terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O Oriente Médio aterroriza o Ocidente

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Desde o final do ano passado que as mobilizações no Norte da África foram ganhando envergadura até irromperem de forma poderosa no início desse ano, obrigando o Ocidente não só a noticiar os levantes populares, os quais vinha ocultando, mas a tentar descrevê-los a sua maneira já que como disse o analista político francês, Thierry Meyssan, "os ocidentais correm após uma situação que escapou das suas mãos e que desejariam recuperar descrevendo-a de acordo com os seus desejos."[1]

Os governos já derrubados da Tunísia e do Egito eram aliados das potências Ocidentais, assim como outros que encontram-se em maus lençóis. Suas administrações eram apontadas pelos mesmos como sinônimo de progresso e prosperidade.[2] Curiosamente os manifestantes reclamam o contrário. Em verdade já vinham reclamando há algum tempo. Processos como o que assistimos no Oriente Médio não se formam da noite para o dia. Pelo menos desde 2004 ocorreram aproximadamente mais de 3000 protestos de trabalhadores no Egito.[3]

O rastro de pólvora que se espalhou pelo Oriente Médio aterroriza o Ocidente apesar de suas classes dominantes fingirem-se calmas. Sabem que estão perdendo seus aliados na região. Sabem que o povo se insurge não apenas contra o autoritarismo dos seus governos mas contra suas medidas, muitas privatizantes, que causaram a pauperização e a falta de perspectiva do povo, em especial da juventude.

O líbio Muammar Kaddafi, por exemplo, privatizou 110 empresas públicas nos últimos 10 anos e pretendia aprofundar drasticamente essa política nos próximos anos.[4] O Bahrein tinha planos de privatizar vários serviços públicos, inclusive hospitais, e seu governo estava recuperando uma empresa aérea para entregá-la lucrativa para a iniciativa privada.[5] O Marrocos privatizou, até 2004, 58 empresas públicas e promoveu medidas de ajuste fiscal indicadas pelo Banco Mundial.[6] A Argélia, sob a supervisão do FMI, privatizou aproximandamente 1200 empresas.[7] Egito e Tunísia também eram celebrados no Ocidente por suas privatizações e "reformas liberais".

A combinação das lutas por mais liberdades democráticas e contra as condições sociais pauperizantes, além da ausência de uma direção islâmica religiosa, tornam o desfecho imprevisível. E isso é o que mais aterroriza as classes dominantes ocidentais.

Além do mais o rastro de pólvora pode se estender até o Ocidente. A luta do povo do Oriente Médio, se vitoriosa, pode servir de inspiração aos trabalhadores ocidentais que têm resistido às medidas de ajuste dos seus governos em meio à crise financeira.


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[1] Washington face à cólera do povo tunisino
http://resistir.info/africa/tunisia_meyssan_23jan11.html

[2] O que o Ocidente dizia do Norte da África?
http://blogdomonjn.blogspot.com/2011/01/o-que-o-ocidente-dizia-do-norte-da.html

[3] Egito: A queda de Mubarak e o papel dos trabalhadores (17/02/2011)
http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=12338:egito-a-queda-de-mubarak-e-o-papel-dos-trabalhadores&catid=262:batalha-de-ideias&Itemid=131

[4] Líbia: Governo poderá privatizar metade da economia dentro de 10 anos (31/03/2010)
http://www.gmnoticias.co.mz/index.php?option=com_content&view=article&id=2005:libia-governo-podera-privatizar-metade-da-economia-dentro-de-10-anos&catid=83:financas&Itemid=144

[5] Bahrein aposta em privatizações (26/2/2010)
http://www.aduaneiras.com.br/noticias/noticias/noticias_texto.asp?ID=115079&acesso=1

[6] Marrocos
http://www2.mre.gov.br/deaf/daf_1/marrocos2.htm

[7] ABC Mercado Argélia
http://www.atp.pt/noticias/detalhes.php?id=426

[7] Argélia
http://www2.mre.gov.br/deaf/daf_3/argelia2.htm