quarta-feira, 22 de outubro de 2014

RS: rejeitar todos os debochados!

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Na última segunda-feira (20/10) o candidato do PMDB ao governo do Estado do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, concedeu uma entrevista ao Portal Terra, onde mencionou ter ido em uma reunião do CPERS (sindicato dos professores e servidores de escola) na qual rejeitou assinar qualquer compromisso com o piso dos professores e debochou do mesmo recomendando que os professores fossem buscá-lo no Tumelero (loja de materiais de construção).


https://www.youtube.com/watch?v=5szyxWuX5hg
http://noticias.terra.com.br/eleicoes/videos/sartori-reforca-apoio-a-aecio-e-critica-excesso-de-partidos,7654478.html


Diante da ampla e negativa repercussão, o candidato e seus apoiadores tentaram negar o sentido da fala e atribuir tudo a uma manipulação do concorrente Tarso Genro e do seu partido que teriam feito um recorte distorcido e tendencioso do vídeo. Evidente que tal desculpa não convence mesmo após ver o vídeo em sua íntegra.

A repudiável atitude de Sartori não surpreende uma vez que seu partido já governou o Estado em outras ocasiões e tratou os profissionais da educação com deboche e truculência.

O governismo, como era de se esperar, ficou assanhado com o episódio e aproveitou para ampliar a pressão pelo voto útil em Tarso Genro. No entanto, o seu governo passou quatro anos debochando dos educadores e tratando-os com truculência.

Tarso debochou da categoria quando aprovou um cronograma com parcelas que caloteava o piso depois de eleger-se com a promessa de pagá-lo.

Tarso debochou da categoria quando na mesma semana dizia não ter dinheiro para pagar o piso em um dia e no outro dizia que o Estado tinha dinheiro para os grandes latifundiários e empresários.

Tarso debochou da categoria quando disse que o projeto do Ensino Médio Politécnico (chamado de "Politreco" pelos estudantes) empurrado goela abaixo foi debatido com os educadores.

Tarso debochou das greves do magistério e foi truculento com os educadores tratando-os na base de bombas e prisões.

E Tarso continua debochando da categoria: faz isso quando exalta os 76% de "aumento" que não atingem o piso salarial dos professores, quando diz que melhorou a educação do Estado e quando vincula o pagamento do piso aos recursos do pré-sal - eximindo-se de responsabilidade e condicionando um suposto aumento de salário ao aumento da privatização do petróleo brasileiro, além de ocultar que tais recursos já estão indo parar nos bolsos dos rentistas.

Os profissionais da educação e a sociedade gaúcha não devem cair na armadilha do oportunismo eleitoral e devem rejeitar todos os debochados! Votar nulo no próximo dia 26 e fazer o piso dos debochados arder e tremer arrancando com luta a dignidade e os direitos negados e achincalhados pelo poderosos!


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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Prezad@ amig@ governista:

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Aqui estamos em mais um processo eleitoral e após passar quatro anos me ignorando, achincalhando minhas ideias e táticas, censurando e defendendo repressão para minhas greves e protestos, eis que você aparece pedindo desesperadamente o meu voto para derrotar o seu concorrente. Para isso apela para o medo já que coragem de enfrentar os poderosos já não tens mais há muito tempo - aliás, muitos deles até se tornaram teus novos companheiros.

Você fala que deseja continuar com as mudanças. Mas a maior parte dos impostos que pagamos continuam indo parar religiosamente nos bolsos dos banqueiros e dos grandes empresários, garantidos com superávits primários e cortes de verbas na saúde e na educação. Até os recursos do pré-sal, que vendeste como panaceia para a nossa educação (o que nunca acreditei), já foram parar nos bolsos dos rentistas.

As privatizações nunca foram interrompidas. Desde o primeiro dos teus governos que bancos públicos, previdência, rodovias, aeroportos, portos, ferrovias e petróleo foram privatizados. Grandes hidrelétricas controladas por empresas privadas - estrangeiras inclusive - estão sendo construídas com fartos recursos públicos e passando por cima dos direitos indígenas, ambientais e trabalhistas. E, quando, de forma justa, índios e operários reclamam das condições degradantes que tais obras lhes impõem e exigem seus direitos são recebidos pela Polícia, pelo Exército e pela Força Nacional para “dialogar”.

Lembro que no ano passado quando a juventude e os trabalhadores foram às ruas teu governo federal atuou junto com os governos locais do partido que agora você apresenta como o “bicho papão” a ser derrotado de qualquer maneira, colocando à disposição dos mesmos o Exército e a Força Nacional para junto com as polícias locais reprimir o povo.

