uma eleição e fizesse maioria,
senão, o segundo ponto ideal seria ganhar as eleições só com os
partidos de esquerda, só com os companheiros que pensam igual a
gente. Mas não é possível também. Então, nós temos que ganhar
as eleições com quem participa da coalizão conosco. E nós
construímos uma coalizão muito ampla. É uma coalizão que tem
vários partidos políticos, que o espectro ideológico escrito
por qualquer cientista político seria considerado partido
conservador ou partido de direita, mas se comportaram porque
assumiram compromissos programáticos conosco e nos apoiaram e é com
essa gente que nós temos que governar. São com esses companheiros
que têm que participar do governo, para a gente construir não
apenas a nossa governança, mas para a gente construir a maioria
dentro do Congresso Nacional.” [ibidem]
Faltou informar que os
partidos de esquerda não têm como compor com um governo que abraçou
o programa das classes dominantes e os seus métodos políticos e
corruptos. A primeira contra-reforma do governo Lula foi a
privatização de parte da previdência pública, em 2003. Na ocasião
os que cobraram um programa de esquerda e coerência do governo e do
partido terminaram sendo expulsos.
O ajuste fiscal é
anterior à nomeação de Joaquim Levy
“Não
podemos jogar em cima do Levy os efeitos da crise, temos que jogar em
cima de nós mesmos. Tem companheiro que fala ‘Fora Levy’ com a
mesma facilidade com que falávamos ‘Fora FMI’. Não é a mesma
coisa. O programa de ajuste estava feito antes de Levy chegar ao
governo”
A própria Dilma já
havia deixado claro que o ajuste fiscal era do governo petista e não
apenas do Ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Mas como Lula tem mais
autoridade política a sua fala derruba definitivamente um dos
pilares do distracionismo governista.
Fica Cunha!
“Nós
não podemos ficar mais seis meses esperando discutir CPMF. Nós
temos que começar a votar amanhã, se fosse o caso, porque tudo o
que interessa à oposição é que a gente arrume 500 pretextos para
discutir qualquer assunto e depois a gente não discutir o que
interessa de verdade que é aprovar as coisas que a Dilma mandou para
o Congresso Nacional. Primeiro vamos tentar derrubar o Eduardo
Cunha, depois derrubar o impeachment e depois, se as coisas darem
certo, a gente vota as coisas que a Dilma quer. Acho que é
importante a gente medir, porque o tempo do governo é um tempo que
urge. Vocês sabem que nossa situação é uma situação que
precisamos urgentemente começar a recuperar o potencial que a
presidenta já teve, ou será que vocês não acompanham pesquisa de
opinião pública?” [ibidem]
O que inicialmente foi
desdenhado pelos governistas como fofoca da grande mídia terminou
por se confirmar: o PT está empenhado na defesa de Eduardo Cunha e
costura um acordão junto com o PSDB para livrar o presidente da
Câmara dos Deputados de qualquer tentativa de cassação após a
descoberta de contas na Suíça e outras atitudes suspeitas.
A prioridade no ajuste
fiscal e não em “derrubar Eduardo Cunha” pode ter parecido, em
um primeiro momento, uma forma oculta de defesa do deputado que foi
confirmada em um segundo momento quando o Diretório Nacional do PT
aprovou por não representar contra Cunha no Conselho de Ética.
Ruía, assim, outro pilar do distracionismo governista.
Velhinha de Taubaté?
Chupa Cabra? ET de Varginha? Quem será o novo culpado?
Se em anos anteriores os
governistas defendiam os governos petistas por seus “programas
sociais” (sic) sem deixar de apelar para o medo do fantasmagórico
“golpe das elites”, desde o ano passado este último tem sido
inflado com o adendo da “onda conservadora”. Esta estaria
comprovada pela composição do Congresso Nacional cujo presidente,
deputado Eduardo Cunha, seria a expressão máxima do reacionarismo
dominante.
Não é o ponto aqui
fazer a análise histórica e social das instituições políticas da
democracia burguesa e do Congresso brasileiro, tampouco dissertar
sobre os limites da chamada tática da governabilidade. Quem quiser
ler as minhas considerações a respeito desses dois assuntos clique
aqui [2] e aqui [3]. A questão é como se comportarão os
governistas agora que suas manobras distracionistas foram derrubadas
pelo próprio Lula?
A Resolução Política
sobre Conjuntura [4] do Diretório Nacional do PT emitida no dia
29 chega a falar das “forças mais reacionárias”, de
“conservadorismo” e de “expedientes golpistas”. É um
discurso que perde fôlego uma vez que o partido e o seu governo
estão empenhados em manter Eduardo Cunha.
Os próprios governistas
nos movimentos sociais já estão modificando a sua linha e
abandonando o “Fora Cunha”. A presidente da UNE, Carina Vitral,
declarou: “Fazemos oposição política ao Cunha mas não vamos
entrar nessa de ‘fora’ porque senão é fora muita gente. Não
queremos causar instabilidade política no país”. Já na
UEE-SP, a UJS/PCdoB votou contra uma resolução política pelo “Fora
Cunha” com o argumento de “defesa da legalidade e da
democracia”. [5]
Se o ajuste é
“necessário”, se Cunha e o Congresso conservador não devem ser
importunados de quem se queixarão agora os governistas? Quem irão
culpar? A Velhinha de Taubaté? O Chupa Cabra? O ET de Varginha?
Não se sabe ainda qual
será a próxima distração governista para tentar desviar o foco e
blindar o governo Dilma mas uma coisa é certa: o seu empenho será
mantido e o próprio Lula não deixou de agradecer os pelegos pelo
seu esforço:
“É
importante o PT não esquecer que a base de sustentação do nosso
partido nesse momento difícil está na lealdade, no compromisso e no
comportamento do movimento social. Vários movimentos. (…) E o
movimento tem defendido o governo na rua, defendendo o governo no
trabalho e isso tem sido uma base extraordinária de sustentação
que dá oxigênio e motivação para a nossa presidenta.
(...)
Fico
imaginando que se o movimento social estivesse carrancudo e falando
mal do governo como é que a gente estaria nisso.” [idem 1]
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[1] Lula na reunião do
diretório nacional do PT — assista na íntegra
[2] Congresso conservador
e reforma política. 16/11/2014.
[3] O fracasso da
governabilidade. 20/04/2015.
[4] Resolução Política
sobre Conjuntura. Reunião do Diretório Nacional do PT. Brasília,
29 de outubro de 2015.
Conheça
as novas resoluções do Diretório Nacional do PT. 29/10/2015.
[5] Acordão para salvar
corrupto, machista e LGBTfóbico? Tô #FORACunha
http://vamosaluta.com.br/2015/10/28/acordao-para-salvar-corrupto-machista-e-lgbtfobico-to-foracunha/
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