Quando te lembro de tudo isso você, não conseguindo negar, me fala que pelo menos teus governos representam um mal menor em comparação com o teu adversário. Não sou muito partidário da ideia do mal menor mas devo alertá-l@ que esse exercício pode encontrar o resultado inverso do pretendido. Procure vasculhar quem fechou mais rádios comunitárias, quem demarcou menos terras indígenas, quem privatizou mais a infraestrutura, quem promoveu a maior privatização no setor petrolífero, quem concedeu mais lucros aos bancos e às grandes empresas, quem está dando mais dinheiro do BNDES para as grandes corporações, quem aprovou mais leis repressivas contra os movimentos sociais, quem os reprimiu e os espionou mais e quem elevou em escala recorde a privatização das ações preferenciais do Banco do Brasil.

Mas e a política externa soberana e progressista? - você me pergunta. Ora que política externa soberana é essa que vai ocupar um país irmão e pobre como o Haiti a pedido do imperialismo? Que progressismo há nisso? O que teve de soberano na crise do Irã onde o Brasil apresentou como alternativa o que o próprio Obama havia recomendado? O que há de progressista em financiar, com dinheiro público, os negócios da burguesia brasileira nos países da América Latina e da África?

E o desenvolvimento nacional? Aqui não posso conter as risadas afinal que desenvolvimento é este onde a desnacionalização da economia e as exportações de matérias primas se aprofundam cada vez mais?

Ah, mas e a distribuição de renda? Por acaso pensa que sou ingênuo e desinformado? Pensa que não sei que desses dados estatísticos foram excluídos os burgueses constando apenas os assalariados?

Então você me fala dos programas que chama de sociais. Vamos analisá-los mais de perto.

O Bolsa Família, anteriormente rejeitado pelo seu próprio partido mas que agora você chama de “revolucionário”, tem respaldo teórico nos liberais Friedrich Hayek e Milton Friedman, como admitiram os próprios liberais do Instituto Mises Brasil. Ele é indicado pelo Banco Mundial e aqui no Brasil teve seus créditos atribuídos ao tucano Marconi Perillo pelo próprio ex-presidente Lula. Qual a função desse tipo de programa? Por um lado inserir como consumidores setores excluídos pelo próprio capital, por outro permitir que as reformas sociais (tímidas no caso do nosso país) sejam desmontadas mais facilmente. Ou seja, com uma mão distribui-se um programa assistencial enquanto que com a outra tascam-se recursos da saúde, educação e previdência, às vezes privatizando-as. Não é por acaso que os mesmos organismos internacionais que pregam austeridade fiscal e cortes nas reformas sociais indiquem e celebrem programas como o Bolsa Família, como orgulhosamente você gosta de apontar os mimos do Bando Mundial.

O Prouni, que aprofunda a privatização da educação superior, é um típico programa defendido por setores da direita política pois trata-se de bolsas nas universidades privadas que assim têm garantidos os seus lucros. Não é por acaso que tucanos como Fernando Schuler elogiem tal programa e já defendam um Prouni para o ensino básico. O FIES, endivida os estudantes para manter essa lógica privatista. E o Pronatec é uma espécie de Prouni do ensino técnico que transfere recursos públicos para o Sistema S. Assim, em vez de priorizar um sistema público de ensino que garanta acesso e qualidade a todos, utilizam-se recursos públicos para aprofundar o caráter mercantil da educação no país, tudo para garantir os lucros dos tubarões, mas de forma oportunista tinge-se tal programa de “social” e “progressista” aproveitando-se dos problemas históricos de acesso das nossas classes populares, cujo benefício em tal programa não passa de efeito colateral, afinal um governo que realmente está preocupado com a sorte das mesmas não corta verbas da educação e da saúde públicas para entregar aos especuladores.

Já o Minha Casa Minha Vida é parte integrante das medidas “anticrise” adotadas pelo vosso governo após a eclosão da crise de 2008. Tal programa, longe de observar a necessidade social de moradia no país integra e aprofunda a especulação imobiliária, fazendo com que os pobres sejam muitas vezes despejados e empurrados para a periferia da periferia quando suas precárias moradias localizam-se em áreas de interesse do capital imobiliário.

Como se percebe tais programas são indicados, tolerados e atendem aos interesses do próprio capital. Dificilmente seriam extintos pelo seu concorrente. Despidos da sua aparência e revelada a sua essência, esses programas, que você chama de reformas, na verdade evidenciam que vosso governo não realizou uma única reforma social em doze anos! Devo lembrar-te de que o debate histórico na esquerda sempre foi reforma ou revolução. E, assim como o seu concorrente, vosso governo não se localiza em nenhum desses campos.

É um direito de vocês administrarem o capitalismo e acreditar que é possível atenuar seus males, embora essa opção não seja apenas ideológica já que muitos companheiros se tornaram empresários, consultores de empresas, gestores de fundos de pensão, sócios dos negócios das grandes corporações e assim ganhem muito com o sistema. Mas também estou no meu direito de rejeitar esse caminho e seguir levantando bem alto as bandeiras do materialismo histórico e dialético, ou seja, do socialismo.

Os pais do socialismo científico em jornadas duríssimas rejeitaram a ideia do mal menor, o rebaixamento do programa, as alianças com setores burgueses e defenderam a organização independente dos trabalhadores. Não se abstiveram, não ficaram em cima do muro, tiveram um lado claro.

E é baseado nos ensinamentos deles que me posicionarei neste segundo turno. Vossa candidata, assim como seu concorrente, se comprometeu com uma série de ajustes em favor do capital tão logo se encerrem as eleições, o que resultará em mais cortes de recursos das áreas sociais, mais ataques aos diretos dos trabalhadores, demissões, aumento de preços e mais privatizações.

Para mim o inimigo principal continua sendo o capitalismo e a oposição ao mesmo não pode ser abstrata, deve ser real e isso passa por rejeitar aqueles que trabalham para a sua manutenção e perpetuação. Em um processo eleitoral passa por rejeitar as candidaturas que estão comprometidas com ajustes em favor do mesmo. E, se as duas candidaturas já estão comprometidas com o sistema, é inútil, do ponto de vista de quem defende outro modelo de sociedade, votar em qualquer uma delas. Logo, se o voto útil é inútil o único voto útil para quem rejeita as candidaturas do sistema é o voto nulo!

Peço que me respeite e que não fique inconformado vociferando impropérios contra a minha posição. E não ouse tentar me responsabilizar por uma eventual derrota da tua candidatura, afinal não era você que vivia zombando do meu peso irrelevante no processo eleitoral?

Sem mais, passe bem!



Atenciosamente,


Um amigo socialista!


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domingo, 12 de outubro de 2014

O PT conservador

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Diante da composição do Congresso Nacional advinda dos resultados eleitorais não faltam acadêmicos e governistas para resmungar contra o “avanço conservador” e há até quem tente responsabilizar as jornadas de junho por tal resultado, tentando censurar a sua existência.

Omitem que muitos empresários, latifundiários e religiosos se elegeram em aliança com o PT e até que muitos deles se elegeram na própria sigla do partido.

Como venho mencionando há tempos, os governos do PT, tendo em vista a mudança social de muitos de seus integrantes, representam mais do que simples colaboração de classes. Tendo se tornado empresários, consultores de grandes empresas, gestores de fundos de pensão, etc eles ganham com a especulação, com as privatizações e com os cortes de direitos dos trabalhadores.

Não é por acaso que os governos do PT se recusem a auditar a dívida pública, que privatizem a previdência pública e outros setores, que apóiem leis que precarizam as relações de trabalho e que despejem bilhões de recursos públicos para as grandes empresas - muitas das quais os fundos de pensão dirigidos pelos companheiros são sócios nos negócios. Também não é casual que, para garantir a implementação desse projeto, os governos petistas reprimam duramente a classe trabalhadora e os movimentos sociais que o rejeitam.

Os levantamentos preliminares do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) mostram que, dos 70 deputados eleitos pelo PT, 8 deles possuem algum vínculo empresarial e 4 são evangélicos. Como comparativo, o PSDB elegeu 6 evangélicos; o PMDB, 5; o PPS e o PP, 3 e o DEM, 2. Na bancada empresarial o PT ganha do PPS, que fez 4 deputados; perde por pouco para o DEM, que fez 11; fica bem atrás do PSDB, que fez 20; do PP, que fez 22 e do PMDB, que fez 23. No entanto, vale lembrar que os dois últimos partidos fazem parte da base aliada petista no Congresso Nacional.

Veja no quadro abaixo, baseado no DIAP, as bancadas empresarial e evangélica do PT:

Parlamentar
UF
Profissão
Rubens Otoni
GO
Professor Universitário, Consultor Jurídico e Consultor de Empresas
Gabriel Guimarães
MG
Empresário e Advogado
Miguel Correa
MG
Professor, Comunicador e Empresário
Toninho Wandscheer
PR
Empresário - Imobiliário
Zeca Dirceu
PR
Empresário
Paulo Pimenta
RS
Empresário, Técnico Agrícola e Jornalista
Andres Sanchez
SP
Empresário
Vicente Candido
SP
Empresário, Advogado e Comerciante





Parlamentar
UF
Denominação
Weliton Prado
MG
Assembleia de Deus
Rejane Dias
PI
Batista
Toninho Wandscheer
PR
Assembleia de Deus
Benedita da Silva
RJ
Assembleia de Deus



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Referências:

Câmara dos Deputados: conheça os reeleitos e os novatos. DIAP, 06/10/2014.

Bancada empresarial: levantamento preliminar do DIAP identifica 190 deputados. DIAP, 07/10/2014.

Atualização da bancada evangélica: DIAP já identificou 82 deputados**. DIAP, 06/10/2014.



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domingo, 5 de outubro de 2014

Marx e Engels contra a pressão eleitoral

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Com muita frequência a esquerda socialista se depara com o assédio e a pressão eleitoral do reformismo, da socialdemocracia e demais gestores de “esquerda” do capital. Sempre que se encontram ameaçados pela concorrência da direita tradicional apelam para que a esquerda socialista esqueça as diferenças e forme uma unidade para derrotar a direita, que seria a tarefa principal. Criam um ambiente de terrorismo em torno do programa e da repressão terríveis que viriam com a vitória da direita, mencionam que não haveria nada melhor e que ao menos representam um “mal menor” em comparação com seus adversários. Uma vez eleitos governam com o programa da direita que deveria ser derrotada, muitas vezes aprofundando-o em uma escala superior a da própria, sem vacilar em empreender uma repressão superior a mesma quando a esquerda socialista, os trabalhadores e os movimentos sociais contestam e resistem às medidas do referido programa.

Quando o assédio e a pressão eleitoral não surtem efeito e são rejeitados pela esquerda socialista, esta logo é acusada de sectarismo e de facilitar o caminho para a vitória eleitoral da direita. Tal polêmica não é nova na história do movimento dos trabalhadores e já foi enfrentada pelos pais do socialismo científico.

Como é possível constatar no Manifesto Comunista, Marx e Engels defenderam, em 1848, na Alemanha, unidade com o partido democrático contra os defensores do feudalismo. Dado que os vacilos desse partido contribuíram para a derrota do movimento revolucionário, Marx e Engels fizeram um duro balanço em 1850, onde defenderam a independência política e de organização dos trabalhadores, denunciaram implacavelmente o partido democrático, rejeitaram aliança eleitoral com o mesmo e criticaram a ideia do “mal menor” apesar deste partido se encontrar na oposição.

As palavras contidas no trecho abaixo e extraídas da Mensagem da Direcção Central à Liga dos Comunistas, texto no qual os pais do socialismo científico fazem o referido balanço e formulam táticas eleitorais e políticas, são de uma atualidade impressionante:

“Por toda a parte, ao lado dos candidatos democráticos burgueses, sejam propostos candidatos operários, na medida do possível de entre os membros da Liga e para cuja eleição se devem accionar todos os meios possíveis. Mesmo onde não existe esperança de sucesso, devem os operários apresentar os seus próprios candidatos, para manterem a sua democracia, para manterem a sua autonomia, contarem as suas forças, trazerem a público a sua posição revolucionária e os pontos de vista do partido. Não devem, neste processo, deixar-se subornar pelas frases dos democratas, como por exemplo que assim se divide o partido democrático e se dá à reacção a possibilidade da vitória. Com todas essas frases, o que se visa é que o proletariado seja mistificado. Os progressos que o partido proletário tem de fazer, surgindo assim como força independente, são infinitamente mais importantes do que o prejuízo que poderia trazer a presença de alguns reaccionários na Representação. Surja a democracia, desde o princípio, decidida e terrorista contra a reacção, e a influência desta nas eleições será antecipadamente aniquilada.” [1]

Será que os nossos amigos reformistas, sociaisdemocratas e demais gestores de “esquerda” do capital teriam a ousadia de impingir a pecha de “sectários” aos pais do socialismo científico?

Essa trupe reclama quando questionada de suas medidas burguesas, do rebaixamento e abandono das demandas históricas dos trabalhadores e movimentos sociais e de suas alianças com setores de direita. Justificam reclamando da correlação de forças - que para eles é eternamente desfavorável - e enaltecem suas alianças como tática política inovadora e sofisticada que serviria para fazer “alguma coisa” pelo povo, embora esse “alguma coisa” não passe de programas assistenciais indicados e tolerados pelas próprias classes dominantes.

Mais uma vez não estamos diante de nenhuma novidade. Em 1879, Marx e Engels criticaram duramente a proposta de três dirigentes do Partido Social-Democrata alemão que, diante da repressão e perseguição desencadeadas contra os socialistas através de uma lei de exceção, defenderam o rebaixamento do programa do partido e alianças com setores da burguesia:

“Têm aqui vocês o programa dos três censores de Zurique. Em clareza, nada deixa a desejar. Pelo menos, para nós, que ainda conhecemos bem estas maneiras de falar todas desde 1848 para cá. São os representantes da pequena burguesia [Kleinburgertum] que se anunciam, cheios de medo de que o proletariado, compelido pela sua situação revolucionária, possa «ir demasiado longe». Em vez de oposição política decidida — mediação [Vermittlung] geral; em vez de luta contra o governo e a burguesia — a tentativa de os ganhar e de os persuadir; em vez de resistência obstinada contra os maus tratos de cima — submissão humilde e admissão de que se tinha merecido o castigo. Todos os conflitos historicamente necessários são interpretados deturpadamente como mal-entendidos e toda a discussão termina com o protesto: no principal, estamos afinal todos unidos. As pessoas que em 1848 apareceram como democratas burguesas, podem agora do mesmo modo chamar-se a si próprias sociais-democratas. Tal como, para aquelas, a república democrática, também, para estas, o derrube da ordem capitalista fica na lonjura inalcançável [e] não tem, portanto, absolutamente nenhuma significação para a prática política do presente; pode-se mediar, fazer compromissos, praticar a filantropia, quanto se quiser. É o mesmo para a luta de classes entre proletariado e burguesia. É reconhecida no papel, porque já não se pode negá-la; na prática, porém, é mascarada, apagada, amortecida. O Partido Social-Democrata não deve ser nenhum Partido operário, não deve atrair sobre si o ódio da burguesia ou, em geral, de quem quer que seja; deve, antes de tudo, fazer uma propaganda enérgica entre a burguesia; em vez de dar peso a objectivos [Ziele] que vão longe, que assustam a burguesia e que, contudo, são inalcançáveis na nossa geração, ele deve antes empregar toda a sua força e energia naquelas reformas remendonas pequeno-burguesas que conferem à velha ordem da sociedade novos apoios e que, por esse facto, poderiam talvez transformar a catástrofe final num processo gradual, parcelar e o mais possível pacífico de dissolução. São as mesmas pessoas que, sob a aparência da incansável ocupação, não só não fazem nada elas próprias, como também tentam impedir que, em geral, aconteça algo — a não ser conversa; as mesmas pessoas, cujo medo de qualquer acção, em 1848 e em 1849, entravou o movimento a cada passo e finalmente o levou à derrota; as mesmas pessoas que nunca vêem a reacção e, depois, ficam totalmente admiradas de se encontrarem finalmente num beco sem saída, onde nem resistência nem fuga são possíveis; as mesmas pessoas que querem confinar a história ao seu horizonte pequeno-burguês [Spiessburgerhorizont] e por cima das quais, de cada vez, a história transita para a ordem do dia.” [2]

A conjuntura era muito mais dura do que a que atualmente os reformistas, sociaisdemocratas e gestores de “esquerda” do capital praticam a sua política de traição e de conciliação de classes. Mesmo assim os pais do socialismo científico mantiveram firmes suas convicções:

“Se o novo órgão do Partido tomar uma atitude que corresponde às opiniões daqueles senhores, for burguês e não proletário, não nos resta senão, por muita pena que isso nos faça, declarar-nos abertamente contra e romper a solidariedade com que, até aqui, face ao estrangeiro, temos representado o Partido alemão. Esperemos, contudo, que não se chegue até ai. [...]” [idem]

Longe de sectária ou aventureira a crítica de Marx e Engels ajudou o Partido Social-Democrata a corrigir alguns equívocos e oportunismos e principalmente resistir de forma habilidosa à perseguição política, de onde saiu fortalecido como organização política, tendo aumentado o seu número de integrantes e apoiadores.


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[1] Mensagem da Direcção Central à Liga dos Comunistas. Março de 1850.

[2] Carta Circular a A. Bebel, W. Liebknecht, W. Bracke e Outros. 17-18 de Setembro de 1879.



